sábado, 10 de outubro de 2015

10 de outubro- Dia da saúde mental?

           Motivos para comemorar? Será que temos?

    Hoje (10/10) é o dia da saúde mental. Festas foram realizadas em alguns lugares do Brasil. Mas o que temos para comemorar em nosso país? Houve melhoras significativas nos últimos anos?
    Em relação ao período em que os considerados "loucos" pela sociedade eram encarcerados em manicômios, podemos considerar que houve uma grande melhora, por que, piorar não tinha como...
    Os manicômios estão acabando, isso todo mundo já sabe. E agora? Como estão sendo tratados os pacientes psiquiátricos em nosso país? Qualquer coisa é melhor do que os manicômios e creio que somente a diminuição dessas instituições não seja motivo de tanto alarde que algumas pessoas fazem por ai. E os pacientes que não têm família? E os que moram nas ruas? E os que têm família e é como se não tivessem? E o preconceito da sociedade, gerado pela falta de informação?  Estamos mesmo tendo um bom atendimento na rede de saúde mental? Os resultados em nosso pais no tratamento da esquizofrenia são satisfatórios? Como já publiquei no post sobre o tratamento na Finlândia, creio que o Brasil ainda tem muito o que melhorar e parar de seguir o padrão americano de tratamento, que consiste basicamente em medicações e mais medicações. Conheci pessoas que tomam mais de onze medicamentos por dia e não tiveram nenhuma melhora.
os manicômios acabaram, mas tratamento digno é apenas extinguir essas instituições?
    Estamos tendo realmente acesso à um tratamento de qualidade? Temos acesso aos melhores medicamentos? E a qualidade de vida do portador de esquizofrenia no Brasil é satisfatória? Se não tivermos condições financeiras e boa estrutura familiar, creio que as respostas são, em sua maioria, negativas. Devemos nos espelhar em países que estão obtendo os melhores resultados no mundo no tratamento da esquizofrenia, e não nos Estados Unidos, em que quem sai lucrando com tudo isso é, principalmente a indústria farmacêutica.
   No meu caso em particular, está faltando os medicamentos que uso na rede pública. O Cersam(que é o CAPS nos outros estados) da região onde moro está atendendo somente casos de emergência. O clínico geral no posto de saúde onde consulto, apenas refaz as receitas e não troca a medicação. Queria tentar o lorazepam, que basicamente é um diazepan com oito horas de duração. O diazepan, além de atrapalhar a minha memória, está dificultando cada dia mais acordar em um horário adequado. Não consigo parar de tomar o diazepan, o máximo que consegui foi diminuir a dose, de 20mg para 10, e às vezes consigo ficar tomando 5mg por algum tempo. Na minha primeira consulta com um psiquiatra, não fui alertado sobre os perigos da dependência física e psicológica do diazepan, e nos postos de saúde não recebemos as bulas dos medicamentos, apenas as cartelas. Essa primeira consulta creio que demorou menos de 10 minutos. E ai, o município não teria que ser processado? Isso é atendimento de qualidade? Como um psiquiatra pode atender uma pessoa em cerca de sete minutos? Me lembro que tive que ser muito insistente e até elevar a voz para ser atendido, pois chegaram a me negar atendimento pelo simples fato de não ter endereço fixo na época. Oras, havia acabado de sair do meu primeiro surto psicótico, estava nas ruas justamente por causa da esquizofrenia, e então não deveria ser atendido?
http://infonoticiasdefnet.blogspot.com.br/2014/09/medicalizacaodemencia-estudo-associa.html
    Voltemos aos dias de hoje. Fui ao psicólogo do posto de saúde, que remarcou para a última sexta feira a consulta, pois ele havia prometido fazer um encaminhamento para um Cersam, para tentar trocar o medicamento, pois também estou tentando conseguir um antipsicótico mais adequado para os sintomas negativos da esquizofrenia, que creio eu ser o que mais tem me acometido nos últimos meses. Os sintomas negativos basicamente são bem parecidos com os da depressão; falta de ânimo e energia, não achar graça em nada, tristeza sem motivo aparente e por ai vai. Mas o pessoal da rede pública de saúde em Belo Horizonte entrou mais uma vez em greve. E agora? Os medicamentos estão acabando, e novamente vou ter que ser insistente para tentar ser atendido no Cersam sem encaminhamento e ter direito ao que me é de direito. Aliás, até os gastos com o transporte no tratamento eu tenho direito, mas eu não ligo para isso, só queria ser ouvido e bem atendido, coisa que não acontece em Belo Horizonte. Não seria uma boa os portadores em Belo Horizonte terem direito ao passe livre, como ocorre em outras cidades? Até os vales transportes para os portadores frequentarem os centros de convivência e irem aos Cersams também acabaram.
    Se o tratamento no Brasil fosse adequado, não existiriam tantos grupos no facebook e comunidades no antigo orkut sobre transtornos mentais, pois todas as pessoas com transtornos mentais estaria bem e estabilizadas... O problema é que alguns profissionais pensam que estar estabilizado é o mesmo que estar dopado, sem reação nenhuma...
    No início confesso que fiquei feliz pelo fato do blog que escrevo ter atingido 300.000 visualizações, mas, depois de refletir um pouco, cheguei à conclusão de que o mesmo tem tantos acessos por que o tratamento no Brasil dos transtornos psiquiátricos deixa muito a desejar. Falta respeito não somente ao portador como aos familiares. Muitas pessoas me procuram aqui no blog ou por email em busca de informações e sobre como proceder em casos de surtos e outras situações. Oras, se o tratamento no Brasil fosse eficiente, o blog não teria razão de existir e nem seria acessado, "já que tudo é uma maravilha, com os "modernos" medicamentos que estão surgindo por ai..."
E realmente, deixando a vaidade de lado, ficaria muito mais feliz se a esquizofrenia fosse realmente controlada em nosso país, e nem fosse preciso escrever um blog.
Mas nem tudo é reclamação. Neste dia gostaria de agradecer a todos os profissionais da saúde mental que trabalham com dedicação e honestidade, mas ainda falta muita coisa para termos motivos para comemorar essa data aqui no Brasil...

