sábado, 31 de maio de 2014

Fala que eu não te escuto

     Bem, esse texto eu achei em uma revista chamada Em dia e fala sobre a mania que grande parte das pessoas têm hoje de não desgrudarem de seus smartphones.

    "Pode falar, que eu não te escuto, não te vejo, não interajo e não falo.
     Hoje o meu parceio é o smartphone e, neste momento, estamos almoçando, conversando com um monte de gente nas mídias sociais e, infelizmente não podemos dar atenção a você.
    Sei que estamos na mesma mesa, dividindo o mesmo espaço e até escolhemos os mesmos pratos, mas entenda, eu não estou aqui!
    O que você vê é só o meu corpo, pois estou em outro lugar.
    Estou com uma galera que curte tudo o que faço, ri de tudo o que posto, são superfelizes, são pessoas lindas, divertidas, resolvidas e descoladas. Estão sempre disponíveis e prontas para interagir.
    É claro que não são sempre as mesmas pessoas, elas se revezam conforme os horários, mas o legal é que fazemos tudo muito parecido, jogamos os mesmos jogos, então nunca estamos sós.
    Falamos pouco, teclamos muito.
    Na verdade, temos simplificado um pouco a fala e adotado uma repetição, tipo "lek lek" ou "lepo lepo".
    Isso facilita um pouco o nosso raciocínio, sobrando mais tempo para teclar.
    No futuro, acredito que tudo isso que estou fazendo será ainda mais intenso e presente em nossas vidas. Com  os anos, mais velhos e desgastados, teremos ainda mais dificuldade em falar, pensar e refletir. Nessa hora, será ainda mais fácil teclar.
    Como não teremos vontade de falar, não seremos carentes e não teremos muito o que contar, pois tudo o que vivemos já esteve devidamente mostrado e compartilhado, não precisaremos que você nos escute.
    Vamos teclar, teclar teclar e ver a vida passar!

    Paulo Cesar Cardoso
    revista "Em Dia"

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Divagações esquizofrênicas

 
    Quatro meses em São Paulo. Foi complicado, mas posso dizer que já estou adaptado. Adaptado sim, mas feliz não. Sinto saudades das coisas de Minas, das padarias, do tradicional pão de queijo, do feijão tropeiro e outros quitutes da culinária mineira.
    Claro que não penso somente em comida. Sinto falta da mineiridade, do jeito simples, de falar e de ser, e da educação e gentileza do povo mineiro. Por exemplo, quando pedimos informações sobre a localização de um determinado lugar, o mineiro só falta desenhar um mapa para ter a certeza de que chegaremos ao destino desejado.
    No início, quando ainda estava no Arsenal da Esperança, na mooca, um certo desespero tomava conta de mim quando saia do abrigo por volta das sete da manhã. Ficava que nem uma barata tonta procurando um lugar tranquilo para ouvir o som do silêncio e às vezes me recuperar de uma noite mal dormida.
   Acabei achando o parque da mooca, que não é bem um parque ecologicamente correto. Lá tem uma subprefeitura, uma biblioteca, um poste da saúde e outras coisas mais. Poucas árvores e poucos pássaros. Muitas pombas nos arredores dos bancos, à espera de uma migalha de biscoito ou de um petisco qualquer. As pombas em São Paulo já viraram uma epidemia, já estão muito habituadas com os seres humanos. Estão muito atrevidas e já não se assustam com qualquer coisa.
    No centro da cidade quase tive uma crise de pânico. Toda aquela agitação, o stress de usar o metrô e correria não me fizeram bem. Sabia que poderia ter uma crise há qualquer momento. Então me lembrei que havia lido em um lugar uma placa com uma seta indicando um certo Parque Dom Pedro. Resolvi tentar achar esse parque que poderia me servir como refúgio. Mas acabei descobrindo que esse nome era dado não especificamente a um local sossegado e com muitas árvores. Parque Dom Pedro é na verdade uma extensão do centro da cidade, onde se situa a rua 25 de março, famosa pelas inúmeras lojas com produtos variados e com preços mais acessíveis.
parque D. Pedro e centro antigo
     Estava sem o "pan nosso de cada dia" . Há muito tempo não precisava de tomar essa medicação durante o dia. A solução que encontrei  foi correr até o metrô e voltar para a mooca. Essa foi por pouco...
    Em relação ao trânsito, passei por alguns perrengues. Estava transitando em Sampa como se estivesse em Belo Horizonte, o que me ocasionou algumas situações um pouco perigosas. O trânsito na capital mineira é agitado, mas nada que se compare ao de São Paulo. O motorista mineiro é mais educado e tranquilo. Já o paulista é um pouco mais estressado e apressado, sendo que alguns tem o costume de não respeitar muito a faixa de pedestre e ainda deixam de "dar a seta" na hora de virarem para a direita ou esquerda. Confesso que cheguei a xingar alguns desses imprudentes de corno quando quase me atropelavam. Os motociclistas então nem se fala. Andam apressados entre os carros em um congestionamento e costumam ultrapassarem o sinal vermelho. Mas, tudo bem, isso é fruto de uma cidade superpopulosa onde existe uma oferta maior de trabalho. Na avenida Radial Leste é preciso tomar cuidado quando estamos no passeio, à espera do sinal fechar para os carros. Certo dia, estava bem na pontinha do passeio, quando quase levei uma "retrovisada" na orelha. Aqueles ônibus enormes que tem uma "sanfona" no meio circulam pela radial bem rentes ao passeio e, como o retrovisor do lado direito do motorista é um pouco afastado do veículo, dá- se a sensação que às vezes o mesmo chega a entrar no passeio.
   O paulista tem suas manias e esquisitices. Parece que não gostam muito de café puro, preferindo a média, que é o famoso café com leite. Então, quando estamos em um estabelecimento e pedimos café, provavelmente o atendente nos servirá café com leite. Então temos que dizer que queremos café puro, e ele vem bem cheio. A maioria dos bares não vendem o cafezinho na xícara, na verdade é um cafezão que nos é servido. Até hoje não me acostumei e na maioria das vezes peço café e às vezes me chega o café com leite.
  Outro hábito paulistano que era estranho para mim: o pão no almoço e no jantar. Certo dia, o cara do restaurante Bom Prato achou ruim quando disse para pegar o pão que ele havia colocado em minha bandeja.
    - Mas você tem que avisar que não quer pão!- reclamou.
    - Eu vou almoçar e não tomar café da manhã!- respondi, em tom de brincadeira.
    São Paulo tem poucos sacolões. As frutas e verduras geralmente são comercializadas em feiras ao ar livre.E, como todos já sabem, as coisas por aqui são um pouco mais caras. São Paulo lidera o ranking das cidades mais caras do país. .
    Mas, apesar disso, pretendo ficar por aqui até agosto, quando finalmente os meus empréstimos com o INSS serão quitados. Não estou dizendo que a capital paulista não seja um bom lugar para se viver, mas para o pacato cidadão aqui não dá. Se eu não tivesse tantas paranoias como a mania de perseguição, por exemplo, poderia aproveitar melhor o lado cultural da cidade.

