domingo, 1 de julho de 2012

O louco

    Certo dia, dentro do ônibus que me levava do centro da cidade para minha casa, aparece um surdo mudo vendendo panfletos com poesias e textos. Não sei por qual motivo, ele me passou um panfleto cujo título é "O louco". Olhei para os panfletos das pessoas que estavam próximas a mim, e ninguém tinha recebido um igual, os outros falavam de amor, paixão, Deus, etc. Mas, de qualquer forma, achei legal essa estranha coincidência:

   
O louco
    Perguntai-me como me tornei louco.
     Aconteceu assim:
    Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas - e corri sem máscaras pelas ruas cheias de gente, gritando:
    "Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"
    Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
    E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou:
    - "É um louco!"
    Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras! E, como num transe, gritei:
    - "Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!"
    - Assim me tornei um louco. 
    E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós. 
    


7 comentários:

  1. É um texto maravilhoso!!!!
    Parabéns.
    Conheci seu blog através de seu vídeo e já me tornei fã.
    Grande abraço.

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    1. Obrigado. Achei o texto muito bonito também. O surdo mudo me vendeu ele no ônibus acho que no ano de 2003 e o guardo até hoje. Não sei se foi coincidência ou sincronicidade, ou qualquer outro nome que as pessoas queiram dar, mas acho que ali ocorreu algo de sobrenatural, pois as pessoas ao meu lado receberam panfletos falando sobre outros assuntos, e os que estavam longe com certeza também receberam diferentes, pois me lembro bem que só o meu tinha a cor amarela. Fico feliz por ter gosta do blog.

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  2. Ótimo texto. A autoria é de Gibran Khalil Gibran.

    http://www.culturabrasil.pro.br/gibran.htm

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    1. Isso mesmo. No início pensava que era de autor desconhecido, pois no panfleto que havia ganho não mencionava o autor.
      Muito bom o texto mesmo, toca lá no fundo de nossas almas.

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