segunda-feira, 28 de maio de 2018

Um repórter baixou em mim

                                                            Esquizorepórter

    Segunda feira, dia 17 de junho de 2014. Manifestações tomam conta das principais capitais do país. Os motivos eram diversos, mas as principais causas foram o aumento das passagens e os gastos para a realização da copa do mundo. Ainda estava nas minhas andanças, morando na minha barraca e carregando uma mochila de 11kg nas costas.
    Estava no centro quando soube que iria acontecer uma enorme passeata até o  Mineirão, onde seria realizado o jogo Taiti x Nigéria pela copa das confederações. O peso que carregava nas costas não foi empecilho para que uma enorme vontade de ir ao evento tomasse conta de mim. O engraçado  (hoje acho isso) é que nem pensei em pegar um ônibus, caminhei cerca de 10km numa boa até as proximidades do estádio. 
    Não gosto muito de tumultos, multidão, mas queria participar daquele protesto, afinal foram gastos bilhões em estádios que nem teriam utilidade nos próximos anos, como o de Brasília, Mato Grosso e Manaus. E os que estão tendo utilidade foram superfaturados. 
    Então resolvi participar, afinal o povo mineiro é civilizado e não irá ter confusão, como está tendo no restante do país. - pensei. 
    E não acompanhei a passeata desde o início, no centro. Cheguei no Mineirão por volta do meio dia. Estava com minha câmera digital compacta e, de uma hora para outra, surgiu uma vontade de filmar o evento. Era como se tivesse baixado um repórter em mim, e comecei então a filmar tudo o que estava acontecendo naquele momento. Havia inúmeros repórteres no meio daquela multidão que assim como eu, estavam carregando uma câmera. Estava tão engajado na missão de cobrir o evento que aqueles caras era como se fossem colegas de profissão. Já não estava ali como um manifestante. 
   Por volta das 15 horas começou um burburinho de que os manifestantes estariam chegando nas proximidades do estádio. Já haviam muitos policias e viaturas no entorno do gigante da Pampulha. Fui então de encontro aos manifestantes e me espantei com a quantidade de pessoas que estavam na avenida Antônio Carlos. Algumas pessoas falavam em 12 mil, outros em 20 mil pessoas. Só sei que havia um mar de gente na avenida, que estava totalmente tomada até onde podia enxergar. 
    A manifestação seguiu tranquila até a Avenida Abrahão Caran, onde a polícia militar fez uma barreira. A situação ficou tensa quando alguns caras com o rosto coberto (cerca de 100 pessoas) começaram a atirar pedras e pedaços de pau nos policiais, que revidaram com balas de borracha e bombas de efeito moral, além do sufocante gás lacrimogênio. Poderia ter acontecido uma tragédia, pois a avenida estava totalmente tomada e não tinha para onde nos abrigar. Por sorte a maioria teve calma para se afastar do efeito do gás com tranquilidade  e não houve pisoteados.
    Não culpo a polícia, pois acredito que foi a primeira manifestação desse porte em Belo Horizonte e, se não fosse uma minoria, tudo teria transcorrido na maior calma. 
   Mas houve muita bomba mesmo, algumas até foram atiradas bem próximo de onde estava. Poderia sim ser atingido, mas continuei a narrar o evento como se fosse um repórter e com a maior calma possível. Parece que baixou um repórter superprofissional em mim e, se não fosse a péssima dicção e a imagem tremida, diria que foi feita uma excelente cobertura da manifestação.
    Até cheguei a pensar em colocar legenda, mas o arquivo final sempre ficava maior do que o limite que pode ser colocado em cada postagem.


4 comentários:

  1. interessante e bem feito seu Blog.
    Sou psicólogo de formação, atua na área e tenho diagnóstico de bipolar desde 1986.
    Tipo 1. Atuo em saúde mental, através das linguagens artísticas e da educação somática.
    Veja em nosso coletivo de saúde mental, no Facebook, O Repensando a Loucura, e junte-se a nós, que somos unidos. Vamos em frente. Abs.

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  2. Olá Júlio devido ao tanto de medicações e que fui reabilitada ao trabalho sem forças. Sinto minha mente cansada, cada vez mais detesto gente e seus preconceitos .tava precisando desabafa r. Nem consegui lê a postagem . para minha maior tristeza tive um filho que hj tá com 5 anos depende de mim. Só agora vejo que portadores de doença mental não deve ter filhos .hj estou muito mal.

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  3. Depois eu li seu post. Júlio vc tem uma boa memória. Penso que na mente hj vc está bem.

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  4. Olá
    A minha memória, principalmente a recente está um pouco prejudicada. Os nomes e os números que postei encontrei no google. Foi bastante noticiada essa manifestação, acho que em Belo Horizonte foi a primeira desse porte a acontecer, por isso os policiais ficaram meio sem saber o que fazer, por causa dos black blocs
    Meu humor oscila muito, tem dias que estou bem, mas tem dias que nem saio de casa, vou na padaria, como uma besteira qualquer e já volto rapidamente pra casa.
    Mas continue firme na luta, procure se alimentar pois a mente e o físico não tem como cuidar de cada um separadamente.

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