Tempo esquizofrênico
   Outra coisa que demorei um pouco para me acostumar em São Paulo foi o clima. O mês de janeiro foi o mais quente desde 1943, o que me deixou um pouco perplexo. "Cadê a famosa garoa paulistana?", cheguei a me perguntar algumas vezes. Quase não choveu neste verão e o nível do reservatório cantareira, que abastece várias regiões da cidade, já está próximo dos 10%.
    Mas, depois desse quase inóspito verão, o frio aos poucos começou a dar as suas caras. Certo dia, estava no Arsenal da Esperança ouvindo um jogo de futebol pelo celular(apesar do nível do futebol brasileiro estar péssimo, ainda tenho esse hábito, pelo simples motivo de não ter outra coisa para se fazer).
O tempo estava nublado, às vezes um tímido sol aparecia entre as nuvens. Mas no estádio do Morumbi o jogo teve que ser paralisado devido a uma forte chuva de granizo. "Será que essa chuva está vindo para cá?" me perguntei, com medo. Mas o dia foi virando  noite e nem chegou a chuviscar no bairro da mooca.

 
      E diversas vezes cheguei a ouvir pelo rádio que o trânsito estava caótico devido as fortes chuvas que caiam em determinadas regiões da cidade. Mas na mooca nem garoa tinha. Em Belo Horizonte, quando chove é na cidade inteira na maioria das vezes.
    Para sair de casa na parte da manhã é um dilema. O que devemos usar? Nem sempre devemos nos basear pelo tempo que está se fazendo pela manhã. Quase não acerto em minhas previsões e não é raro passar frio o dia inteiro quando avisto um céu limpo no raiar do dia. O inverso também acontece, e tenho que ficar o dia carregando uma blusa de frio quando avisto um tempo fechado pela janela do abrigo.
   O vento também é um fator importante. Não podemos confiar muito nos vários termômetros espalhados pela cidade. Podemos sentir frio ou não com uma temperatura de 22°C. Se estiver ventando, a blusa é necessária. O vento paulista é gelado e cortante. Mas, se não estiver ventando nos sentiremos confortáveis com uma simples blusa de mangas curtas.
    Já estou pensando em comprar uma mochila pequena  para carregar o kit contra as intempéries do clima em São Paulo: capa de chuva, guarda chuva(não vale a bengala de seis reais, tem que ser dos bons, para aguentar uma possível chuva de granizo). Também levarei blusa de frio, protetor solar, boné, etc. Ah! Uma toca é bem vinda, se você tem as orelhas frientas. Cortei o meu cabelo e agora estou sentindo um frio danado nas minhas orelhas. O cara que cortou o meu cabelo é boliviano, e acho que houve um ruído na comunicação, por causa do idioma. Pedi para que ele tirasse só um pouco, mas o cara não teve dó. Mas cabelo cresce rápido né? Deixa para lá.
    Assim é São Paulo. Não é uma cidade linda por natureza, mas tem os seus encantos. É um paraíso cultural. Um paraíso cultural em um inferno urbano, essa foi a melhor definição que encontrei. Acho que teria gostado de conhecê-la antes dos meus surtos, quando conseguia ir a um show sem que as paranoias me tirassem o prazer de se escutar uma boa música. Senti que o meu caso era grave quando, certo dia, deixei de sentir prazer em comer uma pizza quatro queijos em um shopping de Ipatinga, pelo simples fato de pensar que estava sendo observado.
  Assim é São Paulo, assim é o Brasil. Com seus costumes, manias e esquisitices peculiares de cada cidade e região. Tem para todos os gostos e personalidades.
  Bem, agora vou me despedindo, vou tomar um cafezinho, ou melhor dizendo um cafézão puro.
   Até o próximo post pessoal.


