quarta-feira, 2 de abril de 2014

Paranoica Mente



      Há alguns dias atrás fui há uma consulta no posto de saúde do parque da Mooca. Não posso ficar muito tempo sem o meu, o nosso pan de cada dia.
    O médico foi bem sem educação logo no início:
    - Qual droga você usa?- perguntou, logo de cara.
     Respondi educadamente que não usava droga nenhuma, fazendo um enorme esforço para não dizer outras coisas. Deu vontade de dizer que a única droga que usava era o diazepan mesmo, que foi receitada por um médico sacana que sequer me informou que o medicamento causava uma enorme dependência.
    Quando disse que o motivo de estar ali era apenas para pegar a receita do diazepan, o médico começou a me fazer um monte de perguntas, chegando a ser até um pouco inconveniente. Para que tanta burocracia para pegar um medicamento que se toma há mais de doze anos? Será que não dá para apenas trocar a receita antiga por uma nova? O posto de saúde já vive lotado, não tem cadeiras, vive cheio de pernilongos, temos que esperar cerca de três horas para sermos atendidos, e eles nos mandam voltar apenas para pegar algo que nem é preciso de uma consulta? E o pior é que nos dão apenas 30 comprimidos. Vai entender...
   Quando disse que tinha esquizofrenia ai ele queria por que queria que eu tomasse um antipsicótico qualquer. Para ele é fácil receitar, afinal quem tem que acordar às seis da manhã sou eu né? Quer dizer, várias pessoas precisam acordar cedo, mas dopadas é complicado né?
    Não me considero um sabe-tudo, pelo contrário até, por achar que nada sei é que continuo a estudar e a pesquisar sobre vários assuntos. O tema principal, no momento, é claro que não poderia deixar de ser a esquizofrenia. E gosto de questionar muito, e muitas pessoas interpretam isso de uma forma errada, como se fosse uma rebeldia. Em um certo grupo do facebook os moderadores pensam que eu incentivo o não tratamento da esquizofrenia. Não é bem isso. Acho que somente com as reclamações dos usuários dos medicamentos é que os pesquisadores irão procurar melhoras formas de se tratar a esquizofrenia. Para os cuidadores está tudo bem, a pessoa fica dopada e não irá dar trabalho nenhum. Mas o portador está feliz? Está engordando muito? Não fica muito desanimado e sonolento? Pouco importa, o importante é que não está dando trabalho.
    Creio que evolui bastante em relação ao uso do diazepan. Na época dos sintomas positivos, não saia de casa sem uma cartela no bolso e não era raro ter que tomar um ou mais comprimidos durante o dia. Certa vez, entrei em desespero quando, já na rua, ao colocar a mão no bolso, constatei que havia esquecido a cartela do medicamento que evitava que eu entrasse em colapso. Fiquei sem saber o que fazer, olhando de um lado para outro e, meio que por instinto corri até uma padaria a fim de me empanturrar com tortas de chocolate. A ingestão dessas guloseimas  funcionavam até certo ponto, o problema era os meus triglicerídeos, que estavam muito altos, por volta dos 600mg.
   Já cheguei a tomar dois comprimidos de 10mg de diazpen por noite. Não estavam mais fazendo efeito. Mudei para o levozine, mas esse medicamento é dose para leão. Era um sacrifício danado quanto tinha que fazer uma necessidade durante a madrugada. Parecia que estava de porre e saia trombando em tudo o que via pela frente. Hoje, depois de  muita luta, consigo dormir razoavelmente bem com apenas um comprimido de 5mg.  E, mesmo quando durmo pouco, acordo melhor do que tivesse dormido sob efeito dos medicamentos mais fortes. Como disse, evolui bastante em relação ao uso do diazepan. Se antes eu não conseguia ir ao centro de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, hoje vou ao centro de São Paulo sem a cartela do medicamento no bolso como precaução. A maturidade, a experiência com a patologia foram os principais fatores para essa evolução. Claro que estando nos sintomas negativos as chances de ter um surto são bem menores. Até parece coisa de mulher, estar de tpm ou não, só que no meu caso, são os sintomas negativos e a fase dos positivos shasuhasuahsuashs.

