segunda-feira, 24 de junho de 2019

Vídeo Pedalanças 2019

     Como havia prometido, acabei de editar o vídeo de minha viagem pela região sudeste, entre os meses de fevereiro e março de 2019.
     Apesar de minha dicção ser péssima resolvi gravar alguns vídeos durante a viagem e acho que o resultado ficou bom. Claro que não ficou profissional, mas o que vale é o registro das boas coisas que acontecem em nossas vidas. 
    Não registrei tudo, obviamente. Se fizesse isso, não iria curtir a viagem e sim viajaria para poder ter algo para editar. 
    A minha intenção inicial era viajar até o litoral do Espírito Santo e voltar para casa de ônibus. Mas foi tudo tão bom que acabei pedalando mais de 3000km. 
    Pretendo fazer mais uma longa viagem este ano, não sei se para o Uruguai ou outro lugar, pois a região sudeste já conheço bem. A verdade é que ainda tenho um pouco de receio de viajar de bike para longe. 
    Mas os medos estão ai para serem enfrentados. Aceito sugestões de viagem. 
    A bike me surpreendeu, pois aguentou bem o ritmo, dando poucos defeitos. E eu até que fui bem também, afinal tenho 50 anos.
    Mas a bike apresentou o desgaste natural, e terei que trocar toda a parte de câmbio: corrente, pedivela, movimento central, catraca, pedal etc...
    Já fiz um orçamento e deve ficar em torno de 300 reais. Quem puder ajudar entre em contato comigo através dos comentários ou então pelo email
memoriasdeumesquizofrenico555@gmail.com
Obs: existe um email memoriasdeumesquizofrenico@gmail.com  (sem  os números) que não tem nenhum vínculo com o blog. 
    Mais uma vez obrigado à todos que me acompanharam por mais esta jornada, que acredito ser a primeira de muitas. 
    Também podem ajudar adquirindo o livro Mente Dividida, no formato PDF. O valor é dez reais. 
Julio Cesar dos Santos de Oliveira
   Agência 2332 Ipatinga MG
   Caixa Econômica Federal
   Operação 023
   Conta 00016678-2

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Último dia pedalanças- Região sudeste

    
Serro-Milho Verde-Diamantina
      A noite no posto de gasolina foi bem tranquila, só interrompida quando a chuva de vento começou a cair e a inundar o chão da borracharia onde havia montado a barraca. Tive que fazer uma pequena mudança mas deu para descansar bem e acordei bem disposto. 
     Mas por volta das seis horas da manhã a chuva ainda continuava, me deixando um pouco desanimado para começar a pedalar os 66km até Diamantina, já que boa parte do caminho é feito em estrada de terra. Por que logo no último dia iria chover?
        O jeito foi esperar e, para a minha alegria a chuva cessou por volta das sete horas e o sol apareceu, aquecendo meus ânimos também. Finalmente iria completar os quatro caminhos da estrada real!!! 
    Tomo um bom café da manhã, afinal pode ser o último dia dessas pedalanças 2019. Se tudo der certo devo chegar hoje mesmo em Diamantina. O caminho é feito basicamente por subidas e descidas de média intensidade, quase sem retas. Mas tem um visual bem bacana, com formações rochosas bem interessantes e diferentes das quais havia visto até o dia de hoje nesta viagem. 
    Pouco movimento na Br, um ou outro carro ou moto passando, provavelmente turistas indo para o distrito de Milho Verde. Era tudo o que precisava para terminar com paz e tranquilidade esta minha primeira viagem de bike. É uma serenidade que não sei até onde poderá ir, pois na estrada real é complicado dizer que a coisa está fácil logo pela manhã.
 
Serro-MG
     E segui o caminho, olhando para os lados para contemplar aquelas formações rochosas bem bacanas, lembrando um pouco São Thomé das Letras. E havia também muitas vertentes de água pelo caminho, me deixando mais tranquilo em relação ao banho do dia. E também o suprimento de água para beber. Nada como uma água pura e limpa direto da fonte.
    

    Devo ter chegado em Milho Verde por volta de onze horas. E fui logo pegando um rango caseiro, pois ainda teria que andar cerca de 33km por muitas subidas íngremes, segundo o site da estrada real. É um distrito bem pequeno, a impressão que se dá é que o local tem mais pousadas do que casas. Confesso que esperava um movimento maior, por ser um sábado. Provavelmente boa parte dos turistas devem estar nas cachoeiras que são muitas na região. Procurei alguma lanchonete ou padaria para comer alguma coisa de sobremesa. Não sei muito da história deste distrito, mas pensava que teria muitos quitutes de milho verde. Queria comer alguma coisa de milho: sorvete, bolo, pamonha, qualquer coisa. Mas não achei. O jeito foi comprar um picolé para adoçar a boca.
 


    Depois segui para o distrito de São Gonçalo do Rio das Pedras, distante 6km de Milho Verde. Muita subida em terreno irregular. Como disse, a estrada real não tem dia de 100% de tranquilidade.  Na maioria das vezes tem algum perrengue, alguns simples e outros bem complicados.
Mas essa parte final do  caminho tem um visual bacana e é para ser feito com calma e tranquilidade. E foi o que fiz. Já não queria mais me desgastar e fui pedalando com tranquilidade e serenidade, com a certeza e a confiança de que a missão será cumprida. Boa parte dos dias que fiz esse caminho da estrada real de bike não tive paciência, pois estava um pouco cansado por ter vindo de outra pedalada longa pelo litoral do Espírito Santo. E também pelo fato da bike não ter amortecedor e estar levando um bocado de carga. A verdade é que no trecho difícil do caminho dos diamantes me estressei um pouco e encarei a viagem mais como obrigação do que uma curtição devido à obsessão de terminar os 4 caminhos da estrada real. A gente cisma com um negócio e nada consegue tirar de minha cabeça.

