terça-feira, 25 de agosto de 2015

Divagações esquizofrênicas 11

 

O duelo do bem e do mal
    Há duas semanas atrás achei 100 reais no banheiro aqui no local onde moro. Não foi preciso raciocinar muito para se chegar à conclusão sobre quem era o verdadeiro dono da quantia: a proprietária do imóvel, pois ela havia acabado de sair, estava "dando uma geral" em um quarto que tinha sido desocupado. Guardei a grana na gaveta do armário, para entregá-la quando a dona aparecesse novamente.
    Enquanto ela não aparecia, confesso que certos pensamentos tomaram conta da minha mente por breves momentos. Vozes apareciam, sussurrando ao meu ouvido, me dando conselhos, sobre o que se fazer com o dinheiro. Mas, acalmem-se, essas vozes não eram alucinações. No momento creio que estou gozando de quase que plenamente de minhas faculdades mentais. Essas vozes eram da minha consciência, na eterna batalha entre o bem e o mal que se desenrola em minha mente. 
     Desde criança essa batalha é travada em meu interior. E, como não tive pai e minha mãe tem problemas de audição, tive que aprender com a vida qual caminho seguir. De um lado, o anjinho, me dando bons conselhos, e, do outro, o diabinho querendo atazanar a minha vida. A impressão realmente é que cada um está falando em nossas orelhas. Não sou um santo e não tenho a pretensão de ser, mas confesso que a voz do diabinho ultimamente parece vir meio distante, e tenho que prestar atenção para entender o que ele quer dizer. 
    - Devolve o dinheiro, é o melhor a se fazer, não se esqueça que você já muito ajudado nesta vida...- me aconselhava o anjinho.
    - Ah! Gasta essa grana mané! E se fosse você quem tivesse perdido a grana? Iriam te entregar? Você não quer comprar uma manete para jogar no seu notebook? A dona da casa é rica, tem carro, tem a casa própria, nem vai sentir falta desse dinheiro... - do outro lado o diabinho tentava me convencer de que o melhor a ser feito era gastar a grana mesmo. 
    Mas não foi preciso voltar muito no tempo para relembrar as inúmeras vezes em que fui ajudado e presenteado nesta vida. No dia anterior uma amiga do facebook havia comprado o livro "Mente Dividida" em PDF por exatamente a mesma quantia que havia encontrado no banheiro: cem reais!!! Isso mesmo, o livro, que custa 7 reais, foi comprado por uma quantia 15 vezes maior.
    Dias antes, uma pessoa que gosta de viajar por ai, acabou "caindo" no blog, ao pesquisar sobre a "estrada real". Ela estava em busca de informações sobre o caminho, pois pretende cair nesta aventura em breve.
    À princípio, eu queria fazer um blog separado sobre as minhas andanças, para não misturar "as coisas": de um lado a esquizofrenia, e, do outro, as viagens que faço por ai com a minha barraca. Mas, ai pensei: se a minha intenção com o blog e divulgar a esquizofrenia para o maior número de pessoas, então por que não colocar tudo junto? Assim, os mochileiros poderiam se informar sobre esse transtorno mental tão cercado de preconceitos e estigmas.
    E assim aconteceu, essa pessoa, também muito generosa, pagou uma boa quantia pelos dois livros que já escrevi, e ficou muito grata por poder conhecer melhor o que é realmente a esquizofrenia.
E também obteve no blog preciosas informações sobre um dos quatro caminhos da estrada real, o caminho velho. 
a maior parte do caminho da estrada real é feita em estradas de terra...
   Então, voltando ao assunto da batalha do bem e do mal, o anjinho venceu mais essa logo no primeiro round. Logo a dona do imóvel apareceu, e não tive dúvidas que o melhor a se fazer era devolver o dinheiro e ter a consciência tranquila. Isso sim, não tem preço...
    
Dicas de saúde do esquizo
o limão é um bom alimento, tanto para a parte física como mental
    Nas minhas infindáveis buscas e pesquisas virtuais para encontrar fórmulas acessíveis para melhorar a saúde, tanto física como mental, acabei encontrando algo que já havia experimentado há muitos anos atrás: o suco de limão. Tinha o hábito de fazer, uma vez por ano, a tal da cura do limão. Esse processo consiste basicamente em ingerir cerca de 110 limões em 20 dias, para desintoxicar o organismo. Mas, pesquisando sobre alimentos que combatem o mau humor, encontrei dicas sobre esta fruta cítrica.
     A regra é simples: tomar, todo dia, de manhã, em jejum, suco de um limão com água morna. Depois de meia hora pode se tomar o café normalmente. No que se refere a parte mental, estou mais bem humorado realmente. Nem liguei para a zoação de uma menina, que, ao me ver andando pela rua, começou a cantarolar a música do Roberto Carlos: "Esse cara sou eu..." É que meu cabelo está grande, e não sei se fico parecendo com o rei da música popular brasileira, mas não é a primeira vez que fazem esta brincadeira quando me veem. 
    Estou menos ansioso e mais calmo. Consequentemente a vontade de comer doces diminuiu bastante. Emagreci cerca de 3kg em uns 25 dias e, quando resolvo comer doces, o faço com calma, para apreciar o sabor dessas gostosuras, principalmente o chocolate. Não como mais por desespero, para me empanturrar e assim ficar mais calmo. 
emagreci 3kg  tomando suco de limão, para comemorar uma caixa de bombons... 
    E na parte física estou mais disposto. Parece que melhora e muito o metabolismo, não estou tendo a sensação de tijolo no estômago depois das refeições. E o limão dá uma limpeza geral no sangue, eliminando o excesso de colesterol, triglicerídeos e outras impurezas. Hoje (25/08) um cara que nunca havia visto na minha vida me pediu uma barrinha do chocolate que estava comendo. E, para a minha própria surpresa, acabei dando não só uma barrinha, e sim duas! Isso mesmo! Só este gesto é uma prova mais do que cabal de que o limão tem essa capacidade de diminuir a vontade de comer doces..
     Creio que a maioria do pessoal já deve ter percebido que uso muitos links em meus posts (palavras na cor azul) Esses links servem para entender melhor o que estou postando, pois gosto de citar as fontes e não sou muito fã do control V + control C. (copiar e colar). Hoje, com o Dr. Google, só não é inteligente quem já morreu... Algumas pessoas simplesmente copiam tudo o que acham por ai e não citam a fonte, o que acho um desrespeito e tanto...
    Então, abaixo está o link que encontrei e que tem as melhores informações sobre alimentos que melhoram o nosso humor: 
    Adotei outras medidas para melhorar a minha saúde, voltei a tomar o ômega 3 (os meus triglicerídeos estavam em 470mg no último exame), estou fazendo exercícios físicos onde moro mesmo, pois agora estou em um quarto maior e dá para me movimentar. O outro nem dava para fazer um polichinelo, pois esbarrava no armário.  Parei de comer doces depois do almoço e sempre como uma laranja. Estou ainda tomando o cloreto de magnesio como manutenção, em uma dose menor. 

