quinta-feira, 23 de junho de 2016

Diazepan e outros pans da vida, o desmame

    Gostaria de esclarecer, antes de tudo, que essa postagem não foi feita para incentivar ninguém a parar com seus medicamentos, é apenas uma ajuda para aquelas pessoas que pretendem parar com os remédios por acreditarem que podem viver sem nenhum tipo de droga ou que então já estão prontas para viver a vida normalmente. O que posto é resultado de minha própria experiência na difícil tentativa de parar com o diazepan. 
    Os ansiolíticos, os antidepressivos e em alguns casos os antipsicóticos deveriam ser receitados ou indicados para serem usados em um momento específico de nossas vidas. Momentos em que não nos sentimos bem e precisamos de uma ajuda extra para conciliar o sono e realizar algumas tarefas, e, no caso dos antipsicóticos, de organizar os nossos pensamentos.
    O problema maior é que algumas vezes não somos avisados sobre o risco que esses medicamentos têm de causar uma forte dependência física e psicológica. Os médicos ou estão sem tempo para nos avisar ou então estão sendo displicentes mesmo, pouco ligando para a saúde de seus pacientes. Claro que existem exceções, não vamos generalizar. 
    No meu caso em particular, me foi receitado o diazepan sem nenhuma ressalva ou aviso sobre o risco da dependência. Foi a minha primeira consulta com um psiquiatra e não demorou mais do que dez minutos. Havia saído do meu primeiro e mais grave surto psicótico e sai praticamente diagnosticado e com as receitas na mão nesse curto intervalo de tempo.
    Recebi as cartelas na farmácia do posto de saúde. A bula não recebi, e, caso tivesse recebido, provavelmente não a leria, de tão pequena que são as letras e também pelo vocabulário usado nestas bulas serem de origem acadêmica, de difícil compreensão.  Confesso também que foi um erro meu, a falta de informação sobre esse tipo de medicamento. Na minha mente eram pílulas milagrosas, capazes de me proporcionar o sono dos justos e consertar a minha cabeça maluca e sonhadora. 
    No início não senti dificuldades, tomava um comprimido de 10mg e conseguia acordar por volta das sete horas da manhã, pois ainda estava morando nas ruas e dormia em frente ao instituo estadual de florestas, aqui em Belo Horizonte.
    Mas, com o tempo, a memória começou a ficar prejudicada, principalmente a recente. Consigo lembrar quase que perfeitamente de fatos da minha infância e antigos, mas esqueço com uma facilidade enorme o nome de uma pessoa que me foi apresentado há pouco tempo. Nome de ruas então, nem pensar em tentar decorar, o jeito é escrever em um papel mesmo ou anotar no celular. E, por falar em celular, já desisti há muito tempo de decorar telefones, nem o número do segundo chip que comprei há pouco tempo consigo decorar, mas o que comprei há mais de dez anos lembro-me com facilidade... 
    E, além do prejuízo da memória que constatei, ainda se tem notícias que o uso prolongado desses benzodiazepínicos podem causar outros problemas como fala arrastada, cansaço, a tradicional ressaca na parte da manhã. Esses são efeitos a curto prazo, já a longo prazo se comenta muito que pode causar até Alzheimer e demência.

Efeitos dos ansiolíticos a longo prazo
    Efeitos adversos tardios produzidos pelos benzodiazepínicos incluem uma deterioração geral da saúde mental e física que tendem a aumentar com o tempo. Nem todos, porém, enfrentam problemas com o uso a longo prazo. Os efeitos adversos podem incluir também o comprometimento cognitivo, bem como os problemas afetivos e comportamentais: agitação, dificuldade em pensar de forma construtiva, perda do desejo sexual, agorafobia e fobia social, ansiedade, depressão maior, perda de interesse em atividades de lazer e incapacidade de sentir ou de expressar as emoções. Além disso, pode ocorrer uma percepção alterada de si, do ambiente e nas relações sociais.

    Então, a solução que encontrei foi parar enquanto não aparecesse os sintomas mais complicados. 