 
São Gonçalo do Rio das Pedras


    Depois de São Gonçalo segui o caminho passando por alguns distritos menores em uma estrada de terra com alguns buracos, mas nada de muito complicado. A beleza do lugar valia a pena, aquele visual me dava uma sensação de paz que há muito tempo não sentia. Acho mesmo que a última vez que me senti assim foi quando estava viajando a pé. pelo caminho velho da estrada real, em 2012.
    Confesso que foi melhor ir a pé do que de bike. A pé o contato com as pessoas é bem maior. E também com os cachorros. Toda vez que passava em frente de uma casa no caminho vinha aquele monte de dogs latindo. De bike até que não tem tanta vantagem quando a estrada é de terra, ainda mais quando estamos levando muita bagagem. Bicicleta eu prefiro andar na Br mesmo. 
     De repente o tempo começa a fechar. Logo atrás de mim nuvens escuras começam a aparecer e parecem que estão me seguindo. Mas como já disse, perdi o medo da chuva e fui tomar banho em uma vertente de água enquanto não me molhava com a água que iria cair dos céus. 
     Por volta das duas e meia da tarde finalmente consigo chegar ao as asfalto que me levaria à Diamantina. São 18km , porém com muita serra. As nuvens carregadas estão agora por todos os lados, e dá para ver que em algumas regiões está caindo muita água. Mas, por incrível que pareça não chovia aonde eu estava. Às vezes passava uma chuvinha bem fraquinha e bem ligeira, não chegando nem umedecer a minha roupa. Só ajudava a dar uma refrescada boa. 

De tarde o tempo fechou...
    E continuei subindo aquela serra que parecia não acabar mais. E na subida fica um pouco difícil de se calcular o quanto andamos por causa da sensação de sofrência. Andamos pouco mas pensamos que andamos muito. Mas o cansaço valia a pena, pois quanto mais subia mais bonito ficava o visual. Pesquisei na internet sobre essa região e ouvi dizer que esse trecho antes de Diamantina era tudo mar. Estava ficando bastante cansado de ter que ficar empurrando a bike sem descanso. Sabia que iria ter que partir para o sacrifício se quiser chegar em Diamantina ainda hoje. 
     Mas era um cansaço gostoso, que era vencido pela vontade de cumprir mais essa missão. Um filme de toda a viagem começa a passar em minha cabeça: a incerteza do início, quando estava pedalando meio sem jeito pela primeira vez a bike com bagageiro dianteiro. As dificuldades que passei, o sol forte, as chuvas, a lama do caminho, as pessoas que conheci e conversei durante o percurso... 
    Estava me sentindo mais leve não por que havia perdido 4kg nas pedaladas. Era uma leveza interior, por que estava completando uma viagem que muita gente me disse que não iria conseguir fazer. E também por que estava completando os quatro caminhos da estrada real, coisa que pensei que nunca mais iria conseguir depois que havia quebrado o dedão do meu pé esquerdo. Passei alguns anos um pouco mal por não conseguir andar mais como andava antigamente. 
    Mas mais uma vez consegui meio que renascer das cinzas e estou completando uma viagem de mais de 3000km pela região sudeste. 
      Essa ânsia de me fazer chegar ao destino me dava uma força incrível e nem mesmo quando vi uma serra super íngreme ao fundo da BR fiquei desanimado. Comecei a subir na maior vontade. Um garoto de bike me acompanhou no início da subida me fazendo perguntas do caminho. 
    Já devia ser por volta de seis horas da tarde e faltava cerca de 8km para o final. Claro que dei vários gritos, que ecoavam nos montes e vales daquela bela região. Era uma mistura de êxtase e de alívio. Esses anos todos fiquei pensando em como iria completar os 4 caminhos da estrada real. 
serra braba antes de chegar em Diamantina

    Depois de subir cerca de 5km de serra íngreme finalmente encontrei uma reta. O visual era ainda mais bonito. E passavam poucos carros na BR. E não fui atingido pela chuva que me cercava pelos quatro lados. Já conseguia avistar as luzes da cidade de Diamantina, mas ainda teria que pedalar muito para chegar ao centro da cidade. 
     Devo ter chegado na entrada da cidade por volta das nove horas da noite. É tudo muito escuro. Mas estava com uma energia incrível e não pensava em montar a barraca em outro lugar a não ser no centro de Diamantina. E fui passando pelos bairros, pegando informações com os moradores. Muito morro em ruas de pedra. 
    Mas nada era empecilho naquela hora. Já estava quase no meu limite físico e não parava para descansar. Com muito esforço e sacrifício cheguei no centro de Diamantina por volta das dez horas da noite. Muitos barzinhos abertos com cadeiras espalhadas pelas calçadas. Tinha um que chegava a fechar a rua, pois tinha apresentação de artistas. A vida noturna em Diamantina dizem que é muito agitada, como também o cenário musical. Havia muitas pessoas também saindo das igrejas. 
     Sensação boa de ter chegado ao final dessa missão. Não vibrei, não gritei, sou um cara bastante tímido. Mas fiz aquele lanche na padaria. para comemorar Difícil descrever o que estava sentindo naquele momento. O que posso relatar é que estava me sentindo mais leve, que havia tirado um peso de meu ombro. 


  Fui para a rodoviária, pois foi difícil achar algum lugar coberto e plano para montar a barraca. O funcionário que vendia passagens foi muito gente boa e permitiu que eu montasse a minha humilde residência assim que ele fechasse. Estava mais do que feliz. Estava tão feliz que nem me importei quando apareceu um cara estressado e infeliz querendo implicar comigo. Ele até chamou a polícia e disse para os guardas que a última vez que um maluco havia montado barraca na rodoviária tinha quebrado tudo. Claro que nem liguei para o fato, pois além de muito feliz estava muito cansado para dar atenção aquele tipo de pessoa. E o cara estava tão sem razão que os policiais nem conversaram comigo, pois eles viram que eu estava apenas no meu cantinho querendo descansar para pegar viagem no dia seguinte. E estava tão feliz que não seria qualquer coisa que iria me tirar do sério....
Às vezes chego a pensar que as poucas pessoas que implicam com os viajantes de bike não queriam ter a oportunidade de fazer o mesmo, de sentir a sensação ímpar da liberdade de pedalar por onde quiser, de sentir o ventinho no rosto pelas estradas do nosso Brasil. 


