segunda-feira, 29 de abril de 2013

O tempo

    Hoje, depois do almoço, planejei descansar(de que?rsrs) em um lugar bem tranquilo. Um lugar onde não se ouvisse o som dos motores dos carros e nem o ir e vir dos pedestres apressados em suas tarefas diárias.
Logo veio em minha mente a imagem do Colégio Nossa Senhora do Monte Calvário, onde havia estudado do maternal até a primeira série do segundo grau. " A parte de trás do colégio é bem tranquila, não passa carro e nem gente, vai dar para descansar", pensei.
    Então, depois do almoço e do banho no centro de referência, me desloquei para o colégio de freiras onde aprendi o beabá. A minha surpresa foi maior do que a decepção de não encontrar um lugar tranquilo. Na rua de trás do colégio haviam carros estacionados dos dois lados da rua, restando poucas vagas para outros veículos. A rua fora asfaltada e o movimento de veiculos era intenso. O de pedestres também. Olhei então para mais adiante, e, no lugar do antigo supermercado municipal está sendo construído um enorme prédio. O jeito foi me acomodar na rua de trás do colégio mesmo, apesar do ir e vir dos pedestres.
    Um vento frio soprava sem parar, e trazia consigo um pouco da poeira da construção no antigo mercado. Como estava próximo a casa onde havia passado os meus primeiros dezessete anos de vida, resolvi então levantar-me e recordar um pouco da minha infância.
    Mas, chegando ao local, não consegui enxergar o menino arteiro e engraçado que fazia suas peraltices pelas ruas do bairro. Tudo estava mudado, inclusive a casa onde havia morado, que deu lugar a um prédio de cinco andares. As casas de alguns colegas meus também haviam se transformado em prédios. As casas que restaram ganharam grades, cercas e portões reforçados. Não havia nenhum menino brincando na rua, provavelmente  estavam jogando video game ou navegando pela internet.

   Com algum esforço me lembrei do Julinho, um menino que aprontava e muito pela vizinhança. Qualquer vidraça que aparecesse quebrada na velha rua Sertões e adjacências, os vizinhos já sabiam onde reclamar. Já era meio maluquinho por natureza e, para completar, não havia ninguém para me ensinar a me comportar e me impor limites. Tinha que dar nisso né?  Meu pai não cheguei a conhecer e minha mãe praticamente não falava nada com ninguém. Me diziam que ela tinha problemas auditivos, mas hoje sei, por experiência própria, que ela tinha algum transtorno mental, e que eu havia herdado um pouco disso ai.
    Mas ri muito ao me lembrar das minhas "brincadeiras". Adorava me vestir de preto e usar a máscara de lobisomen de um colega meu. A máscara era importada dos Estados Unidos e era bem próxima do real, o que assustava e muito as pessoas, principalmente as mulheres. Teve uma que chegou a desmaiar, e corri desesperado de medo, pensando que ela havia morrido. A sorte que meus colegas acudiram a mulher, que era idosa. Outra quase foi atropelada, ao sair assustada pela avenida gritando:
    - Socorro! É o lobisomen estrupador!
      Me divertia muito com aquilo. Ainda não tinha completa noção das coisas que fazia. Confesso que brincava de esconde esconde até os quinze anos de idade. Era um crianção mesmo. Não vou entrar em detalhes sobre o que eu aprontava, pois o post assim iria ficar por demais extenso.
    Minha avó não conversava muito comigo sobre as minhas peraltices, e então segui aprontando por um bom tempo. Mas quando a mãe de um amigo meu qualquer me chamava a atenção, dizendo que era errado fazer determinada coisa, eu refletia e acabava concordando, não repetindo "as coisas erradas" que uma criança de família não poderia fazer.
    Depois de andar pela velha rua Sertões, resolvi voltar para o centro da cidade, refazendo o caminho que eu fazia todos os dias para ir a escola. Quase tudo estava mudado, não deu para me lembrar de muita coisa da minha infância, a não ser a maternidade Odete Valadares, que fica ao lado do colégio. Me lembrei de um dia em que a professora chamou a atenção da classe, dizendo que os funcionários da maternidade foram ao colégio reclamar que alunos da esola estavam em volta da maternidade, espiando pelas janelas os atendimentos. Adivinhem quem estava no comando dessa invasão? O engraçado é que dava para ver pelas janelas abertas as grávidas nas salas, deitadas. Não sei se estavam em trabalho de parto, mas  é um pouco estranho uma maternidade deixar as janelas abertas durante o atendimento.
    Para falar a verdade, eu merecia, além de muitos conselhos, umas boas palmadas, de leve, mas merecia. Só assim eu iria me aquietar. Sou contra a violência com as crianças, mas, em alguns casos, acho que uma palmadinha de leve pode ajudar.
    Depois da maternidade, avistei a portaria do colégio. Estava pouco mudado, até a cor era a mesma. Me lembrei então do Vicente, o baleiro que sempre estava na esquina do colégio, com seu super carrinho de guloseimas que tinha quase tudo o que uma criança gosta: sorvete, chocolates, doces, pipoca, chicletes, balas, etc. Não me recordo o dia em que o Vicente havia faltado. Sempre esteve ali. Se faltou, foi no dia em que também faltei. Mas hoje ele não estava mais lá. As crianças estavam lá, mas o Vicente, não.
    É o tempo.