segunda-feira, 19 de maio de 2014

Consultas on line, Pode?

 
     Há algum tempo atrás, ocorreu algo que, para mim era no mínimo estranho e inusitado. Estava lendo alguns posts de um determinado grupo do facebook chamado esquizofrenia, quando, de repente o proprietário do mesmo entra no chat para conversar comigo.
    Até ai, tudo normal. Mas, depois de me cumprimentar, o cara começa a me oferecer os seus "serviços on line". Afirmou que aquela prática já fora legalizada pelo conselho regional de psicologia e então queria me cobrar uma taxa de 50 reais por uma sessão de terapia. Recusei pelo fato de, além de não ter grana sobrando, ser da opinião de que no meu caso em particular as terapias não iriam surtir nenhum efeito positivo. No início dos meus surtos, por volta do ano de 2002, fiz várias consultas com psicólogas, e saia das sessões sem nenhuma resposta para as minhas dúvidas sobre o que estava acontecendo comigo. Na época as alucinações eram reais em minha mente e não me sentia à  vontade para fazer certas perguntas. Então, se as terapias presenciais não deram muito resultado, provavelmente as virtuais não iriam funcionar também.
    E recusei a sessão pelo simples fato de hoje em dia me sentir bem e até certo ponto estabilizado. Ainda  passo por alguns perrengues, mas nada de mais grave. Falta de ânimo, mania de perseguição, o isolamento e a desconfiança são alguns sintomas que ainda persistem em me perseguir. Aprendi um pouco sobre a esquizofrenia, através de pesquisas e também por entrar em contato com amigos portadores. Hoje em dia me conheço um pouco melhor, sei o que pode me estressar e me desestabilizar. Não estou curado, mas dá para ir levando a vida. A cada dia me sinto uma pessoa normal ao ver os noticiários na TV ou na net.
não tenho a intenção de prejudicar ninguém, 

     Quando abro o blog ou o facebook, várias pessoas, portadores e parentes me procuram para tirarem diversas dúvidas sobre essa misteriosa patologia. Vejo inúmeros perguntas e questionamentos acerca da patologia da mente dividida. Confesso que às vezes me sinto um psiquiatra, mas tenho os pés no chão e tenho muito cuidado na hora de responder as questões que me são colocadas. A verdade é que tantos os parentes como os portadores, principalmente na hora da descoberta simplesmente não sabem o que fazer, apesar do atendimento que receberam. 
    Procuro atender a todos da melhor maneira possível, e não  cobro nada. Me faz sentir útil, me torna uma pessoa de verdade escrever algo a respeito da patologia e receber comentários favoráveis. Encaro como uma missão(não é complexo messiânico) ajudar as pessoas que estão passando hoje o que eu passei há alguns anos atrás. Gosto de responder as dúvidas e questionamentos que eu também tinha, mas que tive que descobrir quase tudo sozinho. 
    Mas, infelizmente no momento não tenho tido muito tempo para conversar com as pessoas e ajudá-las. No momento estou sem internet e fica um pouco caro ficar o dia inteiro em uma lan house. Sei que posso ajudar um pouco as pessoas, mas também sei que não é muito saudável ficar se sacrificando para isso. 
infelizmente para algumas questões não tenho a resposta
    Mas, voltando ao "psicólogo" que faz consultas on line, confesso que fiquei chateado com a atitude dele. Afinal o cara criou o grupo esquizofrenia para as pessoas se ajudarem, a trocarem ideias e experiências e fazerem amizades também. O grupo no início era bem interessante, com cerca de apenas uns 300 membros. Todo mundo se conhecia, podíamos desabafar, brincar e fazer certos questionamentos sem sermos censurados. Mas, aos poucos, os profissionais da saúde mental e muitos estudantes acabaram tomando conta do grupo. Alguns que entravam já iam logo oferecendo os seus serviços nos posts. Esse grupo hoje conta com mais de 5000 membros, a maioria são cuidadores e os psicólogos. Fui excluído por seu eu mesmo, por questionar a eficácia dos medicamentos, por postar nos dias em que não estava me sentindo bem. Não ofendi ninguém, pois não tenho o costume de ter essa prática. No grupo tinha que dizer sempre coisas positivas, não podia ficar um pouco exaltado. Para os moderadores, um esquizofrênico um pouco exaltado é o mesmo que estar surtado. Enfim, o grupo acabou perdendo a sua essência e a sua finalidade. A quantidade de pessoas se tornou mais importante do que tudo. 
    Concordo que a psicologia deva acompanhar os avanços tecnológicos. Sou favorável as consultas on line, desde que a pessoa queira. Essas consultas são mais baratas e tem a vantagem da pessoa não precisar sair de casa. Isso pode ser muito útil quando uma pessoa tem uma fobia social tão grande que a impeça de sair de casa, por exemplo. Então, uma consulta pelo skype pode ser útil nesses casos. 
    Mas existem regras para esse procedimento. O conselho federal de psicologia tem suas leis. O profissional para fazer atendimento on line tem que estar cadastrado e ter o seu próprio site. E também existem outras questões também, que podem ser vistas nestes links abaixo.(não sou muito fã do control v + control c).
http://www.elsgp.com.br/index.php?pag=artigos1&pid=5
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saudeciencia/72178-hc-testa-atendimento-psiquiatrico-on-line.shtml