   Obs: tenho uma página no facebook, chamada Memórias de um Esquizofrênico. Não é nada demais, apenas compartilho por lá artigos e "novidades" no mundo da psicologia e psiquiatria. Leio vários sites sobre o assunto e sempre aparece alguma pesquisa nova ou medicamento, prometendo milagres, mas que não passam só de promessas. Mas não desisto, continuo a minha busca, para quem sabe um dia postar algo que seja realmente eficiente e inovador no tratamento da esquizofrenia. Não acredito que só existam os aproveitadores no campo da psiquiatria, acredito também que existam profissionais bem intencionados que realmente querem ver a cura da esquizofrenia. Claro que alguns profissionais estão muito satisfeitos com a coisa do jeito que está, afinal, as consultas são caríssimas.
   Então, se quiserem ficarem mais informados sobre artigos e novidades sobre a esquizofrenia e outros transtornos mentais é só curtir a minha página no facebook:
https://www.facebook.com/MemoriasDeUmEsquizofrenico

8 comentários:

  1. Caro Júlio
    Nada a comemorar no dia 10, nada a comemorar no dia 15...
    Saúde e Educação tratadas com descaso por governantes e políticos em geral...
    Rios de dinheiro roubados, desviados, empregados em outros países, sem servir aos brasileiros, verdadeiros donos das riquezas desse país...
    Que estão fazendo com o Brasil e conosco, meu caro?
    Só Deus para nos valer, pois está difícil de ver uma luz no fim do túnel...
    Até qualquer hora, pois estou sempre marcando presença em seu blog.
    Gosto muito.

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  2. Verdade, e o plano de saúde da população tem que ser "não adoecer". O pessoal aqui em Belo Horizonte está em greve, e ai tive que dar um piti para ser atendido e ter a receita dos medicamentos. Quando o pessoal da saúde mental entra em greve e os medicamentos acabam, ou temos que pagar um psiquiatra particular(média de 200 reais por consulta) ou então dar um piti mesmo. E ai eles pensam que estamos surtando, quando na verdade estamos indignados. A qualidade do atendimento na saúde mental às vezes chega a piorar o quadro de alguns portadores de esquizofrenia, infelizmente essa é a realidade.

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  3. É muito fácil dizer que o outro está surtando, quando não passamos pelo que ele passa... Essa sociedade está doente, meu caro, o conjunto está doente...
    Como ouvi numa clínica psiquiátrica, muitas vezes quem tem consciência de sua patologia, e se trata, está bem mais saudável do que muita gente que acha que está bem e não está...

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    1. Verdade, infelizmente meu caso foi logo tratado com medicamentos. A minha primeira consulta durou menos de dez minutos e já sai com a receita na mão e praticamente diagnosticado. Eu estava bem, só estava com muitas dúvidas sobre o que havia acontecido durante o meu primeiro surto psicótico. Ontem tive que esbravejar para ser atendido, pois os meus medicamentos estão acabando e os "profissionais" da saúde estão em greve aqui em Belo Horizonte. Infelizmente isso dá para se comparar com os traficantes, pois eles nos dão a droga(antipsicóticos) sem avaliar como deveria ser. Ai ficamos dependentes dos medicamentos, e ai temos que comprar por que eles estão em greve. Quem sabe o meu caso precisasse só de tranquilizantes e de uma boa terapia e também um apoio, já que estava morando nas ruas? E, claro, a informação, pois pensava que o que estava tendo era algo espiritual Obrigado.

