segunda-feira, 30 de março de 2015

Livro Divagações esquizofrênicas


    Bem, pessoal, algumas pessoas me sugeriram escrever um livro, contando o que há de mais importante no blog. A alegação era que muitas pessoas não gostam de ficar muito tempo lendo em uma tela de computador ou notebook. Pensei bastante no assunto e cheguei à conclusão de que era realmente uma boa ideia, já que o blog possui mais de 240 posts e nem todos são relacionados ao tema esquizofrenia.
    Achei uma boa fazer uma compilação com os posts mais visualizados e os que mais achei importante sobre o assunto esquizofrenia. O leitor, quando acessa o blog, tem várias opções de pesquisar o que posto, mas nada como ter tudo reunido em um livro. Não foi um trabalho fácil, de apenas copiar e colar os textos. Tive que revisar tudo e adaptar ao formato livro, pois no blog uso muitas imagens, links e vídeos. Também dei uma pequena melhorada no texto e corrigi alguns erros de português, a prática em escrever este blog melhorou bastante o meu texto, eu creio.
   O livro só traz temas relacionados à esquizofrenia, pois muitos portadores, familiares, namorados(as) encontram o blog em busca de informações sobre como entender melhor a pessoa que quer bem. Não vou dizer que o meu blog é a melhor fonte de informações sobre o assunto, mas, pelo menos é algo que foi escrito com o coração e de uma maneira simples, pois, de complicado já basta o transtorno em si. Temas como a mania de perseguição, as alucinações, paranoias são abordadas de uma maneira simples, e, o que é melhor, na visão de quem passou e ainda passa por todos esses perrengues.
   O livro tem 191páginas e o valor é 37reais, já incluídas as despesas de correios. Em PDF, o livro custa sete reais. Para adquirir o livro, basta enviar um email com o assunto "livro" para:
juliocesar-555@hotmail.com
    É necessário informar qual livro pretende adquirir e em qual formato.
   Para quem adquirir o livro Divagações Esquizofrênicas e também o livro Mente Dividida, o esquizo faz um desconto especial, os dois livros saem por 65 reais! Já no formato PDF, os dois livros saem por 12 reais. É para acabar com o estoque!!! rsrsrsrs
 

    Infelizmente não tem como fazer um preço mais acessível, como gostaria. Mandar imprimir pequenas quantidades sai um pouco mais caro, não é como nas editoras que fazem milhares de livros em uma única edição.
    Espero que os leitores me ajudem nesta empreitada, o livro foi feito com muito carinho e tenho a intenção de conseguir verba suficiente para fazer mais uma andança, que é o Caminho dos Diamantes, da estrada real. Infelizmente não tem como pagar aluguel e juntar uma grana para sair por ai viajando por esse Brasil.
    Recebi e ainda recebo muito apoio por parte dos leitores do blog como do livro. Isso que me dá forças para continuar a escrever, apesar de não me considerar um escritor. A minha intenção é somente mostrar a esquizofrenia na visão de um portador, trazendo a informação, que é a arma mais forte para se combater o estigma e o preconceito que o transtorno carrega. Não salvei todos os elogios que recebi, mas esse que recebi sobre o livro Mente Dividida foi um dos que mais me chamaram a atenção, pois a leitora soube explicar e captou com exatidão a minha intenção ao relatar a minha relação com a esquizofrenia.
-obs: por motivos óbvios resolvi não identificar a leitora. Acho que nem seria motivos óbvios, é mais um procedimento que acho correto mesmo.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Meu PC é hipocondríaco

    É mais do que correto tomarmos certos cuidados no mundo virtual, quando o assunto é segurança. Assim como podemos ser assaltados na vida real, se andarmos distraídos pelas ruas das grandes cidades, navegando na internet também podemos ser surpreendidos por algumas armadilhas. Não devemos sair por ai clicando em qualquer link que aparece na web, que afirma que ganhamos um iphone ou coisa parecida, ou que tem alguma gostosona querendo conversar com a gente em um chat qualquer. E ainda os emails suspeitos que recebemos de pessoas estranhas, com as mais variadas propostas.
     E também devemos ter os nossos programas para nos proteger, no mínimo, um bom antivírus. Mas, no meu caso, como bom hipocondríaco que sou, reconheço que exagero um pouco nesse tipo de proteção. Além do antivírus Panda, que uso em tempo real, uso mais dois antivírus para fazer o escaneamento do meu note regularmente.  Não é recomendável usar dois antivírus ao mesmo tempo, pois pode haver conflito entre eles, um querendo brigar com o outro, querendo ser o dono do computador, e um vai ficar dizendo que o outro é um vírus e tals.
    Então, deixo o Panda ativado e os outros dois uso para fazer o escaneamento. O correto é fazer esses escaneamentos quando o PC apresentar lentidão ou ter um comportamento estranho, mas, no meu caso, faço cerca de dez varreduras no meu note em um mês...
    Como na vida real, também sinto que sou vigiado na internet. Apesar de ser apenas um pacato e desconhecido cidadão, às vezes tenho a certeza de que tem alguém monitorando os meus passos na web. Acho que tem gente me espionando, para tentar achar algum podre em minha vida, sei lá. Claro que tenho alguns podres, principalmente quando tinha entre 20 e 30 anos, mas nada de mais grave, coisas da juventude mesmo. Não sou santo e nem tenho a pretensão de ser. E, quando tive essa pretensão, quase pirei, quando frequentava uma igreja evangélica. O pastor, em um culto, afirmou que devemos ser santos, ao ler uma passagem da bíblia. Aquilo ficou marcado em minha mente, e tentei de tudo para me tornar um santo, mas, essas coisas não acontecem de uma hora para outra, e a cada erro meu, me culpava bastante e foi ai que comecei a pirar.
    Não sou contra os evangélicos, gostaria de ressaltar aqui neste post. O problema é que a bíblia é passível de interpretação, e é a partir dai que a confusão toda começa, quando os humanos a interpretam de acordo com seus interesses.
    Mas, voltando ao assunto da hipocondria virtual, sinto que até a webcam do note está sendo monitorada. Fazer o tal do internet banking, nem pensar, apesar de que isso poderia ajudar a vender o livro Mente Dividida. Apesar de não ter grana no banco, não quero ter mais essa paranoia atormentando a minha cabeça e então não compro nada usando a minha conta bancária.
    Além do Panda, eu uso o eset on line scanner e o antivírus que já vem instalado no sistema, chamado de windows defender. Não sei por qual motivo ele não é muito usado, a maioria dos técnicos de informática instalam o tal do avast quando formatam os computadores e notebooks.
    Mas não devemos só nos preocuparmos com os vírus. Existe uma classe de pragas chamadas de spywares, que tem como principal finalidade coletar informações sobre o computador da pessoa, e até senhas de banco. Então, existem vários programas anti-spywares gratuitos por ai, e eu uso o malwarebytes.
o malwarebytes é uma boa alternativa contra os programas espiões
    Além dos vírus e dos spywares, existem uma outra classe de pragas, chamadas de rootkit. Eles também são chamados de trojan, que é em homenagem ao cavalo de troia, que foi usado pelos gregos em uma batalha na antiguidade. Assim como o cavalo de história, essas pragas se disfarçam como sendo arquivos do computador, e, por isso os antivírus geralmente não conseguem detectar essa praga, que geralmente entra para avacalhar o sistema, e, quem enviou esse arquivo malicioso pode ter controle total da máquina infectada. Por isso, uso um programa chamado malwarebytes anti rootkit, que é da mesma empresa dos caçadores de malwares...
    Ah! Já ia me esquecendo, ainda para me proteger dos vírus, além de usar o Panda, o eset on line scanner e o windows defender, também uso o Kaspersky Virus Removal Tool, que é de uma boa empresa de antivírus. É que os vírus vão surgindo a cada dia, os hackers vão criando, e as empresas de antivírus vão criando as vacinas, e então o banco de dados de um antivírus não é exatamente igual ao outro. Ou seja, só para vírus, uso quatro programas, além do antimalware e do antispyware...
                                               
