24/092013-terça feira
Recuperado das dores da primeira parte da viagem e de uma contusão no glúteo, planejo fazer o restante dessa viagem em uma semana, para poder curtir melhor as belas cachoeiras da cidade de Rio Acima.
Creio que a maioria dos leitores devem estar se perguntando como que uma pessoa pode ter uma contusão no glúteo. Bem, eu vou explicar, ou melhor, tentar explicar essa inusitada situação.
Quando saio por ai para fazer minhas andanças fico em abrigos. Não tenho condições de viajar e pagar um aluguel para deixar minhas coisas. Então guardo minha tv, o notebook e outros aparelhos na casa de um amigo e pego minha mochila e saio viajando.
Neste abrigo em que estamos somos todos acordados pontualmente às cinco horas da manhã. Certa vez, quando dormi na parte de cima do beliche, o guarda municipal, como de costume, começou a acordar a galera no horário habitual. O problema aconteceu por que eu queria me levantar sem antes estar acordado. Então desci do beliche, não pela forma correta, que é pela escadinha. Não sei o que deu na minha cabeça, mas tentei descer me apoiando no beliche ao lado. Resultado: cai do segundo andar de poupança no chão.
Na hora até que não doeu muito a queda, ri muito daquela situação, ao ver os outros albergados acordarem assustados com o barulho. Mas, algumas horas depois o músculo começou a doer e fiquei manquitolando por uns dois dias. Mas, para a minha sorte não foi nada de mais grave.
Voltando a viagem, sai do albergue por volta das cinco e meia, a fim de pegar o ônibus para a cidade de Sabará. O tempo estava nublado, com muitas nuvens no céu. O sol parecia que não ia dar o ar de sua graça na parte da manhã. Pensei em consultar a previsão do tempo na internet, mas logo descartei essa ideia. Mochileiro que é mochileiro de verdade pega a estrada faça chuva ou faça sol. Ainda estava com os sacos de lixo de 100l, que havia comprado na cidade de Cunha-SP, na viagem à Paraty. Esse saco serve direitinho como capa de chuva, é só fazer os buracos para passar os braços e a cabeça.
Às sete horas já estava em Sabará, rumo à Raposos, distante 12km. O percurso no início é agradável, com retas e muita sombra, o que me deixou mais animado. Mas a alegria durou pouco, pois logo as subidas íngremes, comuns neste caminho, apareceram. A malhação que fiz no parquinho enquanto estive no abrigo me fez bem, estava me sentindo melhor, tanto na parte muscular como aeróbica. Não tenho muita paciência para praticar exercícios, então, para não enjoar, faço meia hora de caminhada e mais meia hora nos aparelhos do parque. Recomendo a todos que moram perto de um lugar que tenha esses aparelhos que façam os exercícios, pois não é cansativo e não enjoa muito, pois são vários aparelhos.
o caminho é bem agradável no início |
casa em ruínas |
A mochila com menos peso também estava ajudando muito. O cantil, que custou 35 reais, também. O porta cantil tem um forro interno que não deixa a água esquentar tanto assim. Valeu a pena comprá-lo. E agora dá para carregar a água na barrigueira da mochila, sem precisar ter que abri-la toda hora que sinto sede. Comprei também meias próprias para caminhada, mais grossas e com menos algodão em sua composição. Isso evita bolhas, pois os pés suam menos. E, o mais importante, o chulé também desaparece. Bem, ficou um chulezinho, aceitável...
Esses fatores ajudaram muito no rendimento, e cheguei em Raposos por volta das 9:40 da manhã, percorrendo 12km em 2:40 horas. O caminho é cheio de subidas, mas foi tranquilo e agradável o percurso, o sol não estava tão forte assim.
Aproveitei o tempo para tirar um cochilo em frente a igreja matriz da cidade, até o horário do almoço. Estava fechada, foi uma pena, pois queria ver uma obra do aleijadinho.
Raposos-Honório Bicalho
Depois do rango, por volta das 11:30hs, já estava de volta a caminhada. São 13,5km de trilhas até o distrito de Honório Bicalho, em Nova Lima. A planilha da estrada real avisa que o grau de dificuldade do percurso é médio, e já me preparo psicologicamente para a batalha contra os meus limites.
