Ontem, por puro cansaço, resolvi deixar de dormir nas ruas e ir para o albergue. Não estava conseguindo dormir direito, por temer que roubem a minha mochila. Por duas noites cheguei a ver um cara me vigiando, de madrugada, cerca de uns 40 metros, mas, quando fui verificar quem era, não vi ninguém. Os moradores de rua estão dormindo em grupo, por temerem serem agredidos ou até queimados por "pessoas" que não se sabe o motivo, acha graça em fazer uma crueldade dessas.
Eu estava tomando a clopormazina juntamente com o fenergan, mas tive que suspender a medicação para não me tornar uma presa fácil durante a madrugada. Já estava exausto, trocando o dia pela noite, já que de manhã conseguia relaxar e dormir um pouco em um bairro mais afastado do centro da cidade.
Ao chegar ao albergue, tive uma boa surpresa. As dependências do lugar estão limpas e bem pintadas, os banheiros estão todos com cerâmica. Creio que o albergue deva ter sido reformado há pouco tempo. O banheiro é que não fica muito limpo, também por falta de educação e higiene dos usuários, que jogam o papel no chão.
No jantar, tenho novamente aquela impressão do preso recém chegado na cadeia, principalmente pelo fato do refeitório ser bem parecido com os dos presídios dos filmes norte americanos. Fico meio sem jeito, por ser o meu primeiro dia. No albergue, pelo que deu para perceber, tem todo tipo de pessoas: desempregados, trecheiros que andam por esse Brasil sem rumo, moradores de rua mesmo, usuários de drogas, etc. Também tem a ala dos idosos, que provavelmente devem morar por lá.
A comida é de boa qualidade, fico surpreso com a limpeza e a higiene na cozinha do albergue. É servida uma generosa quantidade de refeição, com um bom pedaço de lombo de porco. A comida é bem parecida com a do restaurante popular, que custa dois reais. Não costumo jantar no albergue, pois, como já disse, tenho dinheiro para me alimentar e não quero abusar do serviço público que é para moradores de rua sem renda nenhuma. Só estou dando um tempo neste albergue por não estar conseguindo mesmo dormir nas ruas, e estava meio cansado. Pretendo estar bem fisicamente para percorrer o Caminho do Padre Anchieta, no Espírito Santo, pois terei que percorrer, em média, 25km por dia com o sol forte.
Há muito anos penso em fazer este caminho. Não sei explicar, mas caminhar me faz bem espiritualmente falando, não sei se isso acontece com todos vocês. Quando estava surtado, pensei em fazer esse caminho, mas, como já estava na BR040, que ia para o Rio de Janeiro ,acabei desistindo. Muitas pessoas devem pensar que, quando estamos surtados, perdemos o raciocínio, a memória, etc. Eu não posso responder por todos os portadores, mas, no meu caso, em particular, sabia o caminho para o Rio de Janeiro e outras cidades, em que pensei ir, na tentativa de fugir dos inimigos que estavam em minha mente. Lembrava de tudo o que havia aprendido e lido em minha vida, e isso me ajudou e muito a me livrar de muitas situações complicadas, como por exemplo, quando tinha acabado de sair do mato, onde havia permanecido por cerca de uns dez dias. Estava bastante fragilizado, só bebendo água, e na BR, cerca de 10km do centro de Belo Horizonte. Não tinha forças para ir andando direto, e então, andava cerca de 300 metros e parava, para descansar, e aproveitava para deixar as pernas levantadas, encostando-as no barranco, para que o sangue retornasse ao coração, pois, como é composto de músculos, sabia que o órgão não deveria ser forçado pela falta de alimentação.
Até que estava me dando bem com a clopormazina, usado concomitantemente(olha o psiquiatra baixando!) com o fenergan. Na primeira vez que usei a clopormazina me senti bem, mas tive reações alérgicas e os meus braços ficaram cheios de manchas vermelhas. Só neste ano, no grupo esquizofrenia do facebook, que fiquei sabendo que o fenergan é usado justamente para tirar essa reaçã alérgica. Mas infelizmente o atendimento na época em Timóteo era bem precário, na época havia apenas um psiquiatra no sus para toda a cidade, que deveria cerca de 70 mil habitantes. E, para piorar, ele atendia apenas uma hora por dia, isso quando não chegava atrasado. Normalmente ele tinha que atender dez pessoas por dia, ou seja, cada consulta durava em média cinco minutos. Ele ficava meio impaciente comigo, por não apresentar melhoras e me ameaçava internar em um hospício caso não melhorasse.
Para piorar ainda mais a situação, na época rolava um boato em Timóteo que eu tinha aids, acho pelo fato de ter pegado dengue duas vezes seguidas, sei lá. Então aquelas manchas vermelhas, para parte da população, era os primeiros sintomas da aids. Como já disse anteriormente, de tanto falaram isso, acabei eu mesmo acreditanto que tinha contraido o virus da aids e só estava esperando que aparecessem os primeiros sintomas para dar um fim a minha vida, pois não queria morrer sofrendo.
Mas, depois de alguns dias, ao ler a bula da clopormazina, vi em reações adversas que o medicamento poderia causar dermatite de contato e ai suspendi o remédio imediatamente e as manchas vermelhas desapareceram. Fiquei bem mal com os boatos, e é aquele ditado: "Uma mentira dita várias vezes, por várias pessoas, acaba virando verdade". E foi isso o que aconteceu comigo, nem acreditava que os exames de hiv davam negativo, quando estava surtado.
No albergue também não dá para tomar a clopormazina junto com o fenergan por ter que acordar as seis horas em ponto. Quer dizer, não acordava, levantava da cama e ficava andando que nem um zumbi, um cara até implicou comigo quando dei uma trombada nele. Assim que saia do albergue de manhã, ia para a esquina e ficava dormindo até por volta das oito e meia quando o efeito do remédio passava.
Futuramente, pretendo voltar a tomar esses dois medicamentos, apesar de serem antigos, os de primeira geração. Já tomei medicamentos de terceira geração caríssimos que me deixaram muito dopado. Então, vai uma dica para os portadores: não desistam dos medicamentos na primeira tentativa. Sei por experiência própria que a maioria tem muitas reações adversas, mas, com o tempo, e um pouco de paciência, vocês irão encontrar o medicamento e a dose ideal para cada caso. Claro que o mais paciente nessa história toda tem que ser o psiquiatra né?
obs: eu agora estarei disponibilizando o livro "Mente Dividida Memórias de um esquizofrênico" somente no formato PDF, por estar morando nas ruas. Tenho o arquivo salvo no meu pen drive e assim fica mais fácil mandar o livro por email. É mais simples e barato, agora estarei disponibilzando por apenas sete reais. Para adquirir o livro, basta olhar no lado direito da página e clicar na imagem, ou então clicar no link abaixo, isso me ajudará e muito nas minhas andanças: http://memoriasdeumesquizofrenico.blogspot.com.br/2012/08/mente-divida-memorias-de-um.html
Ontem, após cerca de uns 35 anos, volto ao Jardim Zoológico. Não vou negar que me senti como uma criança novamente, fotografando e filmando todos os animais. Uma sensação de liberdade que há muito tempo não sentia, com o sol e o vento batendo em meu rosto. Antes achava bom não querer sair de casa, pois o sol poderia ser prejudicial à saúde, etc. Mas, como viver sem sair de dia?
Apesar do calor que está fazendo em BH, algo em torno dos 34ºC, andei como há muito tempo não andava. O clima e a qualidade do ar da capital mineira é bem melhor do que de Ipatinga, e isso me faz andar com mais disposição. A sensação é de os 34 graus de Ipatinga fosse mais quente do que os mesmos 34 graus de BH, talvez por não haver tanta brisa na cidade do Vale do aço, por isso que usam atualmente o termo "sensação térmica". A cada dia que passa estou me sentindo mais bem disposto e caminhando cada vez mais, para fazer o caminho do Padre Anchieta sem maiores problemas. Pretendo ir para Vitória no início do mês que vem.