    Mas, pensam que acabou a superproteção poderosa contra os malfeitores cibernéticos?
    Claro que não, eu baixei um tal de "microsoft support emergency response tool", que nem sei o link de onde baixei, mas deve ter sido no site da própria Microsoft. Também faço escaneamentos com esse programa para tentar achar vírus que não foram encontrados pelos outros quatro antivírus. Mas... pensam que ainda acabou? Ainda não, achei um outro programa no site da Microsoft, com nome parecido com este que acabei de descrever. Se trata do "microsoft windows malicious software removal tool", que até hoje não achou nada de anormal no meu note. Confesso que fico desapontado quando faço os escaneamentos e não é detectado nenhum arquivo suspeito para ser colocado na quarentena. E olha que eu configuro os programas para fazerem o escaneamento completo da máquina, que podem durar cerca de duas horas! Geralmente os programas já vem configurado para se fazer o escaneamento rápido, nas áreas mais críticas e onde os vírus costumam se esconder.
    Mas, pensa que a superbarreira contra os invasores acabaram? Claro que não! Eu uso ainda um tal de "Windows shortcut cleaner", que serve para achar vírus que transformam suas pastas em atalhos. Ou seja, eles fazem suas pastas de arquivos desaparecem, e no lugar fica apenas um atalho. Geralmente é complicado de acessar os arquivos, e isso acontece muito em celulares e pen drivers.
   Para finalizar a superproteção contra os malfeitores da internet, uso um programa chamado AdwCleaner e que é realmente necessário para o bom funcionamento da máquina. Esse programa serve para desinstalar aquelas barras de ferramentas que aparecem nos navegadores sem que as tenhamos instalados conscientemente. Esses barras geralmente são instaladas juntamente com os programas que baixamos na internet, por isso, hoje em dia é preciso muita atenção na hora de instalar os programas, e ficarmos atento a cada passo da instalação dos softwares que queremos em nossos computadores.
    No total, são nove proteções e barreiras contra os visitantes inoportunos. Acho um exagero, confesso, mas, em uma mente paranoica todo cuidado é pouco contra esses hackers. Se usasse e esquecesse as paranoias, creio que usaria o Panda e o Eset para uma escaneada. E usaria o adwcleaner caso instalasse sem querer uma barra ou programa que vem junto com os programas que realmente queremos instalar no no nosso PC. Um dos principais programas penetras de hoje em dia é o baidu antivírus, muitas pessoas relatam que nem sabem como esse programa apareceu em suas máquinas. Hoje em dia grande parte dos programas querem nos empurrar outros softwares na hora da instalação.

     

                                                        Mania de Limpeza virtual

        Na mundo real, não tenho tanta mania de limpeza, até que gostaria de ver tudo brilhando e limpinho, mas a preguiça e a falta de ânimo me impede de ficar  limpando e lavando tudo o que me aparece pela frente várias vezes ao dia. Confesso que sou até um pouco relaxado, não chegando a ser um porquinho...
    Mas, quando o assunto é o note, também sou um pouco exagerado na limpeza do disco rígido, mais conhecido como HD, do inglês Hard Disk, do francês dis dur e do grego σκληρό δίσκο (isso eu colei do google tradutor, é que semana passada eu vi pela quinta vez o filme tropa de elite...).
    O windows, com o tempo, vai armazenando um monte de arquivos temporários, inúteis e outros entulhos, que, se não forem removidos, podem, além de ocupar muito espaço no HD, causar lentidão no sistema.
    O windows conta com um limpador de disco, mas muitos comentam que ele não é o suficiente e não faz uma boa limpeza na máquina. Um programa muito usado para fazer esse complemento é o famoso ccleaner. É quase uma unanimidade entre os usuários mais avançados, mas é um programa fácil de usar e não é preciso fazer tantas configurações no que ele vai limpar ou não. Mas, como já disse, sou um bom hipocondríaco e por isso uso também o privazer, que também é um limpador de arquivos desnecessários, porém mais completo do que o ccleaner e um pouco mais difícil de configurar, mas que deixa a máquina bem mais veloz do que antes.
     Mas, pensam que acabou? Ainda não! Na questão da limpeza eu ainda uso um programa chamado revo uninstaller, que serve para, além de desinstalar totalmente os programas, fazer ainda uma pequena faxina no hd, como se pode ver na figura abaixo:
 
