sexta-feira, 31 de maio de 2019

44º dia pedalanças-4ª etapa- Estrada Real Caminho dos Diamantes


Antônio Pereira-Catas Altas-Santa Bárbara
    Um dos raros dias que acordo muito bem humorado e bem disposto, pronto para começar a pedalança do dia. Estava indo tudo muito bem, o visual em frente ao posto estava muito bonito na parte da manhã. Até resolvi filmar, mas aí apareceu uma viatura da polícia militar para tirar o meu bom humor. Nada contra os homens da lei, é até melhor que estejam presentes em todos os lugares possíveis, pois isso é garantia de sossego. 
    Mas nas pedalanças e andanças polícia é quase sinônimo de interrogatório:
    De onde vim, para onde vou, se tenho alguma passagem e por aí vai... E, claro a apresentação dos documentos. Às vezes tenho que abrir a mochila para uma revista mais detalhada. Até hoje não tenho nada do que reclamar do trabalho da polícia. Mas sou meio paranoico e às vezes penso que a polícia está também contra a minha pessoa, apesar de ser um cidadão pacato e honesto. 
   Mas o policial nem conversou comigo, apenas ficou observando-me desmontar a barraca. Acho que ele desistiu de me revistar por causa do tamanho da mochila e também por causa da minha cara de mau humorado que havia feito. E também é claro que estava calmo naquela manhã, não demonstrando estar com alguma substância ilícita ou armamento. 
    

     Depois do café sigo para o município de Santa Rita Durão. A estrada não tem acostamento, nem pista dupla e ainda por cima tem um intenso movimento de carretas e carros. A Samarco fica bem próxima de onde dormi. E tem muitas barragens nessa região. Ontem havia passado pela entrada de Bento Rodrigues. Por causa do rompimento da barragem o caminho da estrada real foi desviado para essa estrada. Originalmente passava por Bento Rodrigues e mais outras cidades... 
    Nesse trecho não vi uma casa ou lanchonete, só muita carreta e carro mesmo. Passei em frente à entrada principal da Samarco. Está tendo muita movimentação do outro lado da estrada, não sei bem o que estão construindo... 
O que estão construindo em frente da Samarco?

     Mas essa estrada tem um visual bem bonito. Em Catas Altas tem a linda Serra da Caraça. Depois da entrada da última barragem o caminho seguiu mais tranquilo sem a intensa movimentação de carretas. Almocei um pouco antes de chegar em Catas Altas em um distrito chamado Morro de Água Quente. O pessoal do restaurante foi muito legal comigo. A minha grana estava acabando e então me ofereceram um marmitex com um rango que estava uma delícia. Um garçom ainda me deu um refrigerante e ficamos conversando sobre a viagem por quase uma hora. Ele me disse que tem uma bicicleta mas só faz pequenas viagens. Notei que ele sentia uma certa admiração quando eu contava as minhas aventuras. Deu para perceber que ele pelo menos pensa em fazer algo parecido algum dia, mas que parece que tem família para cuidar. 
    Como já disse, nesses 44 dias de viagem já conversei mais do que o ano passado inteirinho... E em algumas pessoas notei esse olhar de admiração dando a perceber que elas chegam a pensar em fazer o mesmo algum dia. Geralmente dizem que até querem ir, mas que falta é a tal da coragem... 
    O garçom do restaurante na saída me deu um pacotão de biscoitos de polvilho, que deixo amarrado no quadro da bike. E deixo o saco aberto e vou pedalando e comendo... 
    Catas Altas é uma cidade bem simpática, aos pés da serra do Caraça. Um visual bem bacana. Apesar de ser dia de semana, vi pouquíssimas pessoas no centro. 

    Na saída de Catas Altas  pela estrada de terra uma bifurcação sem nenhum marco ou sinalização, o que me deixa um pouco irritado. O único sinal de vida que havia por perto era o som de uma música sertaneja, que parecia vir de um lugar um pouco longe. O jeito foi ir em sentido ao som para tentar achar alguém para pedir informação. Encontrei um pessoal construindo uma casa na beira da estrada de terra, e, por sorte havia escolhido o caminho correto.... 
    É uma relação de amor e ódio com a estrada real... Amo o caminho, tanto é que já percorri três e estou percorrendo o último, o caminho dos Diamantes. Mas algumas situações me tiram do sério, e bifurcação sem sinalização é uma delas.... 
    E segui o caminho, em direção à Santa Bárbara. O caminho é muito lindo principalmente por causa da Serra do Caraça. 


