quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O esquizo responde- parte 3

Esquizofrenia- Perguntas e respostas
    O título das postagem pode parecer e talvez seja, à princípio, um pouco pretensioso. Afinal, o que um cara com esquizofrenia e cheio de perrengues pode responder sobre um assunto que nem os "profissionais" da área da saúde mental conseguiram até hoje uma resposta definitiva? Digo que ainda não encontraram pois dia após outro aparecem matérias dos cientistas afirmando que foram encontrados novos medicamentos, novas fórmulas, novas descobertas de se ter um melhor controle sobre o transtorno.
Abaixo mais um link de mais uma nova "descoberta" dos cientistas acerca da esquizofrenia.
http://entendendoaesquizofrenia.com.br/website/?p=6668
    Voltando ao assunto, não sou dono da verdade e nem tenho a pretensão de ser. Sempre errei e vou continuar errando, pois sou um ser humano como qualquer outro. Lógico que não vou usar essa condição como pretexto para sair por aí fazendo um monte de cagadas. A grande vantagem é que podemos sempre aprender com os nossos erros. Estou sempre aberto à críticas e sugestões, e aprendi muito com os comentários dos leitores aqui no blog.

    Não me considero uma pessoa inteligente para fazer uma postagem com esse título. Apenas sou um cara esforçado e que procura sempre se cercar de pessoas inteligentes. Já perdi a conta de quantas vezes fiquei em uma roda de conversa (digitei à princípio "rede de conversa" pois ultimamente ando mexendo muito em computadores) apenas ouvindo, ouvindo e ouvindo as ideias e teorias das pessoas, a fim de absorver alguma coisa de interessante. A inteligência também se "pega"....
    E na época em que era uma pessoa sociável procurava sempre me cercar de pessoas inteligentes. Mas ai vem a questão do conceito "inteligência", aquele lance de ser um sábio e também da inteligência emocional. Enfim, é algo bem complexo para se discutir, mas só sei dizer que inteligência não necessariamente é sinônimo de um diploma de curso superior.

    Então, pelo fato de estudar o assunto e por também sentir na pele o que é a esquizofrenia e seus complicados sintomas é que me considero capaz de pelo menos tentar ajudar e responder algumas questões que cercam esse ainda misterioso transtorno da mente chamado esquizofrenia.

1- O esquizofrênico conversa sozinho?
    Sim e não.
    A pessoa que tem esquizofrenia pode conversar consigo mesma como qualquer pessoa dita "normal". Na minha opinião conversar não é o gesto de abrir os lábios, podemos dialogar sobre nossas dúvidas e outras questões em silêncio mesmo.
    E algumas pessoas  costumam pensar alto, ou seja, falam o que pensam quando estão sozinhas, o que pode ser considerado uma loucura para algumas pessoas.
    Quando estamos surtados, podemos sim dialogar com os nossos delírios e alucinações, que, naquele momento específico se tornam reais em nossas mentes. No meu caso em particular não me lembro de ter falado alguma coisa quando estava sozinho, pois acreditava que as pessoas ao meu redor podiam 'ler" os meus pensamentos. Então respondia também através do pensamento, como se fosse uma telepatia mesmo.
    Já fora das crises converso muito comigo mesmo, sou bastante introspectivo, como todo bom mineiro. Converso comigo mesmo, me peço opiniões sobre diversos assuntos, já que depois que descobri um pouco de mim mesmo após os surtos passei a acreditar mais na minha própria pessoa.
E acho muito válido essa conversa, pois é melhor conversar sozinho do que se abrir para uma pessoa que pensamos ser nosso amigo. Se não tem em quem confiar, confie em si mesmo.

2- Quais são os efeitos colaterais dos antipsicóticos que você já usou?
    Bem, já dediquei postagens inteiras sobre as reações adversas que tive ao usar alguns antipsicóticos. Por isso vou dar uma resumida aqui bem breve. Caso o leitor queira achar uma postagem sobre um assunto específico, basta procurar no motor de busca, uma ferramenta que existe no próprio blog e que se situa no lado superior direito da página.
o blog tem o seu próprio "google"...