      Esses procedimentos de limpeza realmente são necessários, mas a frequência varia de usuário para usuário. Para quem não fica fuçando muito no computador, uma vez por mês já basta, mas, assim como no caso dos escaneamentos à procura por vírus, eu também sou um pouco exagerado na questão da limpeza do HD. Costumo usar o ccleaner, o privazer e o revo umas dez vezes por mês, ou seja, limpo o disco a cada três dias, mesmo se o note estiver funcionando bem.
     Para cuidar da saúde do note, para finalizar, olha a temperatura dele usando um programa chamado HWmonitor. É fácil usar esse programa, basta olharmos no google a temperatura limite do processador que temos em nossos PCS e fazer a medição usando esse programinha.
monitorando a temperatura do note...

    Tenho consciência dessas minhas manias que se estendem para o mundo virtual. Às vezes essas paranoias virtuais me cansamum pouco, mas, no geral não me atrapalha muito não. Acho tudo pior no mundo real, sair andando por ai com aquela sensação de ser observado é uma das piores coisas que um ser humano pode ter, dependendo do grau desse delírio. Almoçar em um bom restaurante deixa de ser um prazer, ir à um show também, enfim, só me sinto bem quando estou só. A hora que mais gosto do dia é quando volto para o meu quarto depois do almoço e posso ficar à vontade. Sou a mesma pessoa tanto na vida real como no mundo virtual, a única diferença é que, no mundo virtual sou mais falante, quer dizer, digitador...

sexta-feira, 20 de março de 2015

Carimbadores maldosos

 
    No último dia 15(domingo), assisti com a maior indignação a matéria "carimbadores" no programa Fantástico, da Rede Globo. O assunto era os portadores de HIV que conscientemente transmitem o vírus da AIDS para várias pessoas. E, o mais assustador é que essas "pessoas" criam grupos nas redes sociais para compartilharem dicas de como "carimbar"(contaminar) pessoas saudáveis.
Fui atrás de dois blogs que davam essas dicas mas eles foram desativados depois da matéria.
    Para quem ainda não viu, ai está o link para assistir a matéria na íntegra:
http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/03/grupos-compartilham-tecnicas-de-transmissao-do-virus-da-aids.html

    Não tenho AIDS, mas, por um bom tempo cheguei a ter a certeza em minha mente que tinha, e isso ocorreu principalmente pelos boatos sobre a minha pessoas, que circulavam em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Se eu engordava, comentavam que eu estava feio, e, se emagrecia, estava com o vírus HIV. O pessoal comentava até se eu estava com a mesma roupa do dia anterior...
    É aquele negócio: uma verdade dita várias vezes acaba se tornando realidade, ainda mais em uma mente paranoica como a minha. Então entrei em depressão e enlouqueci. Fiquei tão pirado a ponto de não acreditar nos vários exames que havia feito e que deram negativo para o vírus HIV. Imaginava que até os laboratórios estavam no complô contra a minha pessoa, alterando o resultado, para que assim eu não tivesse acesso aos medicamentos e consequentemente sofresse mais e morresse mais rapidamente.
   Para mim, aquilo foi o fim, uma sentença de morte mesmo. Fiquei um bom tempo esperando os sintomas da síndrome aparecer para dar cabo à minha vida e assim evitar o sofrimento físico, pois o mental chegou a culminar com as minhas energias.
    Mas, como disse, foi apenas um boato criado pelo povo e que se transformou em realidade naquela cidade e, depois em minha mente. Não vou colocar a total culpa desse fato em alguns moradores fofoqueiros daquele lugar. Tenho que admitir que o erro foi meu, em insistir em morar em um lugar onde algumas tradições ainda são de uma província do Brasil colônia. O pior inimigo está mais perto do que imaginamos, e está dentro de nós mesmos. A pior derrota é a quando perdemos para nós mesmos.
as fofoqueiras, em Montreal, Canadá

