sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O esquizo responde


   Este post faz parte de uma série que estou preparando, com perguntas e respostas feitas por amigos portadores dos mais variados tipos de transtornos mentais, estudantes, amigos e parentes de portadores, além de pessoas interessadas no tema.
    Foi um amigo que me deu essa sugestão, ao ver um dos vídeos que publiquei no meu canal no youtube. Poderia responder as perguntas pelo próprio canal, mas, como já relatei inúmeras vezes, falar não é o meu forte, e além de tudo eu tenho a língua presa, é um saco ficar falando o S, às vezes chego até a pronunciar o X no lugar do s, mas não é para dar uma de carioca não, é por que fica mais fácil shasuhasuashuashaus Só quem tem a língua presa é que irá entender completamente essa troca de letras.
    Gostaria também de deixar bem claro que não sou o dono da verdade, as respostas são de uma pessoa que infelizmente tem a prática e um pouco da teoria sobre o assunto. O psiquiatra, o psicólogo pode estudar o máximo que for possível, cursar a melhor universidade, mas entender completamente o que um portador de sofrimento mental passa não depende apenas de teorias, é necessário outras coisas que o dinheiro não compra.
    Também não me considero capaz de resolver os problemas das pessoas com sofrimento mental. Apenas procuro ajudar da melhor maneira possível, com tudo o que aprendi estudando e principalmente pelo conhecimento adquirido pelas experiências que tive e com as lições que só a vida nos ensina. E também é uma forma de retribuir um pouco toda a ajuda que recebi nos momentos mais difíceis da minha vida. Então, sempre que puder, irei publicar dez perguntas em cada postagem com o título acima. Quem tiver alguma pergunta é só fazer por email que respondo aqui no blog. Sugestões de temas também serão bem vindas. Sem a participação dos leitores o blog ficaria pouco interessante na minha opinião, aprendi e muito com os comentários postados. O meu email é:
juliocesar-555@hotmail.com

Perguntas e respostas
   1-Como era a sua vida antes da esquizofrenia?
    Levava uma vida praticamente normal. Fui uma criança bem arteira, estudei em um colégio razoável, fiz o ensino médio completo e também o curso técnico de eletrônica. Saí de casa aos 17 anos e comecei a trabalhar como operador de som. Com o tempo, acabei me tornando um bom profissional nessa área. Era uma pessoa distraída, e não reparava em nada em torno de mim. Apenas me achava uma pessoa excessivamente tímida e um pouco complexada, mas não era nada de tão grave assim. Hoje creio que também era um cara meio inocente, até um pouco bobo para a minha idade. Não tinha paranoias, e conseguia andar pelas ruas sem me preocupar com as outras pessoas, era realmente muito distraído e um pouco aéreo. Confesso que tenho saudades desse tempo que acredito que não irá voltar.

    2- Que idade você tinha quando recebeu o diagnóstico e qual a sua idade atual?
    Na verdade nenhum psiquiatra ou psicólogo falaram comigo sobre o assunto. Sempre fui atendido pelo SUS e as consultas eram bem rápidas. Em uma certa cidade a consulta durava não mais do que cinco minutos. Os psiquiatras apenas ouviam minhas queixas e me passavam a receita do medicamento. Já as psicólogas apenas se limitavam a fazer algumas perguntas e anotações. Como não ficava muito tempo morando na mesma cidade, não fiquei muito tempo fazendo sessões com uma mesma psicóloga.
    O primeiro surto grave aconteceu aos 32 anos de idade, mas só tomei conhecimento que tinha esquizofrenia quando fui fazer a minha primeira perícia no INSS, quando já não estava conseguindo mais trabalhar, devido as recaídas que tive. O laudo recebi no ano de 2005 e atualmente tenho 46 anos de idade. Fiquei três anos, indo de uma igreja para outra, pensando se tratar de algo espiritual. Até mesmo depois de receber o laudo ainda tinha essa desconfiança, que só foi realmente acabar depois que resolvi fazer um curso de informática e comprar um computador e assim estudar o assunto com mais profundidade.

    3- Quais foram os sintomas que levaram ao diagnóstico e como foi a sua primeira crise?
    Mania de perseguição exagerada, muitas alucinações auditivas e algumas visuais.
A primeira crise tive aos 32 anos de idade. Estava trabalhando e comecei a imaginar que os outros funcionários da empresa onde trabalhava estavam tramando algo contra a minha pessoa. Esse sentimento de que havia um complô contra mim foi se espalhando para o bairro, e em pouco tempo, comecei a pensar que praticamente o mundo inteiro estava querendo o meu fim. Cheguei a ouvir pessoas combinando um plano para me matar e onde eu ai sentia que todas as pessoas estavam me observando. Também comecei a sentir um complexo de culpa exagerado, chegando a imaginar que tudo o que acontecia de errado era minha culpa. Pensava que a minha comida estava envenenada e fui duas vezes ao hospital para pedir socorro. Aconteceu outras coisas, mas basicamente foi isso, e, então pedi demissão na firma onde trabalhava, com a intenção de fugir dos inimigos que eu pensava que estavam me perseguindo naquele lugar.
Aconteceram muitas coisas. Como não era agressivo, não cheguei a ser internado, e então morei nas ruas de Belo Horizonte por cerca de cinco meses, até conseguir me recuperar. Registrei tudo no livro que escrevi, chamado Mente Dividida, que vendo no formato impresso como também em PDF.

    4- Você já foi internado alguma vez na vida? Como foi a experiência?
  Nunca fui internado, pois, como já afirmei, mesmo durante os surtos psicóticos, não era agressivo. A minha principal reação era apenas fugir e fugir. Fui para as Br's, mudei de cidade, tentei o autoextermínio algumas vezes, numa tentativa de fuga dos inimigos que estavam em minha mente, mas que na época tinha a certeza absoluta que estavam em todos os lugares. Mas não fui agressivo e também quase não externava o que se passava em minha mente.