Centro de referência para moradores de rua
Resolvo visitar o centro de referência para moradores de rua aqui em BH. Ao entrar no local tenho uma sensação estranha, deve ser algo parecido como a de alguém que vai preso pela primeira vez. Todas as pessoas se conhecem e sou o novato. Digo isso não baseado em experiência própria, mas por ver os filmes norte americanos onde aparecem os presídios. Não sei se tem ex presidiários, ladrões, enfim, não tenho muita ideia de quem sejam as pessoas que estejam frequentando o local. Algumas pessoas, ao me verem, perguntam "quem é esse cara", e a vontade que deu na hora era de responder: "esse cara sou eu" rsrsrsrs. Muitas pessoas dizem que sou um cara esquisito, que chama a atenção por onde passo, mas faço de tudo para não fazer isso, fico quieto em meu canto e quase não converso com ninguém.
O cenário no centro de referência é um pouco triste. Pessoas de vários lugares do Brasil, sem uma perspectiva de vida, passam a tarde no local, lavando roupa, jogando dama, vendo televisão ou simplesmente esperando o tempo passar. Os pés secos, corpos esqueléticos, pessoas mal tratadas que ainda conseguem sorrir e brincar, apesar de tudo.
Um nordestino diz que o "mangueio" na capital mineira não é mais o mesmo. Quando ele retira as moedas do bolso, descubro que manguear é pedir dinheiro para as pessoas nas ruas. Alguns usam o dinheiro para se alimentarem, outros para beberem e outros para usar drogas. Por isso, quando algum morador de rua me pede algum dinheiro, não o faço. Quando tenho algum dinheiro sobrando, se a pessoa diz que está com fome, compro um salgado ou qualquer coisa para ela comer.
Não tenho a mínima ideia do que os frequentadores pensam sobre quem eu seja. Provavelmente devem pensar que sou um cara "mitido" e mascarado, por não conversar muito. Os guardas municipais que tomam conta do local várias vezes me encaram com desconfiança, mas não chegam a me perguntar nada.
Resolvo lavar a minha roupa e, por medida de segurança, fico sentado na quadra de futebol, esperando até que elas sequem, pois sei que, se der bobeira elas "vão embora".
O odor não é muito agradável, e tudo fica pior quando um cara resolve tirar suas botas. Ai fico a vontade para soltar os meus gases diários pós almoço.
Depois que as roupas secam vou embora do local, pois não consigo fazer amizades assim tão facilmente, e, vou para um local mais tranquilo passar o dia, ouvindo música, fazendo planos para as minhas andanças ou simplesmente vendo o tempo passar. Sinceramente estou surpreendido como até hoje não fui importunado por ninguém.
A maioria das pessoas encaram com naturalidade a decisão de uma pessoa de sair andando por ai, só com a mochila nas costas. Comigo não foi diferente, quase todos os meus amigos, virtuais ou não, acharam a decisão normal. Mas boa parte chegou a pensar que eu estava ficando maluco, que eu tinha parado de vez com os medicamentos.
Muitas pessoas fazem isso no mundo todo, por que eu não posso fazer? Por que tenho esquizofrenia? Sei que alguns portadores passam por problemas sérios e graves, e até nem saem de suas casas, devido a patologia. Estou ciente dos perigos que as andanças podem trazer, mas, sinceramente, me sinto mais seguro nas ruas do que no local onde estava morando, ao lado de homicidas, traficantes, de pessoas que fingem ser seu amigo para ganhar a sua confiança para depois te roubar.
Certo dia, uma vizinha simplesmente resolveu fazer um churrasco bem em frente de minha janela, e, pra variar, colocou o funk na maior altura. O vento trouxe toda a fumaça para dentro do meu quarto, e tive que passar a tarde de domingo no kartródomo, deitado na grama, vendo aqueles carrinhos dando voltas no circuito. Essa vizinha é traficante e possui uma arma. Alguém iria reclamar?
Foi naquele dia que criei a coragem de tomar a decisão de sair por ai, com as mochilas nas costas. Antes, dei uma olhada em alguns quartos para alugar em Ipatinga. O preço de um quarto com espaço para colocar as minhas coisas variava entre 280 a 300 reais, ou então teria que vender algo para alugar um quarto menor, e com telha de amianto, o que é quase uma sauna na cidade de Ipatinga no verão. Para complicar ainda mais as coisas, o restaurante popular foi fechado, e, com os empréstimos que havia feito, o meu orçamento estava e muito comprometido.
Então pensei: não tenho nenhum compromisso com ninguém, sou uma pessoa livre, e como estava me sentindo mais seguro na rua do que em casa, por que não sair andando por ai? A situação estava complicada mesmo, e, para piorar, o proprietário me colocava como uma espécie de sindico, de bombeiro, encanador, eletricista, porteiro, segurança, etc. Certo dia ele me pediu que revistasse uma inquilina sua, alegando que foi roubado por ela, ou seja, ele bota qualquer pessoa para morar em seus quartos e depois eu que tenho que resolver os problemas. Ele havia trocado a chave do portão, e não passou as cópias para quem não trabalhava, ou seja, os traficantes. Então eu tinha que ficar abrindo e fechando o portão, dia e noite, para os caras, e, quando deixava trancado, eles queriam partir para a briga. Ninguém aguenta né?
Estou há um bom tempo fora daquele lugar e já estou me sentindo bem melhor. As dores musculares foram embora e já estou caminhando com mais disposição. Voltei até a fazer um pouco de exercícios físicos( em plena calçada mesmo!). Claro que não faço isso na Av. Afonso Pena, no centro da cidade. Escolho uma rua pouco movimentada e coloco um pedaço de papelão para me exercitar. Algumas pessoas me olham com estranheza, talvez pensando que eu seja maluco, mas para mim não tem nada de loucura querer cuidar da saúde, seja em qualquer lugar.
Cheguei a pensar que estava doente, fazia exames, mas estava tudo em ordem, com exceção dos triglicerideos, que estavam o triplo do limite. Conclui que então que o stress e a tristeza de morar naquele ambiente é que estavam me deixando desanimado. Não me arrependi até hoje de vender as coisas que tinha a preço de banana, inclusive o computador com apenas três meses de uso, com uma boa configuração. O vendi por um pouco menos da metade do preço, tamanha era a vontade de sair daquele local. Até que ultimamente o local estava mais tranquilo, pois a polícia botou uma boa parte para a rua, pois estavam morando ali ilegalmente, sem o proprietário saber. Espero que ele tenha aprendido a lição de que não vale a pena ter quantidade de moradores sem qualidade.
Posso falar por experilência própria: nada é mais importante do que a nossa saúde, tanto física quanto mental. Pretendo sair por ai, fazer o Caminho do Padre Anchieta, visitar amigos que não via há muito tempo, passear, enfim, viver um pouco a vida, coisa que não fazia há muitos anos por estar na prisão em que eu mesmo me havia colocado. Digo prisão no sentido figurado, mas que também não difere muito de uma prisão verdadeira, pois saia de casa apenas para almoçar e fazer coisas estritamente necessárias. Provavelmente, muitos político e outras pessoas influentes que foram presas tem mais regalias que estava tendo, porém não têm duas coisas importantíssimas: a consciência tranquila e a liberdade para ir aonde achar melhor.