    Foi uma longa história essa de pensar que tinha AIDS. Já contei boa parte aqui no blog, e a descrevo totalmente no livro Mente Dividida. Foram alguns anos de muito sofrimento mental e muitos perrengues, até finalmente acreditar nos exames que davam negativo para o vírus HIV. Se existe algo que posso dizer que sei, é o sentimento de alguém que está com o vírus da AIDS e que só pensa em ver o sofrimento acabar. Na época, ainda não acreditava que um portador do vírus HIV pudesse ter qualidade de vida com os medicamentos.
      Mas o sentimento de culpa exagerado ajudou também a desencadear o meu primeiro surto. Em um certo momento, cheguei a contar com quantas pessoas havia tido uma relação sexual sem o uso do preservativo. Foram poucas vezes e, sem dificuldade me lembrei de todas as vezes que cometi essa imprudência. Foram cinco vezes, e, cheguei a supor que, se tivesse contraído o vírus na primeira relação, poderia então ter passado o vírus para quatro pessoas! Me senti culpado, a pior pessoa do mundo, um criminoso. Na fase aguda do surto, cheguei a me "entregar" para um policial rodoviário, quando estava perambulando pelas rodovias que cortavam a cidade de Belo Horizonte.
    - Pode me prender, sou um réu confesso. - eu disse, mostrando as minhas mãos para ser algemado.
    Queria ser preso e condenado, passar o resto dos dias na cadeia, eu estava tão fora da realidade naquele surto que me imaginava preso, mas naquelas celas dos filmes americanos, onde no máximo duas pessoas compartilham o mesmo lugar, em um beliche... Mas o policial apenas riu e falou um pouco de Deus para mim, oferecendo depois um marmitex, que joguei fora, por acreditar estar envenenado e que o guarda era mais uma pessoa que estava querendo o meu fim.
    Mas esses carimbadores do mal não merecem esse tipo de cela, merecem mesmo é dividir o local com mais vinte, e todos juntos, assim pode transmitir e retransmitir o vírus entre eles. Assim poderão criar um vírus modificado e super resistente, mas, como passarão o resto dos dias em suas celas, esse mal só ficará entre eles. Acho que nem o direito aos medicamentos eles deveriam ter, pois são caros e são os cidadãos de bem é que pagam eles com os impostos.
    Confesso que senti nojo desses caras que foram entrevistados no Fantástico. Deu para sentir  a satisfação e o prazer com que eles contavam suas "façanhas", e teve um que afirmou ter perdido as contas de quantas pessoas havia carimbado(contaminado).
    Para piorar a situação, um "psiquiatra" tinha que dar o seu pitaco, e afirmou que quem comete esse tipo de crime é uma pessoa doente, que tem um tal de "transtorno de personalidade antissocial".
    Não sou totalmente contra a psiquiatria, mas esse é um dos assuntos que mais questiono aqui no blog, que é o fato de querer classificar falta  de caráter como um tipo de transtorno. Perversidade, falta de caráter e outros coisas mais não devem ser consideradas doenças de maneira alguma. Esses carimbadores deveriam ficar presos todos juntos em uma pequena cela e pararem de receber a medicação. Me desculpem, mas lugar de assassino é na cadeia, apesar de que hoje a qualidade de vida do soropositivo está bem melhor do que antes.  A justiça  considera que esse ato é apenas uma lesão corporal, crime de perigo de transmissão de moléstia grave e incurável.  Mas, e o prejuízo psicológico a quem é vítima desse tipo de crime? Por isso considero essas pessoas assassinas, pois matam sonhos e projetos de vida de muitas pessoas. Não acho exagero nenhum e crueldade prenderem esses caras na mesma cela e cortarem o uso dos medicamentos. Eles não merecem que o povo que paga seus impostos o sustentem em uma penitenciária...
    O problema maior é conseguir a prova do crime, pois grande parte dos contaminados são homossexuais masculinos e que trocam de parceiros várias vezes em um mesmo dia. Esse tipo de crime acontece geralmente em saunas e casas de sexo. Às vezes transam no escuro e nem sabem com quem estão tendo a relação sexual. Espero que os homossexuais não interpretem mal o que acabo de afirmar, mas não disse todos e sim boa parte. E é fato que uma mulher soropositiva tem menos chances de transmitir o vírus da aids para o seu parceiro, do que um homem para outro homem. Nesta situação, é preciso haver feridas nas genitálias ou na boca de ambos os parceiros para que aconteça a contaminação. Mas também não é tão raro casos de mulheres que foram contaminadas por um homem e, depois, como forma de vingança, tiveram relações sexuais com vários homens para transmitir o vírus da aids.
    Então é isso, este post é um desabafo também, pois fiquei revoltado ao ouvir os entrevistados e constatar o prazer com que contavam suas "façanhas".... Deve ser um misto de prazer e revolta, devem pensar que, se alguém fez isso com eles, então devem fazer isto com o maior número de pessoas possível... Seria apenas um sentimento de vingança? Ou é perversidade mesmo e falta de caráter?
comentário na matéria do site...
    Me desculpe se fui um pouco rude neste post, mas dá para sentir revolta. Enquanto eu surto por achar que contaminei pessoas sem querer,  e peço para ser preso, algumas pessoas se orgulham pelo fato de terem contaminado um grande número de pessoas. Para mim merecem pagar na cadeia e sem o uso dos medicamentos, para sentirem na pele o sofrimento, já que pensam que tomando os medicamentos estarão a salvo de qualquer problema.
    Por um tempo senti na pele o que é ser um portador do vírus, e, neste período evitei beijar na boca de algumas mulheres, e usei o preservativo nas poucas relações que tive nesse tempo. Não entra em minha mente como uma pessoa possa sentir prazer em cometer tal crime. Me senti a pior pessoa do mundo por pensar que havia contaminado algumas pessoas. Uma mulher chegou a pensar que havia contraído o vírus da aids só por que havia me beijado. Me lembro até hoje de seu olhar condenador quando a encontrei depois que ficou sabendo do boato, que naquela época era uma verdade em minha mente. Ela não me disse nada, e nem precisava, deu para entender tudo naqueles olhos cor de mel.
    Esses carimbadores não são doentes, não tem nenhum tipo de transtorno mental, o que eles não tem é  caráter e o que os movem são os sentimentos de vingança aliadas a maldade e perversidade que domina alguns "seres humanos". A consciência desse tipo de gente não pesa pelo simples fato de não existirem em suas mentes...

sábado, 14 de março de 2015

Tive que reatar com a "Clô"