-obs: estarei começando o caminho da estrada real no próximo dia sete, então não sei onde estarei no próximo post. Só o tempo dirá.

Música: The best of times
Banda: Dream Theater


Os Melhores dos Tempos

Lembre-se dos dias passados
Como eles voaram tão rápido...
Os dois contagem e o ano que tivemos
Eu pensei que sempre duraria

Os dias de verão e os sonhos na Costa Oeste
Eu queria que eles nunca acabassem
Um garoto jovem e seu pai
Ídolo e melhor amigo

Eu vou me lembrar pra sempre
Aqueles foram os melhores dos tempos
O tempo de uma vida juntos
Eu nunca vou esquecer

A manhã mostra no rádio
O caso do cachorro perdido
Deitado nos travesseiros de Odeon Twelve
Assistindo "Harold and Maude"

As lojas de discos, os campos de críquete
Minha casa longe de casa
Quando nós não estávamos juntos
As horas no telefone

Eu vou me lembrar pra sempre
estes foram os melhores dos tempos
Eu nutrirei isso eternamente
Os melhores dos tempos

Mas então veio o chamado
Nossas vidas mudaram pra sempre
Você pode rezar por uma mudança
Mas prepare-se para o fim

[instrumental]

As asas passageiras do tempo
Voando através de cada dia
Todas as coisas que eu deveria ter feito
Mas o tempo simplesmente escapou

Lembre-se "Aproveite o dia"
A vida passa num piscar de olhos
Com muito restando a dizer

Esses foram os melhores dos tempos
Eu vou sentir falta desses dias
Seu espírito conduz minha vida a cada dia

Obrigado pela inspiração
Obrigado pelos sorrisos
Todo o amor incondicional
Que me carregou por milhas
Me carregou por milhas
Mas mais do que tudo
Obrigado pela minha vida

Esses foram os melhores dos tempos
Eu vou sentir falta desses dias
Seu espírito conduz minha vida a cada dia

Meu coração está sangrando
Mas eu ficarei bem
Seu espírito guia minha vida cada dia

A viagem

     Bem, segunda feira irei providenciar o que está faltando para a viagem. 
    O bepantriz, que é uma pomada que regenera a pele, serve para um monte de coisa, inclusive assaduras. No caminho do Padre Anchieta não tive problemas relacionados à pele. O protetor solar também não pode faltar. 
    O bepantriz é a mesma coisa que o bepantol, a fórmula é a mesma, só que é um pouco mais barato. É legal misturar um pouco de óleo de amêndoas, para ficar mais fácil de tirar o produto na hora do banho. Muita gente deve estar pensando que isso é bichisse, ficar passando creminho na virilha, mas não tem nada pior do que caminhar no sol quente com assaduras. E no meu caso, são apenas 700 km. 
    Também não poderei deixar de comprar um bom repelente, que faltou na viagem lá no Espírito Santo. No primeiro dia resolvi caminhar até à noite e, quando cansei, não deu para parar, pois o local estava infestado de mosquitos e pernilongos gigantes(olha o trocadilho!) que quase me comeram vivo! Os mosquitos não picavam, pareciam que mordiam. Tive que andar bastante até me ver livre deles e então poder descansar e dormir um pouco. 
a pior gordura localizada é a no olho

    De resto é só rezar e pedir proteção. Peço a ajuda de todos vocês, cada um com sua fé, crença e religião. Orem, rezem, meditem, conversem com Deus para pedir proteção e saúde para o esquizo aqui. Desde que comecei a escrever o blog, aconteceram algumas coisas estranhas na minha vida, parece coisa de gente que não gosta de ver o próximo em paz. Mas não são vocês leitores do blog, acho que são pessoas com quem convivi em uma cidade onde tive muitas inimizades, inclusive fui alertado por uma pessoa sobre esse fato, mas não acreditei que uma pessoa que quase não fala nada pudesse arranjar inimizades. Mas, basta sermos feliz e estarmos em paz, que somos alvos em potencial de pessoas más, que não gostam de ver a felicidade dos outros. Mas, com olho gordo ou não, não desistirei. Sou brasileiro, sou mineiro, sou blogueiro, sou mochileiro, e acima de tudo sou muito grato a todos vocês pela força e carinho que têm demonstrado comigo ao longo destes meses. 
    Espero ter mais sorte desta vez, fazia mais de dez anos que não viajava e no primeiro dia que estava curtindo uma praia, machuco o meu pé lá em Vila Velha. Vai ser azarado lá nos quinto! Espero não me machucar desta vez, para curtir melhor as montanhas e cachoeiras de Minas Gerais. Sempre que encontrar uma lan house pelo caminho, irei postando as minhas aventuras.
-Obs: as palavras destacadas na cor azul são links, que direcionará você para uma outra página, é apenas uma explicação, ou algo que tenha a haver com o assunto. Não sou muito fã do control V+ control C, por isso coloco os links. A última palavra explica a origem expressão " lá nos quinto dos inferno". É, o blog do esquizo também é cultura!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Morador de rua: o dia a dia

torcedores usam a frase acima pois o estádio do atlético se situa no bairro Horto, em BH.