    Na primeira tentativa, desisti logo no início, que foi o método mais radical: parar de tomar de uma vez e pronto! Mas no meu caso veio uma pressão interna na cabeça bem forte, parecendo uma dor de cabeça, na altura da testa, bem perto dos olhos. De início pensei que fosse alguma besteira que havia comido, mas, pesquisando na internet, vi que outras pessoas também tinham esse sintoma. Além desse incômodo, notei que também estava ficando mais agitado e me irritava com facilidade. Resolvi voltar a tomar o diazepan e a dor de cabeça, juntamente com os outros sintomas sumiram. 
     Na segunda tentativa, não obtive muito sucesso também. O método aplicado foi de tomar um comprimido de diazepan dia sim, dia não, ou melhor dizendo, noite sim, noite não.
     Não achei esse método eficiente, pois como há uma grande dependência psicológica, senti muita dificuldade de pegar no sono nas noites em que não tomava o comprimido do pan nosso de cada dia. 
    A terceira tentativa foi a que deu mais resultado e que estou aplicando até hoje. O método é simples: ir diminuindo gradativamente até a dose mínima sem sentir os sintomas mais fortes da abstinência. Cheguei a tomar 20mg por noite, diminui para 10mg e depois de alguns meses consegui diminuir para 5mg, o que é um grande feito para quem não conseguia sair de casa sem estar com uma cartela do diazepan no bolso, pois no meu caso particular o medicamento funcionava também como um SOS para evitar as crises paranoicas que tive e ainda tenho. Estava com uma mania de perseguição absurda e, do nada viam crises de pânico e uma vontade enorme de me esconder. E, como ainda estava trabalhando na época, tive então que usar o diazepan como um sos mesmo, pois os antipsicóticos me deixavam com muito sono e lento, podendo causar um acidente de trabalho, pois tinha que carregar caixas de som e ficar algumas noites acordado durante as festas.
     Com esse terceiro método vou tentando parar. Fico chateado, pois não pedi para ter esse vício, que é o único que tenho, tirando o chocolate e outras besteiras. Creio que todos os médicos deveriam alertar seus pacientes sobre os riscos da dependência física e psicológica desses medicamentos, e que eles não fazem milagres, pois, se estamos devendo “a Deus e ao mundo”, nossas contas não serão pagas pelos pans da vida.
     Creio que com os antidepressivos também deve ser usado esse terceiro método. Já ouvi dizer que não precisam de desmame esses medicamentos, mas como o nosso organismo não ficaria acostumado com algo que é feito por pílulas e que deveria ser feito por ele mesmo? Neste caso cito a serotonina, que é produzida naturalmente pelo nosso organismo, e que, de repente é ajudado por um comprimido a liberar o neurotransmissor. Não ficaria acostumado, viciado o nosso organismo? Creio que sim. 
    No caso do diazepan e outros remédios para ajudar a conciliar o sono, além do método citado, é aconselhável também a praticar exercícios físicos, que ajudam a diminuir o stress e a ansiedade. E também ajudam no bem estar, caso a pessoa esteja querendo se livrar de algum antidepressivo. Reduzir o consumo de café e outros estimulantes também é aconselhável, principalmente no período da noite. 
   Já estou tirando um pedacinho do meio comprimido do diazepan de 10mg. Devo estar tomando por volta de 3,5 à 4mg por noite.  O próximo passo será diminuir para 2mg. Na rede pública aqui em Belo Horizonte não se encontra o diazepan nessa dosagem, só em farmácias mesmo. Mas mesmo assim irei comprar, apesar da crise e do orçamento curto. Poderia diminuir o comprimido de 10mg em quatro pedaços para se chegar a dosagem de aproximada de 2mg mas, além de ser um pouco difícil a divisão, ainda se tem a dependência psicológica. Vou explicar melhor:   me sinto melhor tomando um comprimido inteiro de 2mg do que tomando um pedacinho de um mesmo comprimido de 10mg. 