        Antes de chegar em Santa Bárbara cometi uma burrada. É que vi uma placa com uma seta e interpretei mal a sinalização e acabei entrando em uma estrada de terra errada. Estava tão convicto que estava no caminho correto que nem perguntei nada para nenhum caminhoneiro. E comi muita poeira pois passava muito caminhão. Só depois de uns cinco quilômetros é que comecei a achar estranho o fato de só avista eucalipto por todos os lados. A água já havia acabado e estava com muita sede, ainda bem que passava muito caminhão e o motorista me informou que eu havia pego o caminho errado. Nem pensei em dar piti e ficar gritando no meio do mato, pois a burrada foi minha mesmo. Quando fico perdido no meio do mato às vezes dou uns gritos e falo alguns palavrões para descarregar, principalmente quando a culpa é a falta dos marcos da estrada real. 
perdido e comendo poeira....

     Para piorar tudo, um motorista de caminhão me fala que tem um atalho, que era só descer uma estradinha de terra e acompanhar o curso de um rio que eu chegaria à Santa Bárbara. Estava muito cansado, mas confiei no motorista e acabei descendo. Desci uns 70 metros e nada de encontrar rio. Nem aquele barulhinho de água consegui ouvir. O jeito foi subir novamente empurrando a bike. Aí não teve jeito, tive que falar palavrão.... 
    Chego em Santa Bárbara por volta das quatro e meia da tarde. O ginásio da cidade está fechado. Não havia encontrado no caminho nenhuma água para tomar um banho. Os postos de gasolina não tinham chuveiro. O jeito foi pedir um balde de água para uma mulher que estava limpando a calçada. Fui para a parte de trás do ginásio e tomei aquele banho.... 
     Pode ser banal ficar relatando todos os dias como consigo me banhar. Mas não é, pois para um turista de baixa renda como eu conseguir tomar banho é uma aventura. O banho é quase uma garantia de uma boa noite de sono. É também serve para repor as energias, relaxar a musculatura e, claro, não ficar muito fedendo... 
     A impressão é que fico uns dois quilos mais leve depois de me banhar. Vou para o sacolão pegar papelão para montar a barraca. A caixa do estabelecimento é muito gente boa, além de ter olhos lindos. Eram de um azul muito brilhante. Eram tão bonitos que até desviei o olhar com medo de ficar enfeitiçado diante de tanta beleza. 
     Depois de algumas voltas pela cidade encontro um bom local para montar a barraca: um estacionamento que fica ao lado da rodoviária. Como é uma cidade do interior, o movimento de ônibus acaba por volta da meia noite. 
a placa estava meio torta e acabei me confundindo  

terça-feira, 28 de maio de 2019

43º dia pedalanças-4ª etapa- Estrada Real Caminho Novo


Itatiaia-Outro Preto-Mariana-Antônio Pereira
    Tranquila noite na varanda do restaurante no vilarejo de Itatiaia. Não fez o frio que eu esperava, já que estava em um lugar muito alto. De manhã, comi mais bolo de milho e pão de queijo. Dava vontade de comer uns cinco bolos daquele. Era um bolo macio e molhadinho. O melhor bolo que comi até o momento nesta viagem. 
    Apesar de ter dormido bem, acordo meio songamonga, com aquela moleza. É o meu normal mesmo neste período do dia. Ainda mais agora que tive que voltar a tomar diazepan para pegar no sono. Não havia trazido o cloreto de magnésio que ajudava a dormir, com receio de que desse algum tipo de reação por ficar dentro da mochila. 
 Mas é o meu  ritmo biológico mesmo. Pena que seja tão complicado de se andar à noite com a bike...