    Resolvi publicar este post para mostrar um pouco da rotina de um morador de rua, quer dizer, um semi morador de rua, pois tenho a minha barraquinha e, por sorte, consegui a aposentadoria e felizmente não tenho que ficar pedindo nada a ninguém, a não ser um pouco de respeito e paz.
    O dia começa cedo. Coloco o celular para tocar as seis da manhã, para não atrapalhar o comércio no local onde monto a  barraca. Não a monto em frente a residências ou edifícios, por questões óbvias de privacidade né? Se eu morasse em uma casa também não iria gostar que uma outra pessoa montasse uma barraca em frente a minha residência, por mais pacata que seja essa pessoa. Costumo sempre olhar o ponto de vista das outras pessoas envolvidas.
    O começo do dia é algumas vezes complicado, pois sempre dá aquela vontade de urinar, mas as ruas nesse horário já estão movimentadas de pessoas indo para os seus empregos.Tenho duas opções: dar uma segurada(o que é difícil) até ir no UAI(serviço da prefeitura) onde também acesso a internet, ou então guardar uma garrafinha de água mineral ou refrigerante vazio para urinar dentro da barraca e jogar em um lixo qualquer. Existe uma outra alternativa, que uso bastante, que é acordar de madrugada e urinar em uma árvore qualquer, pois é muito complicado ficar segurando a urina de manhã.  Teve um dia que não deu para segurar, e tive que ir correndo para uma árvore e um cara que ia passando de carro gritou, ao me ver:
    - O "mijão!"
    Nem precisa falar que fiquei todo sem graça, fingindo que não era comigo e sai, sem olhar para os lados.
    Já para a outra necessidade básica, a coisa até que é mais simples, pois temos que fazer isso apenas uma vez por dia. Ainda bem que o meu intestino funciona quase como um big ben e sempre vou ao banheiro de manhã, depois que acesso a internet lá no UAI. No domingo é mais complicado, tenho que ir na rodoviária ou então consumir algo em algum restaurante para poder usar o banheiro. Já anotei em meu caderno vários lugares para poder ir em caso de emergência. No shopping do centro, tenho que pagar 50 centavos para usar o banheiro, mas vale a pena pois o mesmo é muito limpo. Tem a estação ferroviária também,  o BH resolve(outro serviço da prefeitura) e outros locais que anotei, para não passar complicações em alguma emergência.
    Para fazer que o intestino funcione como um relógio é necessário adotar algumas práticas diárias, mas não muito complicadas. Ai vão mais algumas dicas de saúde do esquizo:
beber muita água




    1- Beba muita água: a água solta o intestino e não é cara. Beba de preferência meia hora antes ou duas horas depois das refeições. Durante só beba o suficiente para que a comida não fique entalada na garganta. Mastigue bem os alimentos também, para facilitar o trabalho do seu estômago, que não é de jacaré, né?
Uma boa prática também é beber dois copos de água em jejum, meia hora antes do café da manhã. Os benefícios estão ai no link, é só clicar para ver.
http://artigosim.com.br/os-beneficios-de-tomar-agua-em-jejum-pela-manha/

   2- Rotina alimentar: É recomendável seguir uma rotina, ter seus horários para as suas refeições. A lógica é bem simples. Se a comida entra em horas definidas, é bem provável que ela também saia em determinadas horas. Aqui o papo é reto. rsrsrsrs

    3- Yakult: Não é propaganda enganosa não! Esse leite fermentado funciona que é uma beleza! E olha que é bem mais barato que o activia. Essas bactérias do bem tem outros benefícios também:
http://boaforma.abril.com.br/dieta/aliados-da-dieta/probioticos-iogurtes-600218.shtml

   4- Fibras: Não vou entrar em detalhes, pois quase todo mundo sabe que as fibras são ótimas para o bom funcionamento do intestino. Eu, por motivo de força maior, estou usando só as fibras das frutas, principalmente mamão e laranja. Mas se puderem usem farelo de trigo, germen de trigo, aveia, linhaça, etc. O que não falta são boas e baratas opções para isso. Em BH está tendo avalanche de estabelecimentos que vendem vários tipos de vitaminas, de quase todas as frutas, além de açaí, que virou moda por aqui. Já não se vê tanta gente tomando refrigerante por ai.

    Então, depois de acordar, urinar, tomar o café da manhã, acessar a internet e voltar ao banheiro para me aliviar, fico sem o que fazer na maior parte do dia. Fico perambulando pelas ruas de BH ou então volto a dormir, dependendo do meu estado de ânimo. Também costumo ficar na internet em outros lugares onde a prefeitura disponibiliza o acesso gratuito. No total, são quatro lugares, e, se quiser, posso usar a internet gratuita três horas e meia por dia.
    Almoço no restaurante popular às onze ou à uma hora da tarde, onde tem menos movimento. Depois dou uma passada no centro de referência para moradores de rua, tomar o meu banho e às vezes lavar roupa. Depois como um doce e uma fruta no mercado central e espero escurecer para montar novamente a minha barraca.  É uma vida meio sem graça, claro que a liberdade de ir e vir para qualquer lugar me faz bem. Mas já estou meio entediado e estou preparando uma outra viagem, desta vez bem mais longa.
    Até hoje não encontrei as palavras ideais para tentar explicar o que o ato de caminhar me proporciona. Não é como escalar uma montanha, não é um desafio em que ficamos felizes no final. Caminhar é diferente, e o barato está durante o trajeto, e não no final. Confesso que fiquei um pouco triste quando completei o caminho do Padre Anchieta. 