    Também me parece que a produção da adrenalina e outras substâncias que talvez sejam perigosas para os esquizofrênicos diminua com a idade. Hoje sinto que não tenho tanta adrenalina como antes, e talvez a dopamina também tenha diminuido, aliás, muita coisa diminui depois dos 40 né? shaushasuhas
    Acredito também que certos alimentos aumentam a produção da dopamina. Fico muito agitado quando misturo café e chocolate, e sinto que meus pensamentos ficam um pouco alterados.
    Os surtos diminuíram, mas as paranoias não. Voltando a consulta, o médico foi atencioso, apesar de ser um pouco chato. Não sou só de reclamar, o cara até que se mostrou um profissional interessado no estado de saúde do paciente aqui. Me propôs um hemograma completo, e eu, como bom hipocondríaco que sou, não recusei né? Tinha até teste de HIV.
   Bem, o exame estava demorando um bom tempo para ficar pronto. Não estava apreensivo. Sabia que, como sempre, com exceção dos triglicerídeos, todos aqueles numerozinhos do hemograma estariam dentro do limite considerado aceitável.
    Mas não sei bem como isso aconteceu, de uma hora para outra comecei a ficar incomodado quando algumas pessoas do parque da mooca ou de qualquer outro lugar olhavam para mim.
    " O exame de aids deu positivo, e o médico contou para a enfermeira que contou a noticia para todo mundo!"- comecei a pensar.
    Esse pensamento começou a tomar conta de minha cabeça apesar de não ter me descuidado nas minhas poucas relações que tive nos últimos anos.
    Ou será que estava com câncer? Será que iria aguentar uma quimioterapia? Por que será que as pessoas estão olhando para mim? O que iria fazer se estivesse mesmo com HIV? Essas e outras questões começaram a tomar conta dos meus pensamentos e frequentemente ia ao posto de saúde perguntar pelo exame que não ficava pronto de jeito nenhum. Após cerca de 40 dias enfim ele chegou. Mas, quando fui retirá-lo, a atendente me informou que só poderia recebê-lo marcando uma nova consulta. "Provavelmente o exame deu positivo e a notícia teria que ser dada com cuidado".-cheguei a pensar.
com exercícios físicos, alimentação adequada e o ômega 3 é possível reduzir sim os triglicerídeos
     Foram dez dias de espera e muita apreensão até que a notícia me fosse dada, quer dizer não dada. Não estava com aids e tudo estava em ordem, com exceção dos triglicerídeos, como já havia previsto. Mas foi uma boa notícia, pois, graças ao ômega 3 e aos exercícios físicos, a taxa caiu de 580mg para 270mg. O médico que consultei pela última vez queria me receitar sinvastatina para diminuir essa gordura no sangue. Mas disse a ele que iria conseguir sem a ajuda desse medicamento que detona o fígado da gente. E o resultado está ai. Daqui há alguns meses irei fazer outro, e postarei aqui o resultado. Recomendo a todos o ômega 3. Claro que devemos fazer exercícios físicos e tirar da alimentação uma série de coisas.
    Sei que falo muito nesta questão da aids, mas é algo que me incomoda e muito ainda. Não posso emagrecer que já penso que todos estão dizendo que estou com HIV. É passado, eu sei, mas não sai de minha cabeça.A minha mente não é um HD, que pode ser limpo a qualquer momento, podendo ainda se fazer um back up das boas recordações. Quando estava surtado, no ano de 2002, cheguei a pedir a um policial para ser preso, pois cheguei a pensar que poderia ter contaminado algumas pessoas. O sentimento de culpa exagerado, apesar de não ser muito divulgado, é um dos sintomas da esquizofrenia e pode enlouquecer qualquer um. Comecei a me achar culpado por uma série de coisas que não tinham nada a haver com nada e me senti a pior pessoa do mundo. Achava que merecia ser punido por tais coisas. Eram coisas sem sentido, tudo de errado que havia acontecido era culpa minha. Não teve jeito, a solução que encontrei foi tirar a minha própria vida. mas, felizmente fracassei nas minhas tentativas.