         Claro que se pudermos contar com um bom profissional para nos ajudar neste difícil empreitada é melhor, mas, caso o mesmo não ajude, devemos procurar enfrentar essa batalha sozinho mesmo. No meu caso particular, o “psiquiatra” do posto de saúde do meu bairro quer que eu pare com o diazepan, mas trocando por um antipsicótico chamado stelazinne ou então por uma injeção de haldol... Nem vou comentar, pois até hoje não entendi esse psiquiatra, como pode querer tirar a dependência do diazepan me fazendo viciar em um medicamento ainda pior, que causa tremedeiras e vários outros efeitos colaterais indesejáveis? 
      Nessa difícil jornada de tentar se livrar do vício dos ansiolíticos devemos ouvir, antes dos médicos, o nosso próprio organismo. Devemos estar atentos se algo não está se modificando à medida que vamos diminuindo a dosagem dos medicamentos. Se não há uma dor de cabeça, um cansaço, um nervosismo que não tínhamos antes. Nosso organismo nos avisa de quase tudo o que está acontecendo de errado com ele, e sempre há tempo de consertamos o que não está bem. 

CDE- Central de Downloads do Esquizo
    Nesta postagem estou disponibilizando o livro "Uma análise dos efeitos do uso a longo prazo de antidepressivos", que pode nos ajudar a esclarecer se esses medicamentos podem ou não causar dependência ao paciente.

Resumo
   Não é de hoje que a humanidade busca remédios para atenuar, tratar e curar os mais
diferentes tipos de sofrimento. Com as ”doenças da alma/corpo” a história não tem sido
diferente. Pesquisamos os efeitos do uso a longo prazo de antidepressivos a partir do
relato de cinco pessoas, que utilizam o remédio há mais de três anos. O estado
subjetivo da depressão e os antidepressivos são as contingências que fornecem os
relevos para respondermos sobre a existência de um sofrimento remanescente ao uso
do psicofármaco. Deste modo, na pesquisa investigamos como a medicalização da
depressão entra num dispositivo que faz dela a realidade do tratamento dos transtornos
psíquicos, o contexto no qual a depressão se insere e a sua função no intercâmbio
social. Desdobramos as múltiplas faces dos psicofármacos, resgatando, o conflito
inerente ao phármakon. A prescrição do phármakon no tratamento em saúde mental
traz a necessidade do debater da dimensão ética, pois ao mesmo tempo em que os
psicofármacos podem ser aliados importantes, não devem retirar o protagonismo do
sujeito no seu tratamento. Sendo assim, revisitamos e procuramos realocar o discurso
dos entrevistados como elemento essencial para a análise. As entrevistas relatam
vivências que nos mostram que o estado depressivo é, antes de tudo, uma experiência
sensível e não é apenas consequência de um déficit neuroquímico, passível de ser
corrigido com antidepressivos. Os relatos guardam histórias de diversos tipos de
violência, tentativas de suicídio com uso de psicofármacos, internações hospitalares
etc. Trata-se de histórias que foram escamoteadas no processo de medicalização.
Deste modo, amparados na psicanálise, posicionamo-nos a partir da ética do bemdizer,
tendo como prerrogativa que o antidepressivo não pode tamponar a palavra do
sujeito em sofrimento psíquico. Sabemos, por meio de Freud/Lacan, que a queixa
sintomática é apenas o início do tratamento e que o trabalho se dá a partir dela.
Concluímos que o antidepressivo após o uso a longo prazo pode dificultar com que o
sujeito se reaproprie da sua história, impossibilitando com que se implique no seu
sofrimento. Percebemos que as “terapias da fala”, conjuntamente com antidepressivos,
podem ser um modo de o sujeito “mudar para ficar o mesmo”, não se implicando com
seu sintoma. Assim sendo, não podemos desconsiderar o sintoma psicanalítico
enquanto tangente da via desejante. Concluindo, nosso trabalho aponta para uma
possível realização das potencialidades do sujeito, de modo a fomentar um cuidado de
si e a criação de uma estilística da existência.