    5- Você toma medicamentos para controlar a doença? Já teve que trocar de medicamentos alguma vez?
    Atualmente estou tomando apenas o diazepan, que é para a ansiedade e agitação. É como se fosse um SOS, em uma situação em que eu possa ficar agitado. Os remédios usados contra a esquizofrenia infelizmente possuem muitos efeitos colaterais. Troquei inúmeras vezes de medicamentos, mas todos tiveram reações adversas quase que incapacitantes, como sonolência, fraqueza, aumento de apetite exagerado, e outras reações que são chamadas de reações extrapiramidais: acatisia, que é a vontade de ficar andando sem parar, agitação motora e enrijecimento muscular, dentre outros. Hoje em dia, devido a experiência prática no assunto, posso sentir algumas vezes quando estou prestes a surtar, e ai recorro aos antipsicóticos, mas por um breve tempo, até sentir que estou novamente estabilizado. 


     6-Como a sua vida mudou após o diagnóstico?
    Após o diagnóstico, a minha vida melhorou um pouco, pois passei a estudar o assunto. No início acreditava ser algo de origem espiritual. Comecei a frequentar igrejas, para ver se me libertava desses supostos espíritos, mas em vão.
  Depois que tive o acesso ao diagnóstico pude entender melhor a esquizofrenia e, consequentemente, a mim mesmo. Fiz uma análise de todo o meu passado, e cheguei à conclusão de que realmente havia algo de errado comigo.

    
    7- Você trabalha? A doença já afetou seu ritmo profissional?
   Sou aposentado. Infelizmente na área em que trabalho o profissional tem que ficar várias noites acordado, se deslocando de uma cidade para outra. Trabalhava como operador de som, e ainda tinha o problema do som alto e de ter que conviver com multidões nos shows. É realmente uma profissão estressante. A vida social também foi bem afetada. Já não era grandes coisas antes, agora ficou praticamente inexistente. 

    8- Como é a sua relação com familiares e amigos?
   A minha relação com a família não era boa e nem ruim. Apenas não existia. Se por um lado não brigávamos, também não havia diálogo. Em relação aos amigos, na infância e adolescência era um garoto divertido e alegre, meio maluquinho mesmo e tinha bastante amigos. Com o tempo a sensação de que as pessoas não gostavam de mim foi aumentando e fui então me tornando uma pessoa mais reservada.

    9- Como as pessoas reagem ao saber que você tem esquizofrenia?
   Geralmente ficam surpresas, pois o preconceito e a falta de informação ainda é muito grande, A maioria das pessoas pensam que esquizofrenia seja sinônimo de agressividade, de falta de capacidade de raciocinar, déficit mental, falta de higiene, dentre outras coisas. Já me perguntaram como sei usar o computador se sou um esquizofrênico. Já até disseram que não tenho esquizofrenia por saber falar razoavelmente bem. E também fizeram o desafio clássico: “Você é doido? Então rasgue essa nota de 50 reais!” A resposta foi óbvia: “Posso até ser meio maluco, mas burro não sou né?”

    10- Você já passou por alguma situação de preconceito por sofrer com a doença?
    Se considerarmos preconceito como um pré-julgamento sem ter um conhecimento da causa, sofri e ainda sofro todos os dias. Mas não fui hostilizado, apenas algumas pessoas procuraram me evitar, principalmente no mundo virtual, já que ultimamente tenho tido pouco contato com as pessoas no mundo real. Já ouvi muitas indiretas, que finjo ter esquizofrenia para ter conseguido me aposentar, dizem que tenho uma vida boa (me aposentei com um salário mínimo). Dizem que o que tenho é frescura, já que não podem ver e nem sentir o que eu tenho.
    Nos sites de relacionamento o preconceito acontece de uma forma bem clara. Quando encontro uma pessoa interessante, procuro entrar em contato. A conversa chega a fluir bem, me pedem mais fotos, mas, quando ficam sabendo da minha condição de portador de esquizofrenia, já não retornam mais as mensagens. No começo chegava a mentir, afirmando que trabalhava como técnico em eletrônica, mas foi por pouco tempo, não gosto de me passar por uma outra pessoa. 

Perguntas de estudantes de psicologia
   O TCC não é mais obrigatório. Algumas estudantes de psicologia entram em contato comigo e com vários portadores de esquizofrenia para fazerem uma série de perguntas, para seus trabalhos de conclusão de curso. Umas são honestas e francas, chegam e falam a verdade, e fazem as perguntas. Outras se aproximam, fazem o pedido de amizade, fazem inúmeras perguntas, algumas fingem realmente querer a nossa amizade, mas, depois que conseguem o conteúdo para seus trabalhos, acabam sumindo e nos excluindo de seus círculos de amizades. Acho isso uma falsidade que nem vou comentar, o correto seria falar a verdade mesmo, apesar de que a maioria dos portadores não gostam de responder as mesmas perguntas de sempre. Eu mesmo já não respondo mais, pois são as mesmas perguntas de sempre. Já teve estudante fingindo ser jornalista e entrando em contato comigo, afirmando que iria sair no jornal, etc. Fiquei empolgado, mas até hoje não vi nenhum depoimento meu em nenhum jornal, elas prometiam me passar o link da matéria, mas até hoje nada. Então, o TCC não é mais obrigatório, e também é uma falta de sensibilidade dos professores, não saberem que qualquer pessoa se sente incomodada se for "investigada" ou observada. Nos caps e nos centros de convivência aparecem vários estudantes, e já cheguei a ver em um caderno de um estudante anotações sobre vários portadores de esquizofrenia. O pessoal das faculdades chegam nesses centros de convivência, entram em contato com os portadores, alguns estudantes começam a puxar conversa, fazem suas observações, e até filmam certas situações em que o portador não é perguntado se quer mesmo ser filmado. Não seria mais correto primeiro falar a verdade e depois começar o contato e as perguntas?