     Antes de começar o caminho dou uma passada no centro do vilarejo de Itatiaia. É bem pequeno, tem uma rua principal que corta todo local. Muito sossego e tranquilidade, tem muitas pousadas lá. 
    Volto para a BR e sigo para Ouro Preto, que já havia visitado no caminho velho da estrada real. O asfalto é bom, mas esse trecho é um pouco complicado, quando você não está subindo está descendo.
Nas descidas sinto aquele friozinho, principalmente nos pés. Tive que colocar as meias que havia comprado, pois as que levei para a viagem estavam na sacola onde estava o tênis quando foi roubado. 
    Mas o caminho é muito bonito, cercado de verde por todos os lados, com pequenas cachoeiras. O final é bem gostoso, com uma descida bem longa. Quase sofri um acidente quando fui olhar para trás para ver se havia carro descendo bem na hora que teria que fazer uma curva. O freio já estava bem desgastado e não parei no momento da freada, o que ajudou um pouco, pois se o freio estivesse bom poderia ter derrapado e caído na ribanceira.


    Apesar das serras, chego em Ouro Preto por volta das nove e meia da manhã. Muitos morros, ruas de pedra, difícil de se pedalar. Aliás não vi um ciclista naquela cidade. O centro é bem movimentado, com a galera que trabalha no comércio, os estudantes e os turistas. E algumas pessoas exibindo seus trabalhos artísticos também. O trânsito chega a ser um pouco caótico. 
    Vou para a lanhouse da cidade para, além de acessar a net e atualizar o blog, descansar as canelas nas confortáveis poltronas. A impressão é baratinha: 20 centavos. Já cheguei encontrar impressão por 1 real e noventa centavos em Juiz de Fora. Aproveito para imprimir todas as planilhas do caminho dos diamantes, pois o caminho novo termina em Ouro Preto. 
    


    Depois da lanhouse consigo encontrar um rango por 10 reais, que foi o mais barato que encontrei até hoje nesta viagem. Sigo então para Mariana, distante apenas 10km. Esse trecho é pura descida e devo ter demorado uns 30 minutos. Paro em um posto para dar uma calibrada nos pneus, mas, para meu azar, depois de um minuto pedalando o pneu esvazia completamente. Não havia furado, é que a bomba do posto de gasolina acabou dando problema na válvula do pneu da bike... 
    Aliás, até hoje não tive problemas com pneus furados. Somente no início da viagem tive um pneu rasgado e duas câmeras cortadas, pois o freio estava fora do lugar e raspando no pneu. E acabou rasgando quando fui descer a serra depois de Conceição do Mato Dentro. 
       Mas ter que trocar a câmera por causa da válvula seria bem chato. Dei uma mexida nela com palito de fósforo e depois enchi novamente em um outro posto. Para minha sorte não deu mais nenhum problema. 
      Sigo o caminho depois de Mariana, minha intenção era dormir em Santa Rita Durão, 30km de distância. Esse caminho da estrada real sofreu uma alteração, pois inicialmente passava pelo município de Bento Rodrigues antes do rompimento da barragem. 
    Depois da entrada para Bento Rodrigues uma baixa: a catraca de passar marcha da bike acabou estragando. Tive que empurrá-la por uns 3km até chegar na cidade de Antônio Pereira.

