sábado, 8 de junho de 2013

Estrada Real: 16º dia

23 de maio de 2013-quinta feira
Caxambu-São Lourenço

    Assim como o dia, a noite de ontem também foi das melhores!
    Depois de escrever o post do dia, resolvo dormir no ponto de táxi, ao lado da rodoviária de Caxambu. Na verdade o espaço faz parte da rodoviária, só que não é mais utilizado. Descartei a ideia de dormir ao lado do velório, vai que tem alma penada de alguém que não foi bonzinho o suficiente para ir para o céu e neum mauzinho para ir esquentar lá na casa do tinhoso.
    Chegando lá, encontro algumas pessoas que já utilizam o local para dormir. Um malabarista, que ganha o seu dinheiro nos sinais de trânsito, um skatista e um sergipano, que já está dormindo em alguns pedaços de papelão. 
    Nos cumprimentamos e começamos a conversar. Falamos como viemos parar nas ruas, sobre lugares legais que conhecemos e vários outros assuntos. Tomamos um garrafão de vinho(quer dizer, eles tomaram, eu já fiquei meio alegre no segundo copo e parei). Felizmente, até hoje, eu não aprendi a beber(e nem quero aprender!). Sempre dava vexames e no outro dia não me lembrava de nada, ficando sempre assustado com o que os meus amigos diziam: 
    - Eu fiz isso?
    Por volta das onze horas, fui dormir. Começou a chover forte, e fiquei um pouco preocupado se iria chover de dia também, mas logo peguei no sono. Foi uma das melhores noites que já tive nessa viagem. 
    Acordo por volta das seis e meia, bem disposto e animado para continuar a caminhada. Me despeço meio triste do malabarista e desejo-lhe toda a sorte do mundo. Ontem, cheguei a pensar em andar com ele e o skatista por esse Brasil afora, mas não cheguei a falar isso com eles. Gosto mais da natureza e ele precisa mais das cidades movimentadas, para ganhar o seu sustento nos sinais de trânsito. 
    De manhã, tentei visitar o parque das águas de Caxambu, que parece ser muito bonito. Mas desisto da ideia ao saber que a entrada custa cinco reais. Deu para ver, do lado de fora, que tem um teleférico que leva a pessoa do parque até a montanha onde fica um mini Cristo Redentor, que deve ter uns dez metros de altura. Deve ser um passeio bem legal, para quem não tem medo de altura. Acho que o teleférico só funciona aos sábados, domingos e feriados.
 

parque das águas de Caxambu
       O caminho para São Lourenço também é gostoso de se percorrer, só estava um pouco emlameado por causa da chuva da madrugada. O final do percurso é um pouco puxado, por causa da serra. Acho que dá para evitar essa forte subida, quando dá para se avistar a BR, mais ou menos depois do marco 1126. Mas, como eu gosto desse contato com a natureza, nem pensei em seguir pelo asfalto. 
    O silêncio é tão "alto" que, em um determinado ponto do percurso, deu para ouvir o bater de asas de um gavião voando pelo céu. Nesse momento, me lembrei do decalque do corcel bege, que vi quando criança e tinha a seguinte frase, que nunca saiu de minha cabeça:
    - Mi sonho és ser libre como el pássaro.
    Acho que, em parte, estou concretizando esse sonho. Não posso sair voando por ai como um pássaro, mas tenho a liberdade de ir e vir, sem me preocupar com horários e outras coisas mais. Tenho a liberdade de ser quem eu sou, independente da opinião alheia. Essa é a melhor liberdade que um ser humano pode ter: a de ser ele mesmo.