  

    São 700km entre Ouro Preto(MG) e Paraty(RJ). O caminho é conhecido como o caminho velho da estrada real e, pelo que dizem e pesquisei, parece ser muito bonito. Prometo postar todas as fotos que tirar pelo caminho. Preciso de um pouco de aventura e, apesar de estar se aproximando o inverno vou arriscar, mesmo passando pelo sul de Minas, que já é frio por natureza. Se tem gente que escala o monte Everest e fica com tudo congelado, por que que não posso passar um pouco de friozinho em Minas? Vou arriscar, apesar do meu pé não estar 100%, pois a consulta com o especialista ainda não foi marcada. É complicado depender do SUS. 

Futebol de elite
    Adoro futebol, sou fanático por um time(prefiro não comentar qual é), mas estou fazendo um esforço danado para largar essa paixão que carrego desde criança, quando as coisas eram diferentes e os jogadores jogavam por dinheiro, é claro, mas também por amor ao clube. Peguei dengue e senti na pele o que é depender de uma UPA. Atendimento péssimo, falta de médicos, demora, etc. O pior é que descarregamos  nossa indignação com os menos culpados do problema, que são justamente as pessoas que estão trabalhando no momento. E logo eles, que além de ganharem pouco e sem condições, ainda tem que aturar a ira dos usuários. Só para se ter uma ideia, só no Mineirão foram gastos 800 milhões na reforma para a copa enquanto que para a dengue foram gastos apenas 150 milhões em TODO O PAÍS O ANO TODO! O estádio de Brasília é o que mais saiu fora do orçamento, por que será? Ainda dá para gostar de futebol? 
antes o estádio de futebol era para todos
    Por falar em futebol, quem viu o "jogo" da seleção ontem? Estádio bonito, torcedoras lindas, tudo certo.Só ficou faltando o time e os jogadores. Neymar cai cai só joga 10% na seleção o que ele joga em seu clube, o Santos. Ronaldinho baladeiro se limitou a fazer gestos, pedindo para os jogadores terem calma e tocarem a bola. Oras, eu faço isso por dois salários mínimos Felipão! Eu assisti o jogo no meu celular, e me arrependi de ficar carregando o mesmo por duas horas em uma revendedora de automóveis. Estou sendo saudosista, o futebol hoje no estádio é para as pessoas de classe média e alta, depois que a geral acabou. Para quem não sabe geral em estádio de futebol era aquele lugar próximo ao campo onde os torcedores menos favorecidos podiam assistir uma partida de futebol. A visão era péssima, só dava para ver as pernas dos jogadores, tinhamos que ficar em pé durante o jogo e enfrentar o sol e a chuva. Mas o ingresso era acessível a quem ganha um salário mínimo, que é a grande  maioria dos torcedores. E não havia divisão de torcidas! Torcedores rivais ficavam juntos e misturados na geral, sem brigas e sem confusão. Hoje, a polícia tem que monitorar a cidade inteira, por que as "torcidas organizadas" marcam brigas pela internet. O engraçado é que esses "torcedores" ganham ingressos dos clubes, por que eles cantam, apoiam o time. Não duvido que ganhem transporte também, pois em jogos do meio de semana em outros estados lá estão eles e com certeza não trabalham, pois não tem como uma pessoa estar em São Paulo à uma hora da madrugada e estar no trabalho às seis da manhã. O futebol hoje é de elite e dos bandidos das organizadas, a verdade é essa. O ingresso "popular" em dias normais custa entre quarenta e sessenta reais. O trabalhador que ganha pouco mais de um salário pode ir ao estádio? Melhor é assinar uma TV e assistir os jogos em casa, longe de brigas e confusões. Estão elitizando o futebol nos estádios e estão descartando os menos favorecidos, a verdade é essa. 
    Bem, agora vou ter que ir, pois o meu intestino está avisando que é hora de ir ao banheiro. E o seu intestino, como está?

Ai estão algumas fotos da viagem quando fiz o caminho do Padre Anchieta


    Bem, essa ai de cima não é bem uma foto, eu estava viajando de trem para Vitória, quando, perto da cidade de Aimorés, ainda em Minas Gerais, avistei essa linda formação rochosa(olha o geológo baixando!) e resolvi filmar. Ai depois foi só congelar a imagem usando um editor de video.

    Essa foto eu tirei em Barra do Jucu, em Vila Velha. É um pequeno balneário, mas vale a pena visitar. Tem um cara que construiu um castelo(foto abaixo) mas não consegui falar com ele.

    Essa foto ai de cima eu tirei quando estava perdido na praia deserta, quase sem água, entre Vila Velha e Guarapari. Não sei o que os dois urubus estavam esperando em cima da placa...

    Seja pouco e seja louco, se isso incomodar ou não satisfazer ninguém, o problema é deles.


    Essa foto foi quando dormi na praia deserta, pois resolvi caminhar até de noite e acabei ficando perdido.

    Siri me estranhando na praia deserta.

    Praia de Setiba e ao fundo, Guarapari.