    Pergunto na entrada da cidade onde havia um mecânico de bike. Sigo o caminho indicado por um morador  e vou entrando em um bairro muito escuro. Eram umas sete horas da noite. 
     Na esquina um cara parado ficava observando a movimentação. Mais para frente alguns grupos de  pessoas conversando. Funk rolando na maior altura. 
     De repente consigo ouvir um comentário:
    - Ele não vai lá...
    Sigo o caminho indicado, sem a menor preocupação, pensando que o comentário não era sobre a minha pessoa. Se não encontrasse um mecânico nas redondezas teria que desmontar a bike e colocá-la em um ônibus até a cidade mais próxima. 
    Vou entrando no bairro, que a cada quarteirão vai ficando mais escuro. De repente outro comentário:
    - Ele é alemão!
    Vi nos  filmes que alemão é uma gíria usada por traficantes para designar traficantes rivais de outros morros... Deu aquele friozinho na barriga, mas, claro que não saí correndo. Virei lentamente e sem olhar para os lados retornei para o centro da cidade. O morador da cidade me havia indicado uma boca de fumo. Será que peça de bicicleta seria um código para maconha?
     O jeito foi ir até o posto na BR e montar a barraca. Iria desmontar a bike e colocá-la em um ônibus até a cidade mais próxima. O dono do posto de gasolina não deixava estranhos dormirem em seu estabelecimento, mas resolveu abrir uma exceção para mim, ao ver que a bike estava realmente estragada. Ele me fez inúmeras perguntas, como que para saber se eu era uma pessoa idônea. 
    O dono do posto não me parecia estranho, parecia que eu o conhecia de algum lugar.  E ficava me olhando bem nos olhos. E eu também ficava encarando ele, para tentar lembrar de onde o conhecia.  Mas acho que só era parecido com alguém que eu conhecia. Era até um pouco engraçado. 
    Mas ele era gente boa e também liberou o banheiro para tomar um banho. Os funcionários do posto foram muito legais comigo também, me ofereceram café e dois pães com mortadela. Um dos frentistas foi até a casa do mecânico de bike, que não demorou a chegar. Olhou a catraca estragada e voltou para buscar uma nova. Demorou um pouquinho para chegar, mas no final conseguiu arrumar a magrela, o que foi um alívio, pois já estava planejando desmontar a bike para ir de ônibus até a cidade mais próxima. 



     
    

segunda-feira, 27 de maio de 2019

42º dia pedalanças-4ª etapa- Estrada Real Caminho Novo


Conselheiro Lafaiete-Ouro Branco-Itatiaia
    Excelente noite no posto de gasolina na BR antes de Conselheiro Lafaiete. Friozinho na medida certa para tirar um bom cochilo. Frio na medida certa é aquele que pede apenas uma manta, sem que fiquemos nos encolhendo. Mas antes de pegar no sono o dono da churrascaria me chamou na barraca para me oferecer um marmitex com um rango que estava muito bom. Não sou muito de jantar, mas estou um pouco magro de tanto pedalar e então não hesitei em aceitar.  Sempre durmo bem quando estou em um ambiente tranquilo e que sinto que estou cercado de pessoas do bem. 
    Claro que me aconteceram coisas negativas na viagem, e nem sempre cito aqui no diário do blog. Geralmente são pessoas vazias, fúteis, que criticam apenas por criticar e para tentar prejudicar o próximo. Essas coisas nem valem a pena comentar....
    Tudo me motiva, as pessoas que me incentivam e as que me criticam... Então está tudo bem....
    Depois do café desço para o centro de Conselheiro Lafaiete, para encontrar uma oficina de bike e tentar desempenar a roda traseira e colocar dois raios que quebraram. A bike, para minha surpresa está aguentando bem essa caminhada, principalmente no asfalto. Já na terra nos caminhos da estrada real ela está sofrendo um pouquinho.  

Conselheiro Lafaiete

    A verdade é que nem eu estou aguentando pedalar pela estrada real de bike com carga. Em alguns dias o caminho não é tão complicado, é aquela estrada de terra batida, sem muitos buracos e pedras.  Aí é uma maravilha caminhar pela natureza. Mas, quando o trecho não é bom chego no final do dia quase que sem forças. Admito que errei em começar o caminho da estrada real após viajar mais de 2000km...  Por falar em quilometragem, acho que 30km de pedalada em estrada de terra ruim cansa mais do que 100km em uma BR bem asfaltada. 
    Para fazer esse tipo de percurso em estradas de terra a pessoa tem que estar zerada, com bike própria para esse tipo de terreno e com pouca carga... Mas, missão dada é missão cumprida. Já estou na estrada e irei até o fim,  em Diamantina. Em 2012 quando havia terminado o caminho velho a pé me deu na cabeça de fazer os quatro caminhos da estrada real.
    Voltando a viagem, tentei um primeiro mecânico que nem olhou a bike e já deu um preço altíssimo. Dei mais algumas voltas no centro e encontrei um que foi muito gente boa, não cobrando nada. Afinal era apenas dois raios que ajudei a trocar e dar uma pequena desempenada na roda. Mas a maioria dos mecânicos que encontrei pelo caminho foram  muito legais comigo. 
    Apesar de ter dormido bem não estou com aquele ânimo costumeiro. Acho que já é o excesso de viagem mesmo. São 42 dias ao lado de bike, sem desgrudar nenhum minuto sequer. Até quando estava nadando na praia tinha que ficar dando uma olhada na magrela. O ideal seria pagar hotel e deixar a bike para dar algumas voltas pelas cidades. Mas não reclamo de nada, só tenho que agradecer por ter saúde para fazer uma caminhada dessas. 
     Às vezes dá uma saudade de uma caminha, uma TV, um  sonzinho... 
    
