sexta-feira, 29 de março de 2019

18° dia pedalanças- Segunda etapa-São Mateus-ES à Marataízes-ES


Linhares-Barra do Shaí
      Dormi muito bem no posto de gasolina. Silêncio total e não estava fazendo muito calor. 
     Arrumei a bagagem e segui para Barra do Shaí,. A estrada é muito boa, mas é reta pura, que deixa a pedalança um pouco monótona. O clima está bom, céu um pouco encoberto. 

     Depois do almoço, dou uma descansada e escrevo o diário da viagem em uma praia de Barra do Shaí. Muitas pessoas na cidade por causa do carnaval. Mas consegui achar um cantinho para poder escrever sossegadamente. 
    Depois tomo um bom banho de mar, o que renova minhas energias. O lugar é tão agradável que estava pensando em dormir por ali mesmo. Mas ainda é cedo para parar e então resolvo seguir a pedalança, mas sem previsão de parar, ou seja, até quando o corpo aguentar. Há muitos tribos indígenas na região, até pensei em ir conversar com os moradores das aldeias, mas fiquei um pouco receoso, apesar de ter fortes traços indígenas. 

        Passo por várias praias até chegar à cidade de Fundão, por volta das sete da noite. 
        Consigo encontrar um posto de gasolina e o pessoal me deixa montar a barraca. Não tem ducha para o motorista tomar banho, mas com um pouquinho de jeito consigo um balde cheio de água para tomar uma bom banho no fundo do posto onde os carros são lavados. 

quinta-feira, 28 de março de 2019

17° dia pedalanças-Segunda etapa- São Mateus-ES à Marataízes-ES

praia deserta em Barra Nova
   Barra Nova - Linhares
    A noite na praia deserta em Barra Nova foi bem interessante, mas, depois que consegui me ajeitar e me proteger do vento frio tive um enorme susto. Estava deitadinho na areia, com a manta e a coberta, quando, do nada, senti algo me dando duas picadas de leve. Na verdade nem sei se foi picada, ficou parecendo mais as patas de um caranguejo ou siri, sei lá o que deve ter sido. Não foi um ato agressivo, não chegou a doer, foi como um beliscãozinho de leve. 
     Levei um susto tremendo e me levantei na hora.  Pensei que fosse tudo, até criatura do outro mundo, ou algum ser da natureza, querendo me assustar. E,para piorar a situação, não consigo achar a minha lanterna. Esperei um tempo até me acalmar e deitar novamente. Não demorou meia hora e senti novamente o beliscãozinho. Não parecia ser caranguejo, pois a maioria relata sentir fortes dores na região atingida. E não era siri, pois as patinhas deles são bem pequenas. A sensação era de dedos me apertando. Mas sempre gostei do sobrenatural e não fiquei apavorado, só um pouquinho assustado mesmo. 
     De manhã decidi não seguir pela praia, teria que caminhar mais uns 20k até o vilarejo mais próximo para tomar um café da manhã. Entrei do meu lado direito em uma casa. Ninguém atendia e então pulei o quintal até a estrada de terra. Na saída da casa um problema, a porteira estava com cadeado.Tive que tirar as mochilas, jogá-las do outro lado e depois levantar a bike e cuidadosamente colocá-la do outro lado. Não tinha ninguém no vilarejo acordado aquela hora da manhã. 

    Mas na estrada de terra também não havia lanchonetes e nem barzinhos, somente algumas casas, todas com as portas e janelas fechadas.  O jeito foi caminhar mais uns 10km até finalmente encontrar algo para comer. Os donos dos estabelecimentos cobram caro, pois sabem que não existe outra alternativa: ou compra ou fica com fome. O pastel custa 5 reais e não é tão bom assim. O recheio tinha uma parte que estava gelada. Mas quando estamos com fome tudo fica mais gostoso. O importante era ter comido algo para repor as energias.  Encontrei no bar 3 ciclistas da região, que ficaram admirados com as histórias de minhas pedalanças. Até tiraram foto minha. 
     Depois do lanche sigo o caminho e finalmente consigo pegar a estrada asfaltada que me levaria até a cidade de Linhares. Vou descer até Marataízes nesta segunda etapa de minhas viagens de bike. Estava programado inicialmente viajar e depois voltar de ônibus com a bicicleta desmontada. Iria até o litoral de Guriri e voltaria. Mas gostei tanto de pedalar que vou fazer vários percursos até voltar também pedalando de bike para casa. Sinceramente não imaginava que iria aguentar tantos quilômetros, ainda mais no calor do nosso verão. E a bike também está surpreendendo, com poucos defeitos na parte mecânica. 
   
enfim, asfalto
     O caminho asfaltado para Linhares é entediante: pura reta, e sem nenhum restaurante pelo caminho, para dar uma parada, trocar um dedo de prosa ou beber um revigorante caldo de cana geladinho, uma das coisas mais gostosas de se fazer na viagem. Essas retas me cansam mais mentalmente do que fisicamente. Só de olhar o retão já fico cansado. O celim da bike está rasgado e incomodando muito. As pernas até indicam que dá para continuar a pedalar, mas as "ardências analógicas" devido ao celim rasgado me pedem para dar um bom descanso. 
        Chego em Linhares por volta das duas da tarde. Quando estou na avenida que entra na cidade, uma viatura aciona as sirenes. Não sei se é paranoia minha, mas parece que alguns policiais têm o costume de fazer isso para intimidar algum viajante que esteja chegando na cidade. 
      Pego um rango e depois vou para a lan house. Passo um bom tempo acessando a internet e  organizando os vídeos da viagem.  