Miojo Saudável
    O verdadeiro dia da preguiça, na minha opinião, é o domingo. Não dá vontade de fazer nada. Só comer e dormir mesmo. Acordo tarde, e, como o restaurante popular está fechado, faço um miojo mesmo e cozinho um ovo para o almoço. Mas aquele pozinho que vem para temperar é muito prejudicial à saúde, pois contém o dobro de sal que precisamos em apenas um dia! O que faço então?
    Simples, faço o miojo normalmente, mas não uso o pozinho. Faço um tempero com azeite de oliva, alho (sem fritar, pois perde suas propriedades naturais) e uma pitadinha de sal. Quem quiser fazer ao alho e óleo fritando não tem problema. Para completar, faço um ovo cozido, que hoje em dia foi abolido e não é o culpado pela alta taxa de colesterol encontrado em algumas pessoas. O prato não fica essa maravilha, mas dá para descer e domingo não dá vontade nem de sair procurando restaurante aberto.
    Uma dica: O azeite de oliva mais saudável não é aquele mais famoso, segundo o proteste. Veja no link abaixo que mostra qual é realmente o mais "virgem":

As paranoias, não sumiram, apenas me acostumei com elas...
    E assim vou vivendo, pesquisando alternativas para ter uma vida melhor, mais saudável, pois se depender exclusivamente dos medicamentos antipsicóticos, confesso que estou perdido. No começo as paranoias eram mais místicas, sobre o bem e o mal, o que iria vir depois dessa vida aqui na terra. Depois, passaram para a saúde, com os boatos de que eu estava com aids, e ai o gatilho foi disparado e agora não para de atormentar a minha mente. Mas hoje em dia estou bem melhor do que há uns dez anos atrás. Passei a me conhecer melhor, sei os meus pontos fracos e sei o que me faz mal e o que pode me fazer bem. 
    Hoje em dia, minhas paranoias continuam, mas como já está descrito no subtítulo, já me acostumei com elas e não dou tanta importância. Penso assim: essas "cismas" são coisas da minha cabeça, mas, e se for verdade, que se !@!#$#$%.... Se não gostam de mim, não vou mudar o meu jeito de ser, pois uma das piores loucuras que uma pessoa pode fazer é deixar de ser ela própria...
     Hoje, penso que todos pensam que sou um assaltante. A paranoia coletiva que tomou conta das grandes cidades acabou passando para a minha complicada mente. Agora penso que, quando uma mulher segura com firmeza uma bolsa, é única e exclusivamente por minha causa. Sou um cidadão do bem, não uso drogas, e sempre trabalhei para me sustentar. Só saio de casa para almoçar, e até encontrei um caminho alternativo para se chegar ao restaurante popular, para não ter que passar pela estação do metrô, onde há grande concentração de pessoas. Prefiro passar pela BR, quase não encontro pessoas, e ainda passo por um morrinho de terra, e assim todo dia me lembro dos dias que andei pela estrada real. Que saudades daquelas andanças, que, apesar de sofridas e cansativas, foram uma das melhores coisas que aconteceram em minha vida! Não sei explicar, mas parece uma necessidade fazer estas caminhadas, para encontrar algo que está dentro da gente. Deve ser algo parecido com o que acontece quando se percorre o caminho de Santiago. Não precisamos ir à Espanha para ter esse tipo de experiência, que é mais interior do que propriamente exterior. 

     Passe livre
    Como disse em um post anterior, o passe livre me foi negado. Em Belo Horizonte, infelizmente os portadores de esquizofrenia não têm esse direito, com exceção daqueles que tem um déficit mental bem perceptível, pois aqui se tem que fazer uma perícia, como se estivéssemos requerendo um benefício, como o auxílio doença. Em São Paulo, basta apresentar os documentos, o laudo e esperar. Em Ipatinga consegui o benefício sem maiores burocracias, e lá fiz vários cursos, como uma forma de terapia mesmo. O campeonato que iria ter no início do mês teve que ser adiado, pois o pessoal não tinha o vale transporte para distribuir para os portadores de transtornos mentais. Aqui quem é usuário do serviço de saúde mental tem direito aos vales transportes na quantidade certa para frequentarem os Cersam's, que são como os CAPS das outras cidades.
    Vou tentar entrar com um pedido na defensoria pública. Esquizofrenia, independente do portador ter ou não déficit mental, chega a ser incapacitante em alguns casos. E uma das formas de terapia é ocupar a mente, fazer cursos, e, principalmente ter o direito de ir e vir, já que o transporte público na capital mineira é caro e não é tão eficiente assim. 
 