I am here!

    Sigo para Ouro Branco em uma estrada de terra sem muitos buracos e pedras. E com serra moderada, para a minha alegria. Passo por uma fazenda onde Tiradentes se reunia secretamente com os inconfidentes. O funcionário do lugar foi muito educado e me levou para todos os aposentados da fazenda,  inclusive onde era uma senzala e que não tem um astral muito legal não. 


   Chego em boas condições e Ouro Branco e almoço no restaurante no centro da cidade. Muitos estudantes circulando pelas ruas e trabalhando no comércio local.  Fico na lanhouse da cidade até às três horas da tarde. A cidade é bem simpática e agradável, situada  aos pés da serra de mesmo nome. Essa cidade já foi considerada a melhor do interior de Minas para se viver no ano de 2010. 

    Sigo para o distrito de Itatiaia. Serra brava, não tem nenhuma descida, só um pouco de reta na saída de Ouro Branco. Mas estava bem fisicamente na parte da tarde e consegui ir todo o percurso pedalando, sem empurrar a bike. Claro que dei algumas paradas. E em uma delas tomei um delicioso banho em uma mina de água na beira da estrada.   
    Valeu a pena subir tantos quilômetros. Legal demais em ver aquele mar de montanhas lá do alto da serra.  Chego em Itatiaia por volta das cinco da tarde. Encontro um simpático restaurante na beira da BR e como dois deliciosos bolos de milho com coco ralado. E, claro, um pão de queijo. A dona, super simpática, me deixa montar a barraca depois do restaurante ter fechado suas portas. Esse foi um dia bom e tranquilo pela estrada real. 





sexta-feira, 24 de maio de 2019

41º dia pedalanças-4ª etapa- Estrada Real Caminho Novo


Ressaquinha-Carandaí-Conselheiro Lafaiete
    Noite mais do que tranquila no estacionamento da igreja de Ressaquinha. Choveu um pouquinho de madrugada e fez aquele friozinho bão dimais da conta para dormir. Como estava em um local tranquilo e sem pessoas por perto, resolvi dormir até por volta das oito horas da manhã, já com o sol bem claro. 
    A lateral da barraca estava bastante úmida, e tive que deixá-la no sol por uns vinte minutos antes de colocá-la na embalagem. 
     Depois do café sigo para Carandaí em uma boa estrada de terra, sem buracos e sem muitas pedras.  Muitos eucaliptos em volta que tiram um pouco a visão da paisagem, mas que em contrapartida me fornece uma generosa sombra para aquele ensolarado dia. Só tive um pequeno perrengue em um trecho da estrada onde havia acumulado muita água e tive que passar empurrando a bike, mas antes tive que dar uma conferida a pé para verificar se não havia nenhum buraco. 

    Se a estrada estava boa, tive o perrengue bem complicado entre a cidade de Ressaquinha e o distrito de Ressaca. Os marcos pareciam não estar na sequência correta. Dei várias voltas nas estradas no entorno mas não consegui achar o caminho para o distrito de Ressaca. Não sei se eram os marcos que foram colocadas incorretamente ou se era a planilha que havia baixado no site da estrada real .
   Só sei que estava cansado de dar tantas voltas e segui direto para Carandaí. Em algumas bifurcações também não havia nenhum marco. Nessas horas tenho que dar uma de Sherlock Holmes, observar bem o terreno para analisar as marcas dos pneus de carro e escolher um caminho. Na maioria das vezes consigo acertar. Quando não acerto sigo por cerca de um quilômetro, e, se não achar nenhum marco da estrada real retorno e então sigo pelo outro caminho. Até que de bike fazer isso é tranquilo. Dava muita raiva quando isso acontecia na época que viajava a pé pela estrada real.
    Almoço em Carandaí por volta do meio dia. Depois dou uma descansada nas canelas em uma lanhouse que tinha computadores razoáveis e net com boa velocidade.  Converso com uma amiga que não via desde o início da viagem. Resolvi dar um susto nela, fingindo que não estava me lembrando de nada por ter sofrido um grave acidente de bike. Ela levou um susto danado, e nem pensou que, se eu tivesse sofrido um traumatismo craniano também iria esquecer a senha do face...
    