A volta
     Acordei por volta das seis e meia da manhã.. Dormi que nem uma pedra de tão cansado que estava. Era domingo e foi o melhor dia da semana para iniciar o caminho de volta para casa, em Belo Horizonte. O céu estava limpo, estava fazendo aquele friozinho gostoso. Esperei a padaria abrir e claro que comprei pão de queijo para celebrar o dia. E também um diamante negro de sobremesa.
    Peguei a BR 259 e depois seguir pela 040 para voltar para BH. A BR 259 é uma delícia sentido Diamantina-Belo Horizonte, pois tem diversas descidas de 5km!  E também tem um lindo visual, com muitas formações rochosas características da região. Não tirei fotos, pois queria curtir aquele dia maravilhoso. Acho que se até chovesse seria um dia lindo para mim.
    Claro que cantei durante a viagem. Cantei e gritei também. Foi uma sensação única, pois tentei comparar com alguma coisa que já havia sentido em minha vida e não encontrei.
    Parei para dormir em uma cidade antes de Curvelo. Foi em um posto e o forró correu solto na casa de shows ao lado e só fui dormir por volta das quatro da manhã.
     Depois segui a BR 040 até Sete Lagoas. Muita reta entediante, mas estava de bom astral, com aquela sensação boa de dever cumprido. Estava com saudades de uma caminha e uma tv.
       Choveu muito de noite em Sete Lagoas. Uma chuva fria que me pegou pelo meio do caminho e cheguei todo ensopado no posto de gasolina.
       Nesse último dia antes de chegar em Belo Horizonte acordei por volta das cinco da manhã, queria chegar na parte da tarde para alugar um quarto e curtir uma caminha, depois de mais de dois meses dormindo em colchonete.
       Quando cheguei na minha cidade natal, comecei a pedalar com a sensação que um motorista de fórmula 1 dirige o seu carro em direção ao podium depois de vencer uma corrida.

Agradecimentos
    Na maioria das vezes procuro não citar nomes ou pessoas com receio de estar cometendo alguma injustiça. Mas vou tentar:
    Gostaria de agradecer à todos os leitores do blog e da minha página no facebook. Algumas pessoas me ajudaram financeiramente, pois a bike deu alguns defeitos durante a viagem. E claro que também agradeço aos que me deram força com palavras de incentivo. Sei muito bem o que pensamento positivo pode fazer. Não é para qualquer um viajar 3050km em uma bike simples aos 50 anos.
    Gostaria de agradecer também: aos mecânicos de bike que encontrei pelo caminho, todas as pessoas que vieram conversar comigo e me incentivar. Todos os proprietários de restaurantes que me forneceram comida quando tive que gastar com a manutenção da bike e ficava sem grana. Os donos de postos de gasolina que deixaram montar a minha barraca. Gostaria de agradecer imensamente à todos os motoristas de caminhão e carretas que conheci e também aos que não conheci por me respeitarem na BR. Nesses 52 dias de pedalanças não tive nenhum problema e nenhum acidente. E também agradeço aos motoristas de carro que também respeitaram bastante o esquizo ciclista.
     Também não posso deixar de agradecer à todas as pessoas que me forneceram água geladinha no caminho. Teve um cara que até me ofereceu sorvete quando me viu meio cansado sentado na BR. Também teve uma senhora que me ofereceu um delicioso bolo com cafezinho quando fui pedir apenas água.
     Gostaria também de agradecer ao pessoal da Casa das Bicicletas Bifão, em Mantena-MG.
    Também gostaria de agradecer aos donos de comércio que me deram desconto quando a grana estava curta e também ao pessoal que faz caldo de cana e pastel de queijo, que foi uma das delícias desta viagem. Sentir o delicioso caldo de cana descendo pela goela em um dia quente é uma das melhores coisas do caminho.
    Provavelmente esqueci algumas pessoas, mas muito obrigado à todos de verdade.
    E, claro, ao Criador, este sempre agradeci e continuo agradecendo até hoje. Apesar das dificuldades só tenho que agradecer.
   Em breve irei postar no meu canal do youtube o filme que estou editando com os vídeos e as fotos da viagem. Assim que estiver pronto avisarei por aqui.
   E em breve também mais pedalanças, talvez ainda este ano, caso consiga fazer a manutenção que preciso fazer na bike.
 

domingo, 16 de junho de 2019

51º dia pedalanças- 4ª etapa- Estrada Real Caminho dos Diamantes


Tapera-Serro-MG
    A noite na barraquinha de quermesse da igreja não foi das melhores. Foi bem tranquila, mas não dormi direito por que o terreno era bem inclinado e não consegui relaxar a musculatura. Virava daqui, virada dali e não conseguia achar uma posição para ficar de boa e pegar no sono. 
    Acordei bem detonado. Para piorar ainda mais a situação, a única padaria da cidade ficava na entrada e ainda por cima tinha que subir um morrão daqueles bem típicos da região. E a única coisa que dá uma amenizada nessas manhãs de estrada real em que acordo detonado é um belo café da manhã. Mas, quando cheguei na padaria a decepção: só tinha pãozinho de sal e café... 
    Não que eu seja uma pessoa exigente, adoro um pãozinho quentinho e um bom cafezinho, como todo bom mineiro. É que quando acordo cansado e não tão disposto, tenho que consumir bastante chocolate para aumentar os meus níveis de serotonina e elevar o bom humor e a disposição. Então como bolo de chocolate com cenoura, chocolate, brigadeiro e, claro, tomo toddynho. Âs vezes exagero nessa comilança de chocolate misturada com café e fico a mil por hora, e um pouquinho nervoso e agitado. 
    Depois do café parto para o distrito de Itapanhoacanga subindo uma serra das brabas. O jeito foi empurrar a bike. Acho que quase metade desse caminho dos diamantes nos últimos dias tem sido a pé, empurrando a magrela. Ou você está subindo ou estão descendo. 
     O calor já aparecendo e aquela sofrência danada fazem a gente pensar que se fizesse o caminho inverso seria melhor com mais descidas. Na verdade é mais ou menos equilibrado, até o site da estrada real informa o quanto de subida e descida tem cada percurso. 
    Mas depois de alguns quilômetros de subida, a recompensa: a serra do Espinhaço!

