terça-feira, 26 de novembro de 2013

Lições que a vida nos ensina


    Enquanto espero o mês de janeiro para viajar, vou fazendo as minhas divagações. Gostaria de ser mais falante, sou, além de esquizofrênico, um típico mineiro. Por isso me acho duplamente introspectivo. 
    Como a minha mochila está desnecessariamente pesada, resolvi procurar um local para pelo menos deixar a minha barraca, que pesa cerca de dois quilos. A primeira ideia que surgiu foi tentar achar alguém perto do albergue, mas logo descartei essa hipótese. Infelizmente uma minoria de usuários do abrigo colabora para que haja uma certa rejeição dos vizinhos por nós. Alguns, sem o menor respeito urinam em frente ao abrigo enquanto esperam na fila para entrar. Outros, alcoolizados, brigam por motivos fúteis. Sem contar os palavrões que são ditos aos gritos, independente do horário. Tenho pena do vizinho que mora logo em frente a portaria do albergue. Me colocando no lugar dos moradores do bairro, consigo entender perfeitamente essa rejeição. 
    Mas como já disse anteriormente, a maioria da galera e de paz, gente boa mesmo. Pessoas que querem trabalhar, se livrar das drogas, mas que no geral tem problemas de relacionamento com seus familiares. 
    Então resolvi procurar uma das várias igrejas evangélicas que existem no bairro. Na primeira tentativa não obtive sucesso. Esperei cerca de meia hora até que o pastor da igreja Divina Providência chegar em seu luxuoso carro preto, não sei qual o modelo. Sou da época em que os carros eram bem diferentes uns dos outros, era fácil saber o modelo. O fusca era meio arredondado, o corcel meio quadrado, etc. Hoje já não sei dizer o modelo de nenhum carro, são muito parecidos uns com os outros, com suas formas arredondadas, geralmente nas cores preto e prata ou então brancos. 
    Voltando ao pastor, me senti um lixo quando ele saiu apressadamente do veículo e, antes mesmo que eu lhe desejasse um bom dia, sem ao menos olhar para a minha pessoa, fez o sinal negativo com o dedo indicador. 
    Será que ele estava pensando que eu iria pedir dinheiro? E se estivesse sem mochila e de terno e gravata? Ele me trataria da mesma maneira?
    É óbvio que o pastor e nem ninguém tem a obrigação de me ajudar nesta questão da barraca, afinal foi um caminho que eu mesmo escolhi. Mas não custava nada o pastor ser ao menos um pouco educado e dizer:
    - Olha, infelizmente não posso lhe ajudar, é complicado deixar a barraca na igreja e tals...
    O pastor seguiu apressadamente para o segundo andar da igreja, para ministrar a escola dominical. Fiquei desapontado e bem pra baixo, afinal o que eu tinha feito para ser tratado daquela maneira? Eu, que sempre ajudei algumas igrejas na época em que trabalhava como operador de som sem cobrar um tostão, agora sequer podia deixar a minha humilde residência encostada em algum cantinho da igreja. 
    Confesso que disse "algumas coisas" para um membro da igreja que havia me atendido. Ele disse que o pastor era uma pessoa abençoada, mas sinceramente não foi isso o que ele deixou transparecer, ao chegar mais de vinte minutos atrasado para o trabalho e com a cara de poucos amigos(será que ele tem mania de perseguição como eu?)
   Mas não desanimei, pois tenho dos evangélicos muito mais recordações boas do que ruins. Para falar a verdade, poucas recordações ruins. Um ou outro membro ou pastor moralista que esquece um dos principais ensinamentos da bíblia, que é não ficar julgando os outros. Pessoas que se acham salvas só por que frequentam uma igreja. 
     Então subi dois quarteirões e fui parar na igreja Assembléia de Deus. A escola dominical já havia terminado e os membros conversavam do lado de fora da igreja, onde era servido um lanche. Me convidaram para entrar e, eu, claro não recusei a "boquinha" e comi um pedaço de bolo com refrigerante. Me senti a vontade naquele lugar e conversei com alguns membros que ouviram atentamente a minha história. No final disseram que não podiam me ajudar, que seria complicado se responsabilizar pela barraca enquanto ela estivesse na igreja. Não fiquei chateado, pois, como já disse, ninguém tem a obrigação de me ajudar nesta questão. Só o fato deles conversarem comigo sem pré julgamentos me fez sentir gente outra vez. 
    Me despedi do pessoal e fui atrás de outras igrejas. Algumas já estavam fechadas, outras não funcionavam no domingo de manhã. Já estava quase desistindo quando avistei a placa da igreja Batista Getsêmani. Na porta o pastor conversava com um membro. Cumprimentei-o e comecei a explicar o motivo dessa minha procura. Ele me convidou para entrar e conversamos bastante. Quer dizer, eu conversei, pois ele ouvia atentamente sobre as minhas andanças que comecei a fazer este ano. No final oramos e ele, além de guardar a minha barraca me deu uma bíblia novinha. Prometi retornar em janeiro para buscá-la, a fim de viajar para São Paulo. 
    Voltei para o abrigo com o ânimo renovado e, claro, me sentindo mais leve. Aquele silencioso não do pastor da igreja Divina Providência havia me deixado com a moral baixa. Mas, felizmente um defeito que não tenho é de guardar sentimentos negativos em meu coração. Voltei para a igreja do pastor marrento a fim de pedir desculpas ao membro que eu havia ditos algumas palavras. Mas ele já não estava mais lá. Tudo bem, só espero que ele também não tenha esse defeito e que já tenha esquecido de tudo. 
    -obs: resolvi colocar o nome das denominações por uma questão de justiça, reiterando que tenho enorme respeito pelas igrejas evangélicas. 