    Hoje(18/11) tive um sono de qualidade. Parece uma coisa banal, mas não no meu caso e creio que no de alguns portadores de esquizofrenia. Demorei, mas acabei descobrindo quais são os quartos mais tranquilos neste albergue de Belo Horizonte. No arsenal da esperança, em São Paulo, existem quatro alas enormes, e os usuários são alocados pelas assistentes sociais de acordo com o perfil de cada um.
    Já neste abrigo em BH, a seleção é natural, os mais quietinhos chegam mais cedo e ocupam os primeiros quartos, já a galera mais agitada chega um pouco mais tarde e ocupa os quartos do fundo do corredor.
   Este sono bom só foi interrompido por um cara que parece não dormir. Às vezes ele passa a noite inteira andando de um lado para outro, que nem um sonâmbulo. Mas ele fica acordado e não para de falar um minuto sequer. Ele diz, entre outras coisas, que vai "desmanchar"(dar uma porrada) não sei quem. Apesar de conversar baixinho, o monólogo incomoda. De madrugada, qualquer ruído se transformo em um estrondo! Falo "xiu" para o zumbi se calar, mas ele não sossega. Provavelmente deve ter algum tipo de esquizofrenia.
    "São quatro e quinze da manhã, e ainda dá para cochilar uns 45  minutos" - pensei comigo mesmo.
    - Hoje vai ter jogo do Brasil, né? - pergunta um dos abrigados.
    - Vai sim, e esse jogo vai mudar as nossas vidas. - respondi, ironicamente.
   Não gosto de confusão e zoar as pessoas que não conheço direito, mas o cara vem me falar do "jogaço" da seleção do Dunga contra a poderosa seleção da Austrália, às quatro da manhã e em pleno horário de verão? Fala sério...
    O sono me proporcionou um sonho legal. Não foi nada de extraordinário, me lembro apenas que estava conversando com duas pessoas. Mas como um sonho tão simples pode ser considerado tão legal assim?
É que nele era o antigo Julio que estava falando e não o paranoico atual. Era um cara distraído e que não reparava em nada à sua volta. Acho que todo sonho de portador de esquizofrenia é se ver livre desse transtorno. Ganhar na mega sena talvez fique em segundo plano, pois com a cabeça cheia de paranoias não dá vontade de se fazer muita coisa. Acho que até aumentaria a mania de perseguição por ter tanta grana.
    Não tenho certeza se neste sonho estava dormindo profundamente ou se apenas estava pensando enquanto cochilava. A única coisa que sei é que sou um paranoico assumido e que sonha a todo momento em voltar a morar em meu canto. Mas não precisa ter medo do esquizo aqui, sou paranoico, mas sei me controlar. Muita gente ao menos desconfia que é paranoica e cometem atos de violência pensando que estão corretos. É preciso nos conhecermos melhor e mais profundamente. Surtar, no meu caso, teve esse lado positivo, pois, estudando a esquizofrenia, passei a me conhecer e a me entender melhor.
    Uma das coisas que mais tenho saudades é de sair andando pela cidade sem reparar em nada e em ninguém. Como era bom ir ao cinema e prestar atenção somente no filme!
    Por isso hoje o meu projeto é ter o meu cantinho, uma TV LCD e um home theather, ou seja, um pequeno cinema em casa. Pode parecer frescura, mas para quem permanece cerca de 23 horas dentro de seus aposentos, se faz necessário algo para se fazer para passar o tempo. Assistindo um bom filme consigo me desligar desse mundo maluco. Quando jogo futebol também consigo esquecer de tudo. Às vezes no mosaico também, isso quando não cismo com um dos participantes da oficina. Enfim, tudo é complicado em uma mente paranoica, até se divertir.
    Muita gente procura fugir do mundo usando as drogas ou o álcool, outros procuram o isolamento.  É o tal do escapismo, quem me apresentou à essa palavra foi um padre que preferiu seguir a vida religiosa. Eu fujo deste mundo em meu mundo, viajando nos filmes e seriados de TV.
cada um "escapa" do mundo de sua maneira

Eficiente?
    Tenho consciência de que, no momento atual não estou bem. Quero trocar o medicamento, a risperidona me dá uma fome danada, e, consequentemente um considerável prejuízo financeiro, além de aumentar os meus níveis de colesterol.
    Ontem(17/11) avistei, na fila de entrada do abrigo,  um opala preto de quatro portas passando lentamente  pela rua. Naquele instante não dei muita importância ao fato, mas, depois que avistei algumas pessoas com quem tive pequenos atritos por não respeitarem o sono alheio, as paranoias voltaram com uma intensidade parecida com a dos surtos que tive.
   Comecei a pensar que os caras do opala estavam à minha procura. Havia quatro caras no opala de quatro portas. Se estavam andando devagar é por que realmente estavam procurando algo. Geralmente esse tipo de veículo é usado para facilitar a saída e entrada em uma fuga.
    Essas situações provocadas pelas paranoias são estressantes, mas não me desespero. Se querem me matar realmente, então que façam isso o mais rápido possível. Creio que essa indiferença com esta vida terrena me ajuda a não ser agressivo. Digo indiferença e não vontade de me auto exterminar, o que é bem diferente. Se querem tirar a minha vida por não ser um cara "sociável", então que me eliminem, como se fosse a vida fosse um BBB, um jogo cheio de falsidades e interesses. Não sei mudar o meu jeito de ser para agradar as pessoas.
    Neste abrigo não sou bem quisto. Aliás, me estranharia se fosse popular neste ambiente. Não converso muito, e isso às vezes é confundido com mitidez. Estou estressado, e às vezes digo coisas que não deveria falar. Sei que este não é o meu lugar, este abrigo deve estar parecendo com uma cadeia(nunca estive em uma, para poder fazer e comparação. Só fui em uma quando trabalhava como operador de som. Mas não se assustem, estava na penitenciária trabalhando na inauguração da mesma. Teve até salgadinho e o serviço de som foi necessário para que as autoridades falassem.
    Nos primeiros surtos que passei, tive pensamentos persecutórios bem parecidos com este que tive em relação ao opala preto de quatro portas. A diferença é que naquela época todo mundo queria me matar e não somente um grupo específico de pessoas. (hoje sei que naquela oportunidade uma pessoa apenas queria tirar a minha vida, se aproveitando do meu estado mental. Sei que superdimensionei a realidade). Tinha algumas pessoas querendo que eu me desse mal, mas não era todo mundo. Então, depois de vários dias surtado e fugindo dos inimigos que estavam em minha mente, minhas energias se esgotaram. Parei de fugir das pessoas e pensava que os catadores de material reciclável queriam a todo custo me matar. Era o ano de 2003, e estava no meu segundo surto psicótico. Naquela época, certos catadores não se davam muito bem com os moradores de rua que não trabalhavam e tomavam umas cachacinhas. Certa noite avistei um catador e não fugi como sempre fazia. Permaneci deitado, imaginando que ele voltaria com seus amigos para darem o fim em mim. Não me desesperei, já estava cansado de fugir de tudo e de todos. Então, se me matassem, o sofrimento também cessaria. Considero isso um breve momento de lucidez inconsciente de uma mente paranoica e surtada.
    O ambiente neste abrigo é um pouco carregado e tenso, na maioria das vezes. Já disseram que ali funcionava um IML e que o local talvez esteja povoado de espíritos que perambulam pela terra. Almas penadas, que não foram bonzinhas o suficiente para irem para o paraíso, mas que também não foram tão mauzinhas para queimarem eternamente nas chamas ardentes do inferno. Mas não creio que fatores sobrenaturais sejam a causa do ambiente pesado. São muitas pessoas vivas confinadas, cheias de problemas a causa de tudo. Então, qualquer coisinha pode ser motivo para uma briga ou discussão. Até mesmo a abstinência do álcool e das drogas causa uma certa confusão.
o autor deste comentário provavelmente não precisa do serviço do SUS...
     Nesta situação e ambiente, eu não poderia estar bem. Sei que preciso conversar com um psiquiatra sobre medicamentos. no CERSAM me informaram que só atendem emergências. Já no posto de saúde, onde pego os medicamentos, o clínico geral que me atende me disse que não tem permissão para trocar medicamentos psiquiátricos. Fui em um hospital e só tem vaga para o ano que vem, pois o pessoal já está de férias. Cadê a eficiência citada no comentário por essa pessoa? Essa pessoa só pode estar brincando, ou então não depende do SUS e nem assiste os noticiários da TV. Não deve ter noção do que é esperar uma consulta com um especialista, por exemplo. Na minha primeira viagem, há quase dois anos atrás, tive uma tendinite que me fez mancar por alguns meses. Ficaram de marcar uma consulta com o ortopedista e até hoje não me ligaram.... A pessoa do comentário, quando pega uma dengue,  será que vai para uma UPA para ser atendida no corredor e esperar cerca de doze horas? Ou será que o SUS é realmente eficiente, e eles estão me boicotando por criticá-los aqui no blog?( brincadeira, não estou tão paranoico assim....)
    Meu caso não é extremamente grave, mas é complicado e o sofrimento não deixa de ser menor por talvez eles acharam que estou estabilizado. Mas a verdade é que não existe a medicação contra a realidade deste mundo. Cada um escolhe a maneira de escapar dessa loucura toda. Não uso drogas , prefiro ficar no meu cantinho, e literalmente viajar assistindo filmes.
    Paranoias: elas não diminuíram , apenas me acostumei com elas e aprendi a ligar melhor com este mal que assola a cabeça de tanta gente.