Central de Downloads do Esquizo

    Livro: Os delírios da Razão
    Autora: Magali Gouveia Engel
Resenha do livro

O livro tem um recorte histórico entre o final da monarquia e início da república e trabalha o processo de criação do Hospício Pedro II que é posteriormente na república chamado de Hospital nacional do alienado.
    O período de tempo abordado nesta obra vai de meados do século XIX às primeira décadas do século XX, recorte que é feito no estudo da historiadora Magali Gouveia Engel em sua pesquisa.      Este estudo começa com o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro, que recheado pela vivência e convivência de personagens considerados loucos pela sociedade carioca e como esta mesma sociedade aceitava ou recusava o convívio com estes indivíduos. Em seguida vemos o discurso de intelectuais, políticos e da própria sociedade pela necessidade da construção de uma instituição de reclusão dessas pessoas para um melhor urbano e para a segurança social, ou seja, da sociedade e dos próprios indivíduos. Em diante as condições de construção e posteriormente de funcionamento desta instituição, que seria comemorada como de grande importância para a cidade e seu ordenamento urbano, que era anseios de muito que a cidade se modelasse nas principais cidades modernas da Europa. Também é realizado um panorama do funcionamento do hospício, seus métodos de tratamento terapêutico aos alienados e de constantes críticas às formas de tratar principalmente por relatos de violência à internos. No contexto de toda essa trama histórica é demonstrado o processo de transformação da alienação em doença mental e construção do poder de controle e domínio do médico psiquiátrico como personagem que detêm o poder de tratamento e de cura a doenças e do alienado.
    Portanto é uma excelente obra para quem deseja estudar a história da doença e da saúde, destacadamente da doença mental, e de suas forma de conceituação da loucura e de seu tratamento.
    Para baixar este e outros livros sobre transtornos mentais, basta acessar a CDE: Central de Downloads do Esquizo:
https://onedrive.live.com/?id=A884A13FCDDC52A3%21118&cid=A884A13FCDDC52A3&group=0



terça-feira, 18 de agosto de 2015

Matou um esquizofrênico e foi para o psicólogo...

 
policiais agridem esquizofrênico morador de rua
     No último dia 23 de julho, o portador de esquizofrenia, Anderson de Matos, que tinha 32 anos, foi morto à tiros por um policial militar. O crime ocorreu na cidade de Palhoça, situada no estado de Santa Catarina.
    Resumindo o ocorrido, a família do portador entrou com uma ordem judicial para internar compulsoriamente a vítima, já que a mesma não aderia ao tratamento psiquiátrico e vinha tendo crises com uma certa frequência.
 
Como tudo aconteceu
    O SAMU foi acionado para cumprir o mandado de internação compulsória de Anderson. Nestes casos é também necessária a presença da polícia militar, já que geralmente quem tem esse pedido feito não está em boas condições mentais. 
    A vítima estava em sua residência e, como não acatou a decisão, foi necessária a intervenção dos policiais, que à princípio estavam portando armas de choque. A vítima, assustada, saiu de sua casa e correu para um matagal. Os policiais o seguiram, e, como Anderson estava usando um moleton, a arma taser poderia não funcionar adequadamente nesta situação. 
    Como o portador de esquizofrenia estava escondido em um matagal e armado com uma barra de ferro, foram efetuados seis tiros de bala de borracha. Mas, como a vítima não saia do local, um dos policiais sacou uma arma letal. Segundo a versão da polícia, Anderson, ao tentar fugir, acabou escorregando e depois tentou agredir um policial com a barra de ferro. Então, neste momento um outro policial acabou efetuando o disparo fatal. 

Falta de preparo?
    Bem, esse não é o primeiro acidente ocorrido durante uma tentativa de internação compulsória. No ano de 2012 ocorreu algo parecido, um caso que ficou conhecido como "O atirador de São Paulo". Só que desta vez o portador de esquizofrenia é quem portava uma arma e acabou ferindo três pessoas.
    São situações bastante complicadas estas que acontecem quando os portadores de transtornos mentais estão em crise e é necessária a intervenção da polícia militar, principalmente nos casos de internação compulsória. 
     Não tenho a intenção aqui neste post dizer que os portadores de esquizofrenia são sempre as vítimas, os injustiçados. Mas creio que a polícia militar deveria se preparar melhor para essas situações, se informando melhor sobre a esquizofrenia e tendo o amparo também dos profissionais da área da saúde mental. Neste caso, estavam presentes seis policiais militares e o SAMU, e, mesmo assim não conseguiram internar a vítima. Creio que deveriam ser ministradas palestras para os policiais, criar planos e estratégias sobre a melhor maneira  de atuar nestes casos. Também não seria também uma má ideia um psicólogo estar presente em uma internação compulsória.
     São apenas algumas sugestões, mas deve haver pelo menos um debate sobre o assunto. A verdade é que a polícia não está preparada para agir em uma situação tão complicada. Cada portador de esquizofrenia tem a sua maneira de reagir durante um surto psicótico ou em uma internação compulsória. Seria também pedir muito para que um policial se especializasse em psicologia para melhor agir nestas situações. Afinal, são muitos tipos de ocorrências que a polícia enfrenta, e, em algumas delas, eles têm que intervir apenas com o diálogo, como no caso de brigas entre casais. Já vi no programa "Polícia 24 horas", da Bandeirantes, um caso em que o policial teve que dar uma de cupido e, na base da conversa, conseguiu fazer com que o casal  parasse com a briga e retomasse a relação. 
    Mas, como já disse algumas vezes, não desejo que os portadores de esquizofrenia tenham privilégios. Se cometeu algum tipo de crime, que ele seja punido, mas que fique recluso em um local onde possa se recuperar e não para piorar o seu quadro. Devemos sim ser punidos, principalmente quando já somos diagnosticados e paramos de seguir o tratamento. Claro que o tratamento deveria ser o mais digno possível, pois o que causa o abandono é a qualidade do mesmo que se tem aqui em nosso país. O caos está em todas as áreas do SUS, infelizmente não é só na área da psiquiatria. 
    Quando surtamos pela primeira vez, tudo é tão real em nossas mentes que pode se tornar um pouco injusta uma punição severa para um possível crime cometido. Geralmente não temos a mínima noção do que venha ser esquizofrenia, e ficamos sem chão, e tudo o que se passa em nossa mente vira realidade, não tem nem espaço para dúvidas nestas situações. Mas o que fazer quando uma pessoa comete algum delito em seu primeiro surto? Infelizmente não se tem muito o que fazer no caso da punição. Se a pessoa representa um perigo para outras pessoas e para a sociedade, a solução é realmente a internação. Mas, se o tratamento psiquiátrico no Brasil fosse digno e eficaz, provavelmente não seria necessário o uso da força em uma internação. Se o tratamento fosse realmente bom e desse resultado, o próprio paciente iria até à ele por livre e espontânea vontade.  No caso do esquizofrênico de Santo Catarina, foram 13 internações em 13 anos.
    Basta olharmos o que ocorre na Finlândia, onde são obtidos os melhores resultados no mundo no tratamento da esquizofrenia. Neste país, só para termos uma ideia, o próprio paciente escolhe o lugar onde quer ser atendido: na clínica, em casa, ou se quer ficar internado por um tempo. No link que passei (palavras na cor azul) tem um documentário sobre este modelo de tratamento que faz com que apenas 7% dos esquizofrênicos usem antipsicóticos pelo resto de suas vidas. No Brasil essa porcentagem só não chega à 100% por que a maioria dos portadores não suportam as elevadas doses de antipsicóticos que são orientados a tomarem. Também tem que se levar em conta o alto número de moradores de rua que são portadores de algum tipo de transtorno mental e não tem acesso ao tratamento.
as reclamações contra o excesso de medicamentos são constantes...