    Esses dois poemas foram retirados do livro escrito por usuários do centro de convivência do bairro São Paulo, aqui em Belo Horizonte. 





Sem título
O tempo é imensurável
a cor do tempo é variável
o santo do tempo é Deus
a forma do tempo é redonda
as músicas do tempo são os ventos
os perigos do tempo são os medos
os mistérios do tempo são as surpresas
o tempo é de Deus
autor: Maria auxiliadora Guerreiro Ramos





Brincar com as palavras

Mar rima amar

águas de matas e cascatas

de rios que fluem

em armadilhas de árvores

que vem das ilhas

de raras folhas silvestres

onde perdem o que acham

 de saber voar e revoar sem

trama; sem tira, sem arma e com mira

        rumo ao alvo de antigas canções ao som de liras.

                                                                          autor: Guilherme de Oliveira Silva












Lançamento do cd Os devotos de São Doidão


Lançamento do cd Os devotos de São Doidão

    Com ousadas releituras de clássicos da MPB e canções inéditas de novos compositores mineiros, o grupo musical São Doidão tem movido sua arte com singularidade estética e irreverência artística em suas performances. O grupo São Doidão convida a todos para o show de lançamento do seu primeiro CD, "Os Devotos de São Doidão. 
-Data: 30 de novembro de 2013
-Horário: 19h30min
-Local: Teatro de Câmara no Cine Theatro Brasil Vallourec, situado na praça sete no centro de Belo Horizonte.
-Ingressos: Entrada franca
-Contato: saodoidao@outlook.com

     Está ai um bom programa para quem não só lida com a saúde mental como também gosta de boa música. Não conheço o grupo ainda mas dizem que os caras são bons e o melhor, é de grátis. Quem é de BH e região não custa nada ver o show, começa cedo e termina cedo. 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Divagações esquizofrênicas


"descansando no parque"