    Além de seguir o que foi determinado e ter ética, creio que o psicólogo tenha que ter consciência, honestidade e caráter, principalmente. Alguns profissionais da saúde mental entram em alguns  grupos do facebook voltados para os portadores de sofrimento mental simplesmente com a intenção de divulgarem seus serviços. Esses caras deveriam ser mais humanos e não se aproveitarem da desgraça alheia. Isso para mim se chama oportunismo, já que os grupos foram formados para os portadores se auto ajudarem, trocando experiências e fazendo amizades com os semelhantes. Existem grupos só de psicólogos e profissionais, então acho que esse é o lugar ideal para divulgarem suas páginas, seus consultórios, pois assim os portadores poderão acessar por que estão indo atrás da informação, e não sendo importunados quando mais precisam de um ombro amigo. Esses profissionais também entram para os grupos apenas para observar os posts, como se fossemos ratos de laboratório. Querem melhorar seus conhecimentos sobre a esquizofrenia e outros transtornos mentais observando os diálogos. Tem até psiquiatra vendendo sertralina sem receita.

não sei se é um fake, mas essa pessoa está vendendo sertralina pela net. Ela se diz psiquiatra, será que está vendendo amostras grátis ou também é farmacêutica? 

       No caso acima da suposta psiquiatra, o que estou pondo em questão não é a legalidade ou não do ato de vender o medicamento. Questiono a ética desses "profissionais" que entram para certos grupos do facebook apenas com a intenção de lucrarem a desgraça alheia.  
 Gostaria de deixar bem claro que não faço parte da antipsiquiatria, acredito que os medicamentos sejam necessários em alguns casos, mas não para o resto da vida. Creio que existe uma banalização, os  medicamentos são receitados com muita facilidade, o que me soa estranho. 
    Gostaria de dizer que não tenho nada contra os psicólogos e psiquiatras. Gostaria até de agradecer aos vários grupos de psicólogos que permitem que eu publique os meus posts.  Só sei que, como em todos os setores da sociedade, também nessa área existem os bons e os maus profissionais. Nós, os portadores, devemos prestar bastante atenção quando procuramos ajuda, apesar de estarmos bastante vulneráveis nestes momentos. 
   Então vamos prestigiar os profissionais éticos, responsáveis e, que, acima de tudo sejam humanos. 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