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quarta-feira, 8 de junho de 2016

Gratidão

    Antes de fazer alguns agradecimentos nesta postagem chamada gratidão, tenho que explicar o motivo pelo qual estou fazendo estes agradecimentos.
    Novembro de 2014, ainda estava nas minhas andanças, ora morando na minha barraquinha de camping, ora dando um tempo em um abrigo qualquer.
    Foi em uma dessas paradas para recuperar as energias e descansar minhas canelas é que tive um acidente, que, se não foi fatal, mas me deixou profundamente triste: estava caminhando por um parque ecológico, quando, de repente, bati a "tampa do dedão" na raiz de uma grande árvore. Doeu um bocado, mas não fiquei muito preocupado naquele momento, achando que iria melhorar como das várias outras vezes que me machuquei jogando futebol ou andando por ai nas trilhas da estrada real.  Sempre achei o tempo o melhor remédio para as feridas, tanto físicas como emocionais  (hoje "tô inspirado!!!).
   Desde pequeno fui sempre de andar muito e praticar esportes. Me lembro muito bem que passava o dia inteiro jogando bola na rua, no bairro Prado, aqui em Belo Horizonte.  Naquela época não havia tanto trânsito naquela região, e pouco se falava em assaltos e bandidos, a não ser  nos filmes de Hollywod. Nos finais de semana e durante as férias, a turma do bairro ia até o colégio Loyola para jogar bola em um dos vários campinhos de terra que havia por lá. Disse "havia" mesmo sem ter certeza, pois provavelmente já devem ter construído algo naquele enorme espaço no lugar dos campinhos, pois, além do fato da diminuição das áreas de lazer nos grandes centros ser uma realidade, a garotada  hoje em dia só quer saber de estar "conectada" mesmo nas redes sociais, só jogando futebol nos vídeos games. Com certeza os estudantes do Loyola na hora do recreio hoje em dia estão mexendo nos seus smartphones e tablets, ao invés de estarem correndo atrás de uma pelota e gastando suas energias.
    Me lembro muito bem daquela época. Depois de quase duas horas jogando bola, ainda voltávamos a pé para casa, que ficava distante cerca de 2km do colégio. Às vezes pedíamos carona na Avenida do Contorno, o que era conseguido rapidamente e sem complicações naquele época.
    Já de noite, brincávamos de queimada, war, banco imobiliário, e esconde esconde. Mas a área do esconde esconde não se limitava à algumas dezenas de metros, era permitido se esconder no quarteirão inteiro! Entrávamos nos edifícios, subíamos nos telhados das casas, escondíamos nos jardins das residências que ainda não tinham muros na entrada.
durante quase dois anos essa foi a minha humilde residência
    E assim fui crescendo, sempre jogando o meu futebolzinho para tirar o stress do dia a dia. Mas a idade foi chegando e notei que, a partir dos 40 anos, a galera da pelada onde frequentava na cidade de Ipatinga passou a me apelidar de "o goleirão", pois, a partir daquela fase de minha vida começaram sempre a me escalar para atuar debaixo das traves. Até que gostava, me considero um bom goleiro. É uma sensação boa voar até a bola, evitar um provável gol e ver a cara de raiva dos atacantes quando praticava uma boa defesa. Mas, convenhamos que,  correr, suar e fazer um gol é muito melhor e mais saudável também. E fora que ainda tinha que ouvir a galera zoando quando tomava um frango. Os caras faziam gracinha querendo driblar todo mundo, perdiam a bola e eu ainda tinha que me esfolar todo no campinho de terra para evitar o gol do adversário. Aquela pelada era tradicional em Ipatinga, muito concorrida, às vezes chegava a ter três ou quatro times de "fora". ('time de fora" na pelada são os ruins de bola, os mais velhos, os que sobraram na hora de escolher os times no par ou impar. Geralmente cada partida dura dez minutos, a não ser que um time faça dois gols primeiro).
    É jogando futebol que consigo esquecer quase que totalmente as minhas paranoias. Às vezes pinta sim uma mania de perseguição, pensando que todos estão olhando para mim, mesmo que a pelota não esteja nos meus pés. Também assistindo um bom filme consigo um pouco fugir da realidade desse mundo em que vivemos.