    A dor na canela esquerda, que de manhã havia desaparecido, voltou na parte da tarde. Acho que vou ter que conviver com ela até o final da viagem. O melhor remédio para dores musculares é o repouso, não tem jeito. Injeção é só mesmo um paliativo.
    Não gosto de ficar olhando quanto ainda falta para terminar a caminhada. Isso me desanima um pouco. O máximo que faço é planejar os dois próximos dias: as distâncias, se a estrada está em boas condições, se tem lugar para almoçar, etc. Assim também é a vida: temos que nos preocupar com o amanhã, é claro, mas não podemos viver o presente em função do futuro. 
    Depois de muito esforço para subir a trilha, chego finalmente a São Lourenço, por volta das duas horas da tarde. Não entrada da cidade, ouço dois caras comentando:
    -Esse "trilha" é muito louco!
    Achei engraçado e fiz sinal de positivo para eles. Não uso um visual extravagante, só bermuda e uma camisa leve mesmo. Acho que tenho cara de maluco mesmo, só pode.
parece com a caveira do Iron Maiden
 
se parece com o que?
     No centro de São Lourenço, que parece ser bem maior do que Caxambu, um carteiro me diz que na cidade existe um albergue. Acho a ideia ótima, dormir sem nenhuma preocupação e em um bom colchão é muito recomendável em uma caminhada tão longa como essa. 
    Esse foi mais um dia tranquilo, mais uma etapa vencida. Essa parte do trecho está sendo muito zen, muito boa para me recuperar. Pelo que já vi nas planilhas, a parte final da caminhada vai ser um pouco puxada, vamos ver no que vai dar.

qual é a parte da tua estrada no meu caminho...

    Gosto de quase todas as músicas do Zeca Baleiro, mas umas de que gosto mais, é essa: se chama Quase nada. 

De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho
Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo
Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada
De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho
Será um atalho
Ou um desvio
Um rio raso
Um passo em falso
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo
Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada

5 comentários:

  1. Você sabe que todos os dias eu espero pela suas postagens a cada dia que passa eu me ​​sinto mais interessado em suas experiências desta viagem cuasi futurista, ja to com vontade de pegar minha mochila e sair para a vida eu admiro a sua coragem, bravura e força são muito poucas as pessoas que fazem esse tipo de aventura sentir la livertade sem horários, sem um chefe para lhe dar ordens, hoje eu ri muito com o que paso a noite com o Malabarista e skatista essas aventuras não têm preço eu ri por lo del vinho. vai enfrente as estradas som de você um forte e grande abraço e obrigado por responder meus comentários y entender meu ruin portugues asta mais Julio ...e la calabera que parece a Iron Maiden , ta muito legal coisas da natureza

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu que agradeço por seguir o blog, vocês me fazem sentir uma pessoa melhor. Realmente, seguir por ai sem ninguém para nos mandar é algo que não tem preço, claro que tem alguns problemas, mas essas coisas que acontecem pelo caminho valem a pena todo esforço. Você também curti o Iron Maiden? Hasta la vista, rsrsrsrs
      Depois tentarei responder um comentário seu em portunhol, acho que você não irá entender nada rsrsrs

      Excluir
  2. Boa tarde. fiquei curioso sobre a vidad esse skatista, ele vive do que? ele é andarilho tbm?
    sobre voce, quando vc chegar no seu destino, o que vai fazer? e qual é o seu destino nessa caminhada?
    flw fica com Deus. abraço , boa sorte!!

    ResponderExcluir
  3. O skatista conheceu o malabarista nas ruas por ai, e agora eles andam juntos. Acho que o skatista vive mangueando(pedindo dinheiro para as pessoas), ele também fica andando por ai.
    Bem, quando eu chegar ao meu destino, retornarei para Belo Horizonte, minha cidade natal, para descansar, depois irei ver se acho um outro caminho legal para se percorrer. Eu aprendi que, na caminhada, o mais interessante não é cumprir a meta, ou seja, chegar ao destino. O melhor é aproveitar o caminho, sem pressa, chegar ao final é o menos importante. Estou aprendendo e aprendi muito nessa caminhada até agora. Fique com Deus também.

    ResponderExcluir