Se comer não use o fone de ouvido...
    Outro dia estava almoçando tranquilamente no restaurante popular. E, como sempre, ouvindo músicas no fone de ouvido na maior altura. Isso me ajuda a me desligar um pouco do mundo à minha volta. Mas dessa vez me desligou de uma maneira que me fez pagar um mico, quer dizer, um micão (que expressão mais antiga shaushasuhasuas). 
     Não sei que carne estava comendo, mas o caldo do osso estava uma "dilícia". Sou uma pessoa simples, e não tenho vergonha de comer o frango com a mão e chupar o caldo dos ossos. Essa carne que estava comendo não era frango, mas o caldinho do osso estava muito bom mesmo. De repente um cara na outra mesa me encarou com uma cara não muito boa. Havia poucas pessoas no restaurante, geralmente almoço mais tarde, quando o movimento é pequeno. Um outro cara que estava passando no corredor também me encarou por um breve momento. Achei estranho, mas continuei a saborear o caldinho do osso da carne que estava no prato. Ai as mulheres que estavam no balcão começaram a rir, deu para ouvir suas risadas, bem ao fundo, por causa da música alta. Olhei para o lado e elas estavam olhando para mim. Somente neste momento é que fui me dar conta da situação: quando estava chupando o caldo do osso da carne, dava para ouvir o som que fazia, parecido um pouco com um tipo de assovio, sei lá... Ai disse para mim mesmo:
    - Como você é burro cara! Se está dando para ouvir você sugando o caldo do osso com essa música alta no fone, então o restaurante inteiro está ouvindo também!
    Fiquei meio sem graça, me ajeitei na cadeira, fiz cara de sério de como não estava acontecendo nada e passei a sugar o caldo da carne com menos vontade, apesar de estar muito gostosa. 


O "rançoso"...

   Como já citei no post "A corrente do bem", passei a cuidar de um cachorro que foi meio que abandonado pelo seu dono, não vou entrar em detalhes sobre como isso aconteceu. Foi uma maneira de retribuir toda a ajuda que recebi nos momentos difíceis da minha vida e também que ainda recebo. Apesar de tudo o que aconteceu depois que a esquizofrenia apareceu em minha vida, posso dizer que sou um cara privilegiado ou sortudo, por ainda estar vivo e poder contar um pouco da minha história. 
    Ele estava triste, "amuado", magro. Afinal, mudou de habitat e também perdeu seu irmão, o rançosinho. Provavelmente ele deve ter se perdido ao sair na rua à procura de alimento. Não aguentei ver a tristeza dele e passei a comprar ração, a brincar com ele e até dei um banho, meio que forçado, para tentar tirar um pouco do ranço, acho que ele nunca havia tomado um banho em sua vida. E ficou mais complexado ainda, pois, quando estava jogando água nele, encostei na tomada que estava pendurada e tomamos um choquinho assustador. Já estou acostumado a levar choques, pois trabalhei como operador de som por vários anos. Mas, e o rançoso? O que se passou na cabeça dele? Coitado, agora é que nunca mais vai querer saber de tomar banho. 
    Mas agora ele já está mais animado e forte, dou ração para ele de manhã e de tarde, além de não deixar faltar água. E o principal também não falta, que é um pouco de carinho. Como ele não tinha nome, resolvi batizá-lo. Mas nenhum nome apareceu em mente. Estava pensando em colocar Pacato, pois ele é bem quietinho e não mexe com ninguém, só não gosta muito que um outro cachorro invada o território demarcado por ele. Mas com os humanos e fora do território, ele é um doce. Me sugeriram Paçoca e outros nomes. Mas resolvi que ele mesmo iria escolher o seu nome: o primeiro que gritei foi rançoso, e logo ele veio correndo em minha direção. Não tive dúvidas: seu nome seria mesmo Rançoso, pois o cheiro ainda continua, porém um pouco mais fraco. Falta ainda comprar um talco para acabar com as pulgas, ele vive o dia inteiro coçando daqui e dali, mas nesta semana vou comprar um talco para acabar com esse sofrimento. 
    Na minha opinião, os cachorros tem sentimentos, parecem ser um pouco diferentes dos outros animais. Eles nos olham bem nos nossos olhos quando gostam da gente, dão sinais para se comunicar, percebem quando estamos tristes. Enfim, são seres que merecem o nosso respeito. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Maconha e esquizofrenia


