terça-feira, 11 de junho de 2013

Estrada Real: 17º dia

24 de maio de 2013
São Lourenço-Pouso Alto

    O albergue de São Lourenço não é muito grande, porém é bem aconchegante, com roupas de cama limpas, chuveiro quente e até uma televisão, apesar de que a única coisa que queria fazer ontem era tomar um bom banho e descansar minhas canelas. Estou numa fase meio sei lá o que, estou pouco ligando para  o que está acontecendo no mundo, se o meu time ganhou ou perdeu, se o papa canonizou mais alguém, etc. 
    Tive mais uma boa noite de sono, apesar de ter que deixar minha mochila em um ármario, bem longe de mim. Eu disse que poderia deixá-la debaixo de minha cama, mas o funcionário do albergue me assegurou que era mais seguro deixá-la trancada no ármario. Estava com receio que ele pudesse fazer uma limpa na minha mochila durante a noite: pegar o meu celular(que ainda está funcionando), a câmera, o dinheiro, etc. De manhã, conferi tudo, mesmo sabendo que era mais uma das minhas cismas, um pouco fruto de minha mania de perseguição que me persegue. 
    Logo depois do café, fui entrevistado por uma assistente social. Entrevista ao pé da letra mesmo, um bombardeio de perguntas, desde sobre a minha família até quantas vezes eu havia fumado maconha em minha vida(três vezes, descobri que não preciso disso, já nasci meio maluquinho mesmo). Super gente boa ela, me ofereceu toalha, me deu conselhos sobre a viagem, até me ofereceu passagem até Pouso Alto, mas recusei, afirmando que a minha proposta era seguir o caminho a pé. Foi uma das poucas pessoas que não se assustaram quando eu disse que o meu destino era Paraty. Assistente social tem que fazer um pouco de psicologia, eu acho, e geralmente entendem essas coisas da mente humana.

    São Lourenço é uma cidade de porte médio, dizem que tem ótimas atrações turísticas, mas não tenho tempo(e nem money) para visitá-las. Demorei um bom tempo até conseguir sair do município. (desculpem os eventuais erros de português, é que esse pc não tem corretor ortográfico, e eu não fiz curso de letras). 
    Mas, antes de sair de São Lourenço, aconteceu um fato meio engraçado e curioso. Fui ao supermercado comprar frutas e biscoitos, a base de minha alimentação nesta viagem. Deixei a mochila e o colchonete no guarda volumes e, ao caminhar, levei até um pequeno susto: estava tão acostumado a caminhar com os dez quilos nas costas que, ao caminhar sem eles, fiz o esforço como se estivesse carregando o peso, e quase que dei um "salto a distância" de tão leve que eu estava, pois também havia emagrecido cinco quilos desde o início da viagem. Fiquei curtindo essa leveza no supermercado, estava até gostoso de ficar andando.

alguém conhece esse cara?
     Entrei na estrada de terra para Pouso Alto por volta das nove horas da manhã. Estrada boa, com casas bem próximas umas das outras. Falta de água e informação não é problema por lá. Encontrei vários "presepinhos" pelo caminho. Em quase todos eles, havia a figura de um cara tocando violão. Esse cara não me é estranho, acho que, quando era criança, tinha um desses em casa. 


    Estava tudo muito bem, muito bom, até estar faltando cerca de seis quilômetros para se chegar em Pouso Alto. O céu começou a ficar um pouco mais cinzento. Algumas gotas de chuva começaram a cair, mas não me incomodaram muito e prosegui o caminho. Mas, cerca de vinte minutos depois ela veio. A temível chuva. Não era uma chuva torrencial, mas incomodava e muito. Tinha planejado a viagem nesta época do ano principalmente para evitar as chuvas de verão, mas não teve jeito. Tive que usar então o meu kit anti-chuva. O plástico de uma cama de solteiro para cobrir e proteger as coisas dentro da mochila e a barraca, que desenrolada, servia como capa de chuva. 
    A estrada de terra começou a ficar escorregadia e enlameada. Estava caminhando de chinelo, por causa do machucado no dedão do pé esquerdo. Um escorregão ali, com aquele peso todo, e com as mãos ocupadas, seria bem complicado. Tive que caminhar bem lentamente. Para piorar ainda mais as coisas, tinha que subir e depois descer uma enorme serra antes de chegar a Pouso Alto. Toda hora dava uma derrapada, mas não cheguei a levar um tombo. Não estava preparado para a chuva, essa é a verdade. Ficar segurando a barraca é muito desconfortável, tira e muito a minha mobilidade. Até que poderia guardar a barraca, e caminhar molhado, mas essa combinação de chuva e frio não é nada agradável. Uma coisa é uma chuva de verão, em uma praia. Agora, uma chuva no sul de Minas, com o inverno batendo as portas, dá vontade de pegar um ônibus e ir embora. Estava sonhando com um cobertor bem quentinho dentro da minha barraca
igreja matriz de Pouso Alto

um pouquinho de chuva
    Não havia nenhum local coberto para me abrigar e segui o restante do caminho sem parar, chegando a Pouso Alto por volta do meio dia. Essa também é uma das desvantagens da chuva, não tem como parar nas estradas de terra, a não ser que algum morador nos deixe entrar em sua casa para nos deixar descansar um pouco. 
    A primeira coisa que fiz em Pouso Alto foi almoçar. Na estrada real, o viajante que está fazendo o caminho, principalmente a pé, não pode perder a oportunidade de almoçar no horário adequado. 
    Depois do almoço, acho um estádio de futebol e consigo tomar um bom banho quente. Converso depois com uma assistente social e fico sabendo que na cidade não tem um albergue. Pergunto se dá para dormir no ginásio de esportes da cidade, mas ela me diz que um morador de rua já frequenta o local.
    Está fazendo muito frio na cidade. Não encontro nenhum local melhor do que o coreto para montar a minha barraca. Não estava contando com essa chuva, ainda mais no sul de Minas. O jeito é arrumar o máximo de papelão que puder e rezar para que a noite não seja ainda mais fria do que o dia, e que a chuva dê uma trégua, para que eu possa continuar a caminhada. Se essa chuva continuar, não sei o que fazer, não estou equipado para caminhar na chuva, ainda mais agora, que estou com o pé machucado. O jeito é rezar muito mesmo.

2 comentários:

  1. oi Mano gosto muito dos seus textos, e gostei mais ainda dessa viagem que vc ta fazendo, gostei mais desse post seus da estrada real decimo setimo dia, pq é perto da cidade que eu morava São Sebastião do Rio Verde.
    Continue sempre escrevendo eu e minha esposa sempre lemos os seus textos.
    abraços e boa sorte sempre...
    Deus lhe ama...
    (Nando e Michelle)

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    1. Obrigado Nando, estou lembrado de ter passado perto de sua cidade. Estou no meio do caminho da estrada real, só que este se chama caminho de sabarabuçu, acho que semana que vem eu vou completar esse caminho, que é difícil pra caramba, mas é muito bonito também.
      Fique com Deus

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