Muitas vezes, na estrada real, é difícil de se achar o primeiro marco de cada percurso. E foi o que aconteceu neste trecho. Segui as orientações da planilha e dos moradores da cidade, e acabei parando em uma ferrovia desativada, que também terminava em Honório Bicalho. Fiquei nervoso, e me lembrei do primeiro dia da viagem à Paraty, em que também fiquei perdido em uma ferrovia. Mas, como os moradores de Raposos me disseram que ela terminaria em Honório Bicalho, resolvi prosseguir.
perdido na trilha do trilho do trem |
É muito cansativo e chato ficar andando no meio das britas grandes, o risco de uma torção no pé é bem grande. Depois de 1km encontro uma ponte, só com a armação para o trem passar. Pensei em passar por ela, me equilibrando nas ferragens, mas, por causa do peso da mochila resolvi passar debaixo da ponte, atravessando um pequeno córrego. Na descida, escorreguei e acabei molhando o tênis, e fui ficando cada vez mais irritado.
Mas continuei o caminho, não gosto de voltar atrás nessas situações. Depois de uns 2km andando nas britas encontro outra ponte, também só com a armação para o trem passar. Essa ponte era maior e bem mais alta. "Será que os habitantes de Raposos pensam que eu sou o Homem Aranha?" pensei comigo mesmo. Após analisar bem a ponte e o rio, cheguei a conclusão de que teria que voltar. Tenho muito medo de altura, fico tonto só de ver as fotos de pessoas em lugares altos.
Quando fico nervoso nem paro para descansar e voltei quase que correndo para Raposos a fim de encontrar o primeiro marco deste caminho. Na volta encontrei o cara que me disse que a ferrovia terminava em Honório Bicalho.
- Você pensa que eu sou um trem?- perguntei, irritado.
- Tem um monte de gente que vai por ai... - o cara respondeu.
- Você não está vendo a mochila que estou carregando? Por acaso você acha que eu sou super herói?
E disse outras coisas para ele, sem ofender, é claro. Não gosto de brigas e confusão, mas tinha que desabafar. Não é nada fácil andar na brita, ainda mais carregando 10kg nas costas.
Por volta das duas e meia da tarde finalmente encontrei o primeiro marco. Não poderia mais errar se quisesse chegar em Honório Bicalho ainda hoje.
O caminho realmente é difícil, o meu amigo Lúcio, que já o fizera, me havia alertado sobre as subidas, principalmente depois da cidade de Raposos. Acho que é o trecho mais complicado de todas as "estradas reais" de Minas Gerais.
Muitas subidas fortíssimas, trilhas cheias de valas, onde só se passa andando. O ciclista que quiser passar por este caminho terá que carregar a bicicleta em algumas partes do percurso. Eu mesmo, na subida mais complicada, tive que apoiar as mãos na coxa para conseguir subir.
No meio do caminho encontrei três motociclistas que estavam fazendo trilha no local. Eles me olharam com um ar de curiosidade e espanto, provavelmente não pensavam em encontrar um "caminhante' por aquelas bandas.
Perguntaram-me o que eu estava fazendo ali, para onde ia e tudo mais. As mesmas perguntas que a maioria das pessoas me fazem ao me ver com a mochila nas costas nestas estradas de terra de Minas Gerais. Era um misto de surpresa, "estranhamento" e admiração nos rostos dos motociclistas, ao ouvirem o meu relato.
Prossegui o caminho até às 16:30hs. Estava cansado, o fato de ter andado por cerca de 6km nas britas me desgastou bastante. Fora as subidas, é claro. Parei para acampar perto de um riacho, uns 5km antes de Honório Bicalho.
Muitas abelhas curiosas naquele lugar, que pousavam em meu corpo suado, Mas eram pacíficas, ao contrário dos mosquitos que, a cada picada, fazia sair um pouco de sangue na pele. . E o mané aqui tinha jogado o repelente no lixo, só por que não precisou de usá-lo na última viagem...
Tomei um bom banho no riacho e lavei minhas roupas. A temperatura da água estava ótima, apesar do tempo nublado.
Se na parte da manhã tudo correu bem, a tarde e a noite foram um desastre. Sem perceber, estava montando a minha barraca em cima de um formigueiro. As habitantes, enormes, não perdoaram e partiram para o revide. Parecia que eram carnívoras. A ferroada delas doía muito e imediatamente mudei o local para passar a noite mais sossegado. Para piorar, o K-suco de goiaba que havia comprado em Raposos não vinha adoçado(não achei o Tang) e tive que comer biscoito com água.