O novo lar


Novo albergue, antigos preconceitos

    Me adaptei mais rápido do que imaginava neste abrigo que estou no momento. Ele é simples e deve acomodar no máximo umas 180 pessoas. É um albergue misto, com homens, mulheres e crianças.
    É um lugar tranquilo, e isso é o mais importante para mim. A maioria dos caras trabalham e chegam cansados, só querendo saber de tomar banho, jantar e dormir. No arsenal as coisas são mais agitadas, devido ao grande número de "bocas de rango" que estão por lá albergados. Caras de uns 20 anos não querem nada de trabalho, apenas desejam passar uma temporada no arsenal, comendo, bebendo e dormindo. E de dia frequentam as bocas de rango e telecentros da cidade. Eu faço um pouco disso, mas tenho  projeto e objetivos definidos, que é pagar os meus empréstimos. Que saudades eu tenho da minha televisãozinha de tubo, do meu home theather e do meu pc novinho que havia acabado de comprar! 
   Neste abrigo tem muitos caras idosos com problemas de saúde e que ficam lá o dia inteiro. Então não tem muita confusão por lá. Tem alguns tipos curiosos por lá, como, por exemplo:
    Um espanhol marrento, que fica xingando não sei quem quando vai deitar para dormir. Chega a ser engraçado o jeito dele falar:
    - Por que não te calas?- intervi certo dia, em tom de brincadeira, pois já eram nove horas da noite e o cara não parava de resmungar. Depois comecei a conversar com ele para aprimorar o meu portunhol.
    Tem também um cara que parece ser turco, pelos seus traços e pelo bigode. Pouco conversa, mas já fala o português fluentemente. Tem um casal de haitianos e algumas pessoas portadoras de transtornos mentais:
    Uma mulher que aparenta ter uns 23 anos. Ela também quase não conversa, ficando a maior parte do tempo assistindo TV e às vezes solta uma risadinha. Não sei qual o CID dela, mas talvez tenha esquizofrenia hebrefrênica. 
    Tem uma outra mulher, de uns 50 anos mais ou menos. Fala muito quando está sozinha e faz um gestos com as mãos, como se estivesse pedindo para alguém sair da frente. Pelo seu olhar parece mesmo que está enxergando algo na sua frente. Conversei com ela e não aparentava ter transtornos mentais, dialogando normalmente e logicamente.
    Tem uma outra mulher, de uns 45 anos, mais ou menos. Ela é bem quietinha e só fica na dela mesmo. Quando a vi, até cheguei a pensar comigo mesmo:
    - Como seria bom se todas as pessoas dos abrigos fossem como ela!
    Fiquei sabendo que tinha transtornos mentais quando a ouvi dizer que tomava remédios controlados para a "cabeça". Analisando bem, percebe-se que toma algum medicamento mesmo, pois seu rosto quase não demonstrava nenhuma expressão, parecendo estar robotizada emocionalmente. Seus gestos também eram lentos e quase não a vejo sorrir. 
    Mas tem uma outra que é "doida de pedra" mesmo: uma corinthiana que não fala outra coisa a não ser sobre o seu time. Ela é aposentada e chega a pagar as pessoas para gritarem e torcerem para o seu time. Claro que não tenho nada a haver com o que ela faz com o seu dinheiro, mas acho uma bobeira total gastar dinheiro e brigar por causa de futebol hoje em dia. Mas sinto que ela teve e ainda tem uma vida sofrida, e ai tenta se apoiar no futebol para ter algum motivo para sorrir e brincar. 