     Infelizmente é um pouco difícil encontrar uma galera na faixa dos 45 aos 50 anos para jogar um futebolzinho, e então me arrisco a jogar com a garotada mesmo.  E aí alguns caras ficam dando uma de "Neymar" para cima de mim, fazendo gracinhas, dando pedaladas, etc... Ai haja paciência e fôlego para ficar correndo atrás dessa galera,  confesso que de vez em quando dou umas entradas meio fortes, só para avisar que não estou para brincadeira, mas não é nada sério, é só um "chega pra lá mesmo". Mas, modéstia à parte, se eu jogar com caras da minha idade, ainda "mato a pau", isso se antes me deixarem pegar um ritmo de "pelada", pois quando fico muito tempo sem correr tudo fica enferrujado,
    Então, a solução que encontrei para tirar o stress do dia a dia foi correr sozinho mesmo, apesar dessa prática ser um pouco monótona na minha opinião. Correr e andar é uma necessidade para mim, não somente para aliviar o stress provocado pelas minhas paranoias como também para ajudar o organismo a produzir a tal da "endorfina" e outras "inas" mais....
a topada na árvore causou a redução dos espaços interfalangeanos... 
    Bem, voltando ao problema que tive no dedão do pé esquerdo, pensei que se tratasse de mais uma das inúmeras lesões que tive ao longo de minha vida que melhoraram com um pouco de gelo e com o passar do tempo. Mas não, a cada dia que se passa, parece que a dor ao caminhar aumenta mais, pois o local é onde apoiamos o nosso corpo ao caminhar, principalmente nas subidas. A sensação que tenho é que tem um osso encostando em um outro osso...
    Na minha primeira ida ao posto de saúde por conta dessa lesão, o médico, "super atencioso" nem olhou para o meu pé e apenas recomendou passar água morna no local. Talvez seja aquela água milagrosa que cura os jogadores profissionais: quando o time está ganhando, os caras caem em campo, fazem cara feia, rolam de um lado para outro, esperam a maca chegar para serem retirados do campo. Ai o médico joga uma água na canela deles e num passe de mágica estão de pé pedindo autorização ao juiz para entrar em campo novamente. O médico do posto de saúde só não me avisou em qual farmácia posso comprar dessa água milagrosa.
    Confesso que naquele momento deu uma vontade enorme de falar algumas coisas para aquele "doutor", que ficou apenas escrevendo algo em uma folha que estava sobre sua mesa. Mas consegui me conter.  Com o passar do tempo a dor foi só aumentando e então tive que desistir das minhas andanças e cancelar o meu objetivo de conhecer o centro oeste e o norte do Brasil. Se já não é nada fácil andar com uma mochila de 11kg nas costas em boas condições, imagine com o pé machucado. A verdade é que a mochila durante esses dois anos se transformou em parte do meu corpo, era como se tivesse engordado 11kg de uma hora para outra. Até dava uma sensação esquisita de alívio quando dava para caminhar sem a mochila.
     Com endereço fixo, procurei outro posto de saúde e tive um outro tipo de atendimento, como podem verificar na carteira nacional de saúde que recebi quando era um "caminhante"  e a que recebi quando estava com um endereço fixo.... Claro que o médico também foi muito legal comigo, além de me ouvir, mostrou realmente que trabalha com vontade e seriedade. Não sou só de criticar, existem sim bons profissionais no sus, que não se aproveitam da condição de funcionário público...
acima, o cartão que recebi quando era um "caminhante"
abaixo, o cartão que recebi quando passei a ter um endereço fixo
    Foi solicitado então um raio x, que demorou cerca de seis meses para sair. Foi constatado que houve uma redução dos espaços interfalangeanos do dedão do pé esquerdo. Então, mais uns seis meses tive que esperar para ser atendido pelo ortopedista, que me receitou um medicamento e algumas sessões de fisioterapia. Ou seja, da contusão até o início da fisioterapia passaram-se cerca de um ano e seis meses, isso por que fui insistente. Quando detonei o meu tendão de aquiles na minha primeira andança, foi pré agendado uma consulta com um ortopedista, mas até hoje não me chamaram... Isso foi em 2012, mas, por sorte a dor dessa lesão foi diminuindo aos poucos, até sumir por completo. E ainda tem gente que diz que o sus (letra minúscula mesmo) é um serviço eficiente....
