quarta-feira, 21 de junho de 2017

Vamos fugir...

 
    Praticamente um mês sem postar nada. Ideias e ideais até que aparecerem, mas a energia que antes me acompanhava só a vejo diminuindo a cada dia.
    Quem acompanha o blog sabe o problema que estou passando devido à uma lesão no meu pé esquerdo. Dinheiro faz falta, mas andar na minha opinião é muito mais importante. Andar até atualmente estou andando, mas dói tudo que é articulação e músculos, devido ao fato de ter que poupar a articulação do dedão. São três anos andando de forma incorreta à espera de um atendimento digno pelo sus. Somente agora consegui uma palminha própria para o problema, mas que não resolveu absolutamente nada e ainda deu uma forte dor no joelho direito.
    A psiquiatra me indicou um "novo" medicamento, afirmando que o mesmo não daria sono e outros efeitos colaterais indesejáveis. Claro que não aceitei, não foi por falta de tentativas que não estou tomando atualmente um antipsicótico. Desisti de qualquer medicamento desse tipo depois da frustrada tentativa com a olanzanpina, que me deixou dois dias dormindo direto. O que mais me desanimou é que o medicamento é muito caro. Se por acaso me desse bem, iria ser uma luta continuar conseguindo pelo sus, já que ultimamente até o haldol anda faltando, e que custa dez centavos o comprimido...
    É aquele velho ditado: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come"... Sem antipsicóticos não saio de casa por causa das paranoias, mas também com eles não iria sair, pois ficaria dormindo boa parte do dia e da noite, como um vizinho que tenho e que ronca um bocado alto, ainda bem que o meu quarto é um pouco distante do dele.
   E quem acompanha o blog há mais tempo sabe o quanto não gosto das drogas antipsicóticas, as lícitas, e que também muito menos aprecio as drogas ilícitas. Mas não sou moralista, quem quer usar sustentando o próprio vício e sem prejudicar a vida alheia que faça essa escolha, sabendo que isso poderá lhe trazer vários problemas de saúde, inclusive mental.
    Já fui diversas vezes em São Thomé das Letras, e lá tinha muito hippie que gostava de dar umas pitadas na erva danada. Não sou e nem quero ser o dono da verdade, os hippies abrem mão de várias coisas para terem essa liberdade de escolha, sustentando o vício com o artesanato que fazem. E quem sou eu para falar o que é certo e o  errado. Já experimentei algumas vezes há muito tempo atrás e aquela "paz" que a droga prometia dar eu tinha de verdade em meu coração e na minha mente. Usei e vi que não precisava daquilo.
    Não gosto do ambiente que cerca as drogas e nem o comércio dela. Em 2012 saí de Ipatinga pois o local onde morava estava tomado pelo tráfico de drogas. Tinha um vizinho que mandava os usuários de crack fazerem fila para comprar a droga. Só faltava distribuir a senha.
     Era um aluguel barato, o quarto era espaçoso e perto do restaurante popular. E o dono me fazia um preço muito bom. Mas de que adiantava ter aquilo se não tinha a paz? Não pensei duas vezes e vendi "tudo" o que eu tinha: o pc novo dual core de 4gb e com processador i3, a tv de tubo, o home theather, o frigobar e outros pertences. Vendi tudo baratinho e comprei uma mochila e uma barraca para sair livremente por onde eu quiser. Se é para correr riscos e não ter paz, melhor morar na rua, por que pelo menos não pagamos aluguel. Mas não me arrependi de nada do que fiz e faria até de novo, se não fosse o problema no meu pé.
   Infelizmente as drogas estão em todo lugar. Depois das andanças, resolvi me aquietar um pouco e aluguei um quartinho aqui em Belo Horizonte. Tudo ia muito bem até aparecer um usuário de drogas que roubou tudo o que viu pela frente para sustentar o seu vício: botijão de gás, dinheiro, playstation 2 do vizinho, e outras coisas mais. Só não roubou o que eu tinha pois eu ficava praticamente o dia inteiro no meu quarto e a porta era de ferro. Uma vez até chegou a tentar roubar o modem da casa, mas para o azar dele estava no meu quarto e corri para o modem assim que a net caiu, pois ele já estava desligando o aparelho.
    Depois disso fui para um outro local, e, para a minha infelicidade, havia um usuário de droga que levava pessoas para a casa e aí ficavam até duas horas da madrugada conversando alto sendo que em uma oportunidade saiu uma briga e sobrou até para a cadeira de plástico. A dona do imóvel quis cobrar a cadeira de todos os moradores. E os caras são tão folgados que nem assumiram a cadeira quebrada, ou seja, temos que dormir na hora que eles dormem e ainda pagar pelos estragos que fazem na casa. Não fiquei mais do que 30 dias no local. Saí alegando que o mesmo era muito quente, pois o sol batia praticamente o dia inteiro nele. Mas a proprietária quis me passar para o andar debaixo, onde não batia o sol, e era onde os usuários de drogas ficavam conversando a noite inteira. Aí não achei uma outra desculpa e falei a verdade: é uma situação complicada essa de ter que contar a verdade, não se sabe qual será a reação do usuário. Mas ele teve uma conversa comigo e viu que tentei ocultar o fato, mas não tinha como mais inventar desculpas.