    Então vamos a pequena lista dos principais antipsicóticos que já experimentei. Antes, gostaria de deixar bem claro que essas reações variam de pessoa para pessoa e também da dose usada. Não gostaria de desencorajar aqui ninguém a não tentar usar os medicamentos para controlar uma crise.
    -Diazepan; Apesar de não ser um antipsicótico, resolvi colocar o diazepan na lista pois ele funcionou por um bom tempo como um s.o.s para mim, já que na época dos primeiros surtos ainda trabalhava e não conseguia ter muita disposição tomando o haldol, que foi um dos antipsicóticos que já experimentei.
     O diazepan dá uma ressaca, de leve a moderada, dependendo da dose usada, principalmente na parte da manhã. E tive um prejuízo muito grande na memória recente. Hoje em dia com muita dificuldade consigo decorar um número de celular, por exemplo. Mas lembro com alguns detalhes coisas que me aconteceram antes de começar a tomar o diazepan. A diferença é muito grande, não sei o que acontece com as informações, mas simplesmente quando vamos a procurar em nosso "HD" não a encontramos. Já os fatos do passado distante parecem estar preservados, bastando um acontecimento para reavivá-las em nossas cabeças, talvez no subconsciente.
    E atualmente também tenho a sensação de boca seca, e constantemente tenho que "molhar o bico", o que é um pequeno inconveniente, pois também consequentemente tenho que ir ao banheiro para urinar.

- Melleril: Na primeira vez que o usei, em 2003, creio que deva ter tomado uma dose bem baixa (25mg), pois me lembro que conseguia acordar bem às sete horas da manhã, apesar de estar dormindo na rua, naquela época. Dormia em frente ao prédio do Instituto Estadual de Florestas, no bairro barro preto, aqui em Belo Horizonte. Acordava com o movimento dos pedestres indo para o trabalho. Me lembro que as primeiras pessoas que via eram as meninas do Macdonald's sentadas, à espera do horário para começarem a trabalhar.
    Já na segunda vez que usei, por volta do ano de 2005 tive muita sonolência,  sentia também que meu coração dava uma batida desordenada quando eu subia alguma escada.

- Clorpromazina: Foi o antipsicótico com o qual mais me dei bem, apensar de ser um dos mais antigos da categoria. A "clô" conseguia, juntamente com o fenergan, colocar os meus pensamentos em ordem. O problema é que dava uma "penitenciária de segurança máxima de ventre", além de torcicolo. Mas até hoje uso  por um breve período de tempo quando sinto que as coisas não estão bem e que estou prestes a surtar.
a clorpromazina até que ajudava, mas... 
- Haldol: É o "azulzinho" que não quero nem de graça.... Me dava uma acatisia danada. Para quem ainda não sabe, acatisia é, basicamente e essencialmente uma vontade insana de sair andando por ai sem rumo, uma inquietação enorme na hora de dormir. E também dava uma certa sonolência ao mesmo tempo. Então, quando tomava esse medicamento não sabia o que fazia: se andava ou se ficava deitado na cama....
    E também senti a "impregnação" tomar conta dos meus músculos. Era algo tão incômodo e irritante que dava vontade de pegar uma pedra e quebrar alguma vidraça qualquer.
    E, como a maioria dos antipsicóticos, fiquei bastante lento, o que me ocasionou um pequeno acidente na época em que trabalhava como operador de som. Deixei a mesa de som cair, e, para não rasgar a minha canela coloquei a mão, sofrendo um pequeno corte, que demorou um tempinho para cicatrizar...
espero nunca mais precisar desse "azulzinho"...

- Stellazine: Praticamente tive os mesmos sintomas do haldol, porém mais brandos.

- Orap: Não senti nenhum efeito colateral, mas também não senti nenhuma melhora em relação às minhas paranoias e desconfianças excessivas. Ou seja, era como se não estivesse tomando nada.

- Risperidona: Nos dois primeiros dias, não sei por qual motivo, fiquei animado e bem alegre e motivado, pensando que finalmente tinha encontrado o medicamento ideal para o meu problema. Estava morando em um albergue, em São Paulo, me lembro que nesses dias estava muito comunicativo e conversei bastante com caras que nem conhecia direito. Nesse albergue tinha caras vindo de todos os cantos do Brasil. Cheguei até a conversar com os haitianos, ou melhor a tentar a conversar, pois a maioria deles falam francês e inglês. Digo até não por preconceito, a tal da xenofobia, é que detesto o francês mesmo, tem que ficar fazendo biquinho para se pronunciar certas palavras corretamente...
    Mas no terceiro dia as minhas pernas estavam pesadas, principalmente na parte da manhã. Pesquisei no google e constatei que esse sintoma era do medicamento. E também sentia uma fome danada, ou melhor, mais fome ainda, principalmente em relação aos doces e massas.
- Quetiapina: Além da fome de leão, da sensação do estômago não ter fundo, triplicando a minha vontade de comer doces, tive muita sonolência e lentidão. "Você vai pagar a minha conta na padaria?", perguntei ao psiquiatra quando me interrogou sobre o não continuamento da medicação...