Hoje, entendo melhor por que o decalque do corcel bege com uma frase em espanhol me chamou tanto a atenção quando criança:
A liberdade sempre foi uma nessecidade para mim. Liberdade de ir e vir para onde quiser, de me expressar, e principalmente de ser eu mesmo, apesar de todas as minhas imperfeições e defeitos. A frase do corcel bege, que não sei se era o de 73 do Raul Seixas, dizia o seguinte:
"Mi sonho és ser libre como el pássaro"
E ainda tem um lado espiritual nisso tudo, o fato de caminhar, de poder refletir melhor sobre a vida, essas andanças me elevam espiritualmente, não tenho palavras para definir esse sentimento. Mas, se olharmos bem a história, a caminhada está bem presente em algumas religiões: Jesus e seus apóstolos caminhavam e muito pelos desertos, os mulçumanos fazem a sua peregrinação a Meca, tem o caminho de Santiago, o do Padre Anchieta, que pretendo realizar, enfim, exemplos que não faltam para explicar o motivo de muitas pessoas sairem caminhando por ai, afinal, a vida é uma caminhada, cheio de estradas de todos os tipos: tortuosos, bonitos, obscuros, alegres,etc. Não sei se existe um caminho certo para ser seguido, mas que podemos escolhê-lo, isso podemos sim.
Quatro dias nas ruas de Belo Horizonte e não fui incomodado por ninguém. Muito pelo contrário, as pessoas tem sido muito legais comigo, não tenho do que reclamar. Tem um morador de rua, que não sei qual o seu nome, que fez questão de me chamar quando um senhor estava distribuindo marmitex para moradores de rua. Obviamente que não aceitei, pois tenho dinheiro para me alimentar e não quero me aproveitar da boa vontade alheia. Esse morador de rua me parece ser um cara bom, até me indicou um lugar onde eu poderia ganhar uma grana vigiando carros. Ele não tem nada e mesmo assim se preocupaca com o bem estar dos outros. Claro que não vou confiar nele, morar nas ruas é algo bem complicado e traiçoeiro, talvez ele esteja querendo se aproximar de mim para tentar pegar a minha mochila, pois ela já me viu com a câmera fotográfica na mão Para ele, eu sou um desempregado, não contei a verdade para ele, não sei se entenderia. Mas a verdade é que eu estava correndo mais perigo naquele lugar, cercado de traficantes, do que agora nas ruas.
Peço a Deus que continue me protegendo e que o meu anjo da guarda não se canse aqui do maluquinho. Provavelmente ele estava adorando a tranquilidade dos últimos anos e deve estar meio chateado agora que resolvi continuar as minhas andanças por ai.
Sempre fui assim, não gosto tanto assim de estabilidade e acho que meu anjo da guarda já deve ter pedido aposentadoria por stress devido ao excesso de trabalho. Mas no fundo, sei que ele gosta de mim, pois já me livrou de muitas situações perigosas e complicadas. É uma boa relação que tenho com ele, de muita confiança, e acho que até exagerada, por não temer algumas situações. Claro que primeiramene acredito em Deus, não o Deus de igrejas, denominações religiosas, de seitas, etc. Acredito no meu Deus, um ser superior, que criou a terra e não é um ser castigador e cruel, como muitos andam pregando por ai. O meu Deus também não dá riqueza em troca de sua fidelidade, e também não vende salvação para ninguém.
Hoje foi um dia sem novidades. Dormi em frente a Defensoria Pública, para resolver o problema do cara lá da China que me ofereceu dinheiro fáci na internet. A fila para ser atendido é bem grande, e então, para ser o primeiro da fila, dormir em frente ao estabelecimento. Como disse anteriormente, a ideia de ganhar dinheiro fácil me atraiu, pois não estava bem na época, já que estava morando em meio aos traficantes e não estava dormindo. Pelo que deu para entender, o cara lá da China me enviaria dinheiro e eu teria que repassar para seus contatos. Em troca, eu poderia ficar com 10% da transação. Queria sair de qualquer jeito daquela situação, ir morar em um lugar melhor e então resolvi responder os emails do cara. Isso me parecia algo haver com lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, sei lá, finanças não é o meu forte. Mas, por fim acabei desistindo do negócio, não é do meu gênero fazer isso, sem contar que ter a consicência tranquila não tem preço. Colocar a cabeça no travesseiro ou no papelão à noite com a cabeça tranquila é a melhor coisa do mundo.
Quando fui atendido pelo advogado na defensoria, ele até achou engraçada a minha história. Pois, o que o cara lá da China me passou foi uma réplica de um cheque que não tem nenhum valor. Confesso que fiquei com medo no dia que recebi o cheque, queria de qualquer jeito devolvê-lo, mas o envelope não tinha o remetente. Cheguei a cogitar a conversar com a policia federal sobre o caso, pois o cara lá da China não parava e ainda não me para de me mandar emails chatos. O advogado da defensoria riu muito dos emails que imprimi e passei para ele. Me disse que se trata de um caso de extorsão, ou seja, dentro de alguns dias o carinha lá da China vai começar a me ameaçar querendo dinheiro para não fazer algo contra mim. Mas acho que não vai acontecer nada, pois só passei o meu endereço para ele, apenas. O advogado me aconselhou a parar de responder os emails e não fornecer mais nenhum dado para o carinha lá da China.
O lugar onde eu guardava o papelão(que é a minha cama) agora abre durante o dia, ao contrário de quando tive o meu primeiro surto. Então agora terei que sair procurando papelão todos os dias se não quiser dormir no chão. Confesso que não tenho vergonha de sair andando no centro da cidade com pedaços de papelão entre os braços. Tenho vergonha sim de roubar, de viver vendendo drogas, ou seja, ganhando o dinheiro com a desgraça alheia, etc.
Ontem a tarde fui no centro de referência para moradores de rua, para tomar um banho, já que na rodoviária isso custa seis reais, ou seja, teria que gastar quase 200 reias por mês, no mínimo, já que costumava tomar banho duas vezes por dia. Um pela manhã, bem frio, para dar uma despertada, e outro, a noite, pois não consigo dormir direito sem tomar um bom banho. O centro de referência é um pouco triste, pessoas sem saber o que fazer, sem perspercitiva de um futuro bom. Lá tem uma pequena quadra de futebol, televisão, uma pequena biblioteca, e várias oficinas. Também é possível lavar as roupas por lá.
Com o tempo vou me familiarizando com os lugares que tenho que frequentar. Encontrei uma lan house que cobra apenas 1,80 reias por hora( na rodoviária do Rio era 5 reais meia hora!). Já encontrei lugares onde encontro o yakult e também onde tem uma comida self service boa e barata. Não compro marmitex, pois, como não sou de comer muito, o preço no self fica o mesmo, e ainda tem a vantagem da escolha, pois gosto mais de salada do que de arroz e feijão. Bem, não é gostar, e sim por causa da saúde mesmo. As coisas que gosto, e creio que da maioria também, são coisas que engordam e fazem mal a saúde, como doces, sorvete, chocolate, carne em excesso, etc.
Só não encontrei ainda um lugar que venda ovo cozido, pois como a Leda Nagle, o ovo foi abolido pelos nutricionistas. Antes, comer ovo era uma temeridade, pois tinha ouvido falar que um ovo continha o dobro de colesterol que uma pessoa precisa durante um dia, ou seja, nem pensava em comer ovo. Mas hoje ele está em alta e foi absolvido, só não é legal comer ovo frito encharcado em gordura né?
Hoje realizei um desejo de onze anos atrás. Quando tive o meu primeiro surto, ficava com água na boca toda vez que passava em frente a uma loja que vendia produtos derivados do milho, como pamonha, bolos, etc. Não tinha grana para comprar, ás vezes ficava sentado em frente a loja e ficara encarando a pamonha, e um dia fiz uma promessa para mim mesmo, dizendo que voltaria ali para comer uma pamonha, mas em outra situação. Já havia me esquecido dessa promessa, mas, ao passar em frente a loja, me lembrei desse antigo desejo, e não hesitei de comprar uma pamonha, apesar do preço não ser muito convidativo. Foi uma sensação legal, além da pamonha estar deliciosa, foi como um cumprimento de um dever.