    Depois de mais essa tentativa, aluguel um outro quarto, em novembro do ano passado, mas sem antes perguntar para a proprietária a posição que ela tinha em relação as drogas. Como ela afirmou que não aceitava o uso de drogas no local, resolvi mudar, e é onde moro atualmente.
   No começo foi tudo às mil maravilhas. Sem drogas, sem confusão, apenas um ou outro atrito que acontece em locais onde várias pessoas moram. Mas, um certo dia apareceu um novo morador. Achei estranho o fato dele não trabalhar, apesar de afirmar que tinha uma profissão. Mas assim como eu, quase não saía da casa... O cheiro da erva já dava para ser sentido nos primeiros dias, e, com o tempo, um entra e sai de pessoas desconhecidas. Primeiro assoviavam do lado de fora, e, ele de dentro da casa respondia com outro assovio. Com o tempo, algumas pessoas permaneciam na casa até de madrugada, falando e dando gargalhadas. O sossego e a tranquilidade foram embora. Não quero e nem pretendo consertar o mundo, mas deveriam pelo menos alugar uma casa para que não se atrapalhe o sono e a vida dos outros moradores.
   Gasto quase metade do meu salário para pagar o aluguel, e acho que deveria ter o direito de escolher morar onde não tenha drogas. Cheguei a pensar em morar em alguma república evangélica ou algo parecido, mas gosto de andar sem camisa e de bermuda nos dias de calor. E às vezes, bem raramente falo meus palavrões, principalmente quando machuco ou levo uma pancada. Já terei que procurar um outro local, se meu pé estivesse bom já teria começado as minhas andanças novamente. Computador, tv, som a gente vende e compra de novo, o que não tem preço é a paz.
Mas de que adianta perguntar se o proprietário tolera as drogas? Com essa crise as pessoas estão aceitando todo mundo que aparece. É verdade que alguns são rígidos, mas os que achei o aluguel era além do que posso pagar.
   Tenho saudades das minhas andanças, tive muitos perrengues, mas poderia mudar de lugar quando aparecesse algo ou alguém inoportuno: bastava desmontar a barraca e pronto. E foi a época em que melhor me senti tanto fisicamente como mentalmente. As andanças são o melhor antipsicótico que já encontrei, não recomendo a ninguém que faça a mesma coisa, pois cada um tem a sua maneira de ser.
Algumas pessoas já entraram em contato comigo querendo fazer essas viagens comigo, mas infelizmente no meu caso a solidão é a melhor companhia. São experiências únicas e que não podem ser compartilhadas, a não ser pelos escritos e vídeos.
   Às vezes chego a pensar se o melhor não seria o autoextermínio. De que adianta essa vida, sem poder andar sem sentir dor? Que vida é essa que estou vivendo? Preso pelas minhas próprias paranoias e sem condições físicas de fazer o que mais gosto? Não tenho coragem de pular de um prédio, de me atirar na frente de um carro. Pagar um assassino de aluguel não seria uma boa, pois só iria confiar se fosse possível pagar depois do serviço prestado...
     O cara que é chegado nas drogas aqui onde moro até chegou a ouvir um conselho de um amigo:
    - Ele te enfrenta por que talvez não tenha medo de você...
    Realmente não tenho medo, nem da morte tenho medo. E já vi a morte em um dos meus surtos. Estava perambulando pela BR durante a noite quando vi uma sombra idêntica a da morte deslizando pela BR. Na primeira vez que a vi confesso que fiquei um pouco arrepiado, mas não era um medo, era um espanto, se é que existe alguma diferença. Não saí correndo, apenas observando a sombra deslizar pela Br até sumir. E continuei a caminhar normalmente até vê-la novamente, e desta vez nem um fio de cabelo meu ficou arrepiado. Iria conversar com ela numa boa caso ela se aproximasse de mim. Mas ela foi embora como da primeira vez, talvez não tenha encontrado quem estava procurando.
    Esse vizinho no momento está meio calado. Talvez esteja bolando algo contra mim, ou talvez não. Já retirou sua antena da "skygato". Talvez seja para colocar um outro vizinho contra a minha pessoa, pois ele vende a skygato para outras pessoas. Creio que se fizerem uma votação na casa sobre quem deve sair tudo pode acontecer, mas creio que irão optar pelo cara que sabe fazer mais amizades e eu que procuro ser uma pessoa correta seria o eliminado.
    Será sempre a fuga uma solução? Ou é na fuga onde nos entramos?

Muitos pensam que andar por aí é loucura. Se é, então não estou sozinho nesse mundo.