    No mesmo parque, no mesmo banco. Há cerca de quatro meses atrás estava fazendo a mesma coisa que estou fazendo neste momento: escrevendo um post, sem um assunto definido, neste agradável parque ecológico de Belo Horizonte.
    Só que estava mais animado, há poucos dias dormindo no abrigo São Paulo. Ficar montando e desmontando barraca todo dia também cansa, além de ser um pouco perigoso dormir nas ruas de Belo Horizonte, que dizem ser a capital mais perigosa para moradores de rua. Sinceramente não acho isso. Para mim não existe um grupo de extermínio, supostamente contratado por donos de lojas cansados de verem moradores de rua fazendo necessidades na porta de seus estabelecimentos. Ao ler os jornais, dá para se constatar que o motivo das brigas entre os moradores são as drogas, tanto as legais como as proibidas.
    Por isso não tenho tanto medo assim de morar nas ruas de BH. Não me envolvo em confusões e não sinto a menor necessidade de consumir drogas de nenhum tipo. Quer dizer, quase nenhuma, já que o chocolate e outras guloseimas alteram o funcionamento do cérebro(aquele lance da serotonina), nos  deixando mais animadinhos, e isso pode ser considerado uma droga.
    Por falar em animação, não estou muito animado esses dias. Só quero fazer uma coisa: dormir o dia inteiro. Será o horário de verão? Ou a rotina de um morador de albergue, com horário para tudo?
   Acho que são esses dois fatores juntos. Eu sempre detestei o horário de verão, mas no final acabava me acostumando com ele. Mas agora as coisas são diferentes: o pessoal do albergue não dá mole não, o horário para se acordar continua o mesmo: cinco horas da manhã, faça chuva ou faça sol. Até o galo do vizinho insiste em cantar no horário antigo...