         O lindo visual me fez ficar de bom humor naturalmente e até comecei a dar uns gritos de alegria para ouvir o eco nos montes. Quando estou fazendo esse tipo de viagem solto uns gritos meio loucos como esses que soltei na serra do Espinhaço. Acho que é para extravasar um pouco, pois geralmente sou um pacato cidadão de pouca conversa.
    Logo apareceu um cara com uma moto e me ofereceu maconha. Claro que recusei, não preciso de drogas para ter momentos de felicidade. Ser feliz acho um pouco difícil de ser nesse mundo em que vivemos. O cara ainda insistiu e tive que dar um não mais sonoro e com aquela encarada....
    Não sou moralista, acho que cada um pode fazer o que quiser de sua vida, desde que não prejudique a do próximo. E esses momentos com a natureza gosto de curtir sozinho. Aliás, quase tudo na minha vida tem sido sozinho depois que comecei a ter os surtos psicóticos. 
     Essas pedalanças acredito que estão sendo, além de uma aventura, a necessidade de me isolar por um bom tempo. Não tenho condições de alugar um barracão, sempre moro alugando quartos e tendo que conviver com várias pessoas, algumas legais e outras nem tanto...
    Depois das fotos da serra do Espinhaço sigo o caminho, que agora tem boas descidas. Chego em Itapanhoacanga por volta das onze horas da manhã. Fui logo almoçando por que o tempo estava nublado e ainda pretendia chegar no Serro ainda hoje. 
    Conheci a Lana, que estava andando de moto na cidade e começamos a conversar sobre trilhas, viagens, aventuras, etc. Ela também gosta de acampar. 
    
    Depois do almoço, sigo a caminhada, apesar da forte ventania indicando que iria cair uma chuva na região. Aliás, do alto da serra dava para ver que já estava chovendo em várias regiões. Mas após essas pedalanças acabei perdendo o medo da chuva. E continuei a pedalar. Aos poucos os pingos foram engrossando e começou a cair uma grande tempestade. 
    Para piorar, o caminho que a Lana havia me indicado era o caminho mais fácil de se seguir, e não o caminho da estrada real, pois não estava avistando os marcos. O jeito foi continuar, ficar perdido no meio da chuva era o que menos precisava naquele momento.
    Muita lama e a todo momento a corrente da bike ficava meio enrolada e tinha que parar para dar uma limpada no sistema de marchas da magrela. E tinha que pedalar com muito cuidado, pois a estrada de terra é bem movimentada. 

         Aquela estrada de terra parecia não acabar nunca. Por volta das quatro horas da tarde é que finalmente encontro o asfalto. Paro em um vilarejo e encontro um tanque na frente de um galpão. Nenhuma alma viva nas redondezas para pedir permissão para usar a água. O jeito foi lavar a bike assim mesmo, pois mal estava conseguindo pedalar por causa dos problemas na corrente e nas marchas. 
   Dei uma boa limpeza e também lubrifiquei a corrente e as catracas. A bike voltou a andar normalmente. Sigo o caminho até encontrar um riozinho às margens da BR e aproveito para tomar um banho para tirar todo aquele barro do meu corpo. E, claro que também lavo as roupas, apesar do horário avançado. 
    

     A sensação após o banho é que havia tirado uns dez quilos do meu corpo. Por causa dos perrengues causados pelas chuvas, chego ao Serro por volta das sete horas da noite. 
    Serro é uma cidade com muitos morros e muitas ruas com calçamento de pedras, muito difícil andar de bike naquele lugar. Acho que aquelas pedras fazem parte do patrimônio histórico e não podem ser retiradas dali. Mas pelo menos poderiam dar uma arrumada né?
    Depois de muito subir finalmente chego ao centro da cidade, que é bem escuro. Tomo um lanche e pego papelão no supermercado. O pessoal do posto de gasolina foi gentil comigo e me deixou montar a minha barraca. 
    Tenho que descansar bastante, amanhã é o último dia e terei que pedalar 66km caso queira chegar em Diamantina. E ainda tenho que contar com o tempo, espero que não chova como hoje. 
chegando no Serro 

