sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Podemos nos curar permanecendo no mesmo ambiente em que adoecemos?

Surtei, e agora? 
    Quando surtamos pela primeira vez, uma série de indagações invadem nossa mente. No início pensamos que todas aquelas paranoias e pensamentos persecutórios são uma realidade, e então às vezes literalmente fugimos. Não é raro parentes de portadores de esquizofrenia entrarem em contato com a polícia à procura de seus entes queridos desaparecidos. E não raramente boa parte está perambulando por alguma BR do Brasil. 
    Mas quando a situação se estabiliza outras indagações tomam conta de nossa cabeça. O que eu tenho que fazer para não surtar novamente?
    Mudar de ambiente e evitar pessoas e situações que nos afligem obviamente é uma boa saída. Gente negativa que se preocupa mais com a vida alheia do que com si própria faz mal à qualquer pessoa, independente ou não de ser portadora de algum tipo de transtorno mental.
    E ainda tem aquelas pessoas que, não sei por qual motivo, querem por que querem que você se dê mal na escola, no trabalho, no amor, enfim em tudo em nossas vidas. São pessoas que não têm vida própria e seu objetivo é atrasar a vida dos outros. 
    No meu caso em particular ter saído de um ambiente hostil foi a única solução que havia encontrado. Em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais inúmeras situações me estressaram a tal ponto que ajudaram e muito a desencadear um surto psicótico.
    O que me fez adoecer não foi uma pessoa, não foi uma única situação. Não culpo ninguém pelo fato de ser um portador de esquizofrenia. Costumo dizer que tenho esse transtorno desde quando nasci, ao analisar diversos fatos e fatores que apareceram em minha vida. Talvez tenha algum componente genético na minha esquizofrenia, mas o que posso dizer que minha existência neste planeta foi um pouco confusa e difícil.
    Ainda não se sabe exatamente a causa desse transtorno, mas o que pude observar é que muitos portadores de esquizofrenia têm algum parente na família com o mesmo problema.
Não culpo ninguém por estar nessa situação, Aconteceram certas coisas em que não houveram culpados, a falta de informação é uma das principais causas de certos conflitos na família, no ambiente de trabalho, etc... Pouco se sabe ou se fala sobre transtorno mental. Os portadores são confundidos com preguiçosos, que o comportamento rebelde é coisa de aborrecente, etc..
    O que acontece na vida da gente não determina se somos ou não portador de algum tipo de transtorno mental, mas pode desencadear um surto psicótico, uma depressão, etc.. Ou seja, não é a causa principal, mas os traumas, o stress podem sim ser o gatilho de uma crise. 
Sair de um ambiente negativo não irá te curar, mas ajudará e muito na recuperação. Energias negativas e ambiente carregado faz mal à qualquer pessoa do bem e que queira apenas ser ela mesmo. 
    No meu caso em particular um certo local, um certo ambiente me fez adoecer.  Nessa pequena cidade do interior de Minas Gerais sentia que os outros funcionários sentiam uma certa inveja de mim, pois procurava executar o meu serviço da melhor maneira possível e por isso conseguia ter um salário melhor do que os demais empregados. E era sempre escolhido pelos clientes, ou seja, a galera da firma não digeriu bem a ideia de um cara da capital ter se mudado para o interior e ter meio que roubado seus clientes. 
    Aquela carga de sentimentos negativos começou a me fazer mal. E a mania de perseguição, que antes era apenas uma cisma, foi se tornando uma neurose. A situação foi piorando e comecei a imaginar que não somente os funcionários da firma queriam me prejudicar.  Já estava imaginando que o bairro também queria o meu mal. 
    Em pouco tempo, a mania de perseguição, que havia se tornado uma neurose acabou se transformando em psicose, pois eu não havia procurado ajuda e pensava que poderia enfrentar aquilo tudo sozinho.
    Não queria ir embora daquela firma, pois gostava da cidade e ainda tinha a vantagem de morar na firma, economizando boa grana com o transporte. E esse foi o meu maior erro.
    Fui ficando cada vez paranoico e o trabalho de operador de som deixou de ser um prazer para se tornar um martírio.  O contato com as pessoas já não estava me fazendo bem. 
    E então aquele cara alegre e brincalhão e distraído deixou de existir para dar lugar à um paranoico que pensava que o mundo inteiro queria prejudica-lo.
Colecionei algumas inimizades depois que comecei a adoecer. E logo o boato de que eu estava com aids tomou conta da cidade. Talvez cismaram que eu tinha HIV por engordar e emagrecer inúmeras vezes. Comia muito doce e depois corria muito para emagrecer. E conseguia. 
    Uma mentira dita muitas vezes pode acabar se tornando realidade. Até para mim mesmo. 
Estava com receio de fazer os exames e então planejei dar fim a minha vida assim que os sintomas da aids aparecessem. 
    Essa situação me deixou deprimido e em consequência disso comecei a emagrecer, a perder energia e me tornei apático e cada vez mais recluso. Não sei se por coincidência ou não, nesse período peguei dengue duas vezes, tive algumas diarreias e fui algumas vezes ao posto de saúde por causa de viroses, diagnóstico que os médicos dão quando não sabem exatamente a causa do mau estar do paciente. 
    Já estava no limite, ouvindo vozes e a única solução que havia encontrado era pedir demissão para fugir daquele ambiente. Mas era tarde demais, já estava paranoico e imaginando que o mundo inteiro queria me pegar. Mudei de cidade mas as vozes me perseguiam onde eu fosse. O jeito então era fugir para outro estado e a perambular pelas Brs. 
    E então foi uma longa história até conseguir me recuperar. Se talvez tivesse fugido daquela ambiente hostil logo no início provavelmente não teria surtado. Não tem como fugir de inimigos interiores, poderia ir até para outro país naquela situação, mas não iria adiantar muita coisa.
será que conseguimos estar bem em um ambiente negativo?