    Deixei para caminhar e me exercitar na parte da tarde. De manhã deixa de ser um prazer para virar uma obrigação. É uma obsessão saudável minha, essa que tenho em relação ao peso. A balança tem que estar entre 82 e 83kg. Não me importo mais se as pessoas me acham magro ou gordo demais, me preocupo mais com as minhas taxas de triglicerídeos e de colesterol, além de me sentir bem, é claro. Vontade de escrever também já não tenho, atualmente não estou publicando posts toda semana. Hoje fui na padaria e tomei um generoso copo de café, dois pães com manteiga, um pão de queijo e um chocolate de sobremesa(diamante negro). Fiquei mais animado e resolvi escrever este post, mesmo sem ter um assunto definido. É um post simples, sem nada planejado, vou escrevendo e pronto, o que sair, saiu. Por isso se chama divagações esquizofrênicas. Mas será que estou precisando de me drogar para ter vontade de escrever alguma coisa?
     Cheguei a tentar fazer alguns bicos, de trabalho pesado. Não tenho receio de publicar isso, mesmo sendo aposentado pelo INSS. Já estou com 45 anos e sei que não aguento mais serviços pesados. Ainda tenho essa paranoia de que as pessoas querem a qualquer hora inventarem alguma coisa para que eu perca o meu benefício. Tentei fazer uns bicos para comprar um celular, mas resolvi desistir. As dores físicas era um problema, mas pude perceber que estava começando a enxergar inimigos quando trabalhava. Imaginava que os meus colegas do abrigo estavam contra mim no trabalho, tentando me derrubar, etc. Pensava que falavam mal de mim para o chefe. E isso é um problema e tanto. Parei de conversar com os caras no segundo dia. Dizem que a medicação resolve isso, mas e a lentidão e o desânimo que ela causa? Penso também que o pessoal do abrigo e mais o mundo inteiro querem me denunciar para o INSS, inventando algo para tirar a minha aposentadoria. Tenho a consciência tranquila que apenas estou recebendo um direito meu, pois, enquanto tive condições, trabalhei e muito. Aliás, ficava deprimido quando chegava o mês de janeiro, pois era uma época de pouco serviço para a área de sonorização.
    Talvez a rotina seja desanimadora. Às quatro da manhã(no horário de verdade...) me levanto, tomo um banho frio para acordar e tomar o café. O banho na parte da manhã é proibido, dá até advertência para o infrator. Me seco com o lençol da cama, acho que o monitor sabe que faço isso, mas deixa passar essa pequena infração. Depois do café geralmente vou para o parque, escutar os sabiás, bem-te-vis e outros pássaros cantarem. Me sinto em casa nesta pequena reserva ecológica: poucas pessoas, muitas árvores e tranquilidade. De manhã ouço todo dia o programa "emoções" na rádio América, que toca as músicas do Roberto Carlos, principalmente as mais antigas, com a qualidade de som precária, com os instrumentos antigos. Mas acho legal essas músicas nas versões antigas, ainda mais quando estou meio nostálgico.
    Às onze horas almoço no restaurante popular. Antes passo no pequeno supermercado do bairro para tomar o meu yakult do dia a dia.  Depois do rango, se conseguir não comprar nenhuma besteira para me empanturrar, volto para o parque e fico por lá até as cinco horas da tarde, para voltar para o albergue.
    Lá pelas onze horas escuto um programa no rádio que toca música clássica por uma hora e meia. É uma sensação diferente escutar esse tipo de música entre as árvores do parque.
   De noite é muita fila no abrigo. Fila para entrar, fila para deixar a mochila no guarda volumes e pegar a toalha. Uma longa fila para o banho e mais uma para entregar a toalha. Depois a fila para o jantar e um outra para pegar o lençol para forrar a cama.
    Depois das filas é hora de dormir. Ou melhor, tentar dormir. Pode conversar e deixar a luz acesa até as nove horas da noite.
    Dormir no abrigo é um exercício e tanto de paciência, acho que é um teste de convivência. Tem um cara lá que comprou uma caixinha de som do Paraguai que tem entrada para cartão de memória, rádio FM e tudo mais. Só faltou a saída para fone de ouvido! E adivinhem o qual o gênero "musical" preferido do cara? Uma pista: é aquele que tem uma batida repetitiva e letras "muito inteligentes", sendo os temas principais a droga e a pornografia(não mencionei sexo pois isso é algo sadio e quase uma necessidade). Mas o cara é gente boa, pois não gosta muito de falar da vida alheia, o que eu considero uma qualidade e tanto.
    Me sinto um estranho no ninho em qualquer lugar, mas no albergue essa sensação é maior ainda, apesar de ter muita gente boa por lá. Como já disse anteriormente, há vários tipos de pessoas usando o abrigo: caras que estão à procura de emprego, vindos de vários lugares do Brasil, ex-detentos que não tem oportunidade de emprego, e outros que fogem só de ouvir essa palavra. Tem caras que estão no mundo das drogas e que tentam se livrar dela, e outros que não querem nem fazem nenhum esforço para se livrar do vício.. Têm mães solteiras, à procura de uma ajuda para cuidar de seus filhos. Tem um cara lá que é garçom e que sabe falar vários idiomas fluentemente e que está temporariamente desempregado.
    Também tem os chamados trecheiros no abrigo, que ficam andando por ai pelo nosso Brasil sem um destino definido. Eu gostaria de me tornar um trecheiro, andar por ai, sair da rotina, já que tenho a minha renda e nem um passarinho para cuidar. Quando morei quase um ano em um albergue de Ipatinga ficava com um pouco de inveja, ao ver os trecheiros entrando e saindo sem parar, indo para vários lugares do Brasil. Eu era considerado um pardal, por não sair do lugar. Não quero ser um pardal, já joguei muita coisa fora em prol da minha liberdade. Liberdade principalmente de ser quem eu sou realmente. Vou tentar alguma maneira de receber o meu pagamento pela caixa econômica, para poder retirá-lo em qualquer cidade do Brasil e até em casas lotéricas. Estou muito ansioso para que chegue o mês de janeiro, para fazer a viagem para São Paulo e percorrer os Passos dos Jesuítas Tenho um pouco de receio ainda de andar por São Paulo, acho que é perigoso, mas deve ser coisa de minha cabeça....