sábado, 15 de junho de 2019

50º dia pedalanças-4ª etapa Estrada Real Caminho dos Diamantes


Conceição do Mato Dentro-Tapera
      Dormi muito bem no posto de gasolina em CDM por já conhecer o local e também por estar bem cansado da viagem de ontem. Além do desgaste físico, essa estrada real também está me desgastando um pouco psicologicamente. Não é nada fácil viajar em uma bike não própria para o tipo de terreno mais comum neste percurso. E ainda tem a bagagem para dificultar ainda mais. 
    Por alguns instantes na viagem pensei em desistir, com receio de que a bike continuasse a dar problemas por causa dos buracos e pedras do caminho. Mas sabia que nunca iria me perdoar se não completasse os 4 caminhos da estrada real. Já havia feito o caminho velho e o caminho de sabarabuçu a pé, nos anos de 2012 e 2013 respectivamente. Em 2014 fraturei o dedão esquerdo do meu pé e passei por um período muito difícil. 
    Passei por uma forte depressão por não poder fazer o que fazia antigamente, que era andar, viajar, praticar esportes. Não foi fácil aceitar essa lesão e a falta de atendimento pelo SUS. Hoje ando com alguma dificuldade e com algumas dores, então o jeito foi viajar de bike mesmo. Não sabia que era tão bom viajar de bicicleta, sentir o vento no rosto. Se soubesse teria "redescoberto" a bike muito antes de meus 50 anos de idade. 
     Esses anos todos depois da lesão do dedão  a estrada real não saía de minha cabeça. Ficava imaginando um jeito de percorrê-la. 
    De manhã tive que ir procurar um mecânico que soubesse alinhar a nova roda traseira. O cara, ao contrário do mecânico de ontem era bem humorado e demonstrava ter boa experiência em fazer esse tipo de serviço. A bike ficou excelente. Por sorte uma leitora do blog me ajudou na compra da roda e foi possível prosseguir a viagem. 
   Como o próximo destino fica a 30km de distância e a planilha informa que o nível de dificuldade não é tão grande, deixo para pedalar somente depois do almoço. Aproveito para descansar e atualizar o diário da viagem aqui no blog. 
    Resolvi diminuir o ritmo da pedalança por estar viajando em estrada de terra, para me poupar e também poupar a bike. Afinal são 50 dias de viagem e estava um pouco estressado com tanta buraqueira e pedra no caminho. 

     Estava estressado e um pouco surtado, acho que pelo fato de estar tomando comprimidos de diazepan vencidos, pois eles estavam com uma aparência estranha, estavam esfarelando com muita facilidade. Tenho um bom estoque desse ansiolítico pois consegui me livrar desse vício, só usando em situações de emergência ou então como nesta viagem, em que não estava conseguindo relaxar quando me deitava na barraca. Estava tomando cloreto de magnésio que me ajuda muito a conciliar o sono, mas não levei este mineral para a viagem, com receio de que tivesse algum problema de armazenamento. 
    Mas depois que resolvi tomar os comprimidos que havia pego no posto de saúde de Ressaquinha comecei a me sentir melhor e mais aliviado e menos estressado. 
    Mas, voltando à viagem, depois do rango sigo 22km até o distrito de Córregos. E mais da metade do percurso é em estrada de terra, o que me ajudou bastante na questão física. E a parte de estrada de terra é boa, sem muita serra e buracos. E estou pedalando com mais calma, com mais paradas para descansar.
    Córregos é um distrito bem simpático. Os moradores são bem cordiais, parece que o tempo não passa naquele lugar tão tranquilo. Quando pedi água para um senhor, ele me convidou para entrar, algo que quase não se vê mais hoje em dia por causa da questão da segurança. Recusei meio sem graça a visita na casa e apenas bebi água. 
    Aproveitei para descansar em frente de um barzinho que estava fechado. Logo o dono apareceu e outras pessoas também, e ficamos conversando por um bom tempo. De manhã já havia conversado bastante com o mecânico e seus amigos em Conceição do Mato Dentro sobre essas minhas viagens. Como já relatei várias vezes, acho que conversei mais nessa pedalança do que o ano passado inteiro...
     
    
Distrito de Córregos    

    Depois do descanso vem aquela moleza e dificuldade de pegar no ritmo novamente. Dizem que é por que o corpo 'tá frio"...  O caminho para o distrito de Tapera já é um pouco mais complicado, com muitas serras íngremes. Mas eram apenas 15km e segui em um ritmo tranquilo e sem stress. E o caminho é muito bem sinalizado, tanto pelos marcos como pelas placas colocadas pelos municípios. 
    Chego em Tapera por volta das cinco horas da tarde. É um distrito bem pequeno, com alguns bares e um hotel. Casas bem simples e poucas pessoas nas ruas. Um morador da cidade foi bem legal comigo, me deixando acessar a net em seu computador. E depois me indicou um riacho onde eu pude tomar um delicioso banho. Já havia me acostumado com a água fria desde o início da viagem. Até que não estava tão fria assim. Geralmente água de cachoeira e rio fica muito fria em Minas Gerias no outono e no inverno. 
    
Distrito de Tapera-MG
    Depois do banho dou uma volta pela cidade, na intenção de achar um lugarzinho para montar a minha barraca. Vou e volto até o início do distrito e não encontro nenhum lugar coberto. Já estava escurecendo quando um morador da cidade me informou que ao lado da igreja havia uma barraquinha para as festas e quermesses....
    Para a minha alegria a barraquinha estava vazia. Não era grande, mas era coberta. O tempo estava um pouco nublado e não iria conseguir dormir nunca na dúvida se iria ou não cair água de noite. 
    

terça-feira, 11 de junho de 2019

49º dia pedalanças- 4ª etapa Caminho dos Diamantes


    Morro do Pilar-Conceição do Mato Dentro
    Noite muito mais do que boa na cachoeira em Morro do Pilar. Escuridão total depois das sete horas da noite, mal dava para andar. Claro que no início rolou um pouco de medo de que pessoas maldosas visitassem o local, mas a madrugada foi muito tranquila, só ouvindo o som das águas descendo pelas pedras... 
    Como estava sozinho naquele lugar maravilhoso, resolvi acordar somente quando o dia estava totalmente claro, por volta das oito da manhã. Queria permanecer alguns dias por ali, mas o pessoal da cidade poderia achar ruim o fato de um estranho ficar morando naquela linda cachoeira. E também estava querendo terminar o mais rapidamente possível o caminho da estrada real, pois estava me causando muitos perrengues aqueles buracos e pedras dos caminhos de terra. 
    O tempo estava um pouco nublado, mas aproveitei a manhã e tomei mais um banho de cachoeira e ainda passei um pano na barraca e deixei-a tomando um arzinho. Queria lavar a manta e o lençol que estavam num ranço danado, mas iria demorar um bocado de tempo para secar. 

