segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Paranoias diárias do dia a dia-6 O exame de HIV

    Hoje fiz mais um exame de hiv. Como sempre os resultados deram negativo. Nunca peguei essas doenças venéreas brabas.
    Antes do resultado estava super tranquilo, afinal atualmente não estou arrumando nem confusão.         Foi apenas um exame de rotina, mas nem sempre foi assim.
    Por volta do ano de 2001 eu estava com a certeza plena e absoluta de que estava com aids, mais por causa dos boatos que circulavam na cidade onde eu morava do que por causa da minha vida sexual, afinal sempre me precavia e usava o preservativo. Hoje em dia os meus preservativos estão até com a validade vencida por falta de uso. Desconfio daqueles senhores de idade que vão no posto de saúde e enchem a mão de camisinhas. 
    Mas, voltando ao assunto, quando estava naquele boato de que tinha aids, tive a infelicidade de acreditar e dar crédito ao que os outros pensavam. Resultado: acabei acreditando que estava com aids, entrei em depressão e fiquei sem energia e motivação. Era um círculo vicioso, pois eu ficava pensando que estava com aids e entrava em depressão, e essa falta de energia da depressão me fazia acreditar que era por conta do HIV. 
    Não queria fazer o exame nessa época pois acreditava realmente estar com aids e estava somente esperando os primeiros sintomas aparecerem para dar um fim à minha existência nesse planeta. 
    Tive poucos relacionamentos sem preservativo em minha vida, e imaginei que tinha contraído o HiV na primeira relação e que então teria passado o vírus para outras pessoas. Isso me deu um tremendo sentimento de culpa exagerado, e, quando surtei até cheguei a pedir para um policial me prender, afirmando que era um réu confesso e que havia matado algumas pessoas. Sim, eu cheguei à esse ponto. 
    Depois de cinco meses morando nas ruas nesse surto acabei conseguindo me recuperar e voltar a trabalhar. Tinha feito o exame quando estava morando nas ruas e havia dado negativo. Estava esperando que desse negativo para que eu pudesse enfim a fazer  o tratamento tomando as medicações. 
    Mas o resultado deu negativo e foi uma felicidade tremenda, deveria ser algo parecido com a carta de alforria que um negro recebia durante o período de escravidão do Brasil.
    Voltei a trabalhar mas tudo voltou o surtei outras vezes. E aí a situação piorou, pois quando fazia os exames e via o resultado dando negativo não ficava aliviado e sim imaginando que os laboratórios também estavam no complô contra a minha pessoa, falsificando os resultados para que eu não pudesse tomar os medicamentos e tivesse uma morte mais dolorosa e rápida. 
    Esses pensamentos duraram até por volta do ano de 2006. Havia conseguido o auxílio doença e finalmente pude ficar um tempo sozinho, pois na época que surtei ainda tive que trabalhar por muito tempo sem condições. Talvez isso tenha prejudicado a o tratamento da minha esquizofrenia. Ficando sozinho não estou curado, mas assim evito maiores situações de stress e a agitação do dia a dia. 
    Então, depois de um ano morando no meu cantinho resolvo fazer o exame do HIV para tirar de uma vez por todas essa dúvida que estava me atormentando nos últimos quatro anos de minha vida.         E, como sempre, o resultado foi negativo, a diferença é que o pensamento de que os laboratórios de exames não estavam mais contra a minha pessoa. E aí foi uma comemoração dupla, pois o meu time havia sido campeão da copa do Brasil e tomei uma cidra e fui para a cidade onde o boato havia se espalhado e aí fui eu que espalhei cartazes nos postes com o xérox da impressão do exame. E o mais curioso é que encontrei na papelaria para fazer a impressão uma pessoa que vivia dizendo que eu estava com aids quando eu ficava um pouco magro. E aproveitei para dar uma folha com o resultado para ela. 
    Enfim, é mais ou menos isso que pode acontecer na mente de um paranoico quando está surtado.         Cada um reage de uma maneira diferente, e a minha reação foi apenas fugir e fugir. 
    E me considero um vitorioso, pois hoje em dia se não posso dizer que estou totalmente recuperado, pelo menos estou cuidando de minha vida e em paz comigo mesmo.
    Não me considero uma pessoa que venceu a esquizofrenia, pois a minha vida não está como antigamente, não estou trabalhando e sou um aposentado. Mas poderia ser bem pior e hoje em dia tenho muito mais a agradecer do que reclamar. 

5 comentários:

  1. Como você conseguiu parar de acreditar que os laboratórios estavam fazendo complô contra sua pessoa?

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    1. Como deu para notar no relato isso não aconteceu de uma hora para outra. Em 2002 eu tinha total e absoluta certeza de que tinha o vírus. E esse pensamento só veio a sumir de minha mente em 2006. Acredito que mudar de ambiente tenha sido o principal motivo disso. E também o fato de ter melhorado fisicamente, não ter tido mais diarreias, dengue, etc.
      Fiquei muito mal fisicamente quando estava acreditando que estava com aids.

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    2. Esqueci de dizer o principal: nessa nova cidade onde estive morando não tinha boatos de que eu estava com aids, mesmo quando emagrecia um pouco.
      Onde eu morava bastava dar um espirro para as pessoas ficarem comentando.

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  2. Gosto do seu blog!
    Mas eu não entendi o pq vc falou que desconfia dos senhores que vão nos postos e enchem a mão de camisinha, pode me explicar ?

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