    Ainda ouço um pouco as vozes, mas ultimamente elas estão mais quietinhas. Não tenho vozes de comando, a maioria das coisas que ouvia eram pessoas me ameaçando e falando mal de mim. Hoje não dou muita importância a elas, mas às vezes fico em situações no mínimo estranhas, pois não sei se o que eu ouço é realidade ou não, então tenho que ficar calado em certos momentos. Tinha uma mulher lá no abrigo, que também usava os serviços do estabelecimento, que, quando me encontrava, ficava me olhando. Ela é bonita, alta e tem um corpo muito bonito. Me perguntava o por que de estar olhando para mim, era muita areia para o meu caminhãozinho. Sempre quando a encontrava ficava meio tenso, querendo conversar com ela. Certa vez ouvi uma voz dizer:
    - Se você não quer tem quem queira!
    Fiquei paralisado, não tinha certeza se era real ou não. E se fosse verdade? Mas e se fosse imaginação minha e eu conversasse com ela? Certamente me acharia um louco e por isso não dei muita bola para essa voz que ouvi e que até hoje não sei se foi real ou não.
    Também têm vários esquizofrênicos no abrigo, pelo que pude perceber com o tempo e a convivência. Aliás, o  índice de esquizofrênicos no abrigo é bem maior do que o da população mundial, que é de 1%. Acho que no abrigo atualmente tem uns cinco portadores, além de mim.
    Tem um esquizofrênico que frequenta o cersam, mas ele vive dormindo, quase não fala e dificilmente janta. Toma o medicamento por volta das sete horas e já vai dormir. Tem um outro, que é baiano, que parece ter umas viagens místicas, fazendo previsões e mais previsões, se dizendo vidente da "Tchecoslováquia de Salvador" e que veio da Nigéria. Disse que a Argentina irá ganhar a copa do mundo de 2014 e que o Brasil só será campeão em 2022 na França. Mas geralmente as previsões dele são sempre tragédias: assaltos, catástrofes, etc. Mas no geral o cara é tranquilo, não mexe com ninguém é só conversa com quem lhe dá atenção.
    Tem um outro cara que é esquizofrênico e que voltou agora a tomar os medicamentos. Disse-me que as vozes de comando voltaram e está com medo de surtar novamente. Expliquei para ele que talvez seja o ambiente do abrigo que o esteja deixando estressado e dei algumas dicas de como controlar a situação. Também fiquei conhecendo um outro portador de esquizofrenia, aparentemente normal, não apresentava sinais que tinha a patologia, não apresentava lentidão e se articulava bem. Só descobri que tinha a patologia quando o vi carregando uma sacola cheia de medicamentos. Um outro que conheci, foi um cara que ficava conversando e gesticulando sozinho, mas que é super tranquilo também. Como o albergue tem capacidade para 90 pessoas, o índice é de quase 7%, bem maior do que a média mundial. Mas a explicação para isso é bem simples: o abrigo, como o próprio nome indica, é para acolher e ajudar as pessoas, e nós, esquizofrênicos, em algum momento de nossas vidas precisamos de muita ajuda para tentar superar essa patologia complicada.
    Pude constatar, pelo dia a dia, que os esquizofrênicos dão uma lição de como se comportar em ambientes como do abrigo. Até hoje não vi nenhum problema ou confusão causado por nós. Já os ditos normais do abrigo costumam tomar suspensões e várias vezes já brigaram uns com os outros. Sem contar os temas das conversas, que geralmente são crimes e cadeia. Mas tem muita gente boa por lá, alguns são exemplos de vida, mas não irei comentar aqui por não ter autorização deles para isso.

