Gostaria de esclarecer, antes de tudo, que essa postagem não foi feita para incentivar ninguém a parar com seus medicamentos, é apenas uma ajuda para aquelas pessoas que pretendem parar com os remédios por acreditarem que podem viver sem nenhum tipo de droga ou que então já estão prontas para viver a vida normalmente. O que posto é resultado de minha própria experiência na difícil tentativa de parar com o diazepan.
Os ansiolíticos, os antidepressivos e em alguns casos os antipsicóticos deveriam ser receitados ou indicados para serem usados em um momento específico de nossas vidas. Momentos em que não nos sentimos bem e precisamos de uma ajuda extra para conciliar o sono e realizar algumas tarefas, e, no caso dos antipsicóticos, de organizar os nossos pensamentos.
O problema maior é que algumas vezes não somos avisados sobre o risco que esses medicamentos têm de causar uma forte dependência física e psicológica. Os médicos ou estão sem tempo para nos avisar ou então estão sendo displicentes mesmo, pouco ligando para a saúde de seus pacientes. Claro que existem exceções, não vamos generalizar.
No meu caso em particular, me foi receitado o diazepan sem nenhuma ressalva ou aviso sobre o risco da dependência. Foi a minha primeira consulta com um psiquiatra e não demorou mais do que dez minutos. Havia saído do meu primeiro e mais grave surto psicótico e sai praticamente diagnosticado e com as receitas na mão nesse curto intervalo de tempo.
Recebi as cartelas na farmácia do posto de saúde. A bula não recebi, e, caso tivesse recebido, provavelmente não a leria, de tão pequena que são as letras e também pelo vocabulário usado nestas bulas serem de origem acadêmica, de difícil compreensão. Confesso também que foi um erro meu, a falta de informação sobre esse tipo de medicamento. Na minha mente eram pílulas milagrosas, capazes de me proporcionar o sono dos justos e consertar a minha cabeça maluca e sonhadora.
No início não senti dificuldades, tomava um comprimido de 10mg e conseguia acordar por volta das sete horas da manhã, pois ainda estava morando nas ruas e dormia em frente ao instituo estadual de florestas, aqui em Belo Horizonte.
Mas, com o tempo, a memória começou a ficar prejudicada, principalmente a recente. Consigo lembrar quase que perfeitamente de fatos da minha infância e antigos, mas esqueço com uma facilidade enorme o nome de uma pessoa que me foi apresentado há pouco tempo. Nome de ruas então, nem pensar em tentar decorar, o jeito é escrever em um papel mesmo ou anotar no celular. E, por falar em celular, já desisti há muito tempo de decorar telefones, nem o número do segundo chip que comprei há pouco tempo consigo decorar, mas o que comprei há mais de dez anos lembro-me com facilidade...
E, além do prejuízo da memória que constatei, ainda se tem notícias que o uso prolongado desses benzodiazepínicos podem causar outros problemas como fala arrastada, cansaço, a tradicional ressaca na parte da manhã. Esses são efeitos a curto prazo, já a longo prazo se comenta muito que pode causar até Alzheimer e demência.
Efeitos dos ansiolíticos a longo prazo
Efeitos adversos tardios produzidos pelos benzodiazepínicos incluem uma deterioração geral da saúde mental e física que tendem a aumentar com o tempo. Nem todos, porém, enfrentam problemas com o uso a longo prazo. Os efeitos adversos podem incluir também o comprometimento cognitivo, bem como os problemas afetivos e comportamentais: agitação, dificuldade em pensar de forma construtiva, perda do desejo sexual, agorafobia e fobia social, ansiedade, depressão maior, perda de interesse em atividades de lazer e incapacidade de sentir ou de expressar as emoções. Além disso, pode ocorrer uma percepção alterada de si, do ambiente e nas relações sociais.
Então, a solução que encontrei foi parar enquanto não aparecesse os sintomas mais complicados.