Sincronicidade

                                                   Meu mundo e nada mais
    Já que abordei o tema escapismo neste post, queria colocar a música "Além do Horizonte", do Roberto Carlos, ou então "Vamos fugir" com o grupo Skank. Mas no dia em que digitei este post e o arquivei como rascunho, resolvi baixar algumas músicas do Guilherme Arantes e do Flávio Venturinni.  De tarde, já no parque, comecei a ouvi-las e quase não acreditei quando rodou "Meu mundo e nada mais", do Guilherme Arantes. Tive que ouvi-la de novo para ver se era realmente verdade o que tinha ouvido. Era coincidência demais, com o que estou vivendo e passando. Ou seria a tal sincronicidade?


Quando eu fui ferido vi tudo mudar
Das verdades que eu sabia
Só sobraram restos e eu não esqueci
Toda aquela paz que eu tinha
Eu que tinha tudo hoje estou mudo, estou mudado
À meia-noite, à meia luz, pensando
Daria tudo por um modo de esquecer
Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz, sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais
Não estou bem certo se ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura
Como ser mais livre, como ser capaz

De enxergar um novo dia


sábado, 7 de março de 2015

Diálogo Aberto: Finlândia

 
    Esse documentário que estou postando esta semana, é sobre um projeto criado no norte da Finlândia, voltado para os portadores de esquizofrenia. Neste país estão sendo obtidos os melhores resultados no mundo inteiro no tratamento desse transtorno.
    Vamos divulgá-lo, quem sabe os nossos profissionais brasileiros não abaixem a guarda e reconheçam que o tratamento deixa muito a desejar. Houve uma evolução em relação à década de 50 com os manicômios, mas, como portador, posso dizer que os medicamentos atuais não são essa maravilha como andam pregando, e que falta muito para dizer que o tratamento em nosso país seja satisfatório.

-obs: não consegui postar o vídeo no blog, mas ele está disponível no youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=vLCJfqiY3MA

