terça-feira, 14 de maio de 2019

35º dia pedalanças- 3ª etapa- Marataízes-ES à Juiz de Fora-MG


Lima Duarte-MG à Juiz de Fora-MG  Último dia da terceira etapa
    Acordo cansado e sem energia. A noite foi um pouco sem graça, não encontrei ninguém para conversar. A maioria das pessoas que avistei em Lima Duarte  pareciam desconfiadas quando me avistavam. Assim que havia acabado de montar a barraca, um dono de uma das lojas próximas entrou no estabelecimento como que conferindo alguma coisa e verificando se a porta estava bem trancada. Faz parte do caminho essas situações, sei que não estou acima do bem e do mal. 
    Ando bem pouco na parte da manhã, fico um bom tempo descansando em um ponto de ônibus que encontrei na BR. É daqueles dias em que penso que a bike está mais pesada do que o normal, ou então que ela está com algum defeito. 
    E fui pedalando sem pressa nenhuma para Juiz de Fora, cerca de 55km de distância de Lima Duarte. Por volta do meio dia dois cachorros na BR correm em minha direção. E cometi o erro de dar biscoitos para eles, pois pareciam bem famintos. 
    Mas, depois dos biscoitos sigo o caminho e os cachorros também... Não adiantou bater o pé, xingá-los e nem fingir que ia atirar pedra neles. Eu andava, eles também. Eu parava, e eles também. Voltei uns 500 metros até um pequeno povoado na tentativa de encontrar um lar para os dogs.
 Eles não queriam entrar e então bati palmas. O cara que atendeu disse que não poderia ficar com eles, pois já tinha cinco cachorros espalhados pelas casas. Insisti um pouquinho, mas não foi possível achar um local para os cachorros ficarem. Eles eram bem mansinhos e ficavam dando bobeira na estrada, acho que nunca haviam andado em uma BR. Não iria demorar muito e provavelmente seriam atropelados. 
    O jeito foi seguir em frente. Como os cachorros se apegam fácil às pessoas. Após cerca de um quilometro de distância encontro outro pequeno povoado. Os cachorros se socializaram rapidamente com o pessoal que estava em um bar e com as crianças na pracinha. Aos poucos fui me afastando deles até a saída. Às vezes eles olhavam para mim. Com muito cuidado fui me afastando cada vez mais até estar na beira da BR. Para a minha sorte havia uma boa descida. Antes de partir dei uma olhada de despedida e para confirmar se eles estavam familiarizados com o lugar. Como estava tudo certo subi na bike e pedalei com força até pegar um bom embalo para descer a serra.
 

  Mesmo pedalando lentamente e curtindo a paisagem, chego em Juiz de Fora por volta das quatro horas da tarde. Não gosto de passar por cidades grandes nesse tipo de viagem. Ainda estamos no período das chuvas, o que torna praticamente impossível viajar pela estrada real. O que fazer? Para onde ir? Bolar mais um trajeto maluco como este que fiz para apenas passar o tempo?
    Segui a BR 040 um pouco desanimado e com muitas dúvidas. O primeiro posto que parei para perguntar se podia montar a barraca acabou me negando. Parece que é da região mesmo, quando estive em Três Rios também não encontrei posto de gasolina que me deixasse passar à noite. Decido então começar o caminho da estrada em Juiz de Fora mesmo, ao invés de Petrópolis. Além da dificuldade de encontrar local para dormir, tudo era muito caro na região. Quero completar os quatro caminhos da estrada real, mas, desse jeito vou ter que deixar de passar por Petrópolis e outras cidades
    Entrei em um bairro afastado do centro de Juiz de Fora com a intenção de encontrar algum lugar coberto. Um morador disse que havia uma casa abandonada três quarteirões de onde eu estava. Mas  o lugar estava com o piso todo molhado.
    Volto para a Br, e, depois de pedalar mais uns 10km encontro um posto de gasolina bem grande. Desta vez não falo com nenhum funcionário e vou até um canto onde tem apenas os caminhões estacionados. Espero escurecer e monto a barraca. Está ventando muito e fazendo um pouquinho de frio. E ainda com cara de que ia chover....  O posto tem câmeras de segurança em todo canto, inclusive onde havia montado a minha barraca. Fico meio que esperando algum funcionário aparecer e me pedir para procurar outro lugar para dormir.
    Essa BR 040 não me traz boas lembranças. Me lembro que, no ano de 2001 fiquei quatro dias no meio do mato nesta estrada, só que na saída de Belo Horizonte. Estava tendo o meu primeiro surto psicótico grave, e estava achando que o mundo inteiro queria me matar. O jeito foi me refugiar no meio do mato. Fiquei cerca de quatro dias sem arredar o pé de lá, inclusive com muita chuva. Não sei como consegui suportar o frio daquelas madrugadas com chuva.
     Mas, voltando à viagem, depois de uma hora da barraca montada não apareceu nenhum funcionário do posto para pedir que eu fosse embora. Relaxei os músculos e senti que poderia dormir finalmente naquele dia.

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