    Voltando ao Brasil, quem parece que são bem tratados são os policiais militares que ficam reclusos nos batalhões. As "cadeias" dos policiais geralmente são confortáveis, como se pode ver nas fotos. Geralmente eles não respondem pelos crimes cometidos como cidadãos comuns, e sim apenas como militares e o máximo que recebem é uma punição administrativa, e em casos mais graves são apenas expulsos da corporação. O policial que matou o Anderson em Santa Catarina, foi afastado e passará por um tratamento psicológico e o seu nome não foi divulgado. Agora, quando um portador de esquizofrenia comete algum tipo de delito, vira manchete nacional e o seu nome é divulgado em todas as emissoras de TV e sites. No caso do atirador de São Paulo, chegaram a entrevistar o cara logo depois dos disparos, dava para ver nitidamente em seu olhar que estava realmente surtado. É uma falta de ética muito grande tentar entrevistar um portador de esquizofrenia em surto, pois o mesmo não tem a mínima condição de dar respostas condizentes com a realidade. Basta digitar no google, "o atirador de São Paulo", que serão encontradas várias imagens e vídeos sobre o caso. Agora, quando cometem algo contra o portador de esquizofrenia, principalmente a polícia, não se sabe nada, o nome do policial não é divulgado e geralmente só os jornais da cidade em que ocorreram o fato é que comentam sobre o ocorrido. Infelizmente a mídia em geral não contribui para esclarecer a população em geral sobre o que é realmente a esquizofrenia. Existem alguns programas na TV que até foram entrevistados psiquiatras falando sobre o tema, mas quem procura esse tipo de programa geralmente tem um nível de informação melhor e maior do que a população em geral.
     Não é raro certas regalias nos presídios da polícia militar:
    "A ex-mulher de um policial militar preso no Batalhão Especial Prisional (BEP) da PM do Rio de Janeiro, denunciou em 2012, regalias, como geladeira, micro-ondas, máquina de assar frango e ar-condicionado. Segundo ela, os agentes responsáveis eram pagos para “facilitar” na hora da revista. Após a denúncia, todos os eletrodomésticos foram retirados por decisão da Justiça."
Fonte:http://www.webarcondicionado.com.br/presidios-com-ar-condicionado-mordomia-ou-uma-forma-de-ressocializacao

algumas cadeias para militares parecem quartos de uma casa..
     E essa situação de violência contra portadores de esquizofrenia não é tão rara assim em Santa Catarina. No link abaixo dá para se ver como a polícia é preparada para lidar com um esquizofrênico:
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/01/14/video-mostra-rapaz-sendo-agredido-por-pms-em-blumenau-sc.htm

O meu caso
    No meu caso em particular, mesmo na fase aguda dos surtos, não cheguei a representar um perigo para a sociedade, pois a minha principal reação era fugir dos inimigos que estavam em minha mente. Mas fui um perigo para mim, chegando a tentar o autoextermínio algumas vezes. Era mais fácil tirar a minha própria vida do que sair eliminando todos que eu imaginava estar contra a minha pessoa. 
    Quando estava perambulando pelas Br's, durante o meu primeiro surto psicótico, cheguei a pedir à um policial rodoviário para que me prendesse:
    - "Pode me prender, sou um réu confesso... - disse, levantando as mãos em punho, para ser algemado. 
    Estava com um sentimento de culpa absurdamente exagerado, chegando a pensar que havia contaminado algumas pessoas com o vírus da aids (quem já leu antigas postagens do blog, já sabe que por alguns anos eu mesmo acreditei em um boato à meu respeito de que estava com aids).
     O policial rodoviário, ao ouvir o meu pedido, apenas riu, achando engraçada aquela situação. Não me perguntou nada, apenas falou de Deus e depois me ofereceu um marmitex, que joguei fora, apesar da fome que estava sentindo. Afinal, estava apenas imaginando que o mundo inteiro estava querendo ver a minha caveira e que a comida estivesse envenenada. 
    Se o policial solicitasse uma ajuda médica naquele momento, talvez poderia ter evitado tudo o que passei durante esse meu primeiro surto grave, afinal fiquei por um período de cinco meses nas ruas de Belo Horizonte, até me recuperar. Mas, pelo que relatam sobre os manicômios, creio que foi melhor esse caminho que segui, apesar de lento e muito sofrido. Talvez piorasse com esse tipo de tratamento que é oferecido nos casos de emergência e pudesse sim reagir com agressividade à uma internação forçada. Costumo dizer que a debilidade física funcionou meio que um sossega leão para mim, pois não me alimentava e ficava andando praticamente o dia inteiro nos primeiros dias. E o remédio principal foi a solidariedade das pessoas, que me fez pensar novamente que nem todos são inimigos e querem nos ver mal.
    Também tive, durante um surto, uma quase experiência não muito agradável com a polícia. Havia saído do emprego em uma cidade do interior de Minas Gerais e estava dormindo em frente de um agência do INSS. Apareceu até ambulância no dia, e a polícia também que, a princípio queria tirar satisfações sobre o fato de eu estar ali dormindo o dia inteiro (também estava tomando diazepan constantemente, para não surtar de vez). A minha sorte é que, antes do policial se aproximar de mim, deu para ouvir uma mulher me defendendo, afirmando que eu era um cara trabalhador e que gostava de praticar esportes. Era uma assistente social, que acabou me levando para um albergue em um outra cidade, onde tive um tratamento psiquiátrico muito melhor. Cidade pequena tem essa desvantagem que pode se tornar algo benéfico: todo mundo conhece todo mundo. E eu era uma pessoa até certo ponto conhecida naquela cidade, e, como sempre fui um cara trabalhador e nunca usei drogas e fui para o mundo do crime, acabei sendo reconhecido pela assistente social, que me ajudou bastante, ao me tirar daquele lugar. 