     Tratamento ideal?
    Bem, quem me acompanha no blog sabe o quanto me sinto insatisfeito com o tratamento que é dado aos portadores de sofrimento mental em nosso país. 
    Gostaria, antes de tudo, ressaltar que existem sim bons profissionais, alguns bem intencionados, mas o método usado pela maioria não creio que seja dos melhores. Se esses métodos estivessem obtendo bons resultados, não existiriam, por exemplo, tantos grupos nas redes sociais abordando o sofrimento mental. 
questões como essa são frequentes...
    Outra questão é sobre o blog. Se os resultados dos tratamentos feitos no Brasil fossem satisfatórios. o que escrevo não teria razão nenhuma de ser escrito e de ser tão visualizado. Recebo o apoio de muitos portadores de esquizofrenia como também dos familiares e parentes dos mesmos, como também dos namorados(as) e esposos(as). Muitos que visitam o blog aparecem em busca de respostas que não foram encontradas nos consultórios. Está faltando alguma coisa, com certeza, os nossos profissionais deveriam se reciclar, abrir seus horizontes, buscar alternativas no tratamento, pois o que vemos não é nada animador no que se refere a recuperação de um portador de transtorno mental. Digo recuperação e não o "controle" ou o que eles chamam de "estabilização". 
    Não vou relatar a minha opinião, acho que a maioria sabe o que acontece no Brasil no que se refere a tratamento psiquiátrico. 
    Em se tratando do SUS, ai é que a situação se complica. Até que alguns profissionais são sérios, bem intencionados, mas a estrutura não ajuda. Por exemplo, em uma certa cidade onde morei, a consulta demorava, em média, cinco minutos! Era um único psiquiatra para uma cidade de 70 mil habitantes! Ele tinha o seu consultório particular, e aparecia no centro de saúde mental da cidade todos os dias, mas atendia apenas uma hora cerca de dez pacientes.
    Me lembro bem da minha primeira consulta, em Belo Horizonte. Já havia me recuperado quase que totalmente do meu primeiro surto psicótico grave. Mas ainda muitas dúvidas rondavam a minha cabeça, não tinha ainda a mínima ideia do que havia ocorrido comigo, pensando que se tratava de algo espiritual. Fui então à um posto de saúde, conversei cerca de dez minutos com um psiquiatra, mas, como ainda estava morando nas ruas e não tinha um endereço fixo, não poderia ser atendido. Oras, que política de saúde é essa que um morador de rua não tem nem o direito de ser atendido? Fiquei irritado com o psiquiatra, pois ele poderia ter me avisado sobre isso antes de me ouvir. Comecei então a falar em voz alta na recepção. Disse que, a partir daquele dia, o meu endereço seria o do posto de saúde, e que não sairia de lá enquanto não fosse atendido. Infelizmente somos obrigados a dar um piti nos postos de saúde para sermos ouvidos e atendidos. As recepcionistas ficaram assustadas, uma chegou a comentar que eu era doido. Então me deram o endereço de um CERSAM(é tipo um CAPS) e tive que andar cerca de 7km até chegar até lá. 
    Estava me sentindo bem fisicamente e rapidamente cheguei ao local. 
    - Eu gostaria de ser atendido... - disse, ao ver uma enfermeira.
    - Mas você não precisa estar aqui! - ela me respondeu rapidamente, ao olhar para mim.
    Creio que já contei isto aqui no blog: a maioria dos profissionais da saúde mental pensam que, se uma pessoa estiver tomando banho, penteando os cabelos e usando roupas limpas, não precisa de  atendimento nenhum.... Ou seja, quem está se vestindo adequadamente está em seu perfeito estado de saúde mental!
    Foi isso o que aconteceu no CERSAM. Então, voltei ao posto de saúde, e, depois de uma nova reclamação, me deram um endereço de um outro local que poderia ser atendido. 
    Não perdi tempo e fui até a este posto de saúde, andando mais cerca de 5km, mas tive que esperar 60 dias até ser atendido, pois a consulta com o psiquiatra era concorrida... Fiquei esses dois meses nas ruas, mas, estava tranquilo, as alucinações haviam desaparecido. Conseguia dormir tranquilamente,  nas calçadas,sem medo de nada... Quando chegou o dia, fiquei totalmente frustrado com o atendimento. Em menos de dez minutos, já sai praticamente diagnosticado e com a receita nas mãos, mas sem informação e sem orientação nenhuma. 
    O que acabei de narrar foi somente um dos poucos descasos que aconteceram comigo, e que acontecem diariamente em todo o Brasil. Era o meu primeiro surto psicótico, estava confuso, pensando que espíritos estavam me atormentando, e que tinha muitos inimigos. Obviamente que existem exceções, em Ipatinga-MG, fui muito bem atendido, a consulta durava cerca de meia hora, e devo boa parte da minha pequena recuperação aos pessoal que trabalhava neste lugar. 
    Mas o pior de tudo é a falta de diálogo mesmo, e a falta de informação. O atendimento geralmente se resume a uma entrevista com a psicóloga e depois a administração dos dopantes antipsicóticos...
     No meu caso, sinto que era meio tratado como se tivesse um retardo mental, pois nenhum profissional chegou para mim e disse claramente o que eu tinha ou poderia ter. Apenas recebia a receita dos remédios com os psiquiatras e as psicólogas se resumiam a fazer perguntas e anotações...

O tratamento perfeito
    Mas esse falta de informação e diálogo não acontece em todo o mundo. O tipo de tratamento usado no Brasil não é realizado em todos os países. No norte da Finlândia existe o projeto Diálogo Aberto. E é lá que são obtidos os melhores resultados em todo o mundo no tratamento da esquizofrenia. De todos os pacientes, apenas 30% chegam a tomar antipsicóticos. O restante é tratado com terapias, sendo que a maioria são ocupacionais. E também o respeito e o diálogo com o paciente, acima de tudo. Esses itens são fundamentais para a recuperação de um portador de esquizofrenia.