muita maldade com o ciclista colocarem o mata-burro na vertical.... 
    Na saída de Carandaí um perrengue comum na estrada real: achar o primeiro marco que seria o início do caminho. Geralmente os habitantes da cidade desconhecem o que é um marco da estrada real. As dicas das planilhas nem sempre são boas. Só consegui uma boa orientação com um motorista de táxi. O marco fica bem distante do centro da cidade. Depois do primeiro marco tive mais dificuldades de seguir o caminho, e então resolvi pular a cidade de Queluzito e ir direto para Conselheiro Lafaiete pela BR 040.
    Essa Br não tem acostamento neste trecho, e várias carretas e caminhões passaram bem próximos a minha bike. Mas, com muita prudência e cuidado consegui chegar em Conselheiro Lafaiete por volta das quatro horas da tarde. A vantagem de se andar no asfalto é que sempre conseguimos achar um posto de gasolina e montar a barraca em um cantinho onde não seremos incomodados. 
    O dia começou perrengoso de manhã mas foi tranquilo na parte da tarde e cheguei em boas condições físicas. A verdade é que já havia pego um bom ritmo e andar no asfalto era como se fosse um descanso entre as complicadas estradas de terra que havia atravessado e que ainda teria que atravessar. 



terça-feira, 21 de maio de 2019

40º dia pedalanças- 4ª etapa- Estrada Real Caminho Novo

Barbacena-Ressaquinha
    Noite tranquila na frente da lanchonete em Barbacena. Fiquei um pouco cismado com um trecheiro que ficou parado um bom tempo me encarando. Mas ele só queria pegar um rango quando a lanchonete fechasse. Mas acho que isso é como se fosse uma paranoia simbiótica, pois eu também fiquei encarando o cara. Será que um estava com medo do outro? Pois é certo que boa parte dessa galera que vive nas ruas e Br's tem algum tipo de transtorno mental. E eu me incluo nessas estatísticas
    E no meu caso é uma situação complicada, pois como tenho uma certa noção dos problemas que tenho, muita gente fala que "dou uma de doido" para sobreviver. Na verdade muita gente me chama de vagabundo mesmo. E quando não me chamam de vagabundo me chamam de doido mesmo. Estou esperando as últimas atualizações e definições sobre a minha pessoa shasuahsuashausas
    A gente quando fala o que pensa e sente acaba criando algumas inimizades, mas não me preocupo com isso e nem com a opinião alheia. Não gosto de gente falsa e mentirosa e caluniadora. Não encontram nada contra a minha pessoa e acabam inventando. 
   Mas voltando à viagem, de manhã penso em visitar o museu da loucura, em Barbacena. Mas quase ninguém soube me responder com exatidão  onde se fica o museu. Então sigo a viagem para a cidade de Alfredo de Vasconcelos. Novamente não encontro o marco inicial e sigo pela BR, o que foi uma delícia, pois a maior parte é descida. Esse percurso fiquei em pé na bike, para dar uma folga na poupança. Como já relatei, a maior dificuldade na viagem não tem sido o cansaço, e sim o incômodo analógico que o celim está me provocando. Claro que ultimamente os perrengues dos trechos de terra da estrada real estão me tirando um pouco do sério. 

   Depois de Alfredo Vasconcelos, pego o caminho de terra para o município de Ressaquinha. A maior parte do percurso é boa, com poucas pedras e buracos. Claro que tem serra, mas nada muito difícil de subir e não tive que ir empurrando a bike. A temperatura está boa, o dia com um lindo sol e natureza em volta. Quem dera se o restante do caminho fosse assim....
    Chego bem disposto em Ressaquinha, depois de pedalar 27km. Logo na entrada da cidade uma linda igreja com um bonito e bem cuidado jardim na frente. Encontro os jardineiros e pergunto se seria possível tomar um banho de mangueira em um canto qualquer da igreja. Os caras foram muito gente boa comigo, ligaram a bomba de água e pude, além de tomar banho, lavar a bike e também as minhas roupas....
 
