sexta-feira, 22 de março de 2019

11° dia pedalanças-Sobrevivendo em São Mateus

     Dia complicado em São Mateus
igreja me nega a me dar um pouco de água... 
 Se o penúltimo dia da viagem foi maravilhoso, com direito à cafezinho com bolo de manhã e sorvete na hora do almoço, a noite ontem foi complicada em São Mateus. O vigia do ginásio não autorizou-me a tomar banho. Quando fui tomar um lanche na padaria uma senhora ficou olhando com ar de reprovação a minha bike encostada no passeio. Mas claro que nem liguei e comi o meu pedaço de bolo de laranja que estava uma delícia. Essa senhora aparentava ter boa condição financeira, mas também parecia se sentir infeliz, pelo menos era o que a sua fisionomia demonstrava... Eu, com a minha bike usada e cansado de tanto viajar parecia estar mais feliz e bem disposto. 
   Mas o pior de tudo estava por vir.   O mais incrível é que me negaram água. Isso mesmo. E, por mais incrível que pareça, foi na igreja batista da cidade. Claro que não tenho nada contra os evangélicos, mas estou apenas citando os acontecimentos da viagem, que, em sua maioria, foram muito bons. A alegação da pessoa que estava na porta da igreja é que a água era somente para os membros. Oras, se eu estiver na estrada e uma pessoa me pedir água, não hesitarei em dividir a minha garrafinha. Que belo exemplo cristão que essa igreja deu... Depois veio a pastora insistindo para que eu pegasse a água, tentando desfazer a falta de educação do porteiro.
     Demorei um pouco para assimilar o acontecido, e a entender também. 
    Dormi ao lado do velório municipal. Não montei a barraca, por causa do calor e também com um certo receio do pessoal da cidade não gostar e chamar a polícia. Pela primeira vez na viagem tive a sensação de que os moradores de uma cidade pudessem ter esse tipo de comportamento comigo. 
    De manhã, ao acordar, levei um susto! A minha mochila menor havia sido mexida. Por sorte o dinheiro, os documentos e as coisas mais importantes estavam bem guardadas na mochila maior. Provavelmente foi um morador de rua que passou perto de onde eu dormi por várias vezes. Acho que quando ele sentiu que eu havia pegado no sono ele tentou pegar a mochila, que estava amarrada no quadro da bicicleta.
     Almocei em um restaurante perto do mercado, bem no centro da cidade. 
     De tarde fui para um posto de gasolina, situado na BR 101,  para tomar um bom banho e lavar minhas roupas. Tive que pagar 5 reais pela ducha. E fiquei um bom tempo lavando minhas roupas, por sorte não apareceu nenhum funcionário do posto para atrapalhar. 
    Depois do banho fico sabendo que, por causa do feriado de carnaval o pagamento será apenas no dia 8 de março. A grana está acabando e tenho que me virar nesta cidade que é um pouco hostil para com os turistas de baixa renda. Até que penso em fazer algum bico, mas acho difícil conseguir algo para se fazer em um lugar onde até a água foi negada. Tenho que encontrar algum lugar mais seguro também para montar minha barraca. Dormir no centro é muito perigoso, muitos moradores de rua, que ficaram me encarando quando me viram na parte da manhã. 
    Acho que até ouvi um dos deles dizer:
    - Essa noite a gente toma dele....
    Não sei se foi uma alucinação auditiva ou não, mas não irei dormir no centro para saber. 

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