    Nesse tempo todo de espera, tive que parar com as minhas caminhadas, com os exercícios físicos e apenas na hora de almoçar é que ando uma certa distância, o que é muito pouco para uma vida saudável. Engordei 3kg e estou todo enferrujado, como se tivesse envelhecido dez anos em um ano e seis meses.
    Além da perca de qualidade de vida na parte física, tem a parte mental e psicológica também. É aquela velha frase: "men sana in corpore sano". O exercício físico tira o stress, relaxa, libera a endorfina e melhora o humor, o que é essencial para aguentar algumas zoações, principalmente de estranhos. Como sempre digo, nunca escondo a minha condição, pois sou aposentado e tenho que comprovar a minha renda para os donos dos imóveis de quem alugo um quarto.  Infelizmente tem que ser quarto, meu sonho era poder alugar um barracão, ter a liberdade, privacidade e ficar sozinho mesmo, até que gosto da minha companhia, convivo muito bem com meus pensamentos. Quem tem medo de ficar sozinho talvez tenha medo de seus próprios pensamentos, pois a solidão geralmente leva à reflexão e a algumas conclusões.
http://www.asomadetodosafetos.com/2016/05/a-solidao-pode-transformar-voce-em-uma-pessoa-feliz.html#comment-2095
 
A "fisioterapia"
   Terminei, sem sucesso e nenhuma melhora, as vinte sessões de fisioterapia indicadas pelo ortopedista. Comprei a glucosamina, que é um suplemento um pouco caro para os padrões de um aposentado. Como ganho um salário mínimo e ainda tenho que pagar aluguel, não tive dúvidas em apelar para o blog e os leitores. E fui prontamente atendido! Com a grana que recebi comprei o medicamento e deu também para pagar as passagens do metrô aqui de Belo Horizonte, que, na verdade é apenas um trem um pouquinho mais rápido. O ar condicionado é bem fraco e, além de lento, chacoalha bastante.  Apesar do desconforto, prefiro ainda pegar o metrô de Belo Horizonte do que o de São Paulo...
metrô de Belo Horizonte
    Muito obrigado de coração aos que me ajudaram, sem essa ajuda provavelmente teria que fazer um empréstimo ou então vender alguma coisa que tenho, ou a TV ou o home theather. Mas sempre é complicado vender algum aparelho eletrônico por um preço razoável. As pessoas sempre querem um descontinho, dão aquela pechinchada, ai temos de início colocar um valor acima do que queremos, para, quando for baixar o preço, ai sim conseguir vender pelo valor que desejávamos.
    Tive uma contribuição misteriosa: apareceu na minha conta salário um valor que não foi possível descobrir a origem, nem mesmo instalando o plugin da caixa econômica no meu notebook. E esta conta que recebi a contribuição não divulgo atualmente aqui no blog, por questões paranoicas e de segurança também. Já divulguei essa conta há alguns anos atrás, mas agora consegui abrir uma conta alternativa para vender o livro. Seria então a dilma (com letra minúscula mesmo) fazendo uma gracinha com os aposentados numa desesperada tentativa de não ser afastada ou então aumentar o rombo para o seu sucessor? Brincadeiras à parte,  provavelmente foi uma pessoa que fez o depósito em uma agência lotérica e não quis se identificar. Então vai o meu agradecimento pelo blog.