    Depois do rango decido que a parte da tarde seria para o descanso. O dia de ontem foi um pouco puxado, quando pedalei até por volta das nove horas da noite. E também acho que estou sentindo o cansaço do primeiro dia de viagem na estrada real, que também não foi nada fácil. A verdade é que a bike não é própria para esse tipo de terreno e ainda estou carregando cerca de 14kg de bagagem. Se a estrada não estiver em condições razoáveis é perrengue na certa...
    Fico um bom tempo descansando nos bancos da pracinha da igreja. A lanhouse estava sem internet e o jeito era descansar as canelas sem navegar na web. Por volta das quatro horas da tarde resolvo ir no posto de saúde da cidade, para dar uma olhada na lesão do dedão do meu pé direito que machuquei na cidade de Vassouras. Isso aconteceu há uns quinze dias atrás e ainda não cicatrizou.
     Havia poucas pessoas no posto e rapidamente fui atendido. O médico me disse que o correto seria os enfermeiros do SAU( Serviço de Atendimento ao Usuário) terem dado ponto no ferimento, por isso não estava cicatrizando. Ele me receitou um remédio e uma pomada. Sai de lá bem mais aliviado, pois, como bom hipocondríaco que sou, pensei que o ferimento não iria cicatrizar nunca e que sofreria sequelas pelo resto de minha vida. Cheguei a pensar que teria que amputar o dedão...
    Volto para a igreja e fico mais um tempinho descansando. Depois dou uma volta pelo centro da cidade, à procura de algum cantinho coberto para montar a barraca. Encontro um bom local, mas prefiro antes dar uma passada na igreja, que fica bem no alto da cidade. Gosto um pouco de dormir perto das igrejas. Fui na secretária da paróquia e o pessoal me deu permissão para dormir em um estacionamento coberto ao lado.


    

segunda-feira, 20 de maio de 2019

39º dia pedalanças- 4ª etapa- Estrada Real



 
 Santos Dumont-Antônio Carlos-Barbacena
    Muito frio na madrugada na entrada de Santos Dumont. Por precaução havia comprado um par de meias para essas ocasiões. As outras meias que tinha estavam na mesma sacola que estava o tênis que foi roubado. Já sabia por experiência própria que algumas cidades do interior de Minas Gerais costumam fazer frio em outras estações do ano sem ser o inverno. 
    Sinto algumas dores musculares, principalmente na nuca e nas costas, algo que não havia sentido antes nesta minha primeira pedalança. Andar em estrada de terra exige muito esforço físico. 
    Vou para a lanchonete do posto de gasolina. Pergunto o preço do pãozinho com manteiga e a balconista me diz que custa quatro reais e noventa centavos!!!
      - É um pão especial...- ela me diz ao me ver saindo apressadamente da lanchonete.... nem se tivesse recheado do melhor chocolate do mundo iria comprar esse tal de pão com manteiga especial.
    Pedalei cerca de 3km e achei um outro posto com pão com preço acessível. E, claro um pedaço de queijo com um cafezinho. Na entrada de Santos Dumont tem uma réplica bacana do 14 bis. Fiquei um bom tempo contemplando aquele avião e imaginando como ele poderia ter saído do chão e voado, mesmo que por poucos metros... Provavelmente Santos Dumont deve ter sido chamado de louco na época quando afirmou que iria conseguir voar com aquele negócio.
    Vou em direção ao museu do inventor do avião. Passo pelo centro da cidade, que tem uma pequena réplica da torre Eiffel. 
    
    
    O museu do Santos Dumont fica 16km distantes do centro da cidade. Domingo de manhã, um solzinho bacana para aquecer o suficiente sem nos deixar com aquela sede. Boa parte desses 16km é asfalto, e a parte de estrada de terra tem alguns buracos, mas dá para ir sem muita sofrência. 
    O museu é bem bacana. Além da casa onde Santos Dumont viveu tem outros lugares, que não visitei por causa do tempo. A casa dele é bem bonita e simpática. O museu é um lugar bem agradável de se visitar, com muita área verde. 