    Outra foto tirada em Setiba.
    Esses cientistas cada hora falam uma coisa...
    Guarapari, o nome do santo eu esqueci, acho que é São Pedro, quem souber poste ai nos comentários.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Divagações esquizofrênicas

Surtar tem vantanges?
    Hoje comprei um colchonete para dormir melhor em minha barraca. Não estava conseguindo dormir nos pedaços de papelão, pois estava causando uma certa dor no osso que fica perto da poupança(foi a melhor palavara que encontrei) quando tentava dormir de lado. Quem souber o nome do osso referido pode colocar nos comentários. 
    Não consegui dormir bem nos últimos dias, por vários fatores:
1- medo de ser roubado
2- medo de ser agredido por skinheads ou outros animais
3-falta de conforto 
4-barulho, tanto de pessoas como de veículos
    Estou carregando cerca de 8kg em minha mochila.  Barraca, colchonete, coisas de higiene, etc. Roupas, só cinco peças. Fico pensando em o que posso tirar para poder andar melhor depois que o meu pé melhorar, pois pretendo continuar as minhas andanças, já tenho plano para um caminho, que é bem longo e deve durar cerca de um mês. 
    Há onze anos atrás, no meu primeiro surto, cheguei a dormir na mesma região onde fico a maior parte do tempo hoje. Não carregava nada comigo, somente a roupa do corpo mesmo. Quando não estava perambulando que nem um zumbi pela madrugada afora, conseguia dormir em qualquer lugar, sem papelão e nem nada. Era na calçada mesmo, e até hoje não sei explicar isso. Não tinha preocupações nessa fase, em que já não estava enxergando inimigos por todos os lados, mas ainda estava bem fora da realidade. Não estava me preocupando com a higiene e nem com o que as pessoas estavam pensando sobre mim. Estava comendo desesperadamente tudo o que via pela frente. Não me preocupava se teria ou não uma diarreia(e não tive!), chegando a comer até o lixo da padaria na Av. Augusto de Lima. 
    A sensação era de que na fase aguda do surto, a área do cérebro responsável por avisar ao corpo que o estômago estava vazio fora desligada. Só sentia muita sede e cheguei a perder 25kg. Ao voltar um pouco para a realidade, comecei a comer que nem um louco, para tentar recuperar o peso e para saciar a fome mesmo, que era muita, era como se estivesse acumulada no tempo em que fiquei fugindo dos inimigos que estavam em minha mente. 
    Devido a essa despreocupação toda, e pela facilidade em dormir, confesso que chego a pensar se não seria melhor viver estando naquela fase do surto, que não sei como descrevê-la direito. Como disse, já não estava enxergando os inimigos, mas ainda estava fora da realidade e quase não me comunicava com as pessoas, chegando a pensar que todos sabiam o que estava se passando pela minha cabeça. Essa situação gerou até algumas situações engraçadas, com algumas pessoas tentando se comunicar comigo por gestos, talvez pensando que eu fosse mudo.

     Então me vem a pergunta: não seria melhor viver meio que ensurtado? Sem preocupação nenhuma? Conseguindo dormir em qualquer lugar? E pouco se lixando para a opinião alheia? O Renato Aragão, no programa Fantástico, no quadro "O que vi da vida", disse que gostaria de ser o Didi, com aquela despreocupação toda do personagem. Na verdade, grande parte dos humoristas são um pouco tristes, alguns chegando até a ser um pouco mal humorados. 
    Claro que essa fase não foi uma maravilha total, cheguei até a ser agredido, apesar de continuar sendo um pacato cidadão, só que surtado. Mas, olhando os prós e os contras, chego a ficar na dúvida. Não estava nem ai se o meu time havia ganhado ou perdido, se o aumento do salário mínimo foi satisfatório ou não, e se o meu nome estava no SPC, dentre outras coisas. 
    Acho que deveria haver um equilíbrio entre a loucura e a razão: Não devemos ser totalmente normais e nem totalmente loucos e irresponsáveis. Seria essa a maluquez que o Raul Seixas tanto cantava?

