sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Meu amigo Note


    Eu o conheci há pouco mais de um mês. Ele estava na vitrine de uma loja na rua Santa Ifigênia, com cara de abandonado, como que pedindo para ser adotado. Não resisti, e, como havia conseguido dar um tempo na comilança desenfreada, estava com uma grana na conta. O testei por quase duas horas seguidas, e fiquei puxando conversa com o dono da loja, para tentar deixá-lo funcionando o maior tempo possível. Passado no teste, levei-o para casa, ou melhor, para o albergue.
    A partir daí, não o larguei mais. Não tinha coragem de deixá-lo sozinho no bagageiro do abrigo, e, então passei a levá-lo aonde que eu fosse. Dormia com ele, amarrando-o na ferragem do beliche. Como tenho o sono leve, não corri o risco de o levarem de madrugada. Acordava com ele, ia ao banheiro com ele, tomava café com ele, fazia os meus exercícios físicos com ele. Quando dava uma corridinha, o colocava no centro do gramado do parque, para não fugir do meu campo de visão, dando umas voltinhas em torno dele. Afinal, estou em Sampa...
    Almoçava com ele, ficava à toa com ele, e tomava banho com ele. Enfim, 24 horas por dia com ele ao meu lado.Cheguei a defendê-lo com unhas e dentes. Queriam tirá-lo de mim, apanhei, mas não o larguei por nada neste mundo. .
    É o meu amigo Note. Ele não  briga comigo, não me manda fazer nada, me apresenta à um número sem fim de amigos virtuais e, se por acaso um deles não for muito legal comigo, posso, com apenas dois cliques, eliminá-lo para sempre de minha vida. Ele toca as músicas que quero(nem sabe o que é funk...), roda os meus filmes preferidos e me faz rir.
    Além de tudo, me mantém informado sobre tudo o que está acontecendo no mundo e me dá dicas de soluções de problemas que acontecem no dia a dia. Ele conhece um tal de "Dr. Google" que sabe de tudo. Certa vez, estava tendo problemas com maribondos que insistiam em fixar residência bem próxima da minha janela. E a construção não parava de crescer a cada dia que se passava. Pegava um pedaço de jornal e ateava fogo na casa, destruindo-a depois por completo. Mas, não sei como, os maribondos insistentes voltavam a construir a residência exatamente no mesmo lugar.
    Não não sabia o que fazer, e então resolvi consultar o tal doutor que entendia de tudo. Ele me informou que os maribondos têm um tal de ferormônio, por isso sempre voltam para o mesmo local, mesmo depois de destruído. O Doutor me aconselhou então a passar um desinfetante no local para tirar o cheiro do ferormônio. Foi tiro e queda, os insetos rodeavam a área, mas, não sentido o odor, acabaram indo embora.
    No mundo em que vivo, cercado de inimigos por todos os lados, não poderia ter melhor companhia. (obs: no momento em que escrevo este post aparece alguns caras do albergue no parque, e um deles chega a olhar para o meu amigo, que está recarregando suas energias. Só este fato me traz à realidade e faz baixar o meu astral. Quando escrevo viajo pelo meu mundo e consigo esquecer de tudo e de todos. Estar perto de pessoas, principalmente as que não conheço não me faz muito bem, tirando a minha inspiração e concentração. Por isso o post se encerra por aqui, pois tenho que defender o meu amigo Note de possíveis larápios...)
    Foram 35 dias, 840 horas ao lado dele, sem  largá-lo um minuto sequer. Acho que é um recorde mundial, deveria estar no Guinnes book como o homem que conseguiu ficar mais tempo ao lado de um note.
    Mas, quando voltar para minha querida Belo Horizonte vou ter que deixá-lo de lado por alguns meses, guardando-o na casa de um outro amigo. Ganho salário mínimo, e, para comprar mais amigos para o meu note, terei que ficar nas ruas para economizar o aluguel.
    Mas vai valer a pena, já passei por situações mais complicadas, tudo é uma questão de tempo e um pequeno sacrifício para não gastar dinheiro com bobagens. Mas vai valer a pena, seremos uma boa família, eu e meu amigo Note.

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