     Por volta das nove horas da manhã saio da cachoeira para tomar um café e parti para Conceição do Mato Dentro. Morro do Pilar é composta por 70% de morros brabos, 20% de morros leves e 10% de retas. Já fico um pouco cansado antes mesmo de sair da cidade... 
    O caminho é bem parecido com o de ontem, só que com menor distância: 27km. É a parte mais difícil desse trecho da estrada real, com muita subida e descida, e quase nenhuma reta. 
    E as descidas são bem desgastantes também. E à essa altura já estava sem paciência para descer as serras com cuidado. Passava pelos buracos na maior velocidade sem se importar com a bike. E foi em uma descida dessas que a roda traseira acabou estragando, por causa de um outro vacilo meu. Esqueci de olhar como estava a situação do freio. Eles já estavam bem gastos e então ficou uma parte dura raspando na roda na hora de frear. Resultado: o aro acabou trincando...
    

    O restante do caminho empurrei a bike na maior parte do tempo, e, quando pedalei foi com muito cuidado e bem lentamente mesmo. Em algumas partes do caminho estava bem desgastado, mas deu para chegar em Conceição do Mato Dentro por volta das duas horas da tarde, em tempo de pegar um rango no restaurante da cidade que há havia passado no segundo dia dessa pedalança. 
    A verdade é que estou sendo imprudente e impaciente com a estrada real com essa bike. Passo em tudo quanto é buraco na maior velocidade, principalmente nas descidas. Uma bike própria para esse tipo de terreno deve ser bem cara. Mas não pretendo mais fazer viagens por estradas de terra com bicicletas, prefiro a BR mesmo. Estrada de terra é boa para fazer trilhas. 

     Depois do almoço fui até a loja de bike da cidade comprar uma nova roda, que custou 80 reais. Um pouco cara para o meu orçamento, mas não tinha como continuar a viajar com a roda traseira trincada. O mecânico que me atendeu estava de muito mau humor, parecia que estava com algum tipo de problema. E ainda não estava conseguindo centralizar a roda. Resolvi desfazer a compra e seguir com a roda estragada mesmo. No mesmo instante apareceu outro mecânico que foi muito boa gente boa, mas também teve dificuldades de executar o serviço. 
     O jeito foi ficar na cidade e procurar um outro mecânico. Fui para o mesmo posto que dormi no segundo dia da viagem. Os funcionários me reconheceram e numa boa deixaram que eu montasse a barraca no mesmo lugar. 
    
   
    
    

sábado, 8 de junho de 2019

48º dia pedalanças-4ª etapa- Estrada Real Caminho dos Diamantes


Itambé do Mato Dentro-Morro do Pilar

         Ontem de tarde resolvi brincar com um cachorro bagunceiro que não parava de ficar correndo atrás dos carros e motos que passavam na pracinha da igreja matriz de Itambé do Mato Dentro. E ainda por cima cometi o erro de dar biscoitos para o dog hiperativo...
    Resultado: ele não me largou mais, ia atrás de mim em todos os lugares. E, para piorar a situação,  ele parecia ser o líder de uma matilha de cães. Eram uns cinco ou mais que o seguiam.
     Além de hiperativo o carinha também era bem folgado. Assim que terminei de montar a barraca na frente da igreja ele já foi entrando e não queria sair mais... 
    Ele é de porte médio e tem uma mistura de raças, chegando a lembrar alguma raça de cão brabo. Mas ele é bem mansinho e brincalhão. E insistente pra caramba. Com muito custo consegui tirá-lo de minha barraca e dormir. Ele ficou a noite inteiro do lado de fora, encostado na minha barraca. E os seus amigos também. 
o dog hiperativo e insistente me seguiu por 12km quando saí de Itambé do Mato Dentro

    Estava quase pegando no sono quando comecei a ouvir alguns sons de pingos de chuva na minha humilde residência. O jeito foi mudar de endereço e me transferi para o posto de gasolina, já que a barraca não aguenta fortes chuvas. Dá uma trabalheira fazer essa mudança. Tenho que primeiro tirar tudo o que está do lado de dentro e levar para o posto. Depois levo a barraca e depois a bike. E, claro, o dog sempre me seguindo...
    Esse tempinho meio frio e com chuva é ótimo para dormir e acordei bem disposto e com bom humor, mesmo com o cachorro não parando de mexer comigo para brincar. Ele já acordou todo hiperativo. 
     Tomei um bom café da manhã, pois a planilha informa que os 35km até Morro do Pilar são bem complicados, com muitas subidas íngremes. O site da estrada real informa que o nível de dificuldade física é 5, numa escala de 1 a 5... E de Morro do Pilar até a próxima cidade também é praticamente a mesma coisa. Ou seja, esta é a fase mais difícil do caminho dos diamantes. Enquanto no asfalto conseguia fazer até 100km em um dia e chegar em boas condições, na estrada real às vezes faço cerca de 30km em um dia e chego bem detonado. 
    O problema maior de manhã foi na hora de sair da cidade. O dog hiperativo começou a me seguir, e seguindo ele uns cinco cachorros. Não adiantou gritar, fingir que ia atirar uma pedra nele. Ele deitava e ficava com a barriga para cima fazendo cara de manhoso. Cheguei a pedir para os moradores da cidade segurarem o cachorro, mas ninguém queria ajudar. Acho que queriam é se livrar dele, pois era um cachorro bastante agitado, sempre correndo atrás dos carros e motos. E eu gosto de cachorros bagunceiros, mas nem pensei em levá-lo, pois ele parecia ser muito bem tratado pelos policiais da cidade, pois estava em ótimas condições físicas. 
    Ele estava tão bem fisicamente que me seguiu por cerca de 12km pela estrada de terra. E olha que eu fiz de tudo. Cheguei até a dar uns tapas nele. E também joguei algumas pedras perto, mas ele continuava irredutível. Havia me escolhido como seu dono. 
    Algumas vezes ele fingia voltar, ai eu descia a serra na maior velocidade com a bike. Mas, quando vinha uma serra e eu empurrava a bike, ele aparecia na maior tranquilidade. Os outros cachorros já haviam desistido de segui-lo. Teve um momento do percurso que o dog ia na frente, sempre olhando para trás para ver se eu estava indo no mesmo caminho... 
    
a cada ano que passa o biscoito da aymoré vai diminuindo de tamanho. Mas o preço... 