    Gostaria de dizer que a culpa nestes casos não é exclusivamente da polícia. Como já relatei, se o atendimento na área da saúde mental fosse eficaz e não trouxesse tantas sequelas, provavelmente não haveria tantos casos de internação compulsória por dois motivos:
    1- Com o tratamento adequado e digno, os portadores não teriam recaídas e não iriam abandoná-lo. E, quando cito tratamento, não estou me referindo apenas a administração de antipsicóticos....
   2- E, se o tratamento fosse digno e com qualidade, os próprios portadores não teriam receio de serem internados. Uma amiga minha me relatou que foi abusada sexualmente em um hospital, presa à uma camisa de força na cama... 
     Imagine-se um soldado hoje, no Rio de Janeiro. Você tem que entrar em um local público, desconhecido, cercado de becos e esconderijos. É uma comunidade carente. E você tem que acabar com o tráfico de drogas no local, tem que achar os bandidos naquele monte de casas, tem que trocar tiros com os traficantes, mesmo não tendo uma visão privilegiada do lugar. E não pode errar, tem que acertar somente os traficantes enquanto eles saem disparando fuzis e metralhadoras a esmo, sendo que às vezes essas armas são adquiridas da própria polícia... 
    Por isso, neste post, gostaria de reiterar que a culpa não é somente da polícia, e sim das pessoas que governam o nosso pais, e das condições em que são tratados os portadores de transtornos mentais nos hospitais e clínicas psiquiátricas. Uma amiga minha relatou que, ao visitar o seu filho, os outros portadores foram ao encontro dela, para pedirem um pouco de comida, pois estavam sentindo muita fome. É isso, os políticos desviam o dinheiro público que seria destinado à saúde, e, quando usam, o fazem de maneira não muito certa. E então tudo estoura nas mãos da polícia, para apagar o incêndio provocado pela incompetência e pelos maiores bandidos em nosso país, que são os políticos. O ex comandante do Bope, afirmou que a única instituição do governo que sobe a favela é a tropa de elite. 
    Voltando ao tema internação compulsória, o mínimo que podemos exigir é um preparo dos policiais para estes casos e um tratamento adequado nos hospitais psiquiátricos. Como deve ser esse atendimento? Não sei, não estudei para isso, mas creio que nestes casos, o próprio paciente deve ser ouvido, o que geralmente não acontece em nosso país. Deveria haver um "Diálogo aberto" e verdadeiro entre os profissionais da saúde mental e os portadores de transtornos mentais. 
    Não queremos regalias, não queremos ser tornar inimputáveis para fazer o que bem quisermos sem ser punidos. Queremos apenas olhar no horizonte e enxergar algo que nos incentive a continuar o tratamento para a esquizofrenia, que no Brasil parece não ter fim. A prevenção, neste e em todos os casos ainda é o melhor remédio. Com atendimento digno, não haverá motivo para internações forçadas... 
- Obs: costumo colocar algumas imagens nos posts que escrevo, mas, como é um caso contra um portador de esquizofrenia, o mesmo não foi tão divulgado, o que já não acontece quando um esquizofrênico comente algum delito...

CDE- Central de Downloads do Esquizo
Livro: O poder dos quietos
 
     Cheguei a ler boa parte desse livro, mas, com o desânimo atual que estou tendo, não consegui ir até o final, mas se trata de um bom livro, pois define muito bem o que é uma pessoa tímida e uma pessoa introvertida. 
    No meu caso em particular, creio que fui um tímido até antes de surtar, pois não me conhecia realmente e tinha um certo medo de me envolver com as pessoas e ter certas responsabilidades.
    Mas tudo mudou depois dos surtos, descobri quem sou de verdade e sei a força que posso ter. Hoje sou um fóbico social e um pouco introvertido, pois de uma certa maneira gosto de minha companhia (shasuahsuashs) e fico bem em meu cantinho, convivo bem com os meus pensamentos e não tenho mais medo deles. E você?
    Para fazer o download deste e de outros livros sobre transtornos mentais e comportamento humano, basta acessar a CDE (Central de Downloads do Esquizo) na figura no lado direito da página ou então clicar no link:

Teste: Saiba se você é um introvertido ou tímido
    O introvertido é uma pessoa sensível que se sente confortável tendo a si mesmo como companhia.
   Introvertidos recarregam suas baterias ficando sozinhos; extrovertidos precisam recarregar quando não socializam o suficiente.
Se você ainda não tem certeza de onde se encaixa no espectro introvertido-extrovertido, pode descobrir aqui. Responda a cada questão com “V” (verdadeiro) ou “F” (falso), escolhendo a resposta que lhe é mais frequente.
1. Prefiro conversas individuais a atividades em grupo.
2. Geralmente prefiro me expressar por escrito.
3.  Gosto da solidão.
4. Pareço me importar menos que meus colegas com fama, fortuna e status.
5. Não gosto de jogar conversa fora, mas gosto de tópicos profundos que importam para mim.
6. As pessoas dizem que sou um bom ouvinte.
7. Não gosto muito de correr riscos.
8.  Gosto de trabalhos que me permitam “mergulhar” com poucas interrupções.
9. Gosto de celebrar aniversários de maneira reservada, com apenas um ou dois amigos ou familiares.
10.  As pessoas me definem como alguém “de fala mansa” ou “meigo”.
11. Prefiro não mostrar meu trabalho ou discutir sobre ele com os outros até ter terminado.
12. Não gosto de conflitos.
13.  Trabalho melhor sozinho.
14. Tendo a pensar antes de falar.
15. Sinto-me exaurido depois de estar em público, mesmo que tenha me divertido.
16. Às vezes deixo ligações caírem na caixa postal.
17. Se tivesse que escolher, preferiria passar um fim de semana com absolutamente nada para fazer a um com muitas coisas programadas.
18. Não gosto de fazer muitas coisas ao mesmo tempo.
19. Consigo me concentrar com facilidade.
20. Em situações de sala de aula, prefiro palestras à seminários.
Quanto mais tiver respondido “verdadeiro”, mais introvertido você provavelmente é. Se tiver um número parecido de “verdadeiros” e “falsos”, provavelmente você é um ambivertido
— sim, essa palavra existe.

sábado, 15 de agosto de 2015

Quase um surto...

