segunda-feira, 2 de abril de 2018

Psicocirurgia, uma modernização da lobotomia?



   Outro dia desses me deparei com o vídeo acima circulando pelas redes sociais. O procedimento foi anunciado como uma nova esperança no tratamento da esquizofrenia, onde o paciente apresenta um quadro de agressividade extrema, segundo o apresentador do programa de uma emissora de TV do norte de Minas Gerais. 
    O tratamento foi denominado como "psicocirurgia" e, segundo o apresentador e o repórter do programa, o resultado foi extremamente satisfatório, "controlando" toda a agressividade do paciente, como se pode observar no vídeo.  
    Mas, após assistir completamente a matéria  me veio uma dúvida: essa psicocirurgia não seria uma modernização da lobotomia? Essa "pequena lesão controlada", citada pelo neurocirurgião Gustavo Lages (Montes Claros-MG), não seria uma retirada de um pedaço do lobo pré-frontal, como se fazia na década de 40? Dá-se a impressão que a única diferença é que antigamente se fazia o procedimento com um picador de gelo e muitas vezes até sem anestesia. Essa pequena lesão ou retirada,  não é a morte de parte importante de alguma função cerebral? São apenas questionamentos, pois neurologia está longe de ser a minha especialidade...
    Para quem não conhece, a lobotomia é um procedimento cirúrgico que foi muito usado na década de 40, em pacientes com quadros graves de esquizofrenia e agressividade. Consistia basicamente em retirar ou lesionar um pedaço do cérebro, que seria responsável pelo planejamento das ações e pelos movimentos. Essa região do cérebro também é responsável por outras funções, mas a finalidade do blog não é acadêmica, por isso não irei me aprofundar muito nessa questão, o que desviaria e muito a intenção desta postagem. 
     Foi muito questionada na época a lobotomia pelo simples fato de tornar o paciente um vegetal. Como podem observar na figura abaixo, o procedimento mais barato consistia em usar um picador de gelo para causar o dano ao lobo pré-frontal. 
 

    Ao ver a matéria acima do vídeo, não foi possível evitar a comparação. Não seria essa psicocirurgia uma lobotomia modernizada? O repórter e tampouco o médico entraram em detalhes sobre exatamente o que seria essa "pequena lesão controlada". Mas, o que se pode constatar é que esse procedimento considerado uma nova esperança na reportagem parece consistir basicamente no mesmo conceito da antiga lobotomia, que é a de lesionar ou retirar um pedaço do lóbulo pré-frontal, e assim deixar o paciente sem reações e ações, como podemos observar no vídeo. 
    Confesso que ficaria extremamente triste se visse um parente ou amigo em uma situação dessas. A impressão que se dá que é uma outra pessoa que está no corpo do operado, ou que é apenas um resto da pessoa que está ali. 
     Mas também devemos nos colocar na posição dos pais do paciente da reportagem. Afinal, como eles mesmo relataram, foram mais de 20 anos de sofrimento, agressividade e tentativas frustradas de tratamento. Me pergunto também se nesse estado de agressividade não teríamos a sensação de estamos com uma outra pessoa... 
    Não sou de ficar em cima do muro, mas confesso que não sei e não tenho condições de opinar sobre o assunto. Creio que só quem está sentindo o problema na pele é quem pode responder com propriedade se é ético e moral realizar essa chamada psicocirurgia. 
   E você, o que acha? É um avanço ou retrocesso? Submeteria um parente à esse procedimento? Atualmente não existem outras soluções?
    Vote na enquete, o sigilo é total...  

Obs: Pesquisando sobre o assunto no google, vi uma matéria do início deste ano falando sobre esse "novo" procedimento no site de um jornal da cidade de Montes Claros, no norte de Minas Gerais, onde foi realizado esse primeiro procedimento na região. Ou seja, a cirurgia deve ter sido realizada no ano de 2017.
    Leiam a matéria, chega a soar como irônica a matéria quando os termo "moderno" é citado várias vezes...

https://gazetanortemineira.com.br/noticias/saude/psicocirurgia-santa-casa-realiza-procedimento-cirurgico-para-controlar-agressividade









3 comentários:

  1. Eu sou estudante de Psicologia e confesso que fiquei com grande mal estar ao assistir a reportagem, como não denunciaram esse neurocirurgião? Os pais claramente não tem conhecimento do que fizeram com o próprio filho. O pior é a reportagem mostrar isso visto como algo bom : /

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    1. Olá
      Também concordo com você, principalmente no que se refere a reportagem, anunciando o procedimento como inovador, recente e algo que vá melhorar a qualidade de vida do paciente consideravelmente.
      No mínimo o neurocirurgião deveria ser mais claro e chamar o procedimento de lobotomia um pouco menos agressiva do que na década de 40.
      Obrigado pela visita ao blog.

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  2. o caso apresentado é um caso extremo e os fármacos não o estavam ajudando
    Os pais estão satisfeitos porque o risco à integridade física do filho e deles próprios foi amenizado.
    a Lobotomia em casos extremos é uma opção, no passado foi usada de modo abusivo.

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