    Já estava bastante cansado por causa da dificuldade do caminho. Quando tentava atirar uma pedra para afastar o cachorro o meu braço chegava a doer um pouco. Mas em uma dessas tentativas finalmente o dog resolveu desistir, depois de seguir por 12km... Mas pior do que o cansaço foi a tristeza de me separar daquele animalzinho tão alegre e brincalhão. Seria bem legal tê-lo como companheiro nas viagens, mas seria também muito cansativo, pois eu estava de bike e seria covardia fazê-lo me seguir o dia inteiro nessas serras de Minas Gerais. 
    
    E sigo o caminho mais tranquilo, apesar das dificuldades das subidas íngremes com muitos pedregulhos. E o sol também não estava aliviando. Quase não havia retas. Dos 35km do percurso, 16km são subidas e 17km são descidas. Ou seja, apenas 2km em que posso ter um relativo descanso enquanto ando. Na descida em estrada de terra devido aos buracos e pedras, temos que estar 100% atentos para não levar um tombo e se machucar, o que poderia interromper a viagem. 
    À essa altura a estrada real deixou de ser uma curtição e se tornou um desafio físico e mental. E também havia prometido a mim mesmo que faria os quatro caminhos, mesmo estando com uma bike não apropriada para esse tipo de percurso. Antes de chegar em Morro do Pilar um raio da roda traseira havia quebrado. Já estava andando com um raio quebrado, mas não parecia fazer diferença. Mas dois poderia ser um pouco arriscado e segui o restante do caminho em uma menor velocidade. 
    Com muita dificuldade consigo chegar em Morro do Pilar por volta de uma hora da tarde. O dia foi difícil, e, para complicar ainda mais, uma subida super íngreme para se chegar no centro da cidade, justificando até o nome que foi dado ao município...
Morro do Pilar. E o morro quase me fez morrer... 

   Fiz um esforço final para terminar o percurso para não ficar sem almoçar neste trecho difícil da caminhada. E, para me poupar, irei fazer o caminho até Conceição do Mato Dentro somente amanhã.
Depois do rango procuro um mecânico na cidade. Haviam me informado que só haviam duas pessoas que consertavam bikes. E só havia morro naquele lugar. Estava exausto, mas tinha que consertar os aros quebrados da roda traseira, pois o caminho amanhã também é muito difícil. 
    Resolvi ir no mecânico que me parecia ter menos subidas. Os caras foram super gente boa e ficamos o resto da tarde conversando sobre a viagem e outros assuntos. No final os caras me indicaram uma cachoeira onde eu poderia tomar banho, lavar a roupa e até dormir, pois havia um quiosque no lugar. E precisava sim de um quiosque, pois o tempo estava para chuva. 
    Me despedi da galera e fui para a tal da cachoeira. Depois de seguir por 3km por uma BR avisto o local, que, para a minha alegria é muito bonito. Além de bonita, a cachoeira tem uma infraestrutura legal, com banheiros, o quiosque, mesas e cadeiras. Não poderia ter achado lugar melhor para dormir depois de um não muito longo mas cansativo dia. 
    Apesar de estar chuviscando tomo um delicioso banho na cachoeira. Levei um tombaço quando entrei, não havia visto o aviso sobre as pedras escorregadias. E lavo minhas roupas também, não estou deixando acumular, pois colocar roupa úmida dentro da mochila é complicado, pois ficam muito fedorentas e difícil de lavar depois. 
     Percebo que o local não tem iluminação e logo monto a minha barraca antes de escurecer. E passo o resto da tarde quieto, apenas curtindo o bom astral daquele lugar maravilhoso. 



quarta-feira, 5 de junho de 2019

47º dia pedalanças-4ª etapa-Estrada Real Caminho dos Diamantes


Ipoema-Nossa Senhora do Carmo-Itambé do Mato Dentro
    A noite na cachoeira de Ipoema não foi das melhores. Fiquei até tarde na fogueira, até a última chama se apagar. Estava um astral bem bacana, mas dormi mal pra caramba. 
    Dormi na areia perto bem na margem do rio. Tentei fazer uma "areiaplanagem", pois o terreno era bastante acidentado. Não adiantou muita coisa, a barraca ficou toda torta e a verdade é que nunca consegui dormi bem em cima de areia. É um terreno macio, mas muito irregular, ficando difícil achar uma posição para dormir. 
    Tentei em vão elevar o ânimo tomando um banho de cachoeira. Para piorar, a lanchonete mais próxima estava em Nossa Senhora do Carmo, distante 12km da cachu. E, para piorar ainda mais a situação, só havia três biscoitos recheados na minha mochila...
    E os perrengues não paravam de aparecer. Muita serra e com muitos pedregulhos, me fazendo escorregar várias vezes. E em algumas bifurcações não tinham sinalização alguma. Como estava com uma preguiça danada não arrisquei nessas bifurcações e fiquei esperando passar algum carro para pedir informação. Não poderia gastar energias logo de manhã e sem me alimentar. 


    Não me lembro de estar tão mal assim nesta viagem. Cheguei a tentar pedir café com pão em algumas casas, mas não havia ninguém nelas. Na maior bambeza consigo chegar em Nossa Senhora do Carmo. Não havia lotérica na cidade para sacar o dinheiro pois estava com tanta fome que teria que gastar maios do que os cinco reais que tinha no bolso para me saciar. E também tenho que comer um pouco mais do que como normalmente se não quiser chegar meio esquelético no final da viagem.
    Tomei um cafezinho com um pãozinho com manteiga e o resto de pãozinho de queijo. Até que deu para encher um pouco o estômago e me animar para seguir para Itambé do Mato Dentro. 
    Esse trecho é totalmente de asfalto, mas tem muita serra. Mas é melhor do que serra em estrada de terra. 