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  4. Julio, absurdo ter que pagar por algo que é direito seu e que você precisa para estar bem, mas que bom que conseguiu seu medicamento.
    Imagino o desespero de outras pessoas que precisam ser atendidos tanto quanto você, seja por um problema na mente ou no corpo e não tem alternativa.

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    1. Verdade, e pagamos bem caro. E é uma situação estranha, pois eu não pedi para ficar viciado nesses medicamentos, pois foram os psiquiatras que me receitaram. No meu primeiro surto, quando consegui finalmente uma consulta com o psiquiatra, fui diagnosticado e sai com a receita em menos de 10 minutos. Acho estranho por que não tentaram primeiro me informar sobre o assunto, pois naquele momento estava muito bem, apenas um pouco assustado com tudo aquilo que me havia acontecido. Se houvesse um atendimento mais adequado nesse primeiro surto, talvez nem seria preciso o uso dos medicamentos fortes, apenas um calmante por pouco tempo. Então, o único vício que tenho foram eles que me introduziram, e agora infelizmente eles tem que pelo menos preencher a receita, coisa que não acontece quando entram em greve, e se não dermos um piti temos que pagar um psiquiatra particular enquanto a greve não acaba. É algo parecido com os traficantes, no início eles dão a droga de graça, para a pessoa viciar e depois querem vender. Por que na verdade, todo medicamento é droga. Hoje sinto que tenho mais possibilidade de surtar pela falta do medicamento do que pelas paranoias em si.
      Fico imaginando como fica o pessoal que usa outros medicamentos de uso contínuo, como os diabéticos, os hipertensos. Deveriam pelo menos colocar uma escala mínima para essas pessoas serem atendidas. É uma falta de respeito enorme à população em geral.

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    2. São vários problemas né. A negligência e irresponsabilidade desse primeiro médico, que provavelmente não ama o que faz, não se importa em ajudar o paciente, quer mesmo dispensar logo. E agora a greve. É justo que reivindiquem melhores condições de trabalho e salários, todo mundo sabe como é precário o sistema nosso de saúde, mas será que eles tem ideia do que as pessoas passam sem atendimento?
      Sou hipertenso e se fico sem meu medicamento fico preocupadíssimo.

      Passei por uma situação parecia a sua depois do seu primeiro surto. Tive um quadro de ansiedade generalizada e crises de pânico. A primeira foi aterrorizante. Mas ela passou e eu fiquei relativamente bem, mas como ainda estava ansioso e meio hipocondríaco fui no posto pra uma consulta. A médica foi super atenciosa, notei que queria sim me ajudar, mas foi irresponsável num ponto. Me receitou uma cartela de Rivotril! Tomei apenas 1 e joguei o resto fora, com medo daquilo me fazer mal. Fui aguentando a ansiedade, algumas outras crises, e seguindo hábitos mais saudáveis pra minha mente (alimentação ajudou muito) e depois de uns 3 meses estava bem melhor.

      Julio, quando você está viajando, no verde, ou na rua, vc toma medicamento?

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    3. É uma situação triste e curiosa o que acontece. Eles deixam os pacientes nervosos e depois nos empurram os calmantes. Imagino como deve ter se sentido. Já surtei uma vez por causa da falta de medicamentos, no ano de 2003, e não quero mais que isso aconteça. Com certeza você também deve ficar em um estado crítico durante as greves, pois não sabemos quanto tempo irão durar e os medicamentos um dia irão acabar. O melhor plano de saúde é não adoecer, por que se depender do sus...
      Quando estou viajando, me sinto bem, e ai toma apenas o diazepan, pois eu não posso ficar dopado durante a madrugada, caso alguém apareça e queira me roubar, por exemplo. Só em São Paulo que não me senti bem, hoje analisando a situação, constatei que quase surtei naquela viagem, pois certo dia uma pessoa jogou de noite um pedaço de plástico com fogo em minha barraca. A partir daquele dia, fiquei dormindo muito mal, e ai fiquei andando mais do que o normal, com vontade de terminar o caminho logo. E me lembro que ficava um pouco assustado quando alguém se aproximava de mim. Mas terminei, quer dizer, só faltou uma cidade, pois vi que não iria me sentir bem continuando aquela viagem, também por que a maior parte do caminho é no asfalto.
      E você fez bem em jogar a cartela do rivotril fora, infelizmente esse medicamento pode viciar a pessoa. Hoje estou numa luta complicada para largar do diazepan, mas é muito difícil.
      Continue com os hábitos saudáveis, é o melhor investimento que podemos fazer.

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