Na primeira tentativa, desisti logo no início, que foi o método mais radical: parar de tomar de uma vez e pronto! Mas no meu caso veio uma pressão interna na cabeça bem forte, parecendo uma dor de cabeça, na altura da testa, bem perto dos olhos. De início pensei que fosse alguma besteira que havia comido, mas, pesquisando na internet, vi que outras pessoas também tinham esse sintoma. Além desse incômodo, notei que também estava ficando mais agitado e me irritava com facilidade. Resolvi voltar a tomar o diazepan e a dor de cabeça, juntamente com os outros sintomas sumiram.
Na segunda tentativa, não obtive muito sucesso também. O método aplicado foi de tomar um comprimido de diazepan dia sim, dia não, ou melhor dizendo, noite sim, noite não.
Não achei esse método eficiente, pois como há uma grande dependência psicológica, senti muita dificuldade de pegar no sono nas noites em que não tomava o comprimido do pan nosso de cada dia.
A terceira tentativa foi a que deu mais resultado e que estou aplicando até hoje. O método é simples: ir diminuindo gradativamente até a dose mínima sem sentir os sintomas mais fortes da abstinência. Cheguei a tomar 20mg por noite, diminui para 10mg e depois de alguns meses consegui diminuir para 5mg, o que é um grande feito para quem não conseguia sair de casa sem estar com uma cartela do diazepan no bolso, pois no meu caso particular o medicamento funcionava também como um SOS para evitar as crises paranoicas que tive e ainda tenho. Estava com uma mania de perseguição absurda e, do nada viam crises de pânico e uma vontade enorme de me esconder. E, como ainda estava trabalhando na época, tive então que usar o diazepan como um sos mesmo, pois os antipsicóticos me deixavam com muito sono e lento, podendo causar um acidente de trabalho, pois tinha que carregar caixas de som e ficar algumas noites acordado durante as festas.
Com esse terceiro método vou tentando parar. Fico chateado, pois não pedi para ter esse vício, que é o único que tenho, tirando o chocolate e outras besteiras. Creio que todos os médicos deveriam alertar seus pacientes sobre os riscos da dependência física e psicológica desses medicamentos, e que eles não fazem milagres, pois, se estamos devendo “a Deus e ao mundo”, nossas contas não serão pagas pelos pans da vida.
Creio que com os antidepressivos também deve ser usado esse terceiro método. Já ouvi dizer que não precisam de desmame esses medicamentos, mas como o nosso organismo não ficaria acostumado com algo que é feito por pílulas e que deveria ser feito por ele mesmo? Neste caso cito a serotonina, que é produzida naturalmente pelo nosso organismo, e que, de repente é ajudado por um comprimido a liberar o neurotransmissor. Não ficaria acostumado, viciado o nosso organismo? Creio que sim.
No caso do diazepan e outros remédios para ajudar a conciliar o sono, além do método citado, é aconselhável também a praticar exercícios físicos, que ajudam a diminuir o stress e a ansiedade. E também ajudam no bem estar, caso a pessoa esteja querendo se livrar de algum antidepressivo. Reduzir o consumo de café e outros estimulantes também é aconselhável, principalmente no período da noite.
Já estou tirando um pedacinho do meio comprimido do diazepan de 10mg. Devo estar tomando por volta de 3,5 à 4mg por noite. O próximo passo será diminuir para 2mg. Na rede pública aqui em Belo Horizonte não se encontra o diazepan nessa dosagem, só em farmácias mesmo. Mas mesmo assim irei comprar, apesar da crise e do orçamento curto. Poderia diminuir o comprimido de 10mg em quatro pedaços para se chegar a dosagem de aproximada de 2mg mas, além de ser um pouco difícil a divisão, ainda se tem a dependência psicológica. Vou explicar melhor: me sinto melhor tomando um comprimido inteiro de 2mg do que tomando um pedacinho de um mesmo comprimido de 10mg.