Ajudem-me a encontrar Luciene Camila!!!
    Pessoal, eu sei que o blog não é um programa de televisão, mas estou escrevendo estas linhas como uma forma de desabafo também.
   Conheci Lucine Camila por volta do ano de 1998, na cidade de Rio Vermelho. Estava trabalhando na sonorização da festa da cidade. Ela foi até o palco e me pediu para tocar uma música. Fiquei apaixonado por seus lindos cabelos encaracolados e loiros. Ficamos juntos por dois dias que foram muito bons.
    Anos depois voltei a mesma cidade, para a mesma festa. O boato de que estava com aids circulava na cidade onde eu morava. A festa da cidade iria durar três dias. Infelizmente um dos meus "colegas" de trabalho comentou com alguém da cidade sobre essa notícia. Como era uma cidade pequena, o boato se espalhou rapidamente, e os irmãos de algumas garotas com quem havia ficado nos anos anteriores pareciam estar enfurecidos, talvez pensando que eu poderia tê-las contaminado, apesar de não ter saído dos beijos e abraços. Os meus colegas ficaram meio desesperados, deu para ouvir a conversa no hotel. Queriam pagar a minha passagem de volta, mas, de dentro do quarto, ouvindo a conversa, resolvi ficar, pois sabia que não tinha feito nada demais. Nunca iria querer fazer algo de mal a ninguém, se por acaso estivesse com aids. Sou contra pessoas que contaminam outras só para se vingarem. Para mim isso deveria ser considerado um crime, apesar de ser de difícil comprovação.
eu nunca tive aids! Se tive então fui curado. shaushasuashaushasuahs

 No sábado, encontrei Luciene. Ela não se aproximou de mim. Estava há uma distância de uns 30 metros, e o seu olhar foi pior do que qualquer coisa. O que ela me passou com aquele olhar não posso publicar aqui. Depois fiquei sabendo que ela ficou arrasada e que iria fazer o teste do HIV, apesar de ficarmos só nos beijos e abraços. Fiquei muito triste e decepcionado, foi uma das piores coisas que aconteceu na minha vida. Uma pessoa que gostei tanto pensar que eu fosse um monstro. Já tentei encontrá-la pela internet, sem sucesso. Até mandei carta para o programa do Ratinho. Não quero ficar com ela novamente, nem sei se está casada e tem filhos. Só gostaria de dizer que nunca tive aids e que seria incapaz de fazer uma coisa dessas. E gostaria de dizer que ela foi uma pessoa especial em minha vida. Eu também iria ficar grilado se ficasse sabendo que beijei uma pessoa com aids, apesar de saber que as chances de contaminação são mínimas através desse ato. .
    Luciene Camila nasceu na cidade de Rio Vermelho, em Minas Gerais, mas, por volta do ano 2000 se mudou para São Paulo, perto da Raposo Tavares, segundo sua mãe. Ela deve ter uns 35 anos atualmente. É loira, baixinha, etc. Quem souber alguma forma de se encontrar pessoas me dê uma dica ai. No facebook ela não está, ou pelo menos não se registrou com o seu nome verdadeiro.


 " Medo  não quer dizer falta de coragem. Coragem é ter vontade de enfrentar os nossos medos."
         autor: eu mesmo shasuahsuashuashs




4 comentários:

  1. Adorei seu texto, cheio de informações e dito com bom humor! E
    bom humor é sinônimo de inteligência!
    Parabéns, e tomara q vc consiga encontrar a moça. Porém, caso não a encontre, deixa isso pra lá...Algo q pessoas inteligentes aprendem é a lidar com a realidade...e como fazer isso? se situando sempre no tempo, lembrar q tudo q é passado ou futuro não deve determinar o q sentimos. Já passou, e viver o hoje já dá bastante trabalho neh? rs
    Abraços

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    1. É isso ai, concordo com vc,se der para aparar algumas arestas do passado, tudo bem, mas se não der, bola pra frente. Mas que o olhar dela foi difícil de entender foi. Obrigado por visitar o blog.

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  2. Respostas
    1. Obrigado, acho que apesar dos nossos problemas temos que ir levando a vida em frente e seu pudermos ajudar as pessoas com nossas experiências é melhor ainda.

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