    Existem vários outros tipos no abrigo, cada um com sua história de vida e suas dificuldades. Claro que existem os acomodados e acostumados com o apoio que os albergues dão. Acho que ficaram viciados nessa situação e eu mesmo tenho que me vigiar para não ficar assim também. Mas creio que não ficarei, pois a liberdade e a privacidade para mim não tem preço. 
    Se compararmos com o arsenal da esperança, esse abrigo é duas estrelas. A comida às vezes fica com o gosto de queimado, o guarda volumes é bem pequeno, poucos banheiros e horários complicados. A cozinha não é limpa com muita frequência. Mas está tudo bem, não posso ficar escolhendo muita coisa no momento em que conseguir uma vaga fixa em abrigos está muito difícil, talvez por causa do frio e da copa do mundo. O importante é não dormir nas ruas, para fugir não somente do vento frio das noites paulistanas como também dos perigos noturnos. O meu prazo neste abrigo já está vencendo, este mês passou muito rápido. Vamos ver o que o assistente social irá me dizer, já que me comportei exemplarmente, não me metendo em nenhuma discussão. Em agosto os meus empréstimos com o INSS estarão quitados e assim poderei voltar para BH e alugar um cantinho para descansar. 
    A princípio esse assistente social havia me dado três meses de permanência, mas, depois de dizer que tenho esquizofrenia ele mudou o tom da conversa e resolveu me conceder apenas um mês, talvez para avaliar o meu comportamento. A única coisa  que sei é que, por mais lucidez e serenidade que eu demonstre na entrevista, esses assistentes sociais sempre ficam com um pé atrás na hora de acolher o esquizo. É como se os ditos normais tivessem sempre um comportamento exemplar, que não usassem drogas, que não brigassem, etc. 
   Mas o que irei falar então nas entrevistas? Que não sou aposentado? Se disser isto, talvez eles me proponham algum serviço de carteira assinada. Poderia dizer que sou aposentado por ter problemas na coluna, talvez. Mas a verdade é que não gosto muito de ficar inventando historinhas. Por maior que seja o preconceito, quero ser eu mesmo, sem disfarces e sem ter que ficar pensando muito na hora de responder certas perguntas. No início de minha vida na internet eu mentia para os meus amigos virtuais, dizendo que trabalhava e tals. Para outros que eu me sentia à vontade, eu abria o jogo e falava a verdade. Com o tempo, a lista dos meus amigos acabou ficando meio confusa. Quando entrava no antigo msn e no orkut, e começava a dialogar com os amigos, não sabendo quem eu era para determinada pessoa; se era o esquizofrênico aposentado ou o técnico em eletrônica. Com o tempo fui assumindo que era portador de esquizofrenia, e algumas pessoas se espantaram com a minha revelação e sumiram. Poucas trataram o assunto com naturalidade. 
    Esse abrigo em que estou se situa no bairro Tatuapé, que é bem mais tranquilo do que a Mooca. Têm dois parques muito legais por perto, com muita natureza e sossego. No parque Belém tem aqueles aparelhos para fazer exercícios físicos, assim poderei tentar tirar os dois quilos que ganhei na capital paulista. 
    Ao lado desse parque tem um centro cultural, onde são realizados vários cursos. Em junho serão abertas novas vagas. Se ainda estiver em Sampa, farei o de fotografia, para assim tirar melhores fotos de minhas andanças. Enquanto a minha "carcunda" aguentar, pretendo fazer as minhas viagens com a minha barraca por este Brasil lindo por natureza.  
    Já em julho tem o curso para se ingressar na cruz vermelha. Também pretendo fazer este curso, mesmo se estiver em Belo Horizonte. Ajudar outras pessoas é também uma forma de terapia. Só espero que esta instituição aceite portadores de esquizofrenia.  
    Falo um pouco sobre mim na intenção de mostrar que, nós, os portadores, devemos buscar um sentido para a vida. Se tivermos um trabalho renumerado, ótimo. Caso contrário, não devemos ficar inertes esperando que a cura deste transtorno apareça, assim do nada. Se nos aposentamos, devemos continuar a vida, ficar parado não irá resolver nada. 
   Bem, algumas pessoas me pedem para falar mais sobre a esquizofrenia. A esquizofrenia não é só alucinação e mania de perseguição, acho que, falando um pouco de mim, infelizmente também estarei falando desse transtorno. Os posts relacionados diretamente a esquizofrenia podem ser todos acessados na parte inferior da página, onde os mesmos estão separados por assuntos. No lado direito da página tem os links dos mais acessados e alguns que sinto que são importantes. Basta clicar nas imagens para acessá-los.
    Em relação ao meu livro, gostaria de dizer que ainda está a venda, mas somente no formato PDF. No momento estou em São Paulo, mas a minha agência é de Ipatinga-MG. Todas as instruções estão também no lado direito da página. Por favor ao efetuarem o depósito, me enviem o comprovante do mesmo. Não por desconfiança, e sim para controle mesmo e facilitar o envido do livro por email. Algumas pessoas me enviam um email dizendo que efetuaram o depósito mas depois não entram em contato, e talvez não tenham recebido o livro. 
   Quem tiver alguma dúvida sobre o assunto pode me enviar perguntas pelos comentários. Se estiver ao meu alcance respondê-las, o farei com o maior prazer. Estudei um pouco o assunto enquanto morava em Ipatinga e tinha internet ilimitada. Agora já não posso ficar tanto tempo assim em uma lan house. Mas, felizmente ou não, também tenho um bom conhecimento prático da esquizofrenia. Talvez a junção desses dois fatores me façam ter a noção de certas coisas que alguns profissionais da área da saúde mental tenham alguma dificuldade em ter acesso. 
Até o próximo post pessoal.

Essa música é tema do filme Mente Brilhante

Tudo o Que Amor Pode Ser

Eu te assistirei no escuro
Te mostrarei que o amor pode ver através
Quando os pesadelos te acordam em prantos
Eu te mostro tudo o que o amor pode fazer
Tudo o que pode fazer

Eu te assistirei pela noite
Te segurarei em meus braços
Te darei sonhos onde não há nenhum
Te assistirei através do escuro
Até a manhã chegar

Pra as luzes te levarem
Pela noite para ver
Todo amor mostrando-nos o que o amor pode ser

Eu te guardarei com minhas asas brilhantes
Fique até seu coração aprender a ver
tudo o que o amor pode ser

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Os camelôs irão me matarrrrrrrrr!!!!!!!!!