         Chego em Itambé do Mato Dentro por volta do meio dia e meia e com aquela fome vou direto para o restaurante da cidade para almoçar. O rango era quatorze reais, não achei outro mais barato na cidade. E não era tão bom como nos outros dias. O tempero não era muito bom. 
     Depois do almoço pedalo um pouco mas estou bem cansado e com algumas dores musculares, resultado da noite mal dormida na cachoeira em Ipoema e também por ter pedalado por 12km sem café da manhã. Com princípio de câimbras resolvo dormir na cidade mesmo, já que a próxima cidade fica a 34km de distância e a planilha da estrada real nos informa que é feito por muitas subidas íngremes. 
encontramos várias informações sobre o caminho no site da estrada real

     Não tinha outra coisa a fazer a não ser descansar. Achei uma pracinha perto de uma mina de água em frente da igreja matriz da cidade. E passei a tarde inteira sentado no banco observando a movimentação dos habitantes e também o monte de cachorro que ficava nas ruas. Por volta das quatro horas pergunto a um morador da cidade se conhecia algum riacho para tomar banho. Por sorte havia um riacho não muito longe do centro da cidade. Já estava bem melhor do que depois do almoço e tomei um bom banho que me deu esperanças de ter energia suficiente para enfrentar o percurso até a cidade de Morro do Pilar, que sei que é muito perrengoso, segundo o site da estrada real. 
    
o que os controles remotos estão fazendo aí?

segunda-feira, 3 de junho de 2019

46º dia pedalanças-4ª etapa- Estrada Real Caminho dos Diamantes


Cocais-Bom Jesus do Amparo-Ipoema
      
  Até que dormi bem na entrada da cachoeira em Cocais, apesar de não ter tomado banho. O único som que ouvi naquela noite foi o da natureza: grilos, sapos e o ronco do cachorro que ficava tomando conta do lugar. Tinha também um inseto do lado de fora da barraca que emitia um som muito estranho, parecendo o ruído daquelas armas de choque da polícia. Sei disso por que nas manifestações da copa do mundo em Belo Horizonte os homens da lei tiveram que usá-las e muito para conter os baderneiros infiltrados entre os manifestantes.
    Desci os 5km até o centro do distrito com aquela moleza de quem ainda não havia tomado o café da manhã. Em Cocais só havia uma padaria aberta e funcionando naquele domingo, mas valeu a pena a procura, pois o pãozinho com manteiga e o cafezinho estavam uma delícia. 
    Desta vez foi fácil encontrar o primeiro marco do caminho, era bem pertinho da padaria. Muito bom começar o dia sem aquele stress de ter que ficar procurando e perguntando por marco da estrada real.  E segui então para Bom Jesus do Amparo em uma estrada de terra muito boa, ao contrário de ontem. O clima estava bom para pedalar, um pouco nublado, mas sem perspectivas de chuvas. E ainda havia muitos eucaliptos para proporcionar uma generosa sombra. 
    No meio percurso encontrei um ciclista que veio de São Paulo somente para fazer o caminho da estrada real. Pela quantidade de cabelos brancos que tinha o cara devia ter uns 60 anos. Mas, apesar da idade pedalava muito bem e não demonstrava sinais de cansaço nem nas subidas. Conversamos sobre vários assuntos, além do caminho: budismo, bicicletas, saúde mental, planos de saúde. Ele também estava indo para Diamantina. 
    O paulista poderia me ultrapassar se quisesse, mas fomos até Bom Jesus do Amparo juntos, onde parei para almoçar. Ele resolveu continuar o caminho, a bike dele era bem melhor do que a minha e ele quase não levava bagagem. Provavelmente devia estar dormindo em hotéis. 
    
Bom Jesus do Amparo
    O rango estava uma delícia. Comida caseira e podia pegar à vontade, claro que menos a carne. Enchi o prato, apesar de ter que ainda pedalar um bocado naquele domingo de sol. A culinária faz parte da estrada real. Viajar pelo interior de Minas sem apreciar as delícias que as cozinheiras mineiras fazem é como ir ao Rio de Janeiro e não visitar o Cristo Redentor. 
 Depois um breve descanso na pracinha de Bom Jesus do Amparo  sigo para Ipoema pedalando 14km em uma estrada de asfalto boa de se percorrer, sem muita serra. Como ontem não havia tomado banho, resolvi então desviar um pouco do caminho da estrada real e ir até à uma cachoeira em Ipoema. E também estava precisando lavar minhas roupas. 
    Era umas três horas da tarde. O caminho para a cachoeira era em uma estrada de terra com alguns buracos. Como era domingo muitas pessoas já estavam voltando do banho. Queria chegar mais tarde mesmo, para ficar mais à vontade. 

    Subi muita serra e comi muita poeira quando passava carro, mas valeu a pena. A cachoeira é muito bonita e grande, com várias quedas. Ainda haviam muitas pessoas tomando banho e fazendo churrasco, mas espaço era o que não faltava. Achei um cantinho e tomei aquele banho e lavei minhas roupas. 
     Depois, apenas esperei o tempo passar, vendo os turistas irem embora e o pôr do sol naquele dia que foi bem legal, sem muitos perrengues. 
      Assim que todos se foram procurei um lugar para montar a minha barraca. Por sorte encontrei uma fogueira com algumas brasas. Peguei algumas folhas de papel e um pouco de madeira e reacendi o fogo. Não estava fazendo frio, apenas queria brincar de acampamento. 
     Depois das sete horas escuridão quase que total. Luz apenas dos faróis dos poucos carros que passavam na ponte. E as estrelas do céu, é claro. 
na paz, curtindo as obras do criador