Estou vivendo um dilema: não posso tomar remédios à noite, pois senão seria uma presa fácil para qualquer pessoa que queira pegar minha bolsa. No primeiro surto, conseguia dormir até na calçada mesmo, sem papelão, não sei o que acontece com o nosso cérebro quando estamos surtados, mas a sensação é de que estamos quase que totalmente desligados do mundo, não sentia tantos incomodos como estou sentindo agora. Não me preocupava com nada, só tinha a roupa do corpo mesmo, e conseguia dormir em qualquer lugar. Confesso que sinto um pouco de inveja desse periodo em que estava surtado e não ligava para nada, vivendo apenas a minha realidade, se bem que não é nada agradável ficar imaginando que tem um monte de gente querendo te pegar. Mas houve um momento do surto que já não estava assim tanto com essa paranoia. e já estava no centro de Belo Horizonte, e confesso que foi legal esse estágio, em que estava fora da realidade mas sem tantas paranoias, ou seja, despreocupação total, ao contrário de hoje.
Outro dia, a Juliana, no Rio de Janeiro, quando falávamos sobre o casal Nardoni, me disse que o Alexandre tinha um trantorno mental. Eu já tinha pensado nisso, quando via suas fotos com os olhos meio esbugalhados.
A Juliana me disse que sua ex esposa o ficava atormentando querendo uma alta pensão, e que deixava a Isabella com frequência em seu apto enquanto saia por ai para se divertir. Não sei se essa informação é verídica, mas e se fosse? Existe justificativa para se atirar uma criança(um anjinho) do quinto andar de um prédio? Já pensou se a moda pega? Ah! Você está me incomodando, então vou te exterminar!
Confesso que chego a pensar se a pena de morte não seria uma boa ideia para esse tipo de crime. Sei que é algo polêmico, mas acho que seria uma boa ideia, basta ver que nos Estados Unidos as pessoas devem pensar duas vezes antes de fazer uma barbaridade dessas. Claro que coisas desse tipo acontecem por lá, mas creio que não com tanta frequencia como no Brasil. Infelizmente acontece muitos casos graves, como os atiradores nas escolas, mas no final a pessoa que faz esse tipo de coisa queria também se matar, ou seja, não estava contando com a benevolência da justiça, como acontece aqui no Brasil. Não duvido que o casal Nardoni consiga sair antes de cumprirem a pena que lhes foi imposta.
Alexandre pode ser louco, ter um transtorno mental qualquer, mas, antes de tudo isso, ele é uma pessoa má e cruel, pois, para mim trantorno mental é uma coisa e cárater é outra. Existem vários blogs e sites que falam sobre esse tema, e a minha opinião é que se trata de mau caratismo mesmo esse tipo de crime, e devem ser condenados sem nenhuma restrição. Espero que Alexandre e sua esposa permaneçam um bom tempo na cadeia, apesar disso não trazer de volta a vida de uma criança inocente. http://extra.globo.com/casos-de-policia/a-condenacao-dos-assassinos-psicopatas-376142.html
Um dos motivos que resolvi escrever este blog foi esse. De tentar mostrar que esquizofrenia não é sinônimo de violência e agressividade. Claro que pode ocorrer casos de agressão, mas, como já disse antes, a maioria dos portadores acabam fazendo mais mal a si mesmo do que aos outros. Eu mesmo não sou agressivo, e nem mesmo na fase mais aguda dos surtos agredi alguém, pelo contrário, cheguei a ser agredido por um garçon, por entrar sujo e fedendo em um restaurante, mas não havia falado nada e nem feito nada que justificasse a agressão. Apenas entrei e fiquei calado e, o garçon, sem ao menos me pedir para sair, me deu um murro no meio do peito, e, como eu estava muito magro no primeiro surto, só não acabei parando no meio da rua por que acabei batendo em uma árvore, tamanha foi a força do soco que o garçon me deu.
existe justificativa para tirar a vida de um pequeno anjo?
Chego à capital mineira por volta das 6:30 horas do dia 16(sábado). Tirando uma carreta que tombou na pista, a viagem do Rio para BH foi super tranquila. Difícil foi me despedir da minha amiga Danielli. Acho que ela percebeu a força que fiz para não chorar. E não me venham dizendo que chorar é bichice e tals não, todo homem chora mesmo, só que alguns conseguem segurar o choro.
Já nas ruas, no início fico um pouco atordoado. O que fazer? Para onde ir? A ficha estava demorando a cair: acabou-se as mordomias, de café na mesa, almocinho na mesa, caminha arrumada. Agora eu sou um morador de rua! Sinceramente, estou com medo, muito medo para falar a verdade. Uma coisa é estar morando nas ruas, surtado e só com as roupas do corpo, não ligando a mínima pra nada. Já morar nas ruas, gozando quase que totalmente das faculdades mentais, é bem diferente. Agora tenho documentos, os cartões do banco(até parece que tenho dinheiro), a câmera e o celular. Sento-me no banco da rodoviária para me acostumar com a ideia. Só de olhar para os guardas já começa a desconfiar de que eles estão desconfiando de mim. Estou um pouco nervoso, e acho que, pelo fato de estar nervoso os policiais podem pensar que isso pode ser pela presença deles.
Resolvo ir ao caixa 24 horas da rodoviária para sacar um pouco do dinheiro que guardei para me virar até o final do mês. Ao tentar sacar o dinheiro, percebo que o caixa da rodoviária é um pouco diferente do que os caixas dos bancos. E o que acontece: erro a senha por duas vezes. Se errar mais uma vez, terei que voltar à Ipatinga para receber a grana e consertar a burrice que iria fazer.
Entro em desespero e então decido procurar uma agência da caixa econômica no centro da cidade. Peço informações à algumas pessoas e sou muito bem atendido. O mineiro tem essa qualidade: quando você pergunta sobre algum lugar, ele para, faz questão de explicar detalhadamente o trajeto a ser seguido. Estava sentindo falta disso. Ao chegar ao banco, fiquei com medo de errar novamente a senha. Sacar o dinheiro é algo extremamente simples, mas, quando estamos ansiosos e estressados, tudo fica mais complicado. Entao me dirijo a um senhor e explico-lhe a minha situação e ele prontamente se prontifica a me ajudar. A tensão era tanta que era como se estivéssemos desarmando uma bomba relógio, mas, para meu alívio, tudo deu certo e saquei um dinheiro suficiente para me virar por uns quatro dias. Não é puxar a sardinha para os meus conterrâneos, mas essa hospitalidade e atenção não é em qualquer lugar que se encontra no Brasil. Somos um pouco desconfiados, mas quando ganham a nossa confiança, somos muito legais. Eu costuma dizer que sou duplamente desconfiado: primeiro, por ser um típico mineiro, e, segundo por ser mineiro.
Já mais calmo, vou à uma lanchonete para comer um bom pão de queijo e um tradicional cafezinho mineiro. Procuro uma lan house para resolver uma pendência. Não que eu tenha feito algo de errado, mas, naquele momento de stress que estava em Ipatinga, quase aceitei ganhar dinheiro fácil na internet. Não tem nada haver com roubo ou drogas, mas acho que não é algo legal não. Estava à um passo de surtar, e louco para me mudar daquele lugar em que não conseguia dormir, e cheguei a cogitar em participar desse negócio para ganhar dinheiro e quem sabe, sair dali. Mas na hora H minha consicência pesou e desisti, é como sempre digo, no final, o anjinho sempre acaba ganhando do diabinho na minha consicência. Não tem nada melhor do que chegar a noite e poder colocar a cabeça no travesseiro(agora no papelão) e dormir tranquilamente. O problema é que os caras não param de me mandar emails, e assim que der, vou conversar com um advogado para resolver esssa situação.