Adaptado
    Praticamente dois meses nas ruas, e já me considero adaptado, não completamente, é claro. Já me sinto um morador de barraca de rua. Ao entrar no Centro de referência para moradores de rua, já não me sinto um estranho, me considero como qualquer um dos frequentadores. No albergue também. Por falar em barraca, certo dia, quer dizer, madrugada, ouvi uma das perguntas mais descabidas de toda a minha vida. Estava deitado, tentando dormir, quando, por volta das três horas, um indivíduo deu uma sacudida na minha residência e perguntou:
- Tem gente?
- Tem, né! - respondi.
    Será que o cara estava pensando que a minha barraca era um banheiro? Ou então que alguém a montou no passeio e a esqueceu por lá? Vá se saber...
    No último post sobre o Caminho do Padre Anchieta esqueci de agradecer aos capixabas pela atenção. Não poderia de deixar de dizer que não fui incomodado em nenhuma das vezes nos lugares onde montei minha barraca em solo capixaba. Acho que todo mineiro se sente em casa no Espírito Santo, até o modo de falar é parecido, tirando o sotaque dos mineiros, que é único né?
    E por falar em sotaque, alguém sabe me dizer se capixaba tem sotaque? Se tem, sinceramente não deu para perceber nos dias em que estive por lá. Acho que é o único estado que não tem um sotaque ou maneira de falar fácil de se perceber. Conversei com muitos e não achei nada, nadinha mesmo que pudesse ser considerado sotaque. Ai os curitibanos irão dizer: "Nós não temos sotaque, falamos corretamente o português!" Mas é justamente por isso mesmo que dá para se identificar o curitibano pela fala. Eles falam ao pé da letra "Doce de Leite", ao contrário da maioria dos brasileiros, que dizem: "Doci di leiti". Então o falar correto acaba se tornando meio que um sotaque, não entrando a questão se o português está certo ou não né?
   Aqui em BH também quase não fui incomodado. Quase. Teve uma noite em que um cara deu um assobio na maior altura abem perto do meu ouvido. Nem precisa dizer que fiquei pé da vida, mas resolvi ficar no meu cantinho, pois o cara estava com mais pessoas. Teve também o guarda truculento, que resolvei me incomodar, e balançou a barraca para me acordar e pedir os meus documentos. Acho que esse guarda não raciocina muito bem, será que ele pensou que um bandido ou foragido da lei iria se esconder em uma barraca armada perto do centro de BH?
    Mas no geral não tenho do que reclamar. A maioria das pessoas acha engraçado o fato de uma barraca estar armada em plena cidade. Com o tempo fui conseguindo achar os melhores lugares para armá-la, o que foi uma tarefa um tanto o quanto difícil. Tive que analisar vários pontos antes de escolher esses lugares:
    1- Marquise: é essencial, principalmente nos tempos de chuva, que o local tenha uma ampla marquise, por causa da chuva de vento.
    2-Se a marquise tem dono: as melhores marquises são disputadíssimas e já possuem dono. Ocupar uma marquise com dono pode ocasionar conflitos, armados ou não. Alguns edifícios já possuem grades nos passeios, para impedir que os moradores de rua ocupem a marquise. Algumas vezes, os vigias são orientados para impedir que os moradores de rua se abriguem nelas. Concordo com essa decisão, pois alguns moradores de rua fazem suas necessidades em qualquer lugar, deixando um cheiro nada agradável. Será que estão querendo marcar território?
    3-Se o local é movimentado à noite: Montar a barraca em um local agitado tem uma desvantagem e uma vantagem. A desvantagem é o barulho, tanto dos carros como dos transeuntes. A vantagem é que, se alguém nos importunar durante à noite, pode ficar mais fácil procurar ajuda. Já montar a barraca em um local tranquilo tem o efeito inverso. É ótimo para dormir, mas se por acaso aparecerem pessoas para nos importunar, ai é só o nosso anjo da guarda mesmo.
    Há uns dias atrás, levei um baita susto, não sei dizer o que tive, mas que hoje acho bastante engraçado. Não sei se foi pesadelo, uma pequena alucinação auditiva causada pelo stress de dormir nas ruas ou as duas coisas juntas. Estava dormindo tranquilamente quando fui acordado subitamente por um estrondo. Ouvi então uma autoritária voz gritar:
    - Abra a porta! Abra a porta!
    Pela voz pensei que fosse um policial e não hesitei em abrir os zippers da barraca. Mas não vi ninguém pelas proximidades, somente o motorista de um caminhão que transportava caçambas. Na hora não entendi nada e voltei a dormir. Só no dia seguinte é que me dei conta do fato: o estrondo era da caçamba sendo colocada no caminhão ou no passeio, e a voz foi resultado do meu receio em ser incomodado durante a noite. Não sei se foi pesadelo ou uma alucinação, só sei que foi bem real. Um fato que confirmou que era imaginação foi que a voz pediu para abrir a porta. Ai nem precisei raciocinar muito, pois desde quando barraca tem portas?
    Mas é isso ai, meu pé não está totalmente bom, mas acho que já dá para fazer uma outra andança, pois esperar especialista do SUS é a mesma coisa do que esperar papai noel no natal. Estou pesquisando alguns lugares, alguém ai tem uma sugestão?

 Covardia
    Há uns dias atrás, um esquizofrênico foi assassinado aqui em BH. Pouco se falou no caso. O agressor, que era seu próprio irmão,  disse que cometeu o ato pois o portador não queria tomar banho. Imaginem se ocorre o contrário? Iria virar manchete nacional, e o estigma e o preconceito aumentariam mais ainda. Só espero que esse cara passe o resto de sua vida na cadeia. O link com a matéria vai abaixo:

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/04/14/interna_gerais,371446/homem-mata-o-irmao-que-se-negou-a-tomar-banho-na-grande-bh.shtml