 Legalize já legalize já
   Uma erva natural não pode te prejudicar... 
   Provavelmente a maioria dos leitores já devem ter ouvido o refrão dessa música da banda planet hemp, em uma clara referência ao uso da maconha para fins recreativos, afirmando que a mesma não traz nenhum tipo de dano ao usuário.
    Gostaria de dizer inicialmente de dizer que a intenção desta postagem não é debater um tema tão polêmico que é a legalização ou não da maconha para a galera dar uma pitada, além do uso medicinal
    Também gostaria de dizer que sou careta mesmo em relação às drogas. Não uso, não gosto, mas não sou moralista. Creio que cada um tem que saber o que está fazendo com sua vida, através de informações sobre o assunto. Quem tiver condições financeiras de sustentar o seu vício e não trazer prejuízos aos outros, que use a cannabis, mas, assim como acontece no cigarro, que fique ciente antes dos malefícios que o uso contínuo e exagerado que essa erva pode causar ao organismo, principalmente ao cérebro. Assim, se o governo liberar o uso da maconha, que pelo menos fiquem cientes da possibilidade de adquirirem algum tipo de transtorno mental, principalmente a esquizofrenia. 
    A música da banda planet hemp afirma que uma erva natural não pode nos prejudicar. Acho que o autor da letra talvez não saiba que a diferença entre terapêutica e a letalidade de muitas ervas e plantas esteja na dose.... Creio que nem precisa citar que algumas plantas podem matar em pouco tempo se ingeridas. O filme Natureza selvagem foi baseado em fatos reais, em que um cara resolve fugir da vida "civilizada" e morar em meio à natureza. E, por uma infelicidade acaba ingerindo uma planta venenosa, que é muito parecida com uma planta comestível...
   Não sou o mais indicado para falar sobre a relação entre a maconha e a esquizofrenia. Só experimentei essa erva três vezes em toda a minha vida, por volta dos meus vinte anos de idade. Isso por que amigos me ofereceram, nunca me dei ao trabalho de me deslocar de um local para outro e gastar o meu dinheiro para fumar um baseado. 
    Era um cara tranquilo, tinha paz, e não tinha quase nenhum tipo de ansiedade. E era relativamente feliz, não tendo motivos para fugir da realidade. Era um cara exageradamente distraído e que não reparava em nada o que acontecia em minha volta, talvez por isso o motivo de ser uma pessoa tranquila. 
    Creio que a minha esquizofrenia tenha sido desencadeada por fatores genéticos e ambientais (stress, algumas situações complicadas, etc). 
    Mas, depois que aprendi a usar o computador, conheci diversas pessoas que desencadearam a esquizofrenia depois que passaram a fazer o uso da maconha. E conheço também pessoas que usam e que aparentemente estão gozando plenamente de suas faculdades mentais (olha o psiquiatra baixando em mim shaushasuhas).
    Então, será que a maconha desencadeia a esquizofrenia apenas em pessoas que têm alguma tendência a ter algum tipo de transtorno mental? Ou será que é o uso abusivo da erva que causa algum dano ao cérebro e assim consequentemente um tipo de patologia mental? Sinceramente não sei responder a essas questões tão complexas. Com a palavra os "especialistas" no assunto...
   Mas não irei aqui me aprofundar neste tema, pois o que não falta por ai são matérias a esse respeito. Mas, como portador de esquizofrenia e também por constatar que muitas pessoas desencadearam a esquizofrenia a partir do uso da maconha, decidi postar algo sobre o assunto, mas sem criar polêmica.  A minha única e exclusiva intenção é apenas alertar as pessoas que um simples baseadinho pode sim em alguns casos causar danos.  
   Aliás, como já afirmei, não só expert no assunto, então nada melhor do que um depoimento de um portador de esquizofrenia que a partir do uso da erva passou a ter alucinações e algumas paranoias. Também tirei alguns prints de outros portadores, tudo devidamente autorizado, desde, é claro, que fossem ocultados os seus nomes verdadeiros. 




Depoimento de um portador de esquizofrenia e ex-usuário da maconha
    1- Como era a sua vida antes de usar a maconha?
  Era tranquila, trabalhava e estudava normal, na verdade não sou um dependente químico, apenas um usuário esporádico que fazia uso recreativo de maconha e álcool, para me aliviar da depressão e ansiedade. 
    2- O que mudou em sua vida depois das drogas?
Bem, o álcool e a maconha me deixaram ou colaboraram para o desenvolvimento e agravamento da depressão e ansiedade, a maconha me causava ataques de pânico e mania de perseguição, uma paranoia bastante acentuada. A maconha pra mim foi uma vida de mão dupla, às vezes usava e me sentia relaxado, desinibido, curtindo a "brisa" e às vezes ficava psicótico com medo dos vizinhos e das pessoas à minha volta, achando que tramavam algo contra mim.
    3- Teve algum tipo de alucinação?
Sim, quando usei uma quantidade exorbitante de maconha me intoxiquei e comecei a surtar, e a ver coisas irreais, como, por exemplo, a minha mãe entrar no meu quarto e me via matando-a esfaqueada juntamente com o meu irmão. Mas hoje sei que na verdade isso eram delírios e alucinações. A esquizofrenia começou aos 24 anos após abusar do uso da maconha e ter dois surtos psicóticos que foi evoluindo para um quadro psicótico. Talvez eu já tivesse predisposição para isso, as drogas apenas deram um pontapé nas crises. 
    4- Conseguiu parar com as drogas?
Parei rapidamente com as drogas após surtar pela segunda vez. Minha psiquiatra recomendou não usar nada, pois, segundo ela, poderia ter ainda mais prejuízos se eu continuasse nessa.
   5- Recado final
Para quem pensa em fazer uso indiscriminado e abusivo de maconha recomendo muita cautela, pois é uma droga que pode piorar e agravar transtornos mentais, assim como também pode iniciar um quadro da doença, é preciso se abster de qualquer tipo de substância se quiser preservar sua sanidade e saúde mental. As drogas podem modificar sua personalidade, alterar sua consciência, trazendo danos e sofrimento.

Abaixo, alguns prints com mais depoimentos, para não imaginarem que se trata de um caso isolado:


    É isso pessoal. Este post não tem nenhum caráter moral, afinal, quem sou eu para ficar pregando por ai algum tipo de lição de moral. Sou careta mas respeito a escolha de cada um, mas, como já frisei, desde que não traga prejuízo para o próximo. 
    Se a legalização da maconha diminuir a violência, acho que pelos menos um debate deveria ser feito, com todo os setores envolvidos (comunidade, representantes do governo e da saúde mental, especialistas em segurança, etc). Algumas pessoas costumam dizer que na Holanda a liberação deu certo, que não existe a violência por lá. Mas acho que não tem nem como comparar o Brasil com a Holanda e outros países da Europa. As condições de vida nesses países são bem diferentes do nosso país... Nos Estados Unidos a maconha foi liberada em alguns estados, e parece que está vendendo muito. Lá cada estado tem as suas leis e em outros estados ela não é liberada. 
    Mas, e o que poderia acontecer no Brasil, caso a maconha fosse liberada? Os traficantes iriam largar suas armas e começariam a trabalhar? Ou continuariam no mundo do crime, apenas mudando de ramo? E o governo, com a "presidenta" Dilma, não iria colocar tantos impostos na maconha, incentivando o usuário a continuar a comprar a droga por um preço mais acessível nos pontos de tráfico?