-Levozine: Esse medicamento é quase um sossega leão, me derrubava mesmo. Só não apagava de uma vez, o efeito ia vagarosamente aparecendo. Era complicado quando sentia vontade de urinar de madrugada, o corredor ficava estreito demais. Era como se tivesse tomado uns dez diazepans de 10mg. Tomei o levozine uma noite só, pois a ressaca também era enorme, só desaparecendo por completo por volta das quatro horas da tarde. Recomendo a quem deseje usar que compre um pinico e deixe debaixo da cama.

-Zyprex: O mais detonador de todos na questão da sonolência. Mas acho que tomei uma dose alta, para quem estava começando. Dormi praticamente dois dias seguidos, só me lembro de acordar no segundo dia e ir me arrastando até a padaria para comer um pedaço de bolo. Depois apaguei de novo. Mas, como disse, creio que deva ter tomado uma dose alta, pois conheço pessoas que tomam e as vi em boas condições na parte da manhã. Não sei se sou meio fraco para esses medicamentos, mas devolvi a caixa para a psiquiatra, pois é um medicamento muito caro.


3- As pessoas com esquizofrenia se lembram dos fatos que aconteceram durante os surtos?
    Ao contrário do que algumas pessoas devam pensar, não ficamos possuídos por espíritos ou uma entidade do outro mundo, ficamos sim acreditando em nossas paranoias e delírios. Alguns se descontrolam totalmente e outros não. Isso varia muito de pessoa para pessoa e também da gravidade do caso e do tipo de alucinação ou delírio que ela está tendo. Afinal, quem não iria pelo menos fugir ao imaginar que tem uma "galera" querendo te pegar?
    Também nos surtos não temos amnésia, pelo menos no meu caso consigo me lembrar com detalhes o que me aconteceu durante os surtos, tanto que escrevi um livro sobre eles (ainda estou vendendo, no formato PDF). O esquecimento de alguns fatos é o natural mesmo, devido ao tempo e também ao diazepan. Conversei com algumas pessoas que têm esquizofrenia e maioria delas relataram se lembrar dos fatos. Poucos relataram não ter algum tipo de lembrança de quando estiveram surtadas.

4- Você acredita ter passado por momentos traumáticos que possam ter desencadeado a doença?
    Creio que sim. Esses acontecimentos traumáticos são chamados de gatilhos. Qualquer pessoa pode pirar com algum evento traumático. E pirar não quer dizer ter esquizofrenia, pode ser um stress pós traumático, por exemplo.
    No meu caso em particular acredito que já tenha nascido com algum tipo de pré-disposição à esquizofrenia, por isso não culpo algumas pessoas pelo fato de atualmente ter os sintomas que os cientistas chamam de esquizofrenia. Mas, infelizmente o mundo está cheio de pessoas más  que querem a qualquer custo te derrubar. Basta ter paz e ser feliz para ter inimigos. Basta gostar de seu trabalho e ter uma renumeração maior do que outros funcionários da firma para ter alguns inimigos. E essas pessoas ao descobrirem seu ponto fraco podem fazer de tudo para te verem longe do caminho delas.
    Um gatilho que foi determinante para o primeiro surto foi o boato de que eu estava com aids. Na época morava em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. O boato foi se espalhando aos poucos, e em alguns meses a cidade inteira já falava no assunto. É aquele ditado: " Uma mentira dita muitas vezes acaba se tornando realidade".... O boato ganhou tanta dimensão naquela cidade que até eu mesmo acabei acreditando que estava realmente com aids. Me lembro que até o dono de um estabelecimento naquela cidade não gostou da minha presença, quando fui sentar em uma mesa para almoçar e não pegar um marmitex como eu sempre fazia. Talvez ele achasse que a aids pode ser contraída através dos talheres.... A depressão tomou conta de mim e fiquei à espera dos primeiros sintomas da suposta doença aparecer para dar um fim a minha vida. Digo depressão sem ter o diagnóstico pois além de triste, também tive diversos sintomas físicos: fraqueza, emagrecimento, diarreias frequentes, e me lembro que naquela época peguei dengue ou "virose" duas vezes em um pequeno intervalo de tempo. Mas, para mim esses sintomas eram da suposta aids que eu havia contraído e assim chegou a um ponto que não conseguia mais trabalhar.
    Creio que também existiu um outro gatilho, e que foi o primeiro: o fato de conhecer a maldade de alguns "humanos", principalmente no ambiente de trabalho nessa pequena cidade de Minas Gerais.
O fato de ter um salário um pouco superior e ter a preferência dos clientes para executar os serviços me renderam alguns inimigos, inclusive até os que eu tinha ensinado alguma coisa sobre como operar uma mesa de som. Mas, como disse, não estou jogando a culpa pelo fato de ter esquizofrenia nessas pessoas. Desde criança tive um enorme receio de crescer e conhecer como é a realidade dos seres humanos. Em minhas pesquisas, já li que a esquizofrenia pode ser um tipo de negação da realidade. No meu caso creio que essa realidade do mundo dos humanos adultos tenha sido algum componente indireto para esse tipo de situação que enfrentei e enfrento até hoje. Me lembro de um pedido que fiz à Deus quando criança, que era de nunca conhecer a maldade dos seres humanos.
Não sou santo, mas nunca me preocupei com o salário dos demais funcionários das firmas por onde trabalhei...