Futebol
    O campeonato brasileiro de 2013 "acabou" faz tempo, sem muita festa por aqui. Esse título já estava definido há muito tempo mesmo. Muito previsível, com essa fórmula de pontos corridos: todo mundo joga contra todo mundo e quem fizer mais pontos ganha. Muito certinho e geralmente ganha o melhor. Alguns devem estar se questionando: mas isso não é justo? Claro que sim, parabéns ao Cruzeiro por ter sido o melhor time, por ter se preparado bem para o longo e difícil campeonato. Mas cadê a adrenalina, o frio na barriga dos jogos decisivos e importantes? O jogo dramático final, com a taça de campeão ao lado do gramado? Hoje em dia o time é campeão sem dar a volta olímpica com a taça, sem aquele jogo que é um verdadeiro teste para cardíacos! Mas não, os mais "inteligentes" preferem a fórmula dos pontos corridos, dizem que na Europa é assim e temos que copiá-los. Mas eles esquecem que na Europa é outro padrão de vida, e o dinheiro corre solto nos clubes. Até parece que os clubes brasileiros não estão endividados e que estão nadando em dinheiro. Olhem só a comparação de média de público entre um campeonato "mata-mata" e o campeonato de pontos corridos do ano de 2012.
antigo Maracanã lotado, isso sim era democracia


    Média de público do campeonato brasileiro de 1980: 20.792
    Média de público do campeonato brasileiro de 2012: 13.148
    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:P%C3%BAblicos_no_Campeonato_Brasileiro_de_Futebol

    Contra os números não tem como argumentar né? No dia em que o Brasil for um país justo, sem mensalões, e com as dívidas dos clubes pagas,  ai sim poderemos pensar em fazer um campeonato de pontos corridos, igual a Europa. 
    Os times que não tem chance de título estão fazendo jogos sem importância, verdadeiros amistosos, apenas para cumprir tabela. Estádios com pouco público, muito dinheiro jogado fora. A emoção deste campeonato está em ver quem irá cair para a segunda divisão...
    Depois eu que sou o doido...
    Saudações esquizofrênicas!

   Como neste post falei do Roberto Carlos e o uso de drogas, me lembrei de uma música dele que me identifico muito. Fala sobre as drogas. Não tenho vergonha de falar que sou um eterno careta. Viajo nas ondas do mar, fico louco para viajar por esses lugares lindos do nosso Brasil.



Abro a camisa e encaro esse mundo de frente
Olho p'ra vida sem medo sabendo onde vou
Digo que não que não quero
Passo batido, acelero
São outras coisas que mexem com a minha cabeça
Por isso
Esqueça.

Meu grande barato é o cheiro da brisa do mar
Me ligo na onda do rádio do meu coração
Viajo na luz das estrelas
Me sinto feliz só de vê-las
E fico contente de ser
Esse grande careta
Careta
Careta.

Droga quem afinal é você
Que está se entregando e não vê
Que a vida oferece outras coisas
Droga
Por tudo, por nada e porque
Nadar nessa praia pra que?
A vida oferece outras coisas.

Às vezes quem sabe de tudo tem mais pra saber
Que a porta tão larga na entrada se estreita depois
E quando lá dentro se apaga
A luz da estrada perdida
É duro esmurrar as paredes
Buscando a saída
De volta p'ra vida.

Talvez você ache uma droga essas coisas que eu falo
Mas certas verdades nem sempre são fáceis de ouvir
Não custa pensar no que eu digo
Eu só quero ser seu amigo
Mas pense no grande barato de ser um careta
Careta
Careta.

Droga quem afinal é você
Que está se entregando e não vê
Que a vida oferece outras coisas.

Droga, por tudo, por nada e porque
Nadar nessa praia pra que?
Você não merece essas coisas.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Esquizofrenia e egocentrismo


  Todo esquizofrênico é egocêntrico?