Já de noite, resolvi descansar e dormir, tinha que repor as energias para o dia seguinte. Estava exausto. Vez ou outra escutava um ruído na barraca, e pensei que fossem pequenas gotas de chuva. Se chovesse forte e a barraca não aguentasse, estaria em sérios apuros naquele lugar...
Minutos depois, uma formiga cortadeira me dá uma ferroada na perna. Estava tudo escuro e não tinha lanterna. Pouco tempo depois, outra ferroada. E mais outra. O barulho que havia escutado na barraca não era de pingos de chuva. Eram as formigas cortadeiras comendo a minha nova barraca nova... snif snif...
Não tinha como sair daquele lugar. O local era uma subida e não tinha um outro lugar plano, além de ter muitas pedras. E ainda por cima, tudo estava muito escuro. O jeito foi passar a noite, ali, deitado na barraca e me desvencilhando das impiedosas formigas cortadeiras até o dia clarear.
Por volta das duas e meia da tarde finalmente encontrei o primeiro marco. Não poderia mais errar se quisesse chegar em Honório Bicalho ainda hoje.
O caminho realmente é difícil, o meu amigo Lúcio, que já o fizera, me havia alertado sobre as subidas, principalmente depois da cidade de Raposos. Acho que é o trecho mais complicado de todas as "estradas reais" de Minas Gerais.
Muitas subidas fortíssimas, trilhas cheias de valas, onde só se passa andando. O ciclista que quiser passar por este caminho terá que carregar a bicicleta em algumas partes do percurso. Eu mesmo, na subida mais complicada, tive que apoiar as mãos na coxa para conseguir subir.
subidas complicadas |
No meio do caminho encontrei três motociclistas que estavam fazendo trilha no local. Eles me olharam com um ar de curiosidade e espanto, provavelmente não pensavam em encontrar um "caminhante' por aquelas bandas.
Perguntaram-me o que eu estava fazendo ali, para onde ia e tudo mais. As mesmas perguntas que a maioria das pessoas me fazem ao me ver com a mochila nas costas nestas estradas de terra de Minas Gerais. Era um misto de surpresa, "estranhamento" e admiração nos rostos dos motociclistas, ao ouvirem o meu relato.
olhem a trilha lá na frente, desanimei só de olhar, mas deu para chegar lá |
Prossegui o caminho até às 16:30hs. Estava cansado, o fato de ter andado por cerca de 6km nas britas me desgastou bastante. Fora as subidas, é claro. Parei para acampar perto de um riacho, uns 5km antes de Honório Bicalho.
Muitas abelhas curiosas naquele lugar, que pousavam em meu corpo suado, Mas eram pacíficas, ao contrário dos mosquitos que, a cada picada, fazia sair um pouco de sangue na pele. . E o mané aqui tinha jogado o repelente no lixo, só por que não precisou de usá-lo na última viagem...
Tomei um bom banho no riacho e lavei minhas roupas. A temperatura da água estava ótima, apesar do tempo nublado.
Se na parte da manhã tudo correu bem, a tarde e a noite foram um desastre. Sem perceber, estava montando a minha barraca em cima de um formigueiro. As habitantes, enormes, não perdoaram e partiram para o revide. Parecia que eram carnívoras. A ferroada delas doía muito e imediatamente mudei o local para passar a noite mais sossegado. Para piorar, o K-suco de goiaba que havia comprado em Raposos não vinha adoçado(não achei o Tang) e tive que comer biscoito com água.
Já de noite, resolvi descansar e dormir, tinha que repor as energias para o dia seguinte. Estava exausto. Vez ou outra escutava um ruído na barraca, e pensei que fossem pequenas gotas de chuva. Se chovesse forte e a barraca não aguentasse, estaria em sérios apuros naquele lugar...
Minutos depois, uma formiga cortadeira me dá uma ferroada na perna. Estava tudo escuro e não tinha lanterna. Pouco tempo depois, outra ferroada. E mais outra. O barulho que havia escutado na barraca não era de pingos de chuva. Eram as formigas cortadeiras comendo a minha nova barraca nova... snif snif...
Não tinha como sair daquele lugar. O local era uma subida e não tinha um outro lugar plano, além de ter muitas pedras. E ainda por cima, tudo estava muito escuro. O jeito foi passar a noite, ali, deitado na barraca e me desvencilhando das impiedosas formigas cortadeiras até o dia clarear.
olhem o estrago que as maleditas fizeram em minha humilde residência |
25/09/2013-quarta feira
Honório Bicalho-Rio Acima
Acordei triturado e moído. Creio que as formigas só foram me dar uma trégua por volta das três da madrugada. Minhas pernas estavam avermelhadas por causa das mordidas dessas sacanas.