    Mas as coisas às vezes não são tão simples assim. O mercado de trabalho não está nada fácil e nem sempre é possível ficar mudando de emprego sempre quando percebemos que uma ou outra pessoa não quer o nosso bem. Às vezes só o fato de estarmos bem e em paz conosco já é o suficiente para atrair sentimentos negativos. 
    Às vezes o ambiente negativo está dentro de nossas casas, nossas famílias. E sair de casa nem sempre é fácil quando não estamos estabilizados financeiramente. 
    O que fazer então? É uma pergunta difícil de se responder, mas acredito que o primeiro passo seja o diálogo para tentar resolver qualquer rusga, seja em um ambiente familiar ou no trabalho. Praticar o perdão também pode ajudar e muito. Mas ficar calado e não resolver a situação pode trazer inúmeros prejuízos à saúde mental de uma pessoa. 
    Se a situação não foi resolvida com diálogo e nem com a tentativa do perdão aí sim uma mudança de ares seja muito benvinda. No meu caso no primeiro surto grave naquela cidade, tive uma boa melhora depois de uns três meses morando nas ruas. Por incrível que pareça o ambiente nas ruas era melhor do que um local de trabalho com muitas pessoas não aceitando o fato de você ter um salário um pouco melhor do que os demais. 
    Mas, antes de tudo devemos olhar para dentro de nós mesmos e tentar de alguma forma descobrir se não estamos exagerando uma situação. Se o problema não está em nós. A fuga de nós mesmos é praticamente impossível. 
    Também devemos sempre aprender com essas situações e nos fortalecemos e também aprendermos a evitar que aconteçam de novo. Nem sempre é possível mudar de ares quando encontramos um ambiente hostil e negativo. 
     Também existem as alternativas espirituais para os casos de ambientes negativos. Mas não irei entrar nesse campo. Não é a finalidade do blog falar sobre religião e espiritualidade. Tenho minhas crenças e procuro respeitar a fé alheia também. E a não fé também procuro respeitar, não sou de julgar alguém só por que é ateu. O católico reza, o evangélico ora, o devoto de Hare Khrisna acende um incenso e por aí vai....


Música The enemy inside
Banda   Dream Theather

O Inimigo Interior
De novo e de novo
Eu revivo o momento
Estou carregando um fardo em meu interior
Feridas abertas escondidas sob minha pele

A dor é real
Como um corte que sangra
A face que eu vejo
Toda vez que eu tento dormir
Olhando para mim chorando

Estou fugindo do inimigo interior
(O inimigo interior)
Procurando pela vida que deixei para traz
(A vida que deixei para traz)
Essas memórias sufocantes
Estão gravadas em minha mente
E eu não posso escapar do inimigo interior

Eu me separo do mundo
Desligo-me completamente
Sozinho em meu próprio inferno
Triunfo com o medo irracional

Sob o peso do mundo em meu peito
Se eu cair e quebrar enquanto tento recuperar o fôlego
Diga-me que eu não estou morrendo

Estou fugindo do inimigo interior
(O inimigo interior)
Procurando pela vida que deixei para traz
(A vida que deixei para traz)
Essas memórias sufocantes
Estão gravadas em minha mente
E eu não posso escapar do inimigo interior

Eu sou um fardo, eu sou uma farsa
Eu sou um prisioneiro do pesar
Entre flashbacks e sonhos violentos
Estou pendurado na borda

O desastre a espreita ao virar da curva
O paraíso chega ao fim
E nenhuma pílula mágica
Pode trazê-lo de volta

Estou fugindo do inimigo interior
Procurando pela a vida que deixei para trás
Estas memórias sufocantes
São gravadas em minha mente
E eu não posso fugir do inimigo interior

3 comentários:

  1. Olá Julio, no meu caso saí da casa de meus familiares foi a melhor opção, sempre que tenho que ir vê mae eu não me sinto bem, fico deprimida. O lar onde eu morava ninguém acredita que sou portadora de Transtorno psiquiátrico, dentre meus parentes tinha um tio esquizofrênico. Não sei ao certo dizer, mas criei cadeias , embotamento, não sou muito sociável. Agora uma coisa minha, que não recomendo ninguém não estou usando mais antipsicóticos. Vai de cada um, eu vivo a dor na realidade. Não aceito mais ficar dopada. Como disse tem pessoas que se dao bem. Desculpa pelo relato e desabafo também, obrigado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá
      Não precisa pedir desculpas não, o blog é também para isso, para as pessoas desabafarem.

      Excluir
  2. Isso realmente pode acontecer, em certas cidades pequenas parece que existe um círculo, e somente pessoas conhecidas e de determinadas famílias podem entrar nele.
    Mas por que não mora com sua família?

    ResponderExcluir