 
    "Tenho praticamente 14 anos de esquizofrenia", ou pelo menos de surtos, pois sempre me achei um pouco diferente. Os estudos pela internet e a troca de ideias e experiências com os amigos virtuais também portadores me ajudaram muito a conhecer melhor o transtorno da mente dividida. E a própria experiência com a esquizofrenia colabora  para identificar quando o sinal está no laranja, prestes a ficar no vermelho.
    Cada surto que tive teve um fator desencadeante, o stress principalmente.
    O primeiro surto grave foi devido aos boatos que eu tinha aids, e também pelo fato de algumas pessoas realmente estarem contra a minha pessoas. Tinha  um salário melhor do que os outros empregados de uma firma no interior de Minas Gerais, o que gerava um pouco de ciumes.  Mas eu aumentei e muito a realidade, pensando que o mundo inteiro estava querendo o meu fim.
    Não acredito que a esquizofrenia seja apenas um desequilíbrio químico do cérebro, tem o fator psicológico também. As vozes talvez sejam ecos de nossos pensamentos e que nossa mente distorce e aumenta, provocando as crises e surtos.
    Ontem, sexta feira (14;08) tive que voltar novamente a tomar 10mg do "pan nosso de cada dia". Já cheguei a tomar 20mg e também tomei uma vez um remédio para dormir chamado levozine, que é muito forte. De madrugada, não tem como ir ao banheiro, o jeito é comprar um pinico e colocar debaixo da cama, para nos aliviar, pois a sensação que dá é que estamos bêbados e as paredes do local onde morava ficavam pequenas quando tomava esse medicamento. Consegui voltar para os 10mg e já havia um bom tempo tomando apenas 5mg, sonhando um dia em conseguir me livrar desse vício que não nos proporciona um sono verdadeiro, atrapalhando e muito a minha memória.
    Cheguei a procurar psiquiatras pelo SUS perguntando se não teria uma alternativa natural para parar com esse medicamento, mas nenhum me deu algum tipo de informação. Por que o serviço público não oferece alternativas naturais ao invés de aplicarem logo o diazepan, que é uma droga um tanto o quanto viciante? Quando me foi receitado pela primeira vez, o psiquiatra não me informou nada sobre essa dependência de que o diazepan poderia causar, e, que, com o tempo, acabaria perdendo o efeito e teria que aumentar a dose para conseguir o mesmo efeito.
    Por que os médicos não nos informam sobre esse fato? Pensava que iria ter um sono reparador e tranquilo, mas a verdade é que ele apenas ajuda, ou seja, é um indutor do sono. Claro que na época não tinha acesso à todas essas informações. E também não recebemos a bula nos postos de saúde, apenas nos dão as cartelas fora das caixas.
    Mas, voltando ao assunto inicial, eu estava prestes a surtar, ou já estava surtado? Como a maioria já sabe, geralmente só saio de casa para almoçar, e já volto quase que correndo para casa. E passo sempre em uma estação de metrô, onde ocorrem muitos assaltos nas proximidades e as pessoas andam muito temerárias em serem assaltadas, andando com as mãos firmes segurando suas bolsas e os celulares.
    Fico chateado quando uma mulher passa ao meu lado segurando a bolsa, penso que esse gesto é exclusivamente para a minha pessoa. É como se elas estivessem me chamando de ladrão. Pode parecer bobeira, mas não para quem procurou ser honesto e trabalhar enquanto foi possível para se manter. Já cheguei a comer lixo durante os surtos, mas não roubei. Passava em frente das padarias, meu estômago roncava, as lombrigas ficavam agitadas quando eu via os pães de queijo, as tortas e outras guloseimas. Mas entendo a atitude dessas mulheres, hoje em dia estão matando pessoas por causa de um simples celular...
    Mas, a cada dia que passava, sentia-me mais estressado ao passar pela estação do metrô. Andava rápido para chegar logo ao restaurante, almoçava rapidamente e voltava mais rapidamente ainda. O fato de andar rápido provavelmente faz com que as mulheres pensam que eu esteja a procurar alguma vítima para roubar.
    Era como se fosse acusado por todos os lados. Ao entrar na padaria, nos supermercados, a sensação de que eu estava sendo vigiado era além do normal, já que realmente somos vigiados, pois hoje em dia qualquer supermercado tem o seu sistema de vigilância. Enfim, só tinha paz quando voltava para o meu quarto.
   O surto é como se fosse uma dinamite. Tem o seu pavio. E o meu estava queimando rapidamente e quase estourou essa bomba chamada esquizofrenia. Tenho um pouco consciência de quem eu sou em condições normais e cheguei à conclusão de que, se continuasse daquele jeito, iria surtar a qualquer momento. Toda a minha musculatura estava dolorida, não conseguia relaxar e nem praticar esportes. De noite dava para sentir a pulsação na ponta dos dedos das mãos. Não estava conseguindo realizar as tarefas normalmente, estava esquecendo o local onde havia colocado as ferramentas (tive que refazer as instalações elétricas, pois mudei para um quarto maior). Foi difícil fazer a parte elétrica, deixava a chave de fenda na cama e logo depois esquecia onde havia colocado. Cheguei a pensar que estava ficando demente ou esclerosado, sei lá, quase que marquei uma consulta por causa desse fato.
    Então vi que teria que tomar um remédio mais forte para apagar. Havia marcado de tomar um comprimido de clorpromazina juntamente com o fenergan, nesta noite de sábado (15;08) para domingo, já que neste dia costumo almoçar tarde. Mas ontem resolvi tomar 10mg de diazepan juntamente com um comprimido de dorflex para relaxar a musculatura. Dormi razoavelmente bem, acordei sem as dores musculares e com a mente "no lugar".  A falta de sono também pode ser um gatilho para a esquizofrenia...
    Hoje, fui tranquilamente buscar o marmitex, comprei algumas frutas, e sem aquela costumeira pressa para chegar em casa. Continuei a fazer as minhas gambiarras no meu quarto e não estava mais esquecendo onde havia guardado as ferramentas. Que alívio, não estou ficando demente ou esclerosado! É o stress, que se não for bem cuidado, pode fazer sérios estragos na vida de uma pessoa
    Mas não podemos tomar dorflex todos os dias, pois pode prejudicar o nosso organismo, principalmente o fígado e os rins.
    Com o quarto maior, agora posso fazer os meus exercícios sem precisar sair de casa. Ir ao parque também estava sendo um fator de stress para mim. Pensava que, por estar mal fisicamente, poderia estar ingerindo alguma coisa envenenada ou falsificada, sei lá. O parque ecológico é bem agradável, com muitas árvores e aqueles aparelhos para se exercitar. Mas sempre tem gente por lá, e ainda tem aqueles que ficam sentados nos aparelhos apenas para conversar, e ai tenho que pedir com a maior educação para que saiam e que eu possa usá-los.
o dorflex pode ser bom no começo...