    Se você tem o costume de curtir um som em seu celular provavelmente já deve ter se deparado com um problema muito comum ao tentar ouvir suas músicas favoritas: os fones simplesmente não funcionam! Ou, quando funciona, apenas em um lado está saindo som.
    Aí você se pergunta: Mas o que aconteceu? Eu sempre tomei tanto cuidado com o meu aparelho!
    O que acontece é que os fones de ouvido são um pouco frágeis mesmo. O cabo é fino e as conexões meio delicadas. Então, o que fazer? Sair comprando fone de ouvido novo toda vez que o original der problemas?
    Bem, eu cheguei a fazer o curso técnico de eletrônica por quase quatro anos, resolvi parar no último ano. Acho que por isso sou meio "atrapaiado" das ideias mesmo. Também trabalhei por cerca de 17 anos como operador de som( acho que isso atrapaiou ainda mais as coisas!). Nas firmas onde trabalhei sempre fui o "consertador" oficial de cabos. Com essa experiência consegui achar um meio de prolongar a vida desse complicado item . E é algo muito simples de se fazer.
    Creio que cerca de 50% dos fones estragam na conexão do plugue que é conectado ao telefone. É uma esticada ali, um puxãozinho acolá e então o fio acaba se rompendo ou então a conexão se desfazendo.
    Para resolver esse problema é simples! Siga as instruções e tudo irá dar certo:
1- Corte um pedaço de uns 5cm de durex ou fita crepe. Se for usar a fita, diminua a largura da mesma usando uma tesoura.
2-Dobre o cabo do fone  para que fique em paralelo com o conector(veja a imagem abaixo).
3-Passe a fita ou durex, dando umas três voltas no conector, até que a "gambiarra" fique firme.
4-Se quiser um acabamento melhor, passe fita isolante por cima. Ai ninguém irá reparar e lhe dizer que isso é coisa de pobre e tals.
com essa "gambis" o seu fone dificilmente estragará

   Pronto! Agora o seu fone de ouvido irá aguentar alguns trancos sem se danificar. Vale a pena fazer, por experiência própria posso garantir que funciona.
   Outra dica boa vou dar para quando eventualmente seu celular cair na água. A primeira coisa a se fazer é desligá-lo o mais rápido possível. Não precisa apertar o botão de liga/desliga não, tire a bateria logo de uma vez para evitar complicações.
    Feito isso o próximo passo é deixar o aparelho durante dois dias dentro de um recipiente cheio de arroz. Isso mesmo! Não é lenda não, aquele pozinho que fica no arroz tem a propriedade de absorver a umidade do aparelho. É aconselhável também levá-lo depois à um técnico de confiança para abri-lo e usar um ventilador para completar a secagem. Se o aparelho ainda estiver na garantia, vale ressaltar que a mesma não cobre defeitos oriundos de quedas em líquidos. O melhor a se fazer é levar na autorizada para a secagem do celular, pois não adianta ocultar o fato, pois os caras sabem quando um aparelho tomou um banho de água e até mesmo se foi aberto.
    Sei que os camelôs irão querer me matar com a dica do fone de ouvido, mas o blog do esquizo é isso mesmo: dicas de saúde, viagens, crônicas, músicas, conversa, dicas de tecnologia e gambiarras também.
    Até o próximo post pessoal. Essa música abaixo eu a tenho no celular, que é uma enorme salada musical. É de um cantor holandês, parece ser o Amado Batista da Holanda, sei lá. Mas é legal. É uma homenagem das donas Marias de todo o Brasil!


sexta-feira, 2 de maio de 2014

E agora Júlio? parte 2

A noite
23/04/2014
praça do Largo da Concórdia

    Enquanto esperava a salvadora kombi, a praça do Largo da Concórdia foi se esvaziando aos poucos até a noite chegar e deixar tudo meio escuro. As lojas de roupas do Brás e a maioria das lanchonetes fecharam suas portas. Pessoas de rua, não sei se sob o efeito de drogas ou álcool, perambulavam pela praça. Alguns paravam para conversar comigo, e falavam algumas coisas sem sentido. Estava tranquilo por estar perto de um posto policial. De repente chega um cara careca, também na espera da kombi. Senta-se ao meu lado e começa a conversar comigo. Tem 38 anos mas aparenta bem mais. Me diz que havia ficado cerca de 12 anos preso no Carandiru. Comenta que não deveriam ter construído um parque no lugar do presídio, e sim uma cruz gigante em homenagem aos mortos.
     O cara muda o tom da conversa e começa a falar sobre os seus "feitos": havia matado umas 12 pessoas, mas sentia que Deus iria lhe perdoar pois nenhuma de suas vítimas era trabalhador. Disse-me também que certo dia ele e um amigo enfrentaram vários policiais e que saíram ilesos. Bem, não é a primeira vez que um morador de rua para perto de mim e começa a falar sobre suas "façanhas". Claro que não duvido de nada, apesar de pensar que, por causa das condições físicas, eles não são assim tão capazes de brigar com várias pessoas ao mesmo tempo. Mas finjo acreditar em tudo, para evitar discussões. Sinto que eles dizem essas coisas para impor o medo e o respeito. Acho que na rua todo mundo tem medo de todo mundo. Não basta ser o mais forte nas ruas. Mais cedo ou mais tarde o cara "boia"(dorme). E é ai que acontecem a maioria dos crimes contra moradores de rua, geralmente por vingança. 
    O tempo passando e mais pessoas chegaram à praça: Um boliviano que de dia trabalha em uma obra, Um nordestino engraçado e um outro cara do interior de São Paulo, que trabalhava como ajudante de pedreiro. Já um outro que também havia chegado não dizia muita coisa. 
    Por volta das oito da noite o termômetro marcava 22°C, mas, por causa do vento, a sensação era de bem menos. Alguns tomavam cachaça para espantar o frio, e, para minha sorte apareceu um grupo de pessoas nos oferecendo chocolate quente e pão com mortadela. O papo entre o pessoal girava em torno das drogas, cadeia, a situação de rua, etc. Converso com o boliviano sobre seu país, e ele me diz que é de Potosi, que deve ser a cidade mais alta da Bolívia, com altitude acima dos quatro mil metros. Gosto muito da música andina, com aquelas flautas cheia de caninhos...
flauta andina