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Nas ruas de novo


    E aconteceu o que eu já estava meio que adivinhando, por conhecer um pouco de mim mesmo: Não aguentei ficar confinado no abrigo e pedi para sair, apesar do meu tendão de aquiles não estar totalmente curado da lesão lá no Espírito Santo.
    Fiz várias amizades no abrigo, afinal éramos meio que solidários no sofrimento de cada um. A experiência foi enriquecedora, apesar de um pouco triste, ao ficar sabendo da história de cada um que estava no abrigo como permanente(ficam lá o dia inteiro). Eles não estavam ali por que queriam, cada um tinha sua história de vida e dava para perceber em seus olhares que não eram muito legais. Alguns até que eram divertidos e alegres, conseguiam ser assim mesmo nessa situação, se bem que alguns ali estavam meio que por comodidade, aproveitando a hospedagem e economizando em aluguel e alimentação, gastando o dinheiro em bebida e drogas, pois alguns estavam ali já trabalhando e a procura de algum lugar para morar.
    Não consigo ficar confinado em um ambiente fechado por muitos dias, ainda mais lotado de pessoas, foi algo parecido com o big brother, apesar de não haver disputas. Às vezes eu podia dar uma saida, para espairecer um pouco os meus pensamentos. Mas não deu. É a velha e maledita mania de perseguição, aliada ao fato de me sentir meio que preso, encarcerado, principalmente nos dias em que estavam reformando o piso da entrada  e não tinha como sair do abrigo. Não conseguia encontrar naquele lugar um cantinho só para mim, em que me sentisse à vontade e quase não tive vontade de escrever.
    A rotina estava me deixando meio robotizado e sem graça: acordava às sete horas, tomava café às sete e meia, almoçava às onze horas, o lanche era às três da tarde, o banho às quatro horas e o jantar às sete e meia. Depois íamos para os nossos quartos e conversávamos até o sono chegar. Me sentia parado no tempo, como o personagem do filme Feitiço do tempo, em que os dias não paravam de se repetir. Esse filme é muito bom, e recomendo a todos que ainda não assistiram, apesar de ser meio antigo.
    Claro que só tenho que agradecer o acolhimento que tive no abrigo, não sou ingrato. O meu pé até que teve uma melhorada, devido ao repouso. Não sou mal agradecido, sei que tem pessoas que não tem nem o que comer e gostariam muito de estar lá naquele abrigo. Mas é o que eu já disse algumas vezes: a solitude é uma necessidade para mim, cheguei a conclusão de que para ser eu mesmo eu preciso desse tempo só para mim. Acredito que isso deve acontecer com muita gente. Precisamos ficar a sós com nós mesmos, às vezes, para refletirmos sobre quem somos e o que representamos no mundo em que vivemos.
    O atendimento pelo SUS em BH está pior do que eu pensava, ainda mais por causa do surto de dengue. Só nestes três primeiros meses do ano, já foram notificados mais casos de dengue do que no ano passado inteiro! Resultado: o atendimento nas UPA's e postos de saúde, que eram péssimos, hoje não tem nem como classificar. Agora eu me pergunto: por que a prefeitura de BH não faz como o Rio de Janeiro e bota o exército para trabalhar contra a dengue?

    Na primeira vez em que fui ao posto de saúde, a enfermeira, que faz a triagem, só de olhar o meu pé afirmou que eu não precisava de atendimento médico. Ela nem ouviu a minha história e já deu o diagnóstico. Eu detesto ter que ir a posto de saúde e só procurei um por que a lesão não melhorou depois de um mês. E também a musculatura da perna direita estava muito cansada e dolorida, por não poder firmar a perna esquerda no chão, e eu não tenho vocação para saci pererê né?
    Então disse para a enfermeira que, se fosse comprar um tênis e o meu pé estivesse inchado, ela teria que comprar um tênis para mim, já que o número 41 só estava cabendo no pé direito. Depois de bancar o chato, ela finalmente cedeu e me encaminhou para o ortopedista. Agora só Deus sabe quando serei atendido. Especialista no SUS é igual nota de cem reais: todo mundo já ouviu falar que tem, mas poucos tiveram a oportunidade de ver.(acho que baixou em mim um daqueles apresentadores de programas de TV que saem criticando todo mundo rsrsrs).
    O jeito então é consultar o Dr. Google, e até já descobri o nome do problema que tenho:Tendinite do calcâneo. Se essa tendinite tivesse ocorrido em outro local, tudo bem, mas foi no nosso ponto fraco, onde todo o peso do nosso corpo se apoia quando caminhamos. Vou procurar o tratamento também no DR. Google(fazer o que né?) e também tentar um bom farmacêutico para tentar sair dessa. Com esse atendimento do SUS ainda temos que ouvir propaganda na TV dizendo que não é recomendável procurar um farmacêutico para resolver esses tipos de problemas de saúde. Vamos fazer o que então? Ficar esperando estáticos em casa o chamado do posto de saúde? Ou procurar um curandeiro? Ou ir providenciando os nossos caixões?
   