Claro que se pudermos contar com um bom profissional para nos ajudar neste difícil empreitada é melhor, mas, caso o mesmo não ajude, devemos procurar enfrentar essa batalha sozinho mesmo. No meu caso particular, o “psiquiatra” do posto de saúde do meu bairro quer que eu pare com o diazepan, mas trocando por um antipsicótico chamado stelazinne ou então por uma injeção de haldol... Nem vou comentar, pois até hoje não entendi esse psiquiatra, como pode querer tirar a dependência do diazepan me fazendo viciar em um medicamento ainda pior, que causa tremedeiras e vários outros efeitos colaterais indesejáveis?
Nessa difícil jornada de tentar se livrar do vício dos ansiolíticos devemos ouvir, antes dos médicos, o nosso próprio organismo. Devemos estar atentos se algo não está se modificando à medida que vamos diminuindo a dosagem dos medicamentos. Se não há uma dor de cabeça, um cansaço, um nervosismo que não tínhamos antes. Nosso organismo nos avisa de quase tudo o que está acontecendo de errado com ele, e sempre há tempo de consertamos o que não está bem.
CDE- Central de Downloads do Esquizo
Nesta postagem estou disponibilizando o livro "Uma análise dos efeitos do uso a longo prazo de antidepressivos", que pode nos ajudar a esclarecer se esses medicamentos podem ou não causar dependência ao paciente.
Resumo
Não é de hoje que a humanidade busca remédios para atenuar, tratar e curar os mais
diferentes tipos de sofrimento. Com as ”doenças da alma/corpo” a história não tem sido
diferente. Pesquisamos os efeitos do uso a longo prazo de antidepressivos a partir do
relato de cinco pessoas, que utilizam o remédio há mais de três anos. O estado
subjetivo da depressão e os antidepressivos são as contingências que fornecem os
relevos para respondermos sobre a existência de um sofrimento remanescente ao uso
do psicofármaco. Deste modo, na pesquisa investigamos como a medicalização da
depressão entra num dispositivo que faz dela a realidade do tratamento dos transtornos
psíquicos, o contexto no qual a depressão se insere e a sua função no intercâmbio
social. Desdobramos as múltiplas faces dos psicofármacos, resgatando, o conflito
inerente ao phármakon. A prescrição do phármakon no tratamento em saúde mental
traz a necessidade do debater da dimensão ética, pois ao mesmo tempo em que os
psicofármacos podem ser aliados importantes, não devem retirar o protagonismo do
sujeito no seu tratamento. Sendo assim, revisitamos e procuramos realocar o discurso
dos entrevistados como elemento essencial para a análise. As entrevistas relatam
vivências que nos mostram que o estado depressivo é, antes de tudo, uma experiência
sensível e não é apenas consequência de um déficit neuroquímico, passível de ser
corrigido com antidepressivos. Os relatos guardam histórias de diversos tipos de
violência, tentativas de suicídio com uso de psicofármacos, internações hospitalares
etc. Trata-se de histórias que foram escamoteadas no processo de medicalização.
Deste modo, amparados na psicanálise, posicionamo-nos a partir da ética do bemdizer,
tendo como prerrogativa que o antidepressivo não pode tamponar a palavra do
sujeito em sofrimento psíquico. Sabemos, por meio de Freud/Lacan, que a queixa
sintomática é apenas o início do tratamento e que o trabalho se dá a partir dela.
Concluímos que o antidepressivo após o uso a longo prazo pode dificultar com que o
sujeito se reaproprie da sua história, impossibilitando com que se implique no seu
sofrimento. Percebemos que as “terapias da fala”, conjuntamente com antidepressivos,
podem ser um modo de o sujeito “mudar para ficar o mesmo”, não se implicando com
seu sintoma. Assim sendo, não podemos desconsiderar o sintoma psicanalítico
enquanto tangente da via desejante. Concluindo, nosso trabalho aponta para uma
possível realização das potencialidades do sujeito, de modo a fomentar um cuidado de
si e a criação de uma estilística da existência.
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