    Mas e aí, o que fazer então? Sinceramente não sei, vou ver se consigo a valeriana em algum lugar. A caixa deve custar uns 35 reais, o que pode pesar um pouquinho no orçamento, mas se me fizer livrar do diazepan e o sono melhorar pelo menos um pouco, já vai valer a pena.
    Por isso volto a aconselhar a quem pensa em tomar um desses "pans" da vida: o medicamento não irá resolver os nossos problemas, pagar as nossas contas. Só use em último caso, e não era o meu caso. Não dormia bem, mas também não ficava a noite inteira acordado, dormia pouco apenas. Confesso que acordava melhor sem o remédio, piorei e muito com o uso dos medicamentos. Mais vale duas horas de sono natural do que dez horas com o diazepan... Creio que maracujá e chás não irão fazer muito efeito para quem se acostumou com esses medicamentos. Mas não quero surtar novamente, gostaria de ter uma vida normal, ir aos shows, andar pelas ruas tranquilamente como antes, mas não sei o que fazer. Se não tomo os medicamentos, as paranoias me tornam um ser antissocial, mas, se tomo os remédios indicados pelos psiquiatras, simplesmente não tenho vontade de fazer nada, é como se fosse uma lobotomia química, pelo menos no meu caso.
    Voltei a tomar o ômega 3. Vamos ver se volto à estabilidade. Também preciso abaixar os triglicerídeos, que, no último exame estavam em 480mg. Nem deixei o médico citar a palavra sinvastatina quando viu o meu exame, fui logo dizendo que iria mudar os meus hábitos e tomar os ácidos graxos. A sinvastatina também faz mal para a saúde, se for tomada por um longo período.
    Não sei o que fazer mesmo, creio que o jeito é ficar de olho no pavio da esquizofrenia enquanto não tomo os antipsicóticos continuamente. Quando perceber que o pavio está se aproximando da dinamite, volto a recorrer ao dorflex ou então à "Clô" (clorpromazina).
     Minha relação com a esquizofrenia e os medicamentos é essa, não estou aqui querendo que os outros portadores façam a mesma coisa. Cada esquizofrenia, mesmo sendo a do mesmo tipo, tem as suas diferenças de indivíduo para indivíduo. A minha é essa, creio que uma junção de fatores biológicos, genéticos e psicológicos. Cada um tem a sua esquizofrenia e alguns realmente optam pelos medicamentos pois sabem que não podem ficar sem eles, que não têm outras alternativas.
    E assim vou levando a vida, sendo o meu próprio psiquiatra e psicólogo...