Essa procura pela lan house em pleno sábado e pelo advogado, logo após a viagem, consumiram as minhas energias. Dia de viagem é sempre estressante para mim. Primeiro é a velha sensação de estar sempre esquecendo alguma coisa(acho que fiz e refiz as malhas umas 20 vezes!), depois as despedidas, e ainda tem a ansiedade em si pela viagem, o medo de perder o ônibus, o trânsito, etc. Cheguei na rodoviária do Rio às 18:00 horas, sendo que a viagem estava marcada para as 22:30 horas. Para avacalhar tudo, sento ao lado de um cara que ronca e quando dorme, fica invadindo o espaço da gente na cadeira.
Depois da lan, procuro um pedaço de papelão para dormir um pouco. Após 11 anos, volto ao local onde costumava dormir quando tive o meu primeiro surto. O vigia já não era o mesmo. O do primeiro surto era muito legal, todo dia juntava alguns sanduiches de mussarela que sobrava do pessoal que travalhava no local. Esse vigia atual também é gente boa, me atendeu muito bem, só é um pouco caladão mesmo.
Ainda estava assustado cocm a nova situação, com aquela movimentação toda no bairro, sem contar o medo de ser roubado. Afinal, já se passaram 11 anos e não sei se o bairro ainda estava calmo como naquela época. Com o tempo, e com o movimento caindo após o horário comercial de sábado, começo a relaxar um pouco os meus músculos e o meu coração foi desacelerando. Por volta das 14 horas, um cara me oferece um marmitex(quentinha), que recusei educadamente, pois tenho dinheiro para me alimentar. Mas esse gesto me fez sentir mais em casa(ou na rua, melhor dizendo) e a cada hora que passa vou me acalmando cada vez mais, até que antes do anoitecer já estava completamente ambientado.
Começo a dar umas voltas pelo bairro, para lembrar os fatos de onze anos atrás, era como se um filme estivesse passando em minha cabeça:
A igreja Batista que frequentei por um tempo, ainda está no mesmo lugar, assim como o hospital Socor, que um dia invadi pedindo socorro, dizendo que tinha sido envenenado, os bares em que filava uma boia, etc. O bairro está muito mais bonito e limpo do que há dez anos atrás.
A noite chega e confesso que uma tensãozinha tomou conta de mim novamente. Chego a pensar se o crack não invadiu esse simpático bairro da zona central de Belo Horizonte. Mas, com o passar do tempo, pude perceber que as coisas estão tranquilas e calmas como antigamente. Só a movimentação dos carros é que está muito intensa, o que atrapalhou bastante o meu sono, mas creio que isso talvez seja por ser sábado. Torço para que os outros dias seja menos movimentado, pois me sinto muito seguro naquele cantinho que escolhi para dormir há 11 anos atrás. Volto a ficar calmo novamente, e já até converso com alguns moradores de rua que me pedem dinheiro, talvez por não saberem que eu também sou um deles.
De madrugada a temperatura dá uma queda acentuada, e ainda tem o fato do local nos dar uma sensação de que existe um ventilador ligado permanentemente, devido a uma brisa refrescante que não para de nos refrescar. Isso é ótimo durante o dia, mas a noite fica um pouco frio, mesmo no verão, ficando muito difícil de dormir sem um cobertor. Havia morado muitos anos em Ipatinga, que eu costumo chamar de "o verdairo forno de Minas" devido ao calor constante naquela cidade. Como praticamente não saia de noite, nunca comprei uma roupa de frio enquanto morei no vale do aço. Passo a noite inteira com os músculos tensos, pensando em como conseguia dormir tranquilamente há 11 anos atrás. O papelão que juntei não foi o suficiente para amaciar um pouco o chão e não consegui dormir. Mas conto isso não para que sintam pena de mim, estou me sentindo mais feliz do que quando estava morando em um quarto até certo ponto confortável, com frigobar, TV, som e computador, mas sem o esssencial, que é a paz.
Acordo no domingo em frangalhos. Encho duas garragas de água e começo a dar umas voltas para me familiarizar de novo com a cidade. Uma noite de sono mal dormida acaba com qualquer um e a bolsa parece estar pesando o dobro. Decido que tenho que dormir até a hora do almoço para me recuperar. Queria ir a igreja onde os moradores de rua vão todos os domingos, para comer pão com mortandela e refrigerante, mas sei que o local é longe e como estou muito cansado, vou deixar isso para depois. Ainda estou com receio da reação dos moradores de rua ao saberem da minha situação, não sei se irão aceitar de uma maneira amistosa, pois alguns não gostam de pessoas que ficam a toa sem fazer nada.
Me desculpem os erros, deve ter alguma discordância verbal por ai, é que estou um pouco cansado ainda, depois do almoço. E ainda tem o fato de esta5r na lan house, o que me atrapalha um pouco a escrever, ao ver o tempo e o dinheiro que foi gasto usando o pc.
Por enquanto é só pessoal, estou gravando algumas coisinhas e depois irei postar aqui no blog e no canal no youtube. Como disse anteriormente, não estou arrependido em nada do que fiz, mesmo não estando muito bem, mas sabia que poderia piorar e muito se continuasse naquela situação.
Abraços a todos e até o próximo post.
Bem, como disse no post anterior, o Carnaval foi sem novidades, ontem consegui voltar a dar uma corridinha, ou melhor dizendo, uma trotada, coloquei em minha cabeça que no final do ano irei participar de uma maratona ai qualquer, mas, antes, é claro, tenho que reduzir os meus triglicerídeos para um valor no mínimo aceitável. A última vez que fiz o exame estava acusando uma taxa de 580mg, ou seja, quase o triplo do valor máximo permitido, resultado de muita massa dos quitutes mineiros e tortas de chocolate que não estava conseguindo controlar.
Estou aproveitando ao máximo esse tempo para descansar, o nível de medição da minha bateria estava quase no zero, o meu hd estava todo fragmentado e a minha memória ram já estava pifando. O processador então, nem se fala. Mas agora está tudo bem, o nivel de stress está zerado e estou pronto para outra. A minha mania de toda hora colocar a mão no bolso para certificar que não perdi as minhas chaves sumiu(também agora não tenho chaves né?) mas também o desespero que tomava conta de mim para ficar toda hora conferindo o dinheiro nos bolsos também foi embora, não estou mais escondendo o dinheiro como antes e depois esquecendo, quase ficando louco para encontrar a grana novamente.
Mas em pleno sábado de carnaval, passei um perrengue danado. Mas até que foi um perrengue divertido no final das contas. Resolvi, de uma hora para outra, ir ao centro do Rio para comprar um produto natural, em pleno sábado de carnaval. Até que minha amiga Danielli tentou avisar que poderia haver uma aglomeração de pessoas, mas não dei bola para o que ela me disse:
- Ah! De manhã não vai ter ninguém no centro da cidade, deve estar todo mundo de ressaca! pensei.
Na sexta à noite, pesquisei no google: "lojas de produtos naturais no Rio de Janeiro" e fiz uma lista com uma dez lojas, anotando tudo em uma folha de caderno.
Então, no sábado, por volta das oito horas da manhã, já estava no ponto de ônibus, que me levaria de Jacarepaguá até o centro da cidade.
Tirando o enorme engarrafamento, a viagem foi tranquila. Avistei vários foliões no caminho, pensando que estavam voltando da folia, mas reparei que estavam com uma cara muito boa para quem havia passado a noite inteira pulando carnaval e tomando todas.