      Depois mais uma luta nesta viagem: encontrar algum lugar para tomar banho. Chego por volta das seis e meia da tarde no ginásio coberto da cidade, mas para meu azar o vigia não estava lá. Linhares é uma cidade grande e andei 6km até chegar o ginásio. 
     Na BR que corta a cidade tem vários postos de gasolina, mas nenhum que seja aqueles de apoio ao caminhoneiro, que dá para tomar banho e montar a barraca para dormir.
    Me indicaram um posto distante 10km de Linhares. Já devia ser umas sete e meia da noite e a BR é um pouco escura. Para falar a verdade era quase que totalmente escura na ausência de veículos com seus faróis a iluminar o caminho. A bike não tem nenhuma sinalização para andar de noite. Mas, como estava muito suado e sujo o jeito foi arriscar a BR, me guiando pela faixa amarela que dava para ver não muito bem. Mas era uma referência. 
    No início tive um pouco de medo. Confesso que esse tipo de adrenalina me excita um pouco. Sorte minha é que a estrada é muito boa e tem um bom acostamento. Quando não tinha carro ou caminhão passando, andava bem devagarinho para não levar um tombo grande se por acaso passasse em um buraco ou algo como um galho de árvore.
     Consegui chegar no posto de gasolina por volta de oito e meia da noite. Sempre tem gente boa nesses postos e um deles me indicou um lugar tranquilo para montar a minha barraca. Tomei um bom banho frio e fiz um lanche na lanchonete, e, como sempre, tudo muito caro. 
    Depois fui dormir, o dia foi bem cansativo. 

quarta-feira, 27 de março de 2019

16° dia pedalanças-Segunda etapa- São Mateus-ES à Marataízes-ES


São Mateus-Guriri-Barra Seca
      Fiquei mais dois dias em São Mateus, apenas esperando o tempo passar para sacar o meu pagamento. Não gosto muito de cair na estrada sem algum dinheiro para comer. 
 Mas, após mais uma noite quentíssima naquele lugar, decido sair da cidade, à procura de uma refrescância e, claro, de praias. Estava quente até debaixo das sombras das árvores, um calor muito estranho, que não havia sentido até então. Fico numa moleza danada após o almoço.E também não viajei 780km para voltar para casa sem curtir um marzão. 
    Como sempre em São Mateus acordo por volta das cinco e meia da manhã, quando o sol começa a clarear por aqui. Por volta das seis horas um cara parecido com um morador de rua que tinha visto no centro da cidade sentou-se bem perto da minha barraca, enquanto estava arrumando minhas coisas depois de ter acordado. O cara não tirava o olho de minha mochila menor, onde geralmente guardo a grana que gasto na viagem. 
    Quando vou para o banheiro encontro mais três moradores de rua. Claro que estranhei, pois tal fato não havia acontecido nesses dias em que estou dormindo no posto de gasolina. 
    Para completar, quando vou deixar a roupa que havia lavado secar na grama em frente ao posto, um outro morador de rua, ficou me observando, como se estivesse esperando um momento em que eu me afaste da mochila para assim dar o bote e pegar meus pertences. Parece que os moradores de rua da cidade estão de olho na minha mochila menor, pois sempre mexo nela para pagar o que estou consumindo nesse tempo em que estou em São Mateus. 
    Quando estava andando de bike pelo centro da cidade já havia notado esse comportamento dos moradores de rua. Eles ficavam também me encarando, como se eu fosse uma presa fácil. É incrível como existe gente ruim neste mundo. Ganho pouco, só consigo ir para a praia se viajar de bike e ainda tem gente querendo subtrair o pouco que tenho. Claro que não estou querendo afirmar que os larápios devam roubar somente dos ricos. Roubo é roubo, nunca deveria ser praticado, mas que o ato ganha uma dramaticidade maior quando a vítima é pobre, isso ganha. 
    O jeito era sair de São Mateus. Alguns até gostavam de mim, conversavam comigo e faziam perguntas sobre as minhas viagens. Já outros eram indiferentes. Mas um bom número de pessoas não digeriam muito bem a situação, me chamando de vagabundo e dizendo que eu deveria trabalhar. Obviamente não dei importância à esses comentários, sou feliz e estou em paz comigo mesmo. Não preciso de me preocupar com a opinião alheia, falar até cachorro fala, tem até alguns vídeos no youtube de cachorro falando. 
     Então almocei por volta das onze horas no mercado central. As telhas de alumínio tornavam o ambiente mais quente ainda, beirando o insuportável. 
    Pedalei até uma árvore para descansar um pouco, e esperar a temperatura abaixar. Mas não adiantou muito, o calor só aumentava, até mesmo debaixo de uma sombra estava difícil de ficar. 
    Molho a cabeça e a camisa e reúno forças para recomeçar as minhas pedalanças. Não poderia ficar naquele lugar por mais tempo. Os dias passavam e o calor só aumentava.
    Apesar do forte calor consigo pedalar bem até Guriri, que fica distante cerca de 20km de São Mateus. A maior parte do percurso é plana, não desgastando muito a musculatura. 
a água do mar em Guriri estava morna, por causa do forte calor, estava uma delícia. 
    Tomo um bom banho de mar, coisa que não fazia desde 2014, quando fazia minhas andanças pelo litoral de São Paulo.
    Havia muitos trios elétricos estacionados na avenida da orla, o carnaval de Guriri é bem conhecido pelos mineiros. Quero fugir da muvuca dessa festa e então parto para o vilarejo de Barra Seca, distante cerca de 75km de Guriri. 
será que o motorista do trio sofre quando a banda toca?
    A estrada é um pouco ruim, com muitas costeletas e areia, o que faz a bike derrapar com frequência, já que o pneu traseiro é liso. A bicicleta na verdade não é específica para esse tipo de terreno. Mas o visual do caminho me deixa mais animado. 