    O museu



     Encontrei somente duas pessoas no museu: um soldado que era porteiro e segurança ao mesmo tempo e apenas um visitante. Depois da visita sigo o caminho por uma estrada de terra que em alguns trechos tem muito barro. Tem que ter muita paciência para atravessar aquele lamaçal todo, sendo na maioria das vezes empurrando a bike, para não correr o risco de levar um tombo e me sujar todo.
    Por falar em se sujar, encontro uma biquinha d'água e, claro, aproveito para tomar banho, apesar de ser por volta do meio dia. Estrada real é isso, não sabemos como irá ser o dia, se iremos encontrar lugar bacana para tomar banho e montar a barraca no final da pedalada. Então é melhor tomar banho na primeira oportunidade que aparecer. 



Seguindo em frente
     Continuo a pedalança por aquela estrada de terra que tem pontos bons e outros cheios de lama. Por volta de uma e meia da tarde chego ao povoado dos Paivas. Estou com aquela fome, mas, para meu desespero o local não tem nenhum restaurante aberto. O jeito foi ir pedindo de casa em casa para me venderem um prato de comida. Apesar de ser hora do almoço, as primeiras pessoas que pedi me disseram que não tinha rango em suas casas. Por serem pessoas simples e humildes, sinto que eles negaram com um pouco de receio, imaginando que eu estivesse querendo comida chique...
    Mas, depois de alguma insistência consigo almoçar em uma casa na pracinha da igreja. Comida simples e boa, comi o prato todo. Só não comi mais para não atrapalhar a pedalança na parte da tarde.
    

    Se de manhã o caminho foi tranquilo e sereno, o mesmo não posso dizer da parte da tarde. Muita subida íngreme em uma estrada de terra com muitas pedras pelo caminho. Acho que caminhei cerca de 4km de serra brava, o que aumentou ainda mais as minhas dores nas costas e na nuca. Encontrei algumas casas abandonadas pelo caminho, mas queria chegar na cidade de Antônio Carlos para assistir o jogo do meu time. 
    Apesar dos buracos e das pedras, sigo em bom ritmo depois da subida ter terminado e consigo chegar a tempo de ver boa parte do primeiro tempo ainda em um trailler na pequena e pacata cidade de Antônio Carlos. Lá 90% torce para os times do Rio de Janeiro. Tinha até alguns cachorros com a camisa do Flamengo.
    O trailler estava cheio de torcedores. Me sentei no meio deles na maior tranquilidade. Percebi que alguns me encaravam, como esperando que eu me apresentasse ou falasse alguma coisa. Sou  um cara caladão, mas, para quebrar o gelo, dei um pitaco sobre o time do Botafogo, que estava indo muito mal no campeonato carioca. E foi o suficiente para quebrar o gelo e começar a conversar com a galera sobre futebol, a minha viagem e tudo mais. Pessoal super gente boa até ofereceram alguma ajuda, que não aceitei pois iria viajar para Barbacena após o jogo. 
    Mesmo com a estrada escura resolvo seguir o caminho até Barbacena, distante cerca de 12km de Antônio Carlos. Era a quarta ou quinta vez que pedalo de noite, e a minha lanterna havia estragado...
     Essa região faz um pouquinho de frio. E vou pedalando apesar do cansaço que estava sentindo por ter subido aquela serra depois do almoço. Muito escura a estrada, mas vou pedalando com cuidado e em pouco tempo chego em Barbacena, que também não é muito bem iluminada. 
    Não consigo achar um local bacana para montar a barraca dentro da cidade, e então resolvo sair do centro e ir até a BR 040, para encontrar algum posto de gasolina. Mas esse dia parecia não terminar nunca, já deveria ser quase oito horas da noite e os postos de gasolina que havia encontrado não permitiam montar nenhum tipo de barraca. 
    Por volta das nove horas da noite encontro uma lanchonete que na entrada tem um toldo que poderia me proteger em caso de alguma eventual chuva. Espero ela fechar e monto a minha humilde residência, apesar de sentir falta de tomar um banho de noite. O banho que havia tomado na parte da tarde não ajudou muito, pois me sujei um pouco de lama. Sem contar o suor.