No meio do caminho avistei o Maracanã em obras, e, pelo que deu para perceber, vai ficar muito bonito. Mas também deu para notar que as coisas estão um pouco atrasadas, pois a copa das confederações vai começar no meio do ano, se não me engano. Não entendo de obras, mas olhando a parte externa, dá para perceber que ainda falta bastante coisa, sem contar na enorme quantidade de entulho que está em volta do estádio.
Bem, chegando ao centro, tudo normal e tranquilo. Peguei a folhinha com os endereços das lojas e comecei a minha peregrinação pelo tal produto natural( penso que, se ficar sem ele, vou morrer!) Na primeira loja, o atendente me disse que esse produto não estava no estoque. A segunda loja estava fechada. A terceira mudou de endereço. Então, resolvi ir para a quarta loja, numa tal avenida Rio Branco. Assim que ia me aproximando da dita cuja, os foliões iam aparecendo aos poucos, o que me deixou um pouco preocupado, mas, como não queria perder a viagem, resolvi continuar a procurar o produto.
A cada quarteirão que andava, a aglomeração aumentava, e, quando me dei conta, já estava no meio do
não sei como, mas fui para no meio desse bloco
Bloco Bola Preta, simplesmente o maior bloco carnavalesco do Rio. De camisa pólo, calça social e sapatênis, me senti um estranho no ninho, ou melhor dizendo um extraterrestre.
No início o desespero tomou conta de mim, é aquela situação em que dá vontade de sair gritando: "Mamãe! Socorro!". Poderia olhar para qualquer lado e só avistava aquele mar de gente. A vontade que tive era de sair correndo e empurrando todo mundo que via pela frente, ou então procurar uma ajuda com algum policial, mas achei que os policiais estariam muito ocupados com aquela quantidade de de pessoas(quase dois milhões!) Respirei bem fundo para oxigenar o cérebro e disse para mim mesmo:
- Bem feito seu mané! Quem mandou caçar produto natural, em pleno sábado de carnaval e na cidade do carnaval? Se deu mal!
Acabei rindo de mim mesmo e não dei tanta importância à enorme dificuldade para me deslocar naquela multidão e passei então a apreciar a beleza das cariocas e das turistas também. Por pouco não entrei no ritmo e não comecei a sambar, quer dizer, me mexer, pois dançar não é o meu forte. Alguns minutos depois de um intenso ziguezaguear consegui escapar da multidão e respirar mais tranquilamente o ar do Rio de Janeiro. Estou me sentindo mais bem disposto, o calor da cidade maravilhosa é fichinha em relação ao calor de Ipatinga, acreditem! O motivo eu não sei, alguns dizem que é a poluição da Usiminas, outros já dizem que o Rio tem uma brisa que vem do mar e dá uma refrescada no pessoal. Já estou até começando a fazer caminhada e percebo que o ar do Rio, apesar de não ser dos mais puros, é de melhor qualidade do que de Ipatinga, que me parece ser um ar quente e seco. Sinto prazer em em caminhar e, quando é preciso, puxo o ar para os pulmões com gosto, coisa que não acontecia na cidade mineira.
Bem pessoal, gostaria de dizer que vou atualizar o blog não como antes, que era todas as quintas. Como já disse anteriormente, que agora o blog vai também funcionar como uma espécie de diário, então poderei atualizar o blog mais de uma vez por semana, ou então demorar um pouco, dependendo do lugar onde estiver. Mas continuarei sempre postando até encontrar o meu caminho, que seja talvez de percorrer o caminho, que é a vida.
Estou curtindo demais deixar o meu celular despreocupadamente em qualquer lugar! Pode parecer gozação, mas não é. Cada dia deixo ele em um lugar diferente, e, de manhã, quando vou olhar, ele está no mesmo lugar! Incrível! Pode parecer bobeira, mas é algo extraordinário para quem não podia nem deixar o chinelo usado na porta que os craqueiros levavam. Hoje estou podendo até deixar o dinheiro em cima da bolsa que sei que ele não vai sumir. Não tem como explicar essa tremenda sensação de alívio, só quem passou por anos e anos de stress, vivenciando de perto o mundo do crack é que pode saber um pouco do que estou falando.
Já estou sem dores no corpo, não estou tendo mais distensões do nada e voltei a ter prazer em caminhar.
Fazia exames e mais exames para ver se estava doente, mas os resultados eram sempre bons, aqueles numerozinhos do hemograma sempre estavam legais, com exceção dos triglicerídeos, é claro. O stress nos faz parecer doentes e também causa doenças. Pesquisem no google que vocês irão encontrar inúmeras doenças causadas pelo stress, desde problemas do coração até disturbios mentais graves. Então, não deixem que o stress tomem conta de você, sei que é difícil fazer isso no mundo em que vivemos, mas saia por ai, tire férias, faça caminhada, tente melhorar a sua qualidade de vida e tente descobrir o que está te estressando.
Bem pessoal, por hoje é só e até o próximo post.
Duas amigas leitoras do blog, ao lerem o meu último post, me convidaram para passar o carnaval em suas respectivas casas. Havia relatado no post que estava muito estressado, devido aos últimos acontecimentos, principalmente os relacionados ao tráfico de crack, que vem tirando o sono de muita gente por aqui. Então, generosamente, elas me ofereceram seus aposentos para que eu pudesse descansar nesse período. Não pensei duas vezes em aceitar os convites, estava muito desgastado e não tenho grana para ficar me hospedando em hotéis por ai. Necessitava de recarregar minhas baterias antes de cair na estrada.
Então, fiz as minhas mochilas, e, depois de revirar o quarto pela centésima vez, chego a conclusão de que não estou esquecendo nada. Na varanda, deu para perceber que o proprietário e mais dois amigos estão sentados no passeio, perto da entrada. Resolvi então esperar mais um pouco, para evitar as despedidas, que quase sempre acabo chorando ou então fazendo aquele esforço para fingir que está tudo bem.
Sabia que essa despedida iria ser difícil, afinal oito anos não são oito dias (me mudei para lá no início de 2005), quando sai do albergue para moradores de rua de Ipatinga, ao começar a receber o auxílio doença. Mas os caras não saiam da porta. Respirei fundo, coloquei em minha cabeça que não iria chorar e desci as escadas. Após uma breve conversa me despedi deles, fazendo força para que as lágrimas não caíssem pelo meu rosto. Gosto do proprietário do imóvel, apesar dele ser um cara pão duro, mas ele sempre me respeitou da maneira como sou e sempre me defendeu quando algum vizinho me enchesse a paciência. Notei que ele estava triste, pois, modéstia à parte, sou um bom inquilino, pois, além de ser um pacato cidadão, sou um bom pagador(tirando o cartão de crédito estourado, não devo nada a ninguém). No final ele me disse que as portas estariam sempre abertas para mim, caso resolvesse voltar um dia. Disse-lhe então que selecionasse melhor as pessoas que fossem morar em seus quartos, pois dinheiro nenhum no mundo vale mais do que a paz e a tranquilidade.
No caminho para a rodoviária um sentimento estranho tomou conta de mim, um misto de tristeza, alívio e alegria.
Tristeza por deixar amigos em Ipatinga, cidade que aprendi a gostar, apesar do calor infernal (acreditem, faz mais calor em Ipatinga do que no Rio!).
Alívio por ficar longe de toda a confusão que o crack traz para as comunidades, inclusive os traficantes do Rio já desistiram de vender essa droga.
E alegria pela possibilidade de conhecer novos lugares e pessoas. Acho que esses quase últimos dez anos confinado fizeram brotar em mim essa necessidade meio louca de sair andando por ai. Digo meio louca pois não acho nada de anormal alguém colocar uma mochila nas costas e começar a viajar sem uma rota definida. Foram um ano e meio morando no albergue e oito anos no quarto em que gravei os primeiros vídeos para o meu canal no youtube. A verdade é que era prisioneiro de mim mesmo, e o carcereiro era a esquizofrenia, que não me deixava sair para os lugares que gostaria de ver.
