quarta-feira, 11 de abril de 2018

Paranoias diárias do dia a dia -3


 
  Antes de começar o relato sobre as minhas dificuldades no dia a dia, vamos tentar definir o que é paranoia. Pesquisando no google em sites que considero confiáveis, a melhor e mais abrangente definição sobre o assunto que encontrei foi no site Info Escola.
    "A paranoia, também denominada pensamento paranoico (ou paranoide), consiste em uma psicose caracterizada pelo desenvolvimento de um pensamento delirante crônico, lúcido e sistemático, provido de uma lógica interna própria, sem apresentar alucinações.
    Nesta patologia, o indivíduo desenvolve uma desconfiança ou suspeita exacerbada ou injustificada de que está sendo perseguido, acreditando que algo ruim está para acontecer ou que o perseguidor deseja lhe causar mal."
    Esses pensamentos são quase que incapacitantes, o que me leva as pessoas a terem uma vida pouco ou com quase nenhuma atividade social. Em um vídeo que gravei no youtube, cheguei a brincar, afirmando que as minhas camisinhas estão com o prazo de validade vencido... 
    Qualquer atividade que envolva gente se torna um tanto o quanto complicada, o que me leva a ter uma vida mais reclusa, e geralmente me leva a conseguir a contar quantas palavras foram proferidas pelos meus lábios carnudos durante o dia.  
   A citação sobre a boca carnuda é zoação, mas infelizmente sobre o número de palavras proferidas durante o dia não é.... 
    Falo pouco, sou monossilábico, a não ser quando estou jogando bola e tem aqueles caras fominhas que não tocam a bola de jeito nenhum. A gente corre, se desloca para receber a bola, mas os caras não tocam, só pensam em chutar a bola e marcar o gol e se gabarem. E depois ainda tenho que voltar para a defesa para evitar o gol, pois eles gastam a energia somente para atacar. 
    Mas, deixando a brincadeira de lado, convivo bem com meus pensamentos, então meu quartinho se torna um lugar agradável para o meu sossego e paz interior, que só é um pouco interrompido quando saio para o exterior do meu cantinho...
    Qualquer situação que envolva pessoas gera um certo stress, talvez por isso gosto tanto de percorrer os "Caminhos da estrada real", pelo interior da minha Minas Gerais. Me lembro que quase entrei em êxtase, ao ouvir o bater de asas de um pássaro em uma estradinha de terra....
   Abaixo algumas situações que mais me incomodam no momento, mas já foi pior um dia...
  
Na padaria...
Eu, na padaria... 

    Como bom mineiro que sou, uma visitinha a padaria era um dos melhores prazeres que tinha: pão de queijo, pastel de queijo, broa de queijo, biscoito de queijo,  rocambole, bolo de fubá e torta de chocolate era o que eu mais consumia. Ah, e tinha o doce de leite, também, com queijo, é claro...
    Era uma delícia ir na padaria e satisfazer um dos sete pecados capitais. Às vezes (muitas vezes para dizer a verdade), comprava mais do que conseguia comer, era o tal do olho maior do que a barriga. E então me empanturrava até não conseguir sair da cama. Ficava que nem um jacaré depois de comer um boi e esperando a digestão aliviar um pouco o estufado estômago...
    Ainda continuo indo a padaria, só deixarei de ir se o caso ficar grave mesmo. Mas é complicado. Quando peço algum quitute e a balconista pede para que eu pegue a fichinha antes, logo penso que ela esteja me confundindo com algum meliante e que eu vou sair correndo sem pagar. 
    - Tá pensando que eu sou ladrão? Trabalhei 17 anos como operador de som!!!- é o que me dá vontade de responder, mas procuro ficar sempre calado nessas situações. Só fico mais sossegado quando vejo a balconista fazendo o mesmo procedimento com outros clientes do estabelecimento. 


Supermercados e bancos... 

    Como não poderia deixar de ser, ir a bancos e supermercados também é uma tarefa que gera um certo stress, pois a realidade é que hoje em dia as pessoas ficam um pouco tensas quando mexem com dinheiro. Ou seja, fico tenso e a tensão das outas pessoas me deixa mais tenso ainda... 
    Logo quando chego a um estabelecimento e vejo o segurança falando no rádio de comunicação logo penso que estão falando:
    - Ele chegou...
    -  Você quer olhar os meus documentos? Tenho cara de assaltante de banco?- é o que dá vontade de responder, mas, também nessa situação prefiro ficar calado. 
    Penso que os seguranças estão imaginado que eu estou armado e que a qualquer momento vou sacá-la e fazer todo mundo refém. Quando o detector de metais apita mesmo deixando o celular e as chaves do lado de fora é que a situação fica complicada. Então levanto a camisa e mostro  a fivela do meu cinto sem cerimônia e aí sou logo liberado. 
    Fico chateado também quando vou no caixa para sacar um dinheiro e o segurança fica me olhando. Penso que ele pensa que eu esteja hackeando  o sistema operacional do caixa, que ouvi dizer que ainda é o velho e bom windows xp... Então, quando o equipamento solta o dinheiro, faço logo questão de contar as notas virado para o segurança, com um certo ar de vingança... 
    - Sou aposentado por que trabalhei honestamente e ininterruptamente 17 anos como operador de som!!!- É o que tento dizer com um certo olhar soberbo. 
    

Shows... 