    Mas logo desinstalei o aplicativo da caixa, pois esse plugin pode deixar a internet lenta e o computador também
http://www.creditooudebito.com.br/por-que-aplicativo-seguranca-banco-sempre-trava/
    Voltando ao assunto, essa inatividade toda, além de me fazer ganhar peso, também me deixou mais estressado, impaciente, cortando mais da metade do meu pavio, que creio ser bem longo. O psiquiatra queria até me passar um antipsicótico forte e chegou a"sugerir" uma injeção de halol, que recusei, é claro. Ele simplesmente bloqueou o diazepan e me receitou também um antipsicótico leve chamado stelazinne. Fiquei desesperado quando fui tentar pegar o pan nosso de cada dia no posto de saúde e constatar que o mesmo havia sido bloqueado para o meu uso. No outro dia voltei ao psiquiatra e foi uma confusão danada, sendo necessário chamar o segurança do posto de saúde. Mas não saí de lá com  a receita do diazepan. O problema é que alguns profissionais da área da saúde mental enxergam o indivíduo apenas como uma mente e um cérebro, creio que deveriam nos olhar como um todo, ou seja, algo real está me deixando irritado, que é a dor no meu pé e a péssima qualidade no atendimento. Estou uma ano e seis meses andando com dores no pé, e creio que o problema poderia ter sido resolvido facilmente se fosse tratado no início. Ou seja, o psiquiatra estava imaginando que um antipsicótico qualquer me faria aceitar a situação, ser humilhado e não ficar revoltado com toda esse descaso. Como disse, o primeiro médico nem chegou a olhar para o meu pé, apenas mandando passar água morna afirmando que o problema seria solucionado. Resumindo, o antipsicótico me deixaria um pouco dopado, e assim aceitaria ser mal atendido nos postos de saúde. Simples assim.
    Considero uma revolta normal, aceitável, seria estranho se aceitasse tudo passivamente... Estranho como que todos podem se exaltar, chutar o balde, fazer caras e bocas... Todos, menos quem tem um tipo de transtorno mental, por que logo imaginam que vamos sair por ai quebrando tudo o que vemos pela frente... 
   E, por falar em antipsicóticos, os exercícios físicos, as caminhadas, além de serem um vício, são também bons antipsicóticos. Tudo o que nos  ajuda a não pirar é antipsicótico: ocupar a mente, fazer algo que gostamos e por ai vai...
     E, de repente, sou impedido de continuar com essa prática tão sadia. Agora já não tenho certeza se o meu pé irá melhorar, afinal foram-se um ano e seis meses sem atendimento e andando forçadamente com esse problema, o nosso corpo é uma máquina que se desgasta se não for utilizada corretamente, não tem como fugir disso.
    Era um problema simples, que agora virou um drama para mim. Me sentia feliz nas andanças, apesar dos perrengues que passava, Agora, além de ter que lutar contra um inimigo interior chamado esquizofrenia, agora tenho que aprender a convier com essa limitação física?
     Sempre digo que não tem como comparar o sofrimento físico com o mental, São duas coisas bem distintas, o problema no sofrimento mental é que, além da dor na alma temos que conviver com a incompreensão das pessoas, achando que estamos de frescura e que somos preguiçosos.
     Me compadeço de quem está em situação pior do que a minha, mas não uso a miséria alheia para me confortar e assim ficar mais feliz. Se todos seguissem esse raciocínio, o mundo não teria tristeza, afinal sempre encontramos alguém em pior situação do que a nossa. Não irei ficar feliz por não ter uma perna por saber que existem pessoas que não possuem as duas pernas...
     Mas não vou desistir, apesar de estar sem energias para lutar. Ainda tenho esperança de voltar a andar normalmente, jogar um futebolzinho, voltar com as minhas andanças para completar os quatro caminhos da estrada real. Aliás, agora são cinco caminhos, pois criaram um caminho religioso, que começa em Caeté, aqui pertinho de Belo Horizonte, e termina em Aparecida do Norte, no interior de São Paulo. Mas esse caminho não pretendo fazer, pois 70% dele é o caminho velho da estrada real, que fiz há alguns anos atrás.
http://www.portalterrasaltas.com.br/novidades-detalhes.php?cod=86
    Foi uma decepção a fisioterapia, esperava, no mínimo, um melhor atendimento e ser ouvido. Apenas fazia alguns exercícios para reforçar a musculatura da perna, vinte minutos por cada sessão. Cheguei a perguntar se poderia fazer outros exercícios em casa e a fisioterapeuta apenas disse que podia. Também perguntei se poderia indicar exercícios mais específicos para o dedão do pé, mas ela disse que aqueles que eu estava fazendo eram suficientes.