Choveu um pouco, a barraca até que aguentou bem, o teto ficou um pouco úmido, mas não chegou a dar goteiras. Tenho dúvidas se essas barracas aguentam os temporais de verão.
O restante do caminho para Honório Bicalho também é cheio de subidas fortes, o que me faz pensar que o percurso inverso não é melhor do que o que eu estou fazendo, com mais descidas. Com muito sono e cansaço, chego ao distrito por volta das 9:30hs da manhã. Aproveito o tempo para descansar da noite anterior, que foi bem desgastante. Tive que passar a maior parte do tempo dando peteleco nas formigas cortadeiras que não me davam trégua(dizem que ela é a saúva, sei lá...) Só sei que dói pra caramba a ferroada delas.
Depois do almoço e de uma barrona de chocolate ao leite, parto para o município de Rio Acima, distante apenas 9km. O caminho, para minha surpresa, é tranquilo neste trecho. Estrada de terra bem conservada, poucas subidas, sendo a maior parte do percurso plano.
Apesar do forte calor cheguei à cidade de Rio Acima em bom estado, por volta das 14:30hs. Essa cidade possui inúmeras cachoeiras, mas a maioria situada à uma boa distância. Tem também uma simpática Maria Fumaça, que funciona nos finais de semana. Voltarei em uma outra oportunidade para conhecer esta simpática cidadezinha.
Pego o ônibus de volta à Belo Horizonte com aquele cansaço gostoso e com a satisfação de mais uma viagem completada com sucesso e sem maiores problemas(tirando as formigas cortadeiras, é claro).
A próxima viagem será a do passos dos jesuítas, em que percorrerei 370km no litoral de São Paulo.
Até a próxima aventura pessoal.
-obs: no relato, talvez algumas pessoas achem que dou muita enfase a parte sofrida do caminho, as subidas, as formigas, etc. Mas a beleza e a sensação de estar caminhando em meio à natureza não tem como definir. Já tentei achar as palavras para poder explicar para as pessoas que me interrogam sobre o porque de caminhar tantos quilômetros com um peso nas costas. Mas não consegui, por isso posto as fotos no post, só quem faz e gosta dessas caminhadas é que sabe o que sinto.
Na viagem, tive que reconhecer o meu limite físico, que eu conseguiria carregar na mochila apenas 10kg, devido as fortes subidas. Parei, dei um tempo, me preparei melhor para o restante da viagem, me exercitando no parque. Não desisti e cheguei ao final em boas condições, ao contrário da primeira parte, em que tive que tomar um leve sossega leão para dormir, por causa das dores que estava sentindo por todo o corpo.
O restante do caminho para Honório Bicalho também é cheio de subidas fortes, o que me faz pensar que o percurso inverso não é melhor do que o que eu estou fazendo, com mais descidas. Com muito sono e cansaço, chego ao distrito por volta das 9:30hs da manhã. Aproveito o tempo para descansar da noite anterior, que foi bem desgastante. Tive que passar a maior parte do tempo dando peteleco nas formigas cortadeiras que não me davam trégua(dizem que ela é a saúva, sei lá...) Só sei que dói pra caramba a ferroada delas.
Depois do almoço e de uma barrona de chocolate ao leite, parto para o município de Rio Acima, distante apenas 9km. O caminho, para minha surpresa, é tranquilo neste trecho. Estrada de terra bem conservada, poucas subidas, sendo a maior parte do percurso plano.
caminho tranquilo entre Honório Bicalho e Rio Acima |
cidade de Rio Acima |
Apesar do forte calor cheguei à cidade de Rio Acima em bom estado, por volta das 14:30hs. Essa cidade possui inúmeras cachoeiras, mas a maioria situada à uma boa distância. Tem também uma simpática Maria Fumaça, que funciona nos finais de semana. Voltarei em uma outra oportunidade para conhecer esta simpática cidadezinha.
Pego o ônibus de volta à Belo Horizonte com aquele cansaço gostoso e com a satisfação de mais uma viagem completada com sucesso e sem maiores problemas(tirando as formigas cortadeiras, é claro).
A próxima viagem será a do passos dos jesuítas