    Essas questões não sei responde-las, como já disse, só um amplo debate com vários setores da sociedade para decidir o que é o melhor para o nosso Brasil, sem se espelhar muito no que acontece nos países do primeiro mundo. Como já afirmei antes, a minha intenção é apenas alertar a todos sobre os riscos de se desencadear algum tipo de transtorno mental com o uso da maconha, que para muitos é considerada inofensiva. Mas, como vimos no depoimento e nos prints, as coisas não são bem assim.
    -"Ah! Só um "tapinha" não vai fazer mal não"... É o que alguns dizem...
    Mas foi pensando dessa maneira que essas e muitas outras pessoas desencadearam a esquizofrenia e outros transtornos mentais. Se por acaso fosse liberada, poderia se fazer pelo menos uma campanha semelhante ao que o governo faz sobre o uso do tabaco, colocando nas embalagens os perigos e as consequências do uso da cannabis. Assim a decisão de usar ficaria por conta e responsabilidade da pessoa, que assim estaria consciente dos riscos. 
    É isso pessoal, só quem tem esquizofrenia é que sabe o estrago que ela pode causar na vida de um indivíduo. Antes de dar a primeira "pitada", pare, pense e reflita. Hoje você pode estar usando uma droga para uso recreativo, para relaxar e descontrair. Amanhã poderá estar usando um outro tipo de drogas (antipsicóticos) que tem inúmeros efeitos colaterais e terá que depender de médicos especialistas no assunto, e se, for pelo SUS, a situação se torna ainda mais complicada...
   

Dicas de filmes
   Meu blog é assim, tem um tema com um título, mas eu sempre acabo postando alguma coisa a mais. Coisa de mineiro, que gosta de um dedo de prosa...
É um blog meio sem regras, simples e feito de coração. 
 Assisti coincidentemente na semana passada o filme "Réquiem para um sonho". Digo coincidentemente pois dias antes já havia escrito esta postagem. O filme aborda o tema das drogas, não só as consideradas ilegais, como também as legais, que prometem milagres e são vendidas por ai e que prometem melhorar o desempenho físico, mental e até emagrecer. É um filme um pouco triste, por trazer à tona essa triste realidade das drogas. Então, quem não gosta de assistir algumas cenas...
está cada dia mais fácil ter acesso à medicamentos "milagrosos"...


Sinopse Réquiem para um sonho

    Uma visão frenética, perturbada e única sobre pessoas que vivem em desespero e ao mesmo tempo cheio de sonhos. Harry Goldfarb (Jared Leto) e Marion Silver (Jennifer Connelly) formam um casal apaixonado, que tem como sonho montar um pequeno negócio e viverem felizes para sempre. Porém, ambos são viciados em heroína, o que faz com que repetidamente Harry penhore a televisão de sua mãe (Ellen Burstyn), para conseguir dinheiro. Já Sara, mãe de Harry, viciada em assistir programas de TV. Até que um dia recebe um convite para participar do seu show favorito, o "Tappy Tibbons Show", que transmitido para todo o país. Para poder vestir seu vestido predileto, Sara começa a tomar pílulas de emagrecimento, receitadas por seu médico. Só que, aos poucos, Sara começa a tomar cada vez mais pílulas até se tornar uma viciada neste medicamento.

Bendito cabo HDMI...
    Por falar em filmes, achei um site ótimo, com filmes bem recentes e com ótima qualidade de imagem e som. Não tem tantas propagandas e até hoje não peguei nenhum tipo de vírus. Só na hora de apertar o play que é aberto uma página chamada notícias virais, mas ai é só fechar essa nova aba que é aberta e assim curtir um bom filminho, já que na tv aberta a situação está complicada.
    Com muito custo realizei meu sonho de consumo de comprar uma TV LCD de 32 polegadas.  Morei nas ruas, na barraca, e em alguns abrigos. Noites mal dormidas, muitos perrengues, mas valeu a pena. Só se livrando do aluguel é que alguém que ganha um salário mínimo poderia ter acesso ao sinal digital. A TV é usada, mas tudo bem. Está funcionando perfeitamente e tem boa imagem e som. Mas, depois que larguei as andanças, a coloquei no meu quarto e ficava praticamente o dia inteiro com o controle remoto na mão, em busca de algo "assistível"... No final do dia, chegava à conclusão de que ficava mais tempo procurando algo digno de ser assistido do que propriamente me divertindo.
    Existem programas bons na tv aberta, mas é preciso garimpar e muito, a pilha do meu controle remoto ia embora em pouco tempo. Bendito o cara que inventou o tal do cabo HDMI! Comprei um de 10 metros no valor de 65 reais e não me arrependo, foi a melhor coisa que comprei nos últimos tempos. Agora tenho a liberdade de assistir o que quiser e na hora que quiser. Abaixo está o link do site, deu até para ver a série Narcos, sobre o pablo escobar, e dublado!
    Estava cansado de assistir a baixaria, principalmente na parte da tarde, em que dois apresentadores de emissoras diferentes ficam "duelando" para ver quem consegue mostrar mais crimes e cenas violentas. Sem contar os filminhos repetitivos e as novelas que nem sempre valem a pena ver de novo...

Assistir Narcos, dublado
Obs: dos dez episódios, acho que três não estavam disponíveis no momento em que assisti, mas deu para entender bem a história. 

sábado, 10 de outubro de 2015

10 de outubro- Dia da saúde mental?

           Motivos para comemorar? Será que temos?