Cheguei a rodoviária com duas horas de antecedência, estava ansioso como nunca e comecei a jogar conversa fora com as pessoas que estavam ao meu lado. Sempre que perguntam o que eu faço da vida, falo que sou aposentado e não perco a chance de falar um pouco sobre o que é realmente a esquizofrenia, e claro, também faço um merchadising do meu blog.
De repente, um cara me encarou, e isso foi o suficiente para me lembrar que tenho a maledita mania de perseguição . Pensei duas coisas naquele momento: ou era um traficante me seguindo para exterminar( pois, morando naquele lugar, sabia de muita coisa), ou então era um policial suspeitando que eu fosse um traficante. Essa mania é tão chata que chegou a passar pela minha cabeça a ideia de dizer para o suposto policial que poderia ficar à vontade para revistar as minhas coisas.
Mas até que essa minha mania de perseguição atual tem um pouco de razão de existir. O problema é que a minha esquizofrenia superdimensiona a realidade. Afinal, estava morando em um local dominado pelo tráfico de drogas e, como não participava do esquema, a minha situação era um tanto o quanto complicada, pois, quando baixava uma viatura no local, os traficantes pensavam que o caguete era o careta que vos escreve. Por outro lado, os policiais provavelmente deveriam suspeitar que eu fosse um traficante, já que morava há oito anos em uma boca de fumo e, para aumentar ainda mais as suspeitas, eu não trabalho, pois me aposentei há dois anos atrás.
Quando a polícia pegava alguém em flagrante, ai é que a situação ficava tensa pro meu lado. Os caras já ficavam olhando meio torto para o meu lado e cantavam um funk em que a letra dizia que caguete deveria morrer. Não tinha medo deles, já perdi a conta de quantas vezes bati de frente com eles, pedindo um pouco de paz e tranquilidade para o local. Mas aquela situação já estava me deixando esgotado, tanto fisicamente como mentalmente. Conheço meus limites, e sabia que poderia surtar a qualquer momento. Não pensei duas vezes ao vender a preço de banana o pouco que eu tinha e procurar a paz em outro lugar. Juro que não é exagero, mas aquela situação toda me fez sentir saudades da época em que morei nas ruas de Belo Horizonte. Pelo menos morar neste lugar me fez sentir a pessoa mais normal do mundo! Não vou ficar aqui contando todas as maluquices que aconteceram naquele local, mas, acreditem, certo dia foi necessário o deslocamento de uma viatura para o local, para apartar uma desintelilgência(será que baixou um policial em mim?) entre duas pessoas, e o motivo da confusão toda era um simples jogo de panela! Uma moradora não pagou a panela e o vendedor quase que pá nela! Tendeu? ( essa foi mais do que sem graça, né? mas o fato aconteceu de verdade mesmo).
Mas, para falar a verdade, tenho mais do que agradecer do que reclamar por ter morado em Ipatinga. Foi lá que recuperei parte de minha sanidade mental. Digo parte por que acho que nunca tive isso em sua totalidade. O atendimento na área de saúde mental era muito bom e os vizinhos tinham o maior respeito para com a minha pessoa. Também tinha o fato de não ser uma pessoa tão comentada como era na cidade de Timóteo. Me sentir apenas mais uma pessoa na multidão foi um fator determinante para a minha parcial recuperação.
Agora, Ipatinga é passado. Estou passando alguns dias no Rio de Janeiro descansando, apesar de não fazer nada na vida, mas, pra falar a verdade, fazer nada cansa também, principalmente a cabeça. O tédio parece que suga as nossas energias.
A viagem para o Rio foi super tranquila, tirando o cara que pensei que estava me perseguindo, mas essa suspeita acabou quando o elemento se evadiu do ônibus(tô vendo muito programa policial na tv) e ficou na cidade de Caxias, vizinha ao Rio de Janeiro.
Saindo da rodoviária perguntei para um taxista o preço da viagem até o bairro da Juliana. O preço que ele me informou não foi muito convidativo, mas também com essa cara de pastel que tenho o preço não poderia ser diferente. Resolvi então pegar um ônibus. No início tudo tranquilo, ônibus vazio, dava-se para olhar pela janela do ônibus um outro lado da cidade maravilhosa. Vários moradores de rua ainda dormiam em seus pedaços de papelões. Em poucos minutos o ônibus ficou superlotado. Fiquei imaginando como iria sair daquela lata de sardinhas ambulante. Estava com duas mochilas: uma pequena, que comprei para as minhas andanças, e outra bem maior, com todas as minhas roupas. Como não é possível dois corpos ocuparem o mesmo espaço ao mesmo tempo, resolvi apelar para a solidariedade dos cariocas e pedi que passassem de mão em mão as minhas mochilas até a escada do ônibus, quando a cobradora me avisou que o próximo ponto seria o que eu deveria descer para chegar ao apto. da Juliana.
Não foi difícil achar o endereço da minha amiga virtual. Ela me recebeu super bem, até a sua poodle me cumprimentou abanando o seu rabinho. A mãe da Juliana é super tranquila e também foi muito legal comigo. Já o irmão dela não foi legal comigo, mas também não me tratou mal, é que o cara consegue ser mais calado do que eu!
Uma coisa eu percebi logo de cara: o que a Juliana tem de bondade ela tem de ansiedade em dobro. Ela se preocupava em demasia comigo, me deixando um pouco sufocado. Nem me deixou ir ao supermercado sozinho para comprar o meu yakult! Ela também me pregou uma peça, dizendo que iria ao psiquiatra(acho que ela tem mania de doença) e pediu para que a acompanhasse. Como bom cavalheiro que sou, disse que não haveria problemas. Mas, chegando a clínica, descobri que a consulta estava em meu nome. Disse que não precisava de me consultar no momento, que tinha os meus remédios na bolsa, e que bastava o tempo e um bom descanso para que as coisas voltassem aos seus devidos lugares. Mas ela foi irredutível e, para não fazer desfeita, resolvi conversar com o psiquiatra, um argentino ou uruguaio de uns 55 anos de idade e muito sério. Achei engraçado o sotaque dele, e quase comecei a rir quando acendeu um cigarro bem na nossa frente no inicio da consulta. Contei a ele um pouco da minha história, dizendo que não havia me dado bem com nenhum medicamento que havia experimentado. Ele ia sugerindo os remédios e eu ia dizendo que não havia me dado bem com eles. Por fim, ele me disse que não poderia me ajudar, pois eu estava cheio de "não me toques". Achei o jeito dele falar engraçado e tive que fazer força para não rir. Sabem aquelas situações sérias em que sabemos que não podemos rir de jeito nenhum, mas do nada vem uma vontade de dar uma gargalhada? Foi isso que se passou comigo naquele momento.
Então, depois de relatar todas as minhas experiências negativas e dopantes com os medicamentos, chegamos a conclusão de que a clopormazina seria uma boa para mim. Sei que sou daqueles pacientes chatos, pois fico conversando com o psiquiatra não como paciente, e sim como se fosse um outro psiquiatra. Se eu fosse um psiquiatra e atendesse um cara chato como eu, iria mandá-lo tomar suco de caju, dizendo que, já que entende tudo de remédio, por que não se forme em psiquiatria e se consulte consigo mesmo? Ou seja, seria psiquiatra de mim mesmo.
Remédio definido, então nos despedimos. A consulta foi legal, pois não foi a correria que geralmente acontece no SUS. Gostei do psiquiatra, ele é daquelas pessoas que não fazem força para agradar as pessoas, mas também não é sem educação. Já tive psiquiatra que me atendia em cinco minutos e depois me ameaçava de internação caso não melhorasse.