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Um mendigo diferente


 O título desse post até parece nome de filme, mas não é. É a minha realidade atual, meio por opção, meio por morarmos em um país que impossibilita as pequenas empresas assinarem a carteira de trabalho de seus funcionários, e, quando o conseguem, assinam a carteira com um valor abaixo do que a pessoa realmenete recebe.
    Falo isso pois tive a sorte de me aposentar, não posso reclamar disso, mas foi com um salário mínimo, sendo que ganhava um pouco mais. É engraçado que no nosso país consideramos sorte uma obrigação do governo. Muitas vezes digo: "Tive a sorte de ser atendido rapidamente no posto de saúde", como se fosse algo que estivesse recebendo de graça. Mas é isso ai, bola pra frente e chega de chororô.
    Estou em um abrigo, ainda me recuperando da lesão no tendão de aquiles, pois o mesmo ainda está um pouco inchado e dolorido, devido ao esforço que fiz. Na próxima segunda terei que ir ao ortopedista, mas creio que não é nada sério, o problema é que me machuquei em um ponto fraco, onde o peso de nosso corpo recai todo sobre esse osso ou sei lá o que é isso. Não vou consultar no google, pois estou na lan house, mas deve ser um osso ou algo parecido. Tive que fingir que havia machucado o tornozelo recentemente, para ser atendido na UPA, aqui em BH. Fiz um teatrinho e cheguei mancando, dizendo que machuquei jogando bola e que estava doendo muito, já, que, quando falei a verdade, não fui atendido. Fiquei na UPA das cinco horas da manhã até as cinco da tarde. A dengue está tomando conta aqui da cidade, e a ordem de atendimento na UPA não era de chegada, e sim de desmaiada.
    Resolvi ir para o abrigo pois se já é um pouco perigoso ficar nas ruas em plena forma física, imagine mancando. Há uns dias atrás, de madrugada, um cara me acordou, cutucando a barraca. Acordei e claro, não coloquei a cabeça pra fora de primeira, esperei a reação da pessoa. Foi uma situação curiosa, pois o cara devia estar fazendo a mesma coisa, ou seja, esperando a minha reação. Então, vagarosamente abri a entrada da barraca, mas não vi ninguém. Mas, logo depois ouvi duas pessoas gritando "Pega ladrão!".
    A polícia já encrencou com a minha barraca também. A polícia não, um policial, melhor dizendo. Outros já passaram por ela e nem me abordaram. Houve um acidente de carro perto do local onde eu havia armado a minha barraca. Depois de algum tempo, resolvendo o problema do acidente, o policial simplesmente começou a sacudir a minha barraca, mandando eu sair dela. Insinuou que eu já tivesse passagens por algum presidio e, como minha resposta foi negativa, perguntou meio que maldosamente o motivo de eu ter sido levado para a delegacia, sendo que nunca em minha vida eu tive que ir a uma delegacia para resolver problemas envolvendo brigas e coisas do gênero. Pegou minha identidade e puxou a minha ficha. Vendo que não constava nada, me perguntou se não tinha medo de ser queimado na rua, mas não respondi nada, pela forma como me abordou. Eu sinceramente, não tenho tanto receio de joguem fogo em mim, pois, na maioria dos casos, isso acontece entre moradores de rua que brigam por diversos motivos, e na maioria das vezes, alcoolizados.
    Uma assistente social chegou a me perguntar se não dá para viver com um salário mínimo, quando eu disse que morava em uma barraca. Sinceramente, acho meio difícil, digo que dá para sobreviver. Se o salário é 680 reais e um quarto razoável custa algo em torno de 280 reais, então sobra 400 reais para alimentação, roupas, higiene, etc. Se tiver a sorte de encontrar algo perto do restaurante popular, as coisas ficam menos dificeis, mas, e quem não mora? Uma refeição custa mais ou menos oito reais por aqui em Belo Horizonte, então só em almoço já são 210 reais. Sobra então 190 reais para outras necessidades básicas, o que, para mim, é muito pouco. Digo e repito que sou um sortudo pelas pessoas que apareceram no meu caminho nos momentos mais difíceis e, se hoje, estou vivo e aposentado, é devido a elas. Mas precisamos só das necessidades básicas para viver?

    Mas morar sozinho é uma necessidade básica para mim, e de preferência, longe de vizinhos barulhentos, ou então, em um lugar que seja distante deles. Volto a repetir que prefiro a solidão não por que as pessoas não prestem, não é isso, é o meu jeito de ser e é também um sintoma da esquizofrenia, o isolamento. Isso gerou um comentário um tanto o quanto áspero de uma leitora, que resolveu colocar o nome de sergio e lea, não sei por que. Acho que só quem tem a esquizofrenia é que sabe o que é querer ficar só, por necessidade. Não vou negar que gostaria de ser mais comunicativo, sair por ai cumprimentando as pessoas, mas sem falsidade. O meu bom dia não seria um bom dia mecânico, como acontece por ai. Se não saio cumprimentando a todos, não é por que não acho que as pessoas não sejam dignas do meu cumprimento, apenas estou sendo eu mesmo. Já tentei ser uma outra pessoa, durante os surtos, para esconder a minha tristeza, e quase tive um problema sério de identidade. Afinal, o que tem de errado em querer ficar só? Algumas pessoas reclamam que sou muito sério, mas ser sério é um defeito? Demoro muito a ter intimidade com as pessoas que conheço, para chegar ao ponto de brincar e fazer piadas, mas, quando isso acontece, sou meio brincalhão até.
    Voltando ao título do post, mendigo é aquele que pede, para simplificar. São moradores de rua, que não tem algo para comer e vestir. Como já disse, tive a sorte de me aposentar, então não peço dinheiro, comida, e procuro não incomodar ninguém. A minha mendicância é apenas por um pouco de paz e respeito. Só gostaria de poder montar a minha barraca por volta das oito horas da noite e desmontá-la às seis horas da manhã, para não atrapalhar ninguém. Não a monto em frente a residências e nem em prédios,  então o que há de mal em morar em um lugar onde estou me sentindo bem? Outro dia, um vigia do prédio de uma repartição pública mandou que eu desmontasse a minha barraca, sendo que eu não estava impedindo o acesso de ninguém, pois nunca a monto em horário comercial. Não acho justo gastar quase metade do meu salário alugando um quarto apertado, então o que há de errado em morar em uma barraca? O que você acha dessa situação?