    Hoje (10/10) é o dia da saúde mental. Festas foram realizadas em alguns lugares do Brasil. Mas o que temos para comemorar em nosso país? Houve melhoras significativas nos últimos anos?
    Em relação ao período em que os considerados "loucos" pela sociedade eram encarcerados em manicômios, podemos considerar que houve uma grande melhora, por que, piorar não tinha como...
    Os manicômios estão acabando, isso todo mundo já sabe. E agora? Como estão sendo tratados os pacientes psiquiátricos em nosso país? Qualquer coisa é melhor do que os manicômios e creio que somente a diminuição dessas instituições não seja motivo de tanto alarde que algumas pessoas fazem por ai. E os pacientes que não têm família? E os que moram nas ruas? E os que têm família e é como se não tivessem? E o preconceito da sociedade, gerado pela falta de informação?  Estamos mesmo tendo um bom atendimento na rede de saúde mental? Os resultados em nosso pais no tratamento da esquizofrenia são satisfatórios? Como já publiquei no post sobre o tratamento na Finlândia, creio que o Brasil ainda tem muito o que melhorar e parar de seguir o padrão americano de tratamento, que consiste basicamente em medicações e mais medicações. Conheci pessoas que tomam mais de onze medicamentos por dia e não tiveram nenhuma melhora.
os manicômios acabaram, mas tratamento digno é apenas extinguir essas instituições?
    Estamos tendo realmente acesso à um tratamento de qualidade? Temos acesso aos melhores medicamentos? E a qualidade de vida do portador de esquizofrenia no Brasil é satisfatória? Se não tivermos condições financeiras e boa estrutura familiar, creio que as respostas são, em sua maioria, negativas. Devemos nos espelhar em países que estão obtendo os melhores resultados no mundo no tratamento da esquizofrenia, e não nos Estados Unidos, em que quem sai lucrando com tudo isso é, principalmente a indústria farmacêutica.
   No meu caso em particular, está faltando os medicamentos que uso na rede pública. O Cersam(que é o CAPS nos outros estados) da região onde moro está atendendo somente casos de emergência. O clínico geral no posto de saúde onde consulto, apenas refaz as receitas e não troca a medicação. Queria tentar o lorazepam, que basicamente é um diazepan com oito horas de duração. O diazepan, além de atrapalhar a minha memória, está dificultando cada dia mais acordar em um horário adequado. Não consigo parar de tomar o diazepan, o máximo que consegui foi diminuir a dose, de 20mg para 10, e às vezes consigo ficar tomando 5mg por algum tempo. Na minha primeira consulta com um psiquiatra, não fui alertado sobre os perigos da dependência física e psicológica do diazepan, e nos postos de saúde não recebemos as bulas dos medicamentos, apenas as cartelas. Essa primeira consulta creio que demorou menos de 10 minutos. E ai, o município não teria que ser processado? Isso é atendimento de qualidade? Como um psiquiatra pode atender uma pessoa em cerca de sete minutos? Me lembro que tive que ser muito insistente e até elevar a voz para ser atendido, pois chegaram a me negar atendimento pelo simples fato de não ter endereço fixo na época. Oras, havia acabado de sair do meu primeiro surto psicótico, estava nas ruas justamente por causa da esquizofrenia, e então não deveria ser atendido?
http://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2014/09/medicalizacaodemencia-estudo-associa.html
    Voltemos aos dias de hoje. Fui ao psicólogo do posto de saúde, que remarcou para a última sexta feira a consulta, pois ele havia prometido fazer um encaminhamento para um Cersam, para tentar trocar o medicamento, pois também estou tentando conseguir um antipsicótico mais adequado para os sintomas negativos da esquizofrenia, que creio eu ser o que mais tem me acometido nos últimos meses. Os sintomas negativos basicamente são bem parecidos com os da depressão; falta de ânimo e energia, não achar graça em nada, tristeza sem motivo aparente e por ai vai. Mas o pessoal da rede pública de saúde em Belo Horizonte entrou mais uma vez em greve. E agora? Os medicamentos estão acabando, e novamente vou ter que ser insistente para tentar ser atendido no Cersam sem encaminhamento e ter direito ao que me é de direito. Aliás, até os gastos com o transporte no tratamento eu tenho direito, mas eu não ligo para isso, só queria ser ouvido e bem atendido, coisa que não acontece em Belo Horizonte. Não seria uma boa os portadores em Belo Horizonte terem direito ao passe livre, como ocorre em outras cidades? Até os vales transportes para os portadores frequentarem os centros de convivência e irem aos Cersams também acabaram.
    Se o tratamento no Brasil fosse adequado, não existiriam tantos grupos no facebook e comunidades no antigo orkut sobre transtornos mentais, pois todas as pessoas com transtornos mentais estaria bem e estabilizadas... O problema é que alguns profissionais pensam que estar estabilizado é o mesmo que estar dopado, sem reação nenhuma...
    No início confesso que fiquei feliz pelo fato do blog que escrevo ter atingido 300.000 visualizações, mas, depois de refletir um pouco, cheguei à conclusão de que o mesmo tem tantos acessos por que o tratamento no Brasil dos transtornos psiquiátricos deixa muito a desejar. Falta respeito não somente ao portador como aos familiares. Muitas pessoas me procuram aqui no blog ou por email em busca de informações e sobre como proceder em casos de surtos e outras situações. Oras, se o tratamento no Brasil fosse eficiente, o blog não teria razão de existir e nem seria acessado, "já que tudo é uma maravilha, com os "modernos" medicamentos que estão surgindo por ai..."
E realmente, deixando a vaidade de lado, ficaria muito mais feliz se a esquizofrenia fosse realmente controlada em nosso país, e nem fosse preciso escrever um blog.
Mas nem tudo é reclamação. Neste dia gostaria de agradecer a todos os profissionais da saúde mental que trabalham com dedicação e honestidade, mas ainda falta muita coisa para termos motivos para comemorar essa data aqui no Brasil...