claro que nem entrei nesse restaurante....

muita areia pelo caminho
    Depois de Barra Seca tem o simpático vilarejo de Barra Nova, onde tenho que fazer a travessia de barco pelo rio de mesmo nome. É um lugar bastante tranquilo, com casas simples e algumas pousadas. Silêncio e sossego imperam naquele lindo lugar. 
    O barco é pequeno e balança bastante, e eu, que não sei nadar, fico com um pouco de medo. Mas a vista é muito bonita e vale a pena. O rio também não é muito fundo. 
travessia de barco pelo rio Barra Nova
    Estou mais animado agora, desde Guriri uma forte brisa tem me acompanhado pela viagem. O clima fica um pouco menos quente. Essa brisa me deixou tão animado que resolvo seguir o caminho pela beira da praia mesmo depois do pôr do sol. Barra Nova é um local bastante agradável, ideal para quem busca paz e tranquilidade. 
     Por volta das sete horas, escuridão total na praia. Como a maré está baixa, dá para andar de bike sem atolar uma boa parte do percurso. A brisa começa a dar lugar a um forte vento frio. 
    Estava achando sensacional a ideia de dormir na praia, olhando para as estrelas no céu. Estava precisando ficar sozinho comigo mesmo por um bom tempo. Moro de aluguel em quartos, e nem sempre temos um bom ambiente. 
    Quando a bike começa a atolar na areia, começa a empurrá-la e vejo muitos siris e caranguejos. Alguns saem correndo quando me vêem, mas outros inexplicavelmente ficam parados, correndo o risco de serem pisoteados ou atropelados pela bike. E muitos outros estavam fazendo amor na areia. Então, com o risco iminente de fazer uma matança de siris e caranguejos, resolvo montar a barraca naquela escuridão. O céu não está limpo, a lua não está aparecendo, mas tenho a sensação de que não irá chover esta noite. 
    Deito na areia para descansar, e fico curtindo aquele momento, escutando o barulho das ondas do mar, me refrescando com a brisa do mar e olhando para o céu. Seria o homem mais feliz do mundo se todos os pedidos fossem realizados, a cada vez que vi uma estrela cadente. 
é bom curtir uma praia à noite

     Nenhum sinal de vida humana por perto. No mar, apenas a luz de um navio que está parado.  
     O vento começa a ficar muito forte e frio, e fica impossível montar a barraca. Por sorte não havia tomado banho de mar em Barra Nova. O jeito foi pegar a minha blusa de frio, colocar o lençol na areia e usar a manta para me cobrir. 
    Mas o vento é tão forte que preciso usar o lençol para impedir que chegue até o meu corpo. A manta tem buraquinhos e o vento estava me fazendo sentir muito frio. 