5- O que você sente após passar por uma crise?
    Cada crise e surto foi diferente, o primeiro foi o mais difícil de todos, pelo fato de não ter nenhum conhecimento sobre o transtorno. Talvez a sensação seja parecida com a de alguém que passou por uma tempestade violenta, um furacão que derrubou todos os seus alicerces.
As minhas primeiras crises foram assim. Tudo o que eu imaginava e minhas certezas caíram por terra. Dúvidas e mais dúvidas povoaram a minha mente. Por que eu? O que eu fiz para merecer isso? Afinal, o que eu tenho? Fizeram algum trabalho de magia negra contra a minha pessoa? Como será daqui para frente? Vai acontecer de novo?
    Me lembro que fiquei muito preocupado quando chegou o primeiro dezembro após o meu primeiro surto grave. Me lembro do dia em que pedi demissão da firma nesse surto, era dezembro de 2002 e a única saída que havia enxergado para fugir dos inimigos reais e imaginários que se tornaram reais naquele época era fugir daquele lugar.

6- O que te faz vontade de viver todos os dias, apesar de todos os problemas?
Confesso que às vezes passo por períodos difíceis, e em muitas situações o pior já passou pela minha cabeça, já tentando algumas vezes o autoextermínio.  Mas, depois das primeiras crises que tive, passei a me conhecer e a me entender melhor. O autoconhecimento não tem preço....
     Também tenho minhas crenças, e uma coisa em que todas as religiões têm em comum é a acreditarem que o autoextermínio não é uma boa solução para nossos problemas. Claro que toda regra tem exceção, os terroristas radicais acreditam que se morrerem como mártires serão muito bem recompensados....
    Outra razão para continuar vivendo são os meus inimigos reais, que se aproveitaram dos meus momentos de fraqueza para se verem livre de minha pessoa. Voltei várias vezes à essa cidade do interior de Minas Gerais, e em uma dessas visitas confesso que não resisti e cheguei a colar nos postes e a "panfletar" o resultado do exame de HIV que eu havia feito e que dera negativo.

7- Qual foi a reação ao receber o diagnóstico de esquizofrenia?
Não fiquei revoltado e nem indignado, e sim muito curioso. Imediatamente após receber o diagnóstico, fui a biblioteca municipal da cidade onde morava e li um CID antigo que estava encostado na instante. Mas não fiquei satisfeito, comprei um computador, fiz o curso de informática e passei a estudar o assunto. Conheci pessoas que tinham o mesmo problema e passei a encontrar respostas para o meu modo arredio de ser, dentre outras questões que vinham constantemente em minha mente. 

o preconceito surge pela falta da informação 

8- Qual a sua mensagem para outras pessoas que sofrem ou tem parentes com esquizofrenia?
    Que se informem o melhor possível. Procurem outras opiniões caso tenha alguma dúvida sobre o diagnóstico. A informação é a base de tudo, o preconceito surge quando não estamos devidamente informados sobre determinado assunto.
    A informação é a melhor arma. Devemos aprender a conviver com a esquizofrenia, e a conhecê-la, como se fosse um jogo de futebol, onde conhecemos o adversário e atacamos os seus pontos fracos e aprendemos a nos defendermos dos seus pontos fortes. No meu caso em particular, depois que passei a estudar o assunto vi que o que mais me prejudicava era o fato de me preocupar demais com a opinião alheia. Passei a evitar o stress e a evitar certo tipos de situações em que poderia despertar alguma sentimento negativo contra a minha pessoa.
    A informação é essencial, afinal, como iremos lutar contra algo que não conhecemos?