    Ir à shows era uma atividade tão prazeirosa que, como já relatei, acabei virando um operador de som. Mas antes ia aos shows e conseguia ficar totalmente distraído, reparando apenas na banda que estava se apresentando no palco. Prestava atenção nos instrumentos, no guitarrista quando fazia o solo, se por acaso algum músico errasse alguma nota... O local poderia estar lotado, mas para mim era como se não tivesse ninguém ao meu lado, até que a última música fosse tocada pela banda. 
    Desde quando me aposentei, em 2005, acredito que fui apenas em dois shows. E não foi muito legal. Músculos tensos, a sensação de que todos estão deixando de prestar atenção na banda para ficarem olhando para mim. Sei que é um absurdo, afinal a pessoa gasta o seu dinheiro justamente para ver a banda ou o cantor. Por que iriam ficar olhando para um pacato cidadão? Nem sou bonito para ficarem olhando para mim. Quando alguém pega uma câmera aí é que a situação fica tensa, pois logo imagino que estão a me filmar...  Mas a verdade é que boa parte dessas pessoas que ficam filmando o show quase não curtem o espetáculo, para depois postarem nas redes sociais que estavam vendo o show de fulano ou ciclano. 
    E depois que comecei a escrever o blog ai que penso que o mundo inteiro sabe que tenho esquizofrenia. Até tirei a minha fotinha que ficava na página inicial. Os vídeos nem gosto muito de gravar e divulgar por aqui. O blog ajuda e atrapalha ao mesmo tempo. Me ajuda na questão de me tornar um ser humano melhor, de me sentir um pouco útil,  pois muitas pessoas relatam que ajudo de alguma maneira com os meus escritos. Mas atrapalha um pouco, ao imaginar que todos estão debochando da minha condição de uma pessoa com esquizofrenia. Mas hoje em dia o que as pessoas pensam ou falam de mim, sendo real ou não, pouco me importa, pois, como já relatei várias vezes, o fato de me preocupar com a opinião alheia foi um dos gatilhos da esquizofrenia. 

    Então não tem jeito. As paranoias diárias fazem parte da minha vida. Com remédios talvez possa não tê-las, mas também teria um sono quase que eterno, pois a prostração causada pelos antipsicóticos geralmente acabam por completo no meu caso por volta das 4 horas da tarde, e, como costuma dormir cedo, teria cerca de cinco horas por dia com alguma disposição para realizar alguma tarefa. 
    Esses pensamentos me perseguem, não adianta mudar de bairro, cidade, estado ou país. A solução é encontrar um bom ambiente para se morar, e onde as pessoas se respeitem. Um bom ambiente já é um bom  caminho para a estabilidade emocional e mental. Se afaste de pessoas negativas, entre em contato com a natureza, procure se elevar espiritualmente de acordo com suas crenças. Enfim, lute, batalhe para se tornar uma pessoa mais forte e não se abalar facilmente. 

11 comentários:

  1. Ótimo texto amigo !!
    eu uso óculos escuros em supermercados, alivia a fobia social
    um abraço !

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    1. Obrigado.
      Realmente os óculos ajuda um pouco, parece que estamos meio que blindados psicologicamente.
      Usava o lente fotocromática, que era tipo um óculos menos escuro do que o escuro.
      Obrigado pela participação e pela visita ao blog.

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    2. Eu não consigo usar oculos escuros, pq sinto q as pessoas vão ficar me olhando mais ainda.

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  2. Acho esse seu blog extraordinário! Sou acadêmica de enfermagem e estou desenvolvendo um estudo exatamente sobre a percepção das pessoas em relação ao portador de doença mental, com o objetivo de mostrar que ainda existem muitos estigmas.

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    1. Olá
      Seja bem vinda e fique à vontade para pesquisar. No lado direito tem as postagens mais acessadas no tema esquizofrenia. Mas as outras não listadas também são bem interessantes.
      Infelizmente acredito que pouca coisa mudou sobre a visão das pessoas sobre esse transtorno mental, e por isso tento fazer esse trabalho aqui, que é como se fosse um passarinho tentando apagar um incêndio na floresta, mas me sinto bem fazendo a minha parte.
      Obrigado.

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  3. O meu irmão tem esquizofrenia. As suas palavras ajudam-me a compreende-lo melhor.Obrigada

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    1. Obrigado pela visita e pelas palavras Fátima. Me sinto uma pessoa melhor ao saber que ajudo de alguma maneira as pessoas que têm direta ou indiretamente uma relação com a esquizofrenia.

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  4. Olá! Acabei de descobrir seu blog, e estou gostando muito do conteúdo! Faço tratamento psiquiátrico há algum tempo, então me identifiquei bastante (risos) Queria saber sobre como foi sua decisão de parar de tomar remedios, pelo que entendi você não está tomando. Talvez você já tenha comentado sobre isso em algum outro post, mas não achei por aqui ainda. Abraços! Lucelia

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    1. Olha, resolvi parar com os antipsicóticos no ano de 2008, depois de experimentar um medicamento caro, o zyprex. Estava desde o ano de 2003 tentando vários antipsicóticos sem resultado e então analisando os prós e os contras vi, que no meu caso, o jeito seria ir levando com o diazepan como um SOS.

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  5. Oi Júlio pessoas normais tem paranoia tb. Eu sou PORTADORA DE TAB. Uso medicamentos e mesmo assim fico paranoica. A vida social não existe para nós portadores de um transtorno mental. Abraço Lenice.

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  6. tb sofro com paranoia de perseguição, onde vou acho q estão me olhando rindo e comentando e armando algo contra minha vida e minha moral , ultimamente tenho evitado sair de casa, e mesmo ficando meses sem botar o pé na rua, qdo saio escuto gente rindo e falando meu nome, e outras coisas, ainda não fui atrás de tratamento médico ( nunca fui ao psiquiatra) , e não quero ficar viciado nesses remédios e mto menos ir em psicólogo ( eu já fui e foi uma das piores coisas q fiz na vida), entao resumindo o negocio e ir levando até qdo der.

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