terça-feira, 26 de março de 2019

13° pedalanças- Cozinhando o galo em São Mateus


 
    Esses dias parados em São Mateus estão sendo muito mais do que monótonos. Nada para se fazer além de ter que esperar o tempo passar para poder sacar o meu pagamento. Até que fiquei bem conhecido na cidade, por causa da extravante bike e suas mochilas. É um visual que desperta a curiosidade nas pessoas, que sempre perguntam de onde vim e para onde vão. Alguns ficam admirados e começam a conversar comigo. Uma minoria me olha com ar de reprovação, como se estivessem dizendo para eu ir trabalhar ao invés de viajar de bicicleta. 
     Ontem a grana havia acabado. De noite comi os biscoitos de maizena com bastante água até ficar empazinado. A noite foi tranquila no posto, só o calor infernal que atrapalhou um pouco o meu sono. O estranho é que de dia bate um agradável vento no lugar onde monto a barraca no posto de gasolina, dando a impressão que tem um ventilador gigante ligado. Mas de noite não sei por que, parece que alguém tira esse tal ventilador da tomada.... 
    De manhã fui na casa paroquial e a recepcionista gentilmente me deu um sabonete e um sabão para lavar roupas. Nesse calor infernal da cidade estou suando à toa e preciso lavar as roupas com maior frequência. Por falar em calor, ele só aumenta na região, nada de uma chuvinha para dar uma refrescância nesse verão
    Estava pensando em ir para Itaúna curtir uma praia, mas como é mais para o nordeste tenho receio de que o calor aumente ainda mais. Então amanhã irei para Linhares, à procura de temperaturas mais amenas. Não sei se já relatei, mas o calor de 37°C de São Mateus é muito mais forte do que os 45°C de Mantena. Talvez seja a tal da sensação térmica. 
    Irei para Linhares não pela Br e sim pela estrada de terra, que parece ter um lindo visual, passando pelas comunidades de Barra Seca e Barra Nova. 
   Já estava me preparando psicologicamente para começar a pedir ajuda para o meu almoço. Mas,  por volta das onze horas, meio sem esperanças,  consulto o meu saldo, e, para minha alegria algum leitor do blog ou da página contribuiu com 50 reais!
    Que alívio, até que com algum esforço consigo pedir alguma ajuda na viagem quando preciso, mas em São Mateus sinto que boa parte dos moradores da cidade não são muito receptivos aos turistas de baixa renda. Mas o saldo positivo da minha conta me deu a sensação de ter tirado uns cem quilos das minhas costas... 
    Dessa vez foi por pouco, vou tentar economizar mais para sobrar grana para uma eventual manutenção na bike. 

segunda-feira, 25 de março de 2019

Pedalanças 12° dia-Cozinhando o galo em São Mateus

este casal de ciclistas estava no Rio de Janeiro e com destino à São Luiz-MA

    Ontem dormi no posto onde consegui lavar as roupas na parte da manhã. Encontrei um casal que também está viajando de bike. Eles estavam no Rio de Janeiro e indo para São Luiz, no Maranhão. Já estiveram no Chile. Isso  me fez sentir uma pessoa mais normal Já viajaram para vários estados.
    A madrugada foi tensa, não dormi nada. Dois cachaceiros não paravam de falar até as três da madrugada.
Acordei meio detonado e aproveitei para trocar um raio da bike que havia quebrado. A bike está surpreendente andando bem nesta viagem, só tem tido este misterioso problema que faz algumr raio da roda traseira quebrar com certa frequência. A grana está acabando e tentei pedir um rango no restaurante do posto de gasolina, mas em vão. O jeito foi comprar um marmitex. Amanhã a grana vai acabar.
     Compro um pacote de biscoito de maisena na volta que fiz pela cidade. Esse biscoito se comermos muito tira a fome. E enchi a barrida de água. Nada em vista para se fazer e tentar ganhar um dinheiro. Algo para carregar ou descarregar. Volto mais cedo para o posto pois é um local bem seguro para se dormir. Armar a barraca na beira de BR nem pensar.
     Às vezes dá saudade do conforto do quartinho, poder tomar banho duas vezes por dia. Mas aquela monotonia em que estava vivendo estava me matando. Ter todos os dias quase que exatamente iguais aos outros não é uma boa pedida para mim.
   O calor em São Mateus está me deixando muito desanimado. Estava pensando em ir em direção ao litoral sul da Bahia, mas acho que vou descer o litoral do Espírito Santo para buscar temperaturas mais amenas.  A minha intenção inicial era voltar de ônibus depois de curtir o litoral capixaba, mas gostei tanto de pedalar por aí que retornarei de bike, por um outro caminho que vocês irão saber na medida do possível, pois as lan houses estão ficando cada vez mais escassas.

sexta-feira, 22 de março de 2019

11° dia pedalanças-Sobrevivendo em São Mateus

     Dia complicado em São Mateus
igreja me nega a me dar um pouco de água... 
 Se o penúltimo dia da viagem foi maravilhoso, com direito à cafezinho com bolo de manhã e sorvete na hora do almoço, a noite ontem foi complicada em São Mateus. O vigia do ginásio não autorizou-me a tomar banho. Quando fui tomar um lanche na padaria uma senhora ficou olhando com ar de reprovação a minha bike encostada no passeio. Mas claro que nem liguei e comi o meu pedaço de bolo de laranja que estava uma delícia. Essa senhora aparentava ter boa condição financeira, mas também parecia se sentir infeliz, pelo menos era o que a sua fisionomia demonstrava... Eu, com a minha bike usada e cansado de tanto viajar parecia estar mais feliz e bem disposto. 
   Mas o pior de tudo estava por vir.   O mais incrível é que me negaram água. Isso mesmo. E, por mais incrível que pareça, foi na igreja batista da cidade. Claro que não tenho nada contra os evangélicos, mas estou apenas citando os acontecimentos da viagem, que, em sua maioria, foram muito bons. A alegação da pessoa que estava na porta da igreja é que a água era somente para os membros. Oras, se eu estiver na estrada e uma pessoa me pedir água, não hesitarei em dividir a minha garrafinha. Que belo exemplo cristão que essa igreja deu... Depois veio a pastora insistindo para que eu pegasse a água, tentando desfazer a falta de educação do porteiro.
     Demorei um pouco para assimilar o acontecido, e a entender também. 
    Dormi ao lado do velório municipal. Não montei a barraca, por causa do calor e também com um certo receio do pessoal da cidade não gostar e chamar a polícia. Pela primeira vez na viagem tive a sensação de que os moradores de uma cidade pudessem ter esse tipo de comportamento comigo. 
    De manhã, ao acordar, levei um susto! A minha mochila menor havia sido mexida. Por sorte o dinheiro, os documentos e as coisas mais importantes estavam bem guardadas na mochila maior. Provavelmente foi um morador de rua que passou perto de onde eu dormi por várias vezes. Acho que quando ele sentiu que eu havia pegado no sono ele tentou pegar a mochila, que estava amarrada no quadro da bicicleta.
     Almocei em um restaurante perto do mercado, bem no centro da cidade. 
     De tarde fui para um posto de gasolina, situado na BR 101,  para tomar um bom banho e lavar minhas roupas. Tive que pagar 5 reais pela ducha. E fiquei um bom tempo lavando minhas roupas, por sorte não apareceu nenhum funcionário do posto para atrapalhar. 
    Depois do banho fico sabendo que, por causa do feriado de carnaval o pagamento será apenas no dia 8 de março. A grana está acabando e tenho que me virar nesta cidade que é um pouco hostil para com os turistas de baixa renda. Até que penso em fazer algum bico, mas acho difícil conseguir algo para se fazer em um lugar onde até a água foi negada. Tenho que encontrar algum lugar mais seguro também para montar minha barraca. Dormir no centro é muito perigoso, muitos moradores de rua, que ficaram me encarando quando me viram na parte da manhã. 
    Acho que até ouvi um dos deles dizer:
    - Essa noite a gente toma dele....
    Não sei se foi uma alucinação auditiva ou não, mas não irei dormir no centro para saber. 