Chegando em casa, ou melhor, no apto, começaram as discordâncias.. Não queria tomar o remédio por enquanto. Sentia que precisava mais de descanso e tempo do que qualquer medicamento para me recuperar. Mas ela não achava isso e então, me tratando como uma criança, me fez tomar o remédio a força! De início resisti, é claro, não queria ficar dopado, ainda mais de dia. Mas comecei a achar graça daquela situação toda e comecei a rir. Tentei enganá-la, colocando os remédios embaixo da língua, e até fiz um movimento fingindo que havia engolindo os comprimidos, mas ela não acreditou.
Fui vencido pelo cansaço e, para evitar aquela situação constrangedora e engraçada ao mesmo tempo, resolvi tomar os remédios. Em menos de vinte minutos já estava grogue e apaguei. Creio que dormi das três horas da tarde até as onze horas do dia seguinte, só acordando para tomar o suco verde que ela prepara todas as manhãs. Ela me disse que o suco tinha que ser tomado na hora, pois poderia oxidar. Acho que ela é um pouco hipocondríaca e por isso entende tanto de saúde. Eu também sou um pouco, mas nem tanto.
Depois de me recuperar, rolou uma outra pequena desavença entre eu e Juliana. Ela não queria que eu fizesse as minhas andanças, dizendo que isso é coisa de louco e tal. Eu já não acho isso, para mim é a coisa mais normal do mundo sair por ai com a mochila nas costas. Como já disse em um vídeo no youtube, não podemos colocar todas as nossas ações e pensamentos na conta da esquizofrenia, somos mais do que um simples rótulo. Eu tenho essa necessidade de às vezes sair andando por ai, conhecer novos lugares e pessoas, não foi a toa que acabei me tornando um operador de som, apesar de ter estudado eletrônica por quase quatro anos.
Então, como não entramos em um acordo sobre as minhas andanças, resolvi sair de seu apto, sem brigas, foi uma conversa amigável. Agradeço a tudo o que ela fez por mim, e a sua preocupação com a minha pessoa, o pouco tempo que passei em seu apto me fez sentir bem melhor. Até que estava precisando de dar uma apagada mesmo, como para que zerar o meu stress. Não estou tendo mais dores musculares como antes, e parei de ter distensões. Estou podendo ficar tranquilo e relaxado, coisa que não fazia há anos.
Como é bom deixar o celular em qualquer lugar, sem receio de ser roubado! Estou há três dias sem ouvir funk! Digo novamente que não tenho nada contra os funks que têm notas musicais, como o Claudinho e Bochecha e o Mc Leozinho e outros mais. Mas, convenhamos, acordar todo dia de manhã, às oito horas, com o chão e as vidraças estremecendo com esse tal de funk "moderno", deixa qualquer um maluco!
A minha maior curtição no Rio de Janeiro, sem brincadeira, está sendo deixar o celular em qualquer lugar, para encontrá-lo são e salvo no dia seguinte. Tem dia que deixo o celular em cima da mesa, outro dia deixei na poltrona, etc. Parece gozação, mas não é não. Para quem antes não podia nem deixar um chinelo usado de bobeira na entrada do quarto, deixar o celular em qualquer lugar se tornou uma maravilha!
Depois da desavença com a Juliana, resolvi antecipar a minha visita à minha amiga Danielli, também leitora do blog. Fui muito bem recebido, me sentindo importante ao ver a cama com as coisas que ela comprou para mim. Como podem ver na foto ao lado, tinha bombom e até colgate total 12! Ela também tem esquizofrenia, mas está bem e até fazendo faculdade. Com ela o diálogo foi mais fácil e tranquilo, e logo me senti em casa, pois ela me dava liberdade de ir e vir, algo que é mais do que uma necessidade para mim. Como ela, assim como eu, tem esquizofrenia, rapidamente me senti à vontade em seu apto. Nos primeiro dia o papo foi aquele de esquizofrênico mesmo, cada um falando de suas paranoias, medicamentos, internações, etc. Descobrimos que tínhamos algo em comum: usamos o mesmo sabonete, da marca protex, que deve ser o preferido dos hipocondríacos, por ser antibacteriano.
No dia seguinte, fomos ver o pôr do sol na praia do arpoador. Há cerca de quatorze anos que não via o mar. Foi muito bom sentir aquela brisa do mar bater em meu rosto no ônibus quando chegamos a orla. Estava sentindo saudades daquele cheiro de mar, que não sei descrever como é, mas pouco a pouco estava me sentindo mais revigorado a cada vez que respirava mais fundo, pois era um ar gostoso de se respirar. Dizem que o Rio é uma cidade com poluição, mas em Ipatinga creio que a coisa é bem pior, o ar me parece ser mais quente e seco, sei lá.
Paramos no mirante do Leblon e tiramos algumas fotos, quer dizer, ela tirou, eu, como a maioria já sabe, não me dou bem com as câmeras, e só tirei foto das paisagens, como essa ai do lado. Ela me mostrou a Pedra do Arpoador, que deveria estar há uns dois quilômetros de distância. Disse que iríamos ver o pôr do sol de lá e saiu numa correria pela calçada, e eu atrás. Até que na praia do Leblon estava fácil caminhar, não estava tão cheia assim. Mas as coisas logo mudaram quando chegamos em Ipanema. Cada metro quadrado era ocupado ali: gente fazendo caminhada, correndo, andando de bicicleta, ou só de bobeira mesmo, curtindo a praia, como a maioria dos turistas. Mas a Danielli continuava determinada em sua caminhada, e eu, ziguezagueando no meio da multidão. Confesso que já estava ficando chateado com aquela situação, e me perguntei o que havia assim de tão interessante nessa tal Pedra do Arpoador. Poderíamos desistir e deixar para outro dia, pois a praia nessa época fica mais do que super lotada.
Depois de uma longa caminhada, chegamos a tal Pedra. Para piorar a situação ainda mais, estava tendo um show na avenida, ao lado da Pedra, tornando ainda mais difícil o acesso para subir e ver o pôr do sol. Confesso que me deu vontade de ir embora e voltar para Belo Horizonte naquele dia mesmo, não estava me sentindo nada bem em meio aquela multidão. Mas resolvi continuar, afinal, já tinha caminhado quase dois quilômetros e não queria ter outra desavença. Respirei fundo e então me acalmei para enfrentar mais essa situação.
Chegando ao topo da pedra, entendi o porque da correria da Danielli para chegar ao local antes do sol se por. O visual é muito bonito e relaxante. Não me preocupei tanto em filmar e tirar fotos do local, só queria curtir aquela paisagem e aquela brisa refrescante. Ficamos quase duas horas no Arpoador, quando alguns raios começaram a clarear o céu. Confesso que valeu a pena aquele sufoco todo para ver essa maravilha da natureza. Eu sei que vocês devem estar pensando que rolou um clima entre nós, mas é só amizade mesmo, ela é muito legal e hospitaleira.
O resto do carnaval foi e está sendo sem muitas novidades. Não gosto de aglomerações e o que mais estou precisando no momento é de descanso e paz. Gostaria muito de conhecer vários outros lugares do Rio, ficar andando por ai pela cidade maravilhosa, mas no carnaval é meio complicado fazer isso, só quem gosta de folia é que vale a pena andar por ai pelo centro e pelas praias. Gostaria muito de conhecer a rádio Pinel, mas fica para a próxima vez. Estou me preparando para começar as minhas andanças e tenho que aproveitar esses dias de mordomia, de cama arrumada e macia, de almoço na mesa, de poder dormir na hora que quiser, pois, quando estiver nas ruas, as coisas serão bem diferentes.