   Obs: tenho uma página no facebook, chamada Memórias de um Esquizofrênico. Não é nada demais, apenas compartilho por lá artigos e "novidades" no mundo da psicologia e psiquiatria. Leio vários sites sobre o assunto e sempre aparece alguma pesquisa nova ou medicamento, prometendo milagres, mas que não passam só de promessas. Mas não desisto, continuo a minha busca, para quem sabe um dia postar algo que seja realmente eficiente e inovador no tratamento da esquizofrenia. Não acredito que só existam os aproveitadores no campo da psiquiatria, acredito também que existam profissionais bem intencionados que realmente querem ver a cura da esquizofrenia. Claro que alguns profissionais estão muito satisfeitos com a coisa do jeito que está, afinal, as consultas são caríssimas.
   Então, se quiserem ficarem mais informados sobre artigos e novidades sobre a esquizofrenia e outros transtornos mentais é só curtir a minha página no facebook:
https://www.facebook.com/MemoriasDeUmEsquizofrenico

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Sonhos de um esquizofrênico

Em busca da felicidade
o que te faz feliz?


    Há alguns dias atrás, para variar, estava garimpando na internet à procura de um bom filme para distrair um pouco a minha paranoica mente e sair um pouco da realidade entediante que vivo no momento. É isso mesmo! Viajo nos filmes (nos bons, é claro), me vejo dentro deles, rio sorrio, torço para que tudo acabe bem e não raramente choro nos finais de alguns filmes em que morre um dos atores principais ou até mesmo o cachorro de estimação da família. Semana passada me peguei chorando pela segunda vez ao assistir pela segunda vez o filme "Ponte para Terabitia".... E não tenho certeza se não vou chorar se assistir pela terceira vez...
    Não preciso de drogas para viajar e sair da realidade. Não tem nada demais em dar uma passeada no mundo dos sonhos, o problema é viver constantemente por lá e esquecer da realidade. Nessas minhas buscas por filmes, encontrei um que achei bastante interessante que tem como título "Hector, e a procura pela felicidade". Na verdade estava procurando algum site para assistir online o filme "Em busca da felicidade", que também é muito bom.

    Sinopse: O psiquiatra Hector (Simon Pegg) está cansado de sua vida e dos problemas de seus pacientes. Ele, na verdade, se sente frustrado por não conseguir ajudar seus pacientes a encontrarem a felicidade. Com o incentivo da esposa (Clara Rosamund Pike), ele faz uma viagem sozinho ao redor do mundo, em busca de novas experiências. Durante a viagem, ele começa a questionar as pessoas sobre o que as fazem feliz e se dá conta que precisa questionar-se à si mesmo.
   Assisti este filme, por ser uma comédia. De dramas já bastam o que temos em nossas vidas. E valeu e muito a pena ficar 120 minutos grudado na tela da tv. Não sei se foi coincidência ou obra do destino, ou seja o que for, mas estava precisando exatamente assistir este filme. Aconteceu algo parecido comigo quando resolvi fazer as minhas andanças, pois não estava feliz vivendo naquele lugar cercado de usuários e vendedores de crack. Aquilo não era vida, o aluguel podia ser barato, o quarto razoavelmente bom, era perto do restaurante popular mas o principal, que é a paz, já não tinha.
   Sempre tive a curiosidade em saber como se sentiam os psiquiatras e psicólogos fora dos consultórios. Será que eles ficam pensando nos problemas de seus pacientes após o expediente? Será que conseguem ser tão profissionais e não levar nenhum problema para casa? 
    Não sei, e acho um pouco estranha essa profissão: afinal, teoricamente e simplificadamente esses profissionais têm que dar à seus pacientes algo que talvez eles nem tenham a resposta: a fórmula da felicidade...
    Mas será que existe "a" fórmula da felicidade ou existem as fórmulas? O que é felicidade para você? Existe a felicidade ou as felicidades? Ou existem apenas momentos de felicidade, sendo quase impossível ser totalmente feliz nesse mundo complicado que vivemos hoje em dia? O que te faz feliz também faz com que outras pessoas se sintam felizes?
    Felicidade deve ser um conceito, ou seja, para um religioso felicidade é estar com o seu Deus, já para psicologia deve ser o cérebro funcionando perfeitamente e produzindo a serotonina e outras "inas" mais na quantidade suficiente. Já os budistas acreditam que o sofrimento esteja no desejo, ou seja, para não sofrermos, basta não querermos...
     Quando criança, não pensava nestas questões. Não era totalmente feliz, mas ficava feliz na maior parte do tempo, afinal tinha uma bola e amigos para jogar o futebol, war e banco imobiliário. Além de ter o quarteirão inteirinho para brincar de esconde-esconde, naquela época subíamos nos telhados das casas para nos escondermos, entrávamos nos prédios e não havia problema nenhum. Hoje em dia provavelmente seríamos confundidos com assaltantes... 
    Como toda criança, sonhava em ser jogador de futebol (quem nunca sonhou?). Me via jogando por algum time qualquer, balançando as redes e indo comemorar com a torcida que lotava o estádio. Não queria jogar pelo time do meu coração, pois ficava muito nervoso e chateado quando levava um gol, e acreditava que isso poderia atrapalhar o meu rendimento em campo. Desde pequeno já sacava um pouco de psicologia. Se por um lado o amor ao clube pode ajudar na entrega e disposição, por outro lado pode atrapalhar na questão do nervosismo. 