    É uma das piores fases da minha vida essa que estou vivendo agora. Me pergunto como pode uma simples topada do dedão do pé em uma raiz de uma árvore  me impedir de andar? Vou viver o resto da minha vida assim, tendo apenas condições de andar um pouco por dia, um limite? Ou vou ter que usar bengala? A fisioterapeuta parece que não acreditou na dor que estou sentindo, pois sempre me indicava os mesmos exercícios do que todos estavam fazendo lá. Oras, se os problemas são diferentes, por que os exercícios têm que ser os mesmos? Apenas fazia pressão com o pé usando uma bola, andava em linha reta olhando para frente, e subia em um aparelho para testar o equilíbrio. Queria fazer algo mais, insistir mais no tratamento, mas parece que não queriam a minha rápida recuperação. E as fisioterapeutas que me atenderam não gostam de serem contestadas, já até me mandaram procurar a gerência para reclamar. O que elas gostam mesmo é de ficar no whatsapp boa parte do tempo...
o melhor "plano" de saúde é não adoecer...
    É uma pena que os profissionais da saúde mental no Brasil não olhem condição física da pessoa ao fazerem o diagnóstico, dando a impressão que somos apenas um cérebro e que não temos mais nada além disso. E a solução para tudo são os antipsicóticos e antidepressivos. Eu me recuso a tomá-los, pois não quero ficar mais calmo e assim aceitar essa imoralidade que é o atendimento pela rede pública. Não quero ficar feliz com uma pilula milagrosa, ela não irá "consertar" o meu pé, não irá devolver o meu direito de andar por ai. Sei quando preciso me acalmar, sei quando estou chateado por um motivo real, sempre faço minhas orações pedindo para que a única pessoa prejudicada com essa minha condição de "esquizofrênico" seja eu mesmo. Resolvi colocar aspas por que hoje em dia a mídia parece fazer questão de dar uma ênfase a qualquer deslize que uma pessoa que tenha esquizofrenia cometa, e esquecendo que os ditos normais não fazem coisas piores. E para piorar, essas pessoas cometem certos crimes em nome de um "amor", por causa de um real, e por ai vai.
Mas é isso, acho que foi um dos posts mais tristes que já fiz, mas não tem como disfarçar. Cada passo que dou hoje em dia é uma dor no sentido literal mesmo. Não quero aqui dar uma de coitadinho, que tenham pena de mim. Esta postagem é apenas mais um desabafo sobre o atendimento pelo sus. Em minha mente paranoica cheguei a pensar que esse tratamento era apenas para mim, que o sus também estava contra a minha pessoa. Mas não, sei que a realidade é essa para todos, basta ir em algum hospital ou Upa para constatar que toda a população é maltratada.
     Sinceramente não sei o que fazer, Será que vou ter que estudar fisioterapia para encontrar uma solução para o meu caso? Pois, quando descobri que o que tinha era um transtorno chamado esquizofrenia, tive que aprender a usar o computador, conhecer pessoas que tinham o mesmo problema do que eu para começar a entender melhor o assunto, e, consequentemente, a mim mesmo.
    Mas, agora, o problema é físico, e a situação é a mesma. Os profissionais da saúde parecem não gostar de nos esclarecer sobre o que temos, pois não obtive nenhuma resposta para os problemas que estou enfrentando neste momento em razão da minha atual limitação para andar. Na época dos surtos mais graves, caía, me estrepava todo, quase fui dessa para outra, mas tinha condições físicas para lutar, o que, sem poder andar, não sei como vou conseguir sair dessa.
    O jeito vai ser consultar o "Dr. Google" mesmo...