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Sem limites

    Passei praticamente o final de semana inteiro em frente do meu notebook. No sábado (01/08) formatei-o para o mais novo sistema operacional da microsoft: o Windows 10!
    Pode parecer algo banal, rotineiro, comum, para a maioria das pessoas. Mas no meu caso em particular, não é. Para quem era avesso à tecnologia isso é um grande avanço... Olhava as pessoas digitando com a maior rapidez sem olhar no teclado e ficava admirado como que conseguiam fazer esta "proeza"...
    Até os meus 40 anos, nunca havia encostado um dedo sequer em uma tecla de um computador e nunca tive um celular. Era (e ainda sou) social ao extremo, quem quisesse falar comigo que me procurasse onde eu estivesse, geralmente no trabalho ou no meu quarto. Tinha medo de encostar um dedo em uma tecla de computador, com receio de que pudesse estragar o equipamento.
    A minha relação com a tecnologia era apenas no trabalho, como operador de som. Por gostar muito de música, era um prazer fuçar nos aparelhos até aprender a usá-los da melhor maneira. Ficava mexendo nos efeitos, achava legal transformar a voz da pessoa na de um robô, por exemplo. Mas detestava equipamentos eletrônicos para uso pessoal. Confesso que ficava surpreso e até admirado quando uma pessoa atendia o celular já dizendo o nome de quem estava do outro lado da linha.
    - Como que ele adivinhou quem estava chamando? - me perguntei quando vi pela primeira vez uma pessoa falando o nome de quem estava chamando logo de início.
    Mas depois que me aposentei comecei a conhecer um pouco o mundo da tecnologia, por falta de opção mesmo do que fazer. Depois que consegui o auxílio doença, no ano de 2005, fiquei feliz e aliviado de início, pois o contato com outras pessoas passou a ser um fator de stress para mim. Mas, com o passar do tempo, o tédio se instalou em minha vida. Era uma rotina mais do que sem graça, apenas saia de casa para almoçar no restaurante popular da cidade. Só sei fazer ovo cozido e miojo. Ah! E brigadeiro também...
    Tinha que dar algum sentido para a minha vida, viver daquele jeito não dava mesmo. E então resolvi me fazer um desafio, que na época realmente era um grande desafio: aprender a usar o computador!
    Confesso que fiquei com medo de passar vergonha na sala de aula de informática. A maioria das cadeiras eram ocupadas por alunos jovens, na faixa de vinte anos, alguns com cara de nerd's. Também havia uma grande dúvida em minha mente: queria saber se a esquizofrenia havia afetado a minha capacidade de raciocinar e adquirir novos conhecimentos. Enfim, queria saber se a esquizofrenia havia me "emburrecido" ainda mais.
    Mas que nada! Com um pouco de esforço e sacrifício, aprendi a digitar com as duas mãos e sem olhar para o teclado. Entrei na aula de digitação umas cinco aulas atrasado em relação aos demais alunos, mas, ficando no curso na parte da manhã e de tarde, rapidamente alcancei a maioria dos alunos e até terminei os exercícios antes de algumas pessoas. Havia dias que ficava enxergando aquelas estrelinhas (bolinhas brancas) de tanto stress que a aula de digitação me dava. Tínhamos que digitar textos completos em um certo período de tempo. Não podíamos atrasar um segundo sequer...
    E depois veio a aula de informática. Muito medo no início, muitos caras novos e com cara de nerd. Eu era o cara mais velho da turma, na época com 40 anos. Logo na primeira aula me destaquei, respondendo à maioria das perguntas que a professora nos fazia. Achava estranho aquele método de dar aulas dela, pois fazia muitas perguntas, talvez para que a aula se tornasse mais dinâmica, chamando a participação dos alunos. No dia das provas os alunos só faltavam brigar para se sentarem ao meu lado, a fim de pegar uma colinha. O diploma daquela escola era bem reconhecido na cidade.
    Tirei notas máximas, as questões eram fáceis para quem entendia do assunto, mas para quem era leigo tinha um certo nível de dificuldade, pois era um mundo totalmente desconhecido para mim. Não cheguei a terminar o curso, pois já estava satisfeito comigo mesmo, era capaz de usar um computador e cheguei à conclusão de que a esquizofrenia não havia abalado a minha capacidade de raciocínio e de memorizar. Isso valia mais do que qualquer diploma!
    E então, neste último sábado, me fiz um outro desafio, que morria de medo de fazer: formatar um computador! Afinal, não tinha um outro equipamento reserva, e qualquer erro poderia dar em merda e aí teria que pagar uma pessoa para formatar o meu notebook. Depois de assistir algumas vídeo aulas no youtube e consultar o Dr. Google, resolvi fazer o desafio. Sem maiores dificuldades, consegui formatar com sucesso o notebook com o windows 10 e instalar os programas necessários Até que não é difícil, mas várias pessoas relataram na internet que tiveram problemas em fazer esta atualização.
http://www.tudocelular.com/windows/noticias/n58501/windows-10-falhas-atualizacao.html
meu amigo note... ele é CCE mas é meu amigo...

    Meus olhos ficaram vermelhos e ardendo durante a instalação, que durou mais ou menos uma hora, pois sequer pisquei os meus olhos durante o processo. Fiquei tenso e com um pouco de medo. Cheguei a pensar até em comprar um notebook usado para aprender a formatar computadores. Não poderia de jeito nenhum dar problema nesta instalação, o aluguel do meu quarto consome a maior parte do salário e não queria pagar um técnico para fazer este serviço.
    E fiquei o final de semana inteiro colado no notebook, conhecendo e testando a novidade da microsoft. Não irei comentar se é bom ou não, se é melhor do que as versões anteriores, pois este não é o intuito do blog. Mas no geral, achei bom e interessante. É uma mistura do windows 7 com o 8, pois a versão 8 não foi muito bem aceita pela maioria dos usuários.
saiu a "última versão final" do windows 10
    Pode parecer um fato normal, mas esse simples fato de formatar com sucesso o notebook para mim é uma vitória. Havia colocado limites em minha mente, de que não era capaz de usar um computador e muito menos de instalar um sistema operacional. Me lembro que, depois que consegui o auxílio doença, tinha medo de sacar o meu pagamento no caixa eletrônico. Pedia para as pessoas sacarem o dinheiro, apenas digitava a senha. Pensava que poderia ocorrer algum problema e o caixa "engolir" a minha grana. Somente no quarto mês é que resolvi arriscar e consegui sacar o dinheiro, perdendo o medo daquela máquina.
    Queria aprender muito mais. Exercitar a mente, aprender coisas novas, fazer cursos... Conviver com as pessoas nas salas de aula é uma ótima terapia. Mas infelizmente em Belo Horizonte os portadores de esquizofrenia não têm direito ao passe livre. Somente os que tem déficit mental incapacitante, e a pessoa não pode ir sozinha na perícia. Oras, se a esquizofrenia leva a pessoa ao isolamento, como iria arrumar uma companhia? Poderia muito bem arrumar alguma pessoa, fingir que era dependente dela, mas não sei mentir desta forma. Até nas perícias do INSS eu ia sozinho e não procurava "dar uma de doido" para conseguir o benefício. Apenas respondia com sinceridade ao que era me perguntado,
   Em Ipatinga as coisas eram mais simples, tinha o passe livre e fiz alguns cursos. Meu passe livre em Belo Horizonte foi negado, depois de oito meses de espera.Em São Paulo quem usa os serviços do CAPS tem o direito ao benefício, é só ir com a documentação e o laudo nas subprefeituras. Tenho que arrumar uma alternativa para esta minha vida, fica difícil ser feliz com essa vida que levo, sem fazer nada, o dia inteiro no notebook e na televisão. Os profissionais da saúde mental na capital mineira deveriam repensar esta situação, pois os usuários do serviço só ganham vales transporte para irem aos Cersam's, que são como os Caps em outras cidades. O que frequentei não tinha nada para se fazer, os usuários apenas ficavam o dia inteiro sentados nas cadeiras e poltronas e assistindo televisão. Creio que o tratamento deveria ser algo além da medicação.
    Impor limites é um dos piores castigos que podemos dar à nós mesmos...