    E o tempo foi se passando e o conceito de felicidade por um pequeno espaço de tempo confesso que se resumiu a possuir bens materiais, e ter dinheiro para viajar por ai e curtir a vida. Mas isto era apenas um sonho, que nunca me esforcei para que se tornasse realidade um dia. Já era um pouco depressivo, e desde a adolescência já não me via passando dos 35 anos. Era como se soubesse o que iria acontecer por volta dessa idade: os surtos, as crises, e a esquizofrenia aparecendo na minha vida. Minhas tentativas de auto extermínio foram fracassadas, quando fiz 32 anos. Cheguei a ter um complexo messiânico tão forte que acreditava que não passaria dos 33 anos...
     Infelizmente tive que passar por situações complicadas para mudar o meu conceito de felicidade. Conheci a solidariedade das pessoas nos momentos mais difíceis, e isso não tem preço. Vi que ainda existem pessoas boas neste mundo e que nem tudo está perdido ainda, Me lembro até hoje de um morador de rua que me ofereceu um marmitex cheio de carne. Não era arroz e feijão, era carne e estava quente e bem feita. E, ficou mais gostoso ainda por causa da fome que estava sentindo, pois havia ficado no mato por alguns dias e perdido cerca de 25kg, por causa de um surto que tive. Também não esqueço de um garoto que recolhia material reciclável nas ruas de Belo Horizonte. Ele, ao me ver deitado na calçada em uma fria manhã de segunda feira, pegou um cobertor que estava no carrinho e me cobriu. 
    Será que é preciso estarmos infelizes e sofrermos para mudarmos o nosso conceito de felicidade? Será que aquela frase "o homem sempre quer mais" é verdadeira e nunca vamos nos contentar com o que temos? Sinceramente não posso responder por todos, mas no meu caso em particular as experiências ruins me fizeram mudar de opinião e hoje o conceito de felicidade mudou totalmente para mim. Claro que sempre vou procurar melhorar em algo, ter algum objetivo, mesmo que material, para também ter algum sentido nesta vida, confesso que não sou muito fã da filosofia do budismo que o não sofrer vem do não querer. 
    Mas hoje seria muito feliz se ao menos pudesse tomar um cafezinho na padaria com um pãozinho bem quentinho de manhã sem ao menos pensar que eu possa estar sendo envenenado. 
    Seria mais feliz se pudesse sacar o meu pagamento e não imaginar que o segurança esteja pensando que eu seja um assaltante de bancos. É uma%$@#%$@%# quando vou à um shopping e vejo o segurança falando no rádio de comunicação. Penso que está falando com um outro segurança:
    - O suspeito está subindo a escada em direção ao segundo andar...
    Seria feliz se conseguisse simplesmente andar pelas ruas sem ao menos imaginar que estão todos olhando para mim e comentando algo a meu respeito...
    Podem pensar que a maioria dos portadores de esquizofrenia sejam sonhadores, que vivem no mundo da lua, etc. No meu caso, sim, dou umas viajadas sem drogas por ai, mas logo volto à realidade, mas o meu maior sonho hoje em dia é me ver livre da mania de perseguição e outros sintomas da esquizofrenia. 
    E você, qual o seu conceito de sonho?

CDE- Central de Downloads do Esquizo
   Esta semana na CDE estou disponibilizando um ótimo livro sobre a bipolaridade. Posso recomendar pois consegui ler este livro inteiro, pois ainda os sintomas negativos da esquizofrenia não tinham se manifestado tão agudamente como hoje em dia. E ele é ótimo para ilustrar que todos estamos sujeitos a ter algum tipo de transtorno mental, independente de nossa atividade, de nosso nível cultural e econômica. Esse livro traz o relato de uma advogada bem sucedida e sua relação com o transtorno de humor, que quase acabou com sua carreira. 
    Nos faz compreender melhor o que é a bipolaridade, que não é uma simples alteração de humor, que vai de um dia para outro. Que não é uma frescurinha, que é algo que virou moda e até chique depois que mudou o nome de transtorno maníaco depressivo para bipolar. Hoje em dia tem gente que acha chique se auto denominar bipolar, que é coisa de artista, intelectual, sei lá...
Sobre o livro
Em um momento, Terry Cheney está agachada sob sua mesa em seu escritório em Beverly Hills, paralisada pela depressão. No momento seguinte, está empinando pipas à beira de um penhasco, sob uma violenta tempestade. Em outro momento, ela está tomando uma dose excessiva de analgésicos com tequila, e depois está perdidamente apaixonada. Bonita, extremamente bem-sucedida e brilhante, Cheney - como outros 10 milhões de pessoas, apenas nos Estados Unidos - sofre de transtorno bipolar, um terrível segredo que quase a matou.  
A autora revela os segredos dessa devastadora doença sobre si e sobre aqueles que a cercavam. Desde as múltiplas tentativas de suicídio, experiências de quase morte, noites na cadeia e exploração sexual, passando por amizades rompidas e pelo tratamento de eletrochoque. Bipolar é o retrato de uma vida vivida em extremos, uma inesquecível viagem numa montanha russa. 
Link para download: basta clicar na imagem no lado superior direito da página, ou então no link abaixo:


Quase 300 mil Visualizações!
   Quando comecei a escrever este blog, não imaginava que tomaria essa proporção que vem tomando ao longo desses três anos e meio. Era algo que queria fazer para ocupar a minha mente, pois o tédio estava se instalando em minha vida depois que me aposentei em razão das crises e surtos que tive na época em que trabalhava como operador de áudio.
   Não sei se é a linguagem simples que uso, ou então a falta de atenção que o pessoal do SUS dá aos portadores e familiares, mas o blog tem um número razoável de visualizações, e nos comentários procuro ajudar as pessoas da melhor maneira possível, pois também sou apenas um portador de esquizofrenia que procura se entender um pouco tentando entender um pouco a patologia da mente dividida. Gostaria de pedir as pessoas que me pedem ajuda por email, que o façam aqui nos comentários do blog. Não precisa se identificar, assim mais pessoas estarão visualizando a situação e a minha tentativa de ajudar em alguma coisa. Às vezes posso demorar para responder, mas no final sempre respondo, pois, como já disse, o que mais está prejudicando no momento são os sintomas negativos da esquizofrenia, que são bem parecidos com os da depressão. 
   Então, como presente, as pessoas que acessarem o blog entre os números 300.000 à 300.020 ganharão uma pequena lembrança: o meu livro em PDF, Mente Dividida. Basta tirar um print do contador que coloquei na parte superior direita da página. Depois, recorte para que o contador fique bem visível e também deixe a mostra a parte debaixo, para que tenho a certeza de que o print foi tirado do blog, como mostra a figura abaixo. É o mínimo que posso fazer por vocês, leitores do blog e que são a razão de até a data de hoje procurando encontrar forças e assuntos para postar, além de procurar ajudar as pessoas nos comentários. Muito obrigado de coração.