  Mania de perseguição é um dos sintomas da esquizofrenia. É muito mais comum do que pensamos, mas não necessariamente quem tem mania de perseguição é esquizofrênico. Existem graus de mania de perseguição, que vai desde uma cisma, passando para uma neurose e indo até a psicose.
    Egocentrismo é a principal característica de alguém que se acha o centro do universo. Mas o que uma coisa tem a haver com a outra?
    Bem, analisando a mim mesmo e a outros amigos portadores de esquizofrenia que já conheci pessoalmente, pude perceber que o pronome "eu" é citado algumas vezes,  acho que um pouco a mais do que deva se considerado dentro dos padrões da normalidade.
    Eu já tive um pouco disso no passado, e, com um pouco de esforço e atenção consegui diminuir esse pronome pessoal do meu dia a dia.
    Será que todo esquizofrênico é egocêntrico? Existe uma relação esquizofrenia x egocentrismo?
    Para tentar explicar essa questão, vou dar a minha opinião sobre o egocentrismo, pois sobre a mania de perseguição já publiquei dois posts.

    Na minha humilde opinião, sem olhar o Dr. google, creio que egocêntrico é o sujeito que se acha o centro do mundo e também se acha o melhor em tudo. Vive comentando os seus feitos e suas qualidades. O motivo de falar tanto em si mesmo eu não sei, mas chego a pensar se não é insegurança, carência, necessidade de atenção, etc.
    Mas eu não sou e nunca fui um "cara que se acha", então por que pensava que era o centro das atenções?
    Para mim, fazendo uma auto-análise, a resposta para essa questão está nesse sintoma da esquizofrenia que é bem desagradável: a mania de perseguição.
    Eu não achava, tinha, e às vezes ainda tenho, a certeza de que as pessoas estão sempre olhando para mim, em qualquer lugar que eu esteja. Penso que as pessoas estão me seguindo e que sabem de tudo o que eu estou fazendo. Ou seja, então tenho que ser um santo. Se por acaso cometo um deslize, já penso que todos já estão sabendo o que eu fiz. Quando uma pessoa me encara então já penso que ela está meio que me censurando. Penso também que se a pessoa está me encarando é para roubar os meus pensamentos. Pode parecer loucura, mas tenho um pouco disso até hoje. Ter consciência do problema ajuda e muito, mas não quer dizer que a questão esteja resolvida.
   Voltando ao assunto egocentrismo, o fato de sentirmos que estamos sendo observados faz com que pensemos que somos o centro das atenções, mas nem sempre de uma forma positiva.

    Achamos que existem câmeras por todos os lados nos vigiando. Para piorar a situação, isso é uma realidade nos grandes centros, por causa dos assaltos. Mas quem tem a mania de perseguição se sente observado em qualquer lugar. Quando estava surtado, no meio do mato, pensava que alguém me observava ao longe, usando um binóculo.
   Enfim, sentir que estamos sendo observados  e controlados nos faz sentir que somos o centro das atenções, mas,como disse, nem sempre de uma forma positiva. Mas isso não tem nada a haver em  nos achamos o máximo em tudo.
    Esse post eu escrevi há duas semanas atrás. Não o publiquei pois não fiquei satisfeito com o resultado e com o conteúdo, e principalmente por achar que não explicava a relação esquizofrenia e egocentrismo. Cheguei a conversar com amigos virtuais que também têm esquizofrenia, o que me deu alguma luz sobre o assunto.
    Após dias e mais dias matutando e refletindo sobre o tema, cheguei a conclusão de que, algumas vezes, nós, esquizofrênicos, somos muito desconfiados e não nos abrimos com qualquer pessoa. Quando encontramos alguém em quem confiamos, sentimos uma enorme necessidade de falar de nós mesmos, o que pensamos, o que fizemos, ou simplesmente para desabafar mesmo. Nos sentimos mais aliviados depois de uma boa conversa, afinal não é fácil encontrar alguém que nos ouça e entenda, sem que façam chacotas de nossas paranoias. Então poderíamos dizer que seria meio que um egocentrismo involuntário, já que estamos fechados para o mundo exterior, e vivemos mais em nossos mundos.
    Acho que a maioria das pessoas precisam de alguém para conversar, isso é normal, mas no caso da esquizofrenia é um pouco mais complicado, pois, como já disse, somos extremamente desconfiados.