    Vale ressaltar que, dentre esses 30% que tomam o antipsicótico, apenas a metade os tomam por um longo período, e alguns pelo resto de suas vidas. Ou seja, menos de 15% tomam os remédios por toda a vida. Já no Brasil.... Os que não tomam os antipsicóticos não o fazem não por que melhoraram, e sim pelo fato de não tolerarem os efeitos colaterais desses medicamentos. Na Finlândia quando o portador para de tomar, é por que já está recuperado. 
    Na Índia e em outros países do terceiro mundo, os resultados também são melhores do que nos Estados Unidos e na Europa, onde os antipsicóticos são a base do tratamento. Então, qual a razão de números tão animadores no tratamento da esquizofrenia na Finlândia? A resposta é simples, e está no próprio nome: Diálogo! A consulta é uma via de mão dupla, onde o paciente é ouvido e pode opinar sobre o tratamento. Isto mesmo, os portadores podem falar o que pensam a respeito do tratamento. Me lembro que, em uma certa cidade, o psiquiatra quase não me ouvia, chegando a me ameaçar, dizendo que eu iria para um hospício, caso não melhorasse, ou seja, tínhamos que nos recuperar na marra...
    No documentário, os profissionais afirmam que aprendem com os pacientes, e que não sabem o que irão fazer na primeira consulta. Ou seja, não se acham os donos da verdade, por estudarem por alguns anos o assunto. Na norte da Finlândia, o paciente escolhe onde quer ser atendido, ou em casa ou em um outro local. E também afirmam que o tratamento e a abordagem na primeira crise é muito importante e decisiva para não se ter recaídas. Os familiares fazem parte das reuniões e também podem dar suas sugestões e opiniões, Enfim, é um diálogo aberto...
    Na Finlândia, o tratamento não consiste nos remédios, como acontece no Brasil. A informação é dada ao paciente e aos familiares, e é o que eu sempre digo aqui no blog. A informação é uma arma importantíssima no combate à esquizofrenia. O respeito também é muito importante. Creio que fui tratado como uma pessoa com déficit mental em quase todas as consultas que tive... E mesmo se tivesse(ou se tenho, sei lá) não merecia ser tratado com respeito e ter acesso à informação?
    Ocupar a mente também é fundamental. Por isso falo tanto na questão do passe livre. Infelizmente em Belo Horizonte a maioria dos portadores de esquizofrenia não tem esse direito. Geralmente quem tem direito à esse benefício são os portadores que tenham um déficit de inteligência considerável.
Mas a esquizofrenia não é sinônimo de incapacidade de raciocínio lógico e de falta de inteligência. Ter um certo nível de inteligência não reduz em nada o sofrimento causado por esse transtorno. A informação ajuda e muito, mas não é a solução. A maioria dos portadores quando conseguem se aposentar, depois de muitos anos de sofrimento nas perícias, acabam recebendo apenas um salário mínimo. Os não aposentados dependem da boa vontade e compreensão de seus familiares. Enfim, devido ao alto valor das passagens dos ônibus, não temos condições nenhuma de realizar qualquer atividade para melhorar a nossa qualidade de vida. Não temos o direito de ir e vir, a verdade é essa. 
ocupar a mente deveria fazer parte do tratamento
    Infelizmente os portadores só ganham o vale transporte apenas para frequentarem o CERSAM para tomarem a medicação, almoçarem e ficarem sem fazer nenhuma atividade. O ideal seria o passe livre, para podermos ir a uma biblioteca, à um parque, fazer algum curso, enfim, termos a liberdade e o direito de ir e vir. Mas acho muito estranho não encontrar pessoas que lutem pelo passe livre. Cheguei a entrar em contato com um vereador aqui da cidade, que foi muito atencioso comigo. Mas ele queria que alguém da saúde mental me apoiasse nesta luta e reivindicação, para que ele pudesse ter uma noção de quantas pessoas seriam beneficiadas com o passe livre para os portadores de esquizofrenia. As pessoas com quem conversei não se mostraram muito entusiasmadas com essa causa... Sinceramente, nesses 13 anos de esquizofrenia, não vi uma pessoa reivindicar esse direito pessoalmente, só alguns gatos pingados na internet apenas.
    Creio que esse benefício seria um ganho enorme de qualidade de vida, mas, infelizmente, no Brasil, os profissionais pensam que o tratamento deve consistir apenas nas medicações e nada mais.
    Neste documentário, vemos quanto importante é o paciente. Quando o telefone toca, as entrevistas são pausadas, para que o paciente seja atendido o mais rápido possível. Isso se chama respeito, e também gostar do que se faz. Dá para notar que os profissionais entrevistados gostam do que fazem. 
    Eu tenho a mesma opinião do que esse pessoal do norte da Finlândia, me identifiquei muito com esse tipo de tratamento. Este blog deveria se chamar Reclamações de um Esquizofrênico, devido a minha insatisfação com o tratamento usado no Brasil para se combater a esquizofrenia. 
   Concordo com eles também quando se referem à psicose. A piração, de um modo geral, é uma resposta aos fatores externos, como traumas, tragédias, stress, vida difícil, etc. Não é apenas um fenômeno biológico, causada pelo excesso de dopamina. 
   E, por esse motivo, de início, o pessoal do Diálogo Aberto não usa os antipsicóticos quando se deparam com um paciente em crise. São usados sedativos de início, e depois as terapias. Se o paciente desejar, pode escolher em ficar internado, caso se sinta mais seguro no local. Eu mesmo iria querer me internar durante os meus surtos, pois, aonde eu ia, enxergava inimigos por toda a parte. Enfim, iria procurar um refúgio, e foi o que fiz, no meio do mato. A fraqueza e a debilidade física funcionaram como um sedativo,... 
    Quem me dera se fosse tratado assim no meu primeiro surto psicótico, talvez nem estaria aqui neste blog escrevendo estas linhas. Como já disse, na primeira consulta o psiquiatra sequer olhou para a minha cara, apenas perguntou o que eu tive, e então tentei resumir toda aquela piração, e em menos de dez minutos sai de lá com a receita nas mãos e praticamente diagnosticado. Ele não chegou a perguntar como eu estava me sentindo naquele momento, o que achei um erro grave. 
   Resumindo: o Diálogo Aberto da Finlândia é, como o próprio nome diz, um tratamento onde a consulta é uma via de mão dupla, onde os pacientes podem opinar sobre o tratamento e são respeitados. As queixas dos pacientes são ouvidas e provavelmente tentam resolver da melhor forma. Os medicamentos são deixados de lado e são usado somente em último caso, o que não ocorre no Brasil Quando eu queixava de um medicamento, um certo psiquiatra dizia sempre a mesma coisa: "Mas esse remédio é tão bom...."
    A indústria farmacêutica aparece de vez em quando na Finlândia, oferecem brindes, almoços para o pessoal do Diálogo Aberto, mas parecem não conseguir muita coisa não..
    Lá nos Estados Unidos o DSM não para de crescer a cada edição e novas doenças são criadas, e assim novos medicamentos vão surgindo. Mas tem como fugir disso...