domingo, 12 de fevereiro de 2017

Livro "A síndrome de Copérnico" Download

"A síndrome de Copérnico" de Loevenbruck Henri. 
    Outro dia desses, quando estava perambulando pelos canais da tv aberta, à procura de algo “assistível”, me deparei com uma boa resenha sobre o livro “A síndrome de Copérnico”, na TV Cultura. Aliás essa emissora tem muita coisa boa para ser ver. Em Minas Gerais se chama TV Cultura, mas nos outros estados é a TV Brasil, a tv cultura retransmite boa parte da programação da TV Brasil.
    Infelizmente ainda não tive ânimo para ler as 353 páginas desta obra, mas, pelo pouco que li, posso dizer que vale a pena baixar aqui na CDE (Central de Downloads do Esquizo). Não gosto muito de rótulos, ainda mais como esquizofrênico, mas foi preciso fazer isso para ser achado com mais facilidade pelos motores de busca do google, bing e outros.

Resenha
-A Síndrome de Copérnico faz referências à atualidade, à arquitetura dos lugares onde a trama acontece e às tecnologias que constituem o fio condutor do romance. Além de o leitor ficar impressionado com o desenrolar da ação, a introspecção permanente do protagonista está longe de ser cansativa, fazendo com que a leitura proporcione indignação por não se compreender o porquê de como o esquema foi elaborado. Cada elemento do suspense reforça ainda mais o mistério ao invés de dissipá-lo.

Primeiro capítulo
"Meu nome é Vigo Ravel, tenho 36 anos e sou esquizofrênico. Ao menos é no que sempre acreditei.
Aos 20 anos de idade — se é que me lembro bem, pois minhas lembranças não vão tão longe e tenho de acreditar no que meus pais me disseram — diagnosticaram em mim distúrbios psíquicos sintomáticos de uma esquizofrenia paranoide aguda. Perturbação da memória a curto e a longo prazo, transtorno do pensamento lógico e, sobretudo, sobretudo, o meu principal sin¬toma dito "positivo'': sofro de alucinações auditivas verbais.
Sim. Ouço vozes dentro da minha cabeça.
Centenas de vozes, diferentes, novas, de perto ou de longe. Todos os dias, em todos os lugares, aqui e agora. Como murmú¬rios que não vêm de parte alguma, ameaças, insultos, gritos e soluços, vozes que surgem nas grades do metrô, vozes que flu¬tuam na boca dos esgotos, que ressoam atrás das paredes... Ela aparecem no meio das crises, quando a minha visão fica turva e o meu cérebro grita de dor.
Desde aquela época, sigo um tratamento à base de neurolépticos anti-produtivos, que reduzem, mais ou menos, os meus delírios e as alucinações. Os medicamentos evoluíram. A minha doença, não. Aprendi a conviver tanto com ela quanto com os efeitos secundários dos antipsicóticos: aumento de peso, apatia, olhar furtivo, perda de libido... No fim das contas, a apatia ajuda enormemente a aceitar todo o resto. E a não lutar mais.
Enfim, acabei simplesmente por aceitar que eu estava doen¬te, que as vozes não passavam de uma produção do meu cérebro deficiente. Apesar do incrível realismo das minhas alucinações, eu as aceitava como tal e conformei-me com o óbvio, como pedia o meu psiquiatra. Depois de alguns anos, decidi-me por isso. No fundo, acho que era menos cansativo aceitar a loucura do que continuar negando-a. O meu psiquiatra conseguiu até me arranjar um emprego, faz quase dez anos. Fui contratado pela Feuerberg, uma sociedade de patentes, para inserir dados no computador. Não era nada complicado, bastava digitar quilôme¬tros de números e de palavras, sem me preocupar com o que sig¬nificavam. O meu patrão, François de Telême, sabia que eu era esquizofrênico, e isso não era problema. O principal era que eu também o soubesse.
No entanto, depois da explosão da torre SEAM, não tive mais certeza de nada. Nem mesmo disso. Naquele dia, tudo mudou. Para sempre."
é fácil baixar na CDE

    Baixem este e outros livros na CDE, não tem segredo e também não tem vírus, todos os arquivos são examinados pelo antivírus online, que é um bom serviço para verificar se um arquivo que baixamos tem algum vírus ou não, pois o site usa o banco de dados de vários programas antivírus do mercado. Ou seja, depois da análise as chances do arquivo conter algum arquivo malicioso são mínimas.
    Para acessar a central de downloads, basta clicar na imagem no canto superior direito, para abrir o link do drive do gmail, onde hospedo os livros.
Boa leitura à todos.
https://www.virustotal.com/