lago Titicaca, na Bolívia, é o maior do mundo

    E então depois de muita conversa, a tão esperada kombi aparece por volta das dez e meia da noite. Já estava pensando em arrumar alguns pedaços de papelão, para dormir na praça. Mas não estava gostando muito dessa ideia, já que havia deixado o saco de dormir em BH, já que a minha intenção inicial em São Paulo era apenas percorrer o Caminho dos Jesuítas. 
    Fomos levados para um pequeno albergue na Mooca. Era simples, mas tudo estava bem limpo e organizado. Roupas de cama e cobertores estavam limpos e cheirosos. Não jantei, só queria dormir, pois tínhamos que acordar às seis da manhã. Mas a galera reclamou que o marmitex estava com o rango meio azedo. 

Sorte?
24/04/2014
    A noite foi super tranquila no albergue, não tinha muita conversa. Só o intenso movimento de carros na radial leste é que atrapalhava um pouco o sono, mas deu para descansar. 
    De manhã, já na rua, muitas dúvidas em minha cabeça. Ficar nessa de todo dia nesta situação seria  um pouco desgastante. Teria que sair às seis da manhã e depois ir para uma praça e ficar a espera da kombi, por volta das dez da noite. 
    Pensei em voltar para BH, e continuar na rua, por ser um lugar que conheço e por isso consigo dormir. Mas, como já disse, pode ser uma atitude precipitada, pois o papo que rola na capital mineira é de que os moradores de rua serão "convidados" a se retirarem  das ruas, para dar uma camuflada na cidade quando os gringos chegarem. Não é a toa que a lei sobre a internação compulsória foi aprovada às vésperas da copa. 
    Poderia também continuar as minhas andanças, mas a coisa não é tão simples assim. Mesmo dormindo nas barracas, as despesas existem. Às vezes tenho que pagar uns dez reais para tomar um banho em um hotel, quando não consigo uma outra alternativa, como uma cachoeira ou então entrar de gaiato nos ginásios poliesportivos das cidades. shasuasuashausas
    A solução é tentar uma vaga fixa em um outro abrigo, apesar de estar sendo muito difícil de se conseguir isto nesta época do ano. Vou então até ao CREAS do bairro tatuapé e o máximo que consigo é um encaminhamento para uma pernoite apenas, em um abrigo no mesmo bairro. 
     Foram três meses sem andar com a mochila nas costas. Quando estamos com ela todos os dias, a sensação é de que ela é bem mais pesada... 
    Chego no abrigo por volta das duas horas da tarde, pois queria conversar com a assistente social. Sou atendido por volta das seis horas da tarde. Entro na recepção e me misturo com um pessoal que havia entrado um pouco antes, em uma kombi. Não sei se foi por causa disso, mas o assistente social, depois de uma longa entrevista me deu uma vaga fixa! Que alívio! Será que ele pensou que eu estava junto com o grupo ou resolveu me ajudar, ao ouvir a minha explicação sobre o meu projeto de pagar os empréstimos?
Não sei,  mas ele me deu um mês apenas, para ser avaliado. Acho que é pelo fato de ser esquizofrênico, só pode, já que outros ganham mais prazo. Mas continuarei dizendo a verdade, que sou aposentado e que tenho um transtorno mental que é bem mais comum que a maioria pensa, e que não é por causa desse transtorno é que seria um monstro, sei lá. Só penso em pagar a minha dívida e alugar um cantinho, ver a minha TV, os filminhos baixados na net, e sair do quarto só quando sentir vontade, Isso não tem preço, muitos pensam que fico no albergue só para comer e juntar dinheiro, mas ter a liberdade é algo que para mim é sagrado. Viver em albergues, por melhor que seja, deve ser algo parecido com o regime semi aberto de um condenado pela justiça. 

    Música Andina