terça-feira, 19 de março de 2019

10º dia- Pedalanças-Belo Horizonte-MG-São Mateus-ES

Nova Venécia - São Mateus

    Passei boa parte da noite anterior assistindo jogo no ginásio coberto da cidade. Este tem sido o meu programa noturno nas cidades em que monto a minha barraca. Afinal, tenho que descansar para a pedalança do dia seguinte. E é o meu jeito mesmo, de ficar mais no meu canto, não sou muito de sair por aí nas cidades. Confesso que a mania de perseguição quando estou dentro das cidades aumenta consideravelmente. 
    Após o banho, com alguma dificuldade consigo achar um posto de gasolina que me deixe passar a noite. Posto de gasolina em Br sempre deixa a gente dormir, já posto que fica dentro da cidade nem sempre ajuda nesta questão. 
    Acordo por volta das cinco e meia da manhã, o sol que tem feito nesse horário na região é como se fosse o sol das nove da manhã em Belo Horizonte. Não dormi muito bem, acho que foi por que a bicicleta ficou amarrada em uma árvore e não presa com um cadeado como sempre faço. Não encontrei uma barra de ferro ou grade para prendê-la. 
    Mas depois do café crio um ânimo extra e consigo pedalar em um bom ritmo. Por sorte essa reta final é feita em boa parte em terreno plano, segundo informações de alguns ciclistas que encontro pelo caminho. 
    Como é domingo, encontro várias pessoas pedalando em suas bikes, a maioria novas e com aro 29. 
    Serão 76km até a cidade de São Mateus e procuro andar o mais rápido possível, pois o calor já está forte na manhã, o que é uma quase certeza de que na parte da tarde o sol estará de rachar a cuca. 

    Paro em uma casinha simples para beber água, e a dona me oferece um saboroso cafezinho e um bolo que estava uma delícia. E, claro, que trocamos um dedo de prosa. As pessoas mais simples sempre são mais atenciosas e prestativas nesse tipo de viagem. Esse contato com os moradores das cidades é uma enorme injeção de ânimo para prosseguir o caminho. 
as pessoas mais humildes são mais atenciosas com os viajantes

     Apesar do calor, consigo manter o bom ritmo das últimas caminhadas. Consigo pedalar 43 km em três horas e meia. Por volta das onze horas paro em uma pequena cidade para descansar e aproveitar para almoçar. Não quero repetir o erro do dia anterior de ter pedalado sem me informar sobre o trajeto e ir almoçar depois das duas horas da tarde. 
    Descanso em um posto de gasolina e almoço por volta do meio dia. O sol está de rachar e o jeito é esperar mais um pouquinho para cair na estrada novamente. Hoje está sendo meu dia de sorte, depois do delicioso bolo com cafezinho na parte da manhã, o funcionário da sorveteria ao me ver descansando me traz um delicioso sorvete de pêssego. Era um sorvete caseiro, com leite mesmo, muito melhor e mais gostoso do que o da kibon. 
retas muito longas entediam um pouco... 
    Não sei se foi o gosto ou o efeito do açúcar no sangue, mas fico mais animado e decido partir para as pedalanças. São duas horas da tarde e o sol deu uma pequena amenizada na quentura. 
     Encho minhas garrafinhas de água e tenho que tomá-las em menos de vinte minutos, pois depois disso acabam ficando quentes demais para o consumo. Por sorte esse trecho do caminho tem muitas casas para abastecer de água as garrafinhas. 
    Vou seguindo sem pressa, já não tenho aquela disposição para pedalar como nos primeiros dias. Os moradores da região estão dizendo que a temperatura está na faixa dos 37ºC, mas a sensação térmica é de quase 50°C, pois estou sentindo bem mais calor nessa região do que quando estava sob o s 45°C da cidade de Mantena. 
    Por volta das cinco da tarde, mantendo o ritmo, consigo finalmente chegar em São Mateus. Não fico eufórico por ter conseguido chegar ao destino final. Aprendi nas minhas andanças que o grande barato do caminho é o próprio caminho, e não o final. 
    Mas fico feliz por ter conseguido completar com sucesso mais este desafio. Foram dez dias, 780km sem acidentes e sem problemas mais sérios. Fico feliz por estar com saúde física e mental(mais ou menos né?). No ano de 2001 tive uma experiência de quase morte,devido aos surtos psicóticos que tive. Hoje em dia, qualquer trajeto que faça de bicicleta é motivo de comemorar.
Fico feliz  mais ainda por estar em paz comigo mesmo e por estar com a consciência tranquila. Seria ótimo se tivesse grana para viajar de ônibus, pagar um hotel, mas ter saúde e disposição para enfrentar uma viagem como essas não tem preço. 
chegada em São Mateus

sábado, 16 de março de 2019

9° dia pedalanças-Belo Horizonte-MG à São Mateus-ES

Mantena MG-Nova Venécia-ES


     Consigo acordar bem cedo e às sete horas, como de costume estou nas pedalanças rumo à cidade de Vila do Pavão. 
    O caminho tem poucas serras, estou 2kg mais magro e pedalanado em um bom ritmo para minha idade, e para a bike que estou usando. Acho que estou caminhando 10km em 50 minutos. 
     Por causa dessa confiança deixo um pouco de lado a preocupação com o almoço e deixei também de encher as garrafinhas de água, apesar do forte calor que está fazendo na região. Acho que no asfalto a sensação térmica deve chegar na casa dos 48°C.
    Por volta de uma hora da tarde começo a ficar exausto, sem forças para pedalar. Deveria ter almoçado por volta do meio dia, quando havia visto um restaurante pelo caminho. Vou indo em frente e nada de conseguir lugar para almoçar, apenas pequenos distritos. Estava quase no limite, e também com muita sede. As casas também estavam ficando cada vez mais raras.

    Com muito esforço consigo chegar em Vila do Pavão, por volta das duas horas da tarde. Entro exausto no restaurante, como aqueles maratonistas no fim de uma longa prova.
      A comida do restaurante estava ótima, um pouco acima do meu orçamento diário, mas não tinha condições de tentar procurar outro lugar. Além de cansado, estava com muita fome. O prato pesou cerca de 800kg.... 
    Na saída como sempre converso com as funcionárias do estabelecimento, que pensavam que eu estava viajando por motivos religiosos. Procuro uma sombra para descansar e tentar recuperar minhas energias. Apesar de não me sentir 100% fisicamente, decido caminhar mais uns 30km, até Nova Venécia, apesar do sol estar rachando.

    Teimosia minha, o caminho tem algumas serras e retas entediantes, que cansam a gente só de olhar. Chego bem detonado em Nova Venécia.  Hoje pedalei cerca de 100km, coisa que não pretendo fazer novamente nesta viagem com esta forte calor. 
    Procuro o ginásio coberto da cidade e combino o esquema do banho com o vigia. Ele liberou o banho, mas só depois que o ginásio fechasse suas portas, por volta das nove horas da noite.
 Sento na grama da praça para escrever o diário do blog. Em poucos segundos sinto um monte de formigas picando a minha poupança sem piedade.. A praça está lotada de pessoas andando de bike, patins, e outras apenas sentadas no banco conversando. Com a maior discrição começo a coçar a bunda e tentar espantar as formigas sem chamar muito a atenção, fazendo o maior esforço para manter a aparência de que não está acontecendo nada de anormal.


sexta-feira, 15 de março de 2019

Manutenção da bike

 Pessoal, está indo tudo muito bem nas pedalanças. Estou dando uma economizada, mas tem lugares que são muito caros, principalmente na praia. 
O pneu da frente já está careca, o de trás em breve terei que substituir pois irei andar em estradas de terra. 
E o celim acabou rasgando e o gel e o silicone vazaram e está difícil de andar com o celim desse jeito. 
Quem puder ajudar a conta é:
Julio Cesar dos Santos de Oliveira
Agência 2332 Ipatinga MG
Caixa Econômica Federal
Operação 023
Conta 00016678-2


8° dia pedalanças-Belo Horizonte-MG à São Mateus-MG


Central de Minas-Mantena
igreja de uma cidade próxima à Mantena
     Em Central de Minas também não encontro lan house, o que está sendo o grande perrengue desta viagem. A grana está acabando por causa das despesas extras com a manutenção da bike, que agora está andando muito bem, superando minhas expectativas. E eu até que estou indo bem também. 
    Peguei algumas caixas de papelão para dormir no ginásio coberto da cidade ontem. O vigia foi super gente boa comigo e arrumou um bom lugar para montar a barraca. 
    Fico boa parte da noite assistindo os jogos na quadra. Alguns caras que estavam jogando começaram a dar umas indiretas para mim, falando sobre trabalho, que levo vida boa, etc...
    Um senhor foi até mais direto e grosso, falando que sou um vagabundo, de forma indireta, é, claro. Não sei o que causa tanta indignação, afinal me aposentei por um justo motivo, se estou vivo até hoje é por sorte ou por força maior. 
      Mas é claro que não ligo para essas provocações, se eles querem ofender quem está em paz, o problema está  com eles e não comigo. E então contínuo no meu cantinho, de boa, até o sono aparecer e deitar na minha humilde residência. 
    Custei a pegar no sono, por causa do forte calor. Mas foi uma noite tranquila e sem perrengues. De manhã o tradicional pãozinho com manteiga com cafezinho, e troco um dedo de prosa com os funcionários da padaria.
     Estou acordando com muito bom humor nesses dias, e é sempre bom começar o dia rindo. Andar o dia inteiro de bike parece que está diminuindo a ansiedade e o stress que vinha acumulando nos últimos dias em Belo Horizonte. É  o tédio... 
    O sol das sete horas da manhã nesta região parece o sol das nove horas da capital mineira. Talvez por isso tenho conseguido acordar tão cedo nesta viagem. 

estrada boa para Mantena

     O caminho para Mantena é agradável, apesar do calor. Estrada boa, não tem acostamento mas também não tem carretas. E sem subidas muito fortes. 
     Às 11:40 chego em Mantena, e finalmente consigo achar uma lan house para atualizar minhas pedalanças. Depois pego um rango e passo boa parte da tarde na pracinha, debaixo de uma árvore chupando picolé por causa do calor, que era de 44°C. 

    Na cidade, vários carros de propaganda estão rodando propaganda anunciando a estreia do circo do "Bananinha", um cara que trabalhou no SBT no programa A praça é nossa. 
    Mantena é uma cidade plana, e por causa disso a bicicleta é um meio de transporte bastante utilizado. Por volta das cinco da tarde começo a preparar o esquema para dormir. Combino com o vigia do ginásio o banho e com o dono do posto de gasolina o local para montar a barraca. Estas pedalanças estão conseguindo me tornar uma pessoa um pouco mais comunicativa. Acho que no dia a dia não falo nem 25% do que estou falando nesta viagem. 
    Fico até às dez da noite vendo a galera bater uma bola no ginásio e acabo conhecendo muitos caras legais. Me chamam até para jogar, mas não aceitei o convite, pois estou um pouco descadeirado, afinal são oito dias andando de bike... 
    
Mantena

quarta-feira, 13 de março de 2019

7° dia pedalanças-Belo Horizonte-MG à São Mateus-ES

São Vítor-Divino das Laranjeiras-Central de Minas

    São Vítor é um distrito muito pequeno, não tem um supermercado grande, o pouco de papelão que encontrei para forrar o piso da barraca estava molhado. Sem papelão tenho que usar apenas o colchonete e a manta, o que fica um pouco duro para tirar uma boa soneca. Dormi em frente a um restaurante na beira da estrada, deu para prender a bike na porta de ferro do estabelecimento. Mas dormi bem mal, por causa do barulho das carretas que passavam na BR. Mas não tive maiores problemas e ninguém mexeu comigo esta noite. 
     Estava bem cansado na parte da manhã, fiz alguns alongamentos para me preparar para chegar à cidade de Mantena, distante 108km. Já havia andado em um dia 100km nesta viagem, Também estava querendo muito encontrar alguma lan house pelo caminho, a fim de atualizar o diário  aqui no blog. 
    De manhã, como sempre é aquele clima ameno, aquele frescor  que nos anima e já estou pedalando em um bom ritmo. Fico de bom humor e até resolvo cantarolar, já que não tem ninguém por perto para ouvir tamanha desafinação. 
     Chego em Divino das Laranjeiras às nove e meia, a bike com pneu liso na traseira parece andar bem mais do que com pneu para mountain bike. A única lan house que encontrei na cidade estava fechada. Já estava partindo para Central de Minas quando um cara me parou na rua e começou a conversar comigo. Ele me disse que perto de onde estávamos havia uma cachoeira boa demais. O sol estava de rachar e não tive dúvidas para me refrescar, afinal pressa é algo que não tenho nesta viagem. 
    E, além de tudo estava muito cansado e estressado. Há muito tempo não curtia uma cachoeira ou uma praia. O local é bem próximo ao centro, mas não é sinalizado, e tive alguma dificuldade de encontrá-lo, pois tive que atravessar um matagal. Não é bem uma cachoeira, é uma mini cachoeira, mas o local é bem agradável. O calor está tão forte que a água está morna, o que foi uma delícia. 
    Fiquei um bom tempo naquele lugar, deixando de lado a ideia de andar 100km para chegar em Mantena naquele mesmo dia. ]
lugar bacana para se refrescar em Divino das Laranjeiras

     Depois do almoço, uma surpresa que me deixou um pouco estarrecido. O termômetro da pracinha da igreja estava marcando 45°C!!! Era o local mais quente que estive em minha vida. Na verdade não era o mais quente, e sim o com maior temperatura. Já estive em locais com a sensação de quentura bem maior.

        Fiquei um bom tempo sentado na praça, tomando picolé e tomando coragem de pegar estrada em uma temperatura tão alta assim. Mas não adiantava, o tempo passava e a temperatura continuava na faixa dos 45°C. 
    O jeito foi pegar a bike e pedalar, Para piorar, tive que pegar duas serras bem complicadas pelo caminho. A água das garrafinhas esquentava rapidamente, por sorte havia várias casas próximas umas das outras pelo caminho e muitas vezes tive que trocar a água por uma mais gelada. 
    Apesar do calor, consigo imprimir um bom ritmo e às cinco e meia chego em Central de Minas. Uma cidade simpática, que tem até WIFI na pracinha central.
    Esse trecho do caminho tem várias pequenas cidades bem próximas umas das outras. Hoje pedalei cerca de 60km. A minha média deve estar sendo de 70km, o que não é nada mau para um cara de 50 anos em uma bike não tão boa assim 

Central de Minas
    A cidade tem WIFI mas o meu celular estragou na viagem. Tento em vão encontrar uma lanhouse.
É a minha primeira cicloviagem, está servindo como experiência para as futuras pedalanças. Tenho que melhorar o acondicionamento das minhas roupas e todos os objetos que carrego na bike.
Sem celular,  o jeito foi tomar um lanche e procurar algum lugar para dormir.
    Depois de uma breve volta encontro o plano B, que é ginásio coberto. O vigia é gente boa e até me deixa tomar banho em uma ducha que fica no campo de futebol gramado. Espero escurecer um pouco para tomar um bom banho mais à vontade.

segunda-feira, 11 de março de 2019

6° dia pedalanças-Belo Horizonte-MG à São Mateus-ES

Gonzaga-Governador Valadares-São Vitor

    A noite naquele lugar maravilhoso em Gonzaga foi excelente. Dormi muito bem ao som relaxante da cachoeira.
    Acordo super bem, tomo meu café da manhã  e pego a estrada. O calor já estava forte logo cedo e de repente uma surpresa nada agradável: o pneu da bike fura pela primeira vez nesta viagem.
    O lugar não era muito legal para um pneu ser furado. Não havia acostamento e com muito mato em volta. Por sorte não havia muito trânsito naquela estrada. Pego minhas ferramentas dentro da mochila, o que me dá um trabalho danado. Aliás, está sendo mais complicado pegar as ferramentas do que propriamente trocar a câmera da bike. Na próxima viagem tenho que bolar algo para deixar as ferramentas em um local mais acessível. Deu uma canseira, mas consegui trocar a câmera e voltar para a estrada. Mas, para o meu desespero,  em menos de dez minutos o pneu não fura, desta vez ele estourou, para o meu desespero. 
     Estava usando fita antifuro no pneu, e fiquei encucado como poderia furar duas vezes em um período tão curto de tempo. O jeito foi colocar a segunda e última câmera reserva. Já estava enchendo novamente o pneu e novamente um estouro! Desta vez deu para ver onde estava o furo. Na verdade não era um furo, o pneu estava rasgado na lateral. Foi aí que percebi que o freio estava mal posicionado e estava encostando no pneu traseiro quando freava. 
pneu detonado e as câmeras também. 

    O jeito era pegar uma carona, o que era algo um pouco difícil para mim .Não sou uma pessoa comunicativa e é muito ruim ficar levando negativa dos motoristas.Mas em menos de vinte minutos um caminhoneiro parou e me ofereceu uma carona até a cidade de Governador Valadares, no leste de Minas Gerais. 
    A carreta do cara, que era do Espírito Santo, tinha ar condicionado e era bem moderna. Ele passava as marchas apertando alguns botões do painel. 
    Por volta do meio dia chegamos em Valadares. Muito calor, nada daquele frescor do interior de Minas Gerais. Consigo empurrar a bike até uma oficina próxima e o cara me atendeu super bem. Me vendeu um pneu e duas câmeras por um preço bem bacana .E de quebra me deu um par de freios e cabos. Ficamos um bom tempo conversando. Aquela solidariedade me deu forças para continuar em um dia que não havia começado bem. 
arrumando a bike 

    Sigo viagem e agora tudo mudou: muitas carretas e muito calor. Vou para o distrito de São Vítor, distante 35km de Valadares. As carretas passam bem perto de mim, a estrada não tem acostamento. O jeito é tomar muito cuidado para não levar sustos e ser pego por uma carreta dessas. 
    O calor está quase insuportável, é comum essas temperaturas no leste de Minas Gerais. Já trabalhei em Ipatinga por vários anos. E quando me aposentei morei oito anos nesta cidade. 
     Já estava chegando em São Vítor quando o céu escureceu e caiu uma tempestade que derrubou várias árvores e placas. Por sorte havia encontrado um posto de gasolina antes dela ter me pegado. 
        A chuva deve ter durado cerca de uma hora e meia. Muito forte, não iria conseguir enxergar nada pelo caminho, sem contar o perigo dos raios constantes. Mas foi uma tempestade de verão e o céu novamente ficou limpinho. Depois segui o caminho até São Vítor, sentindo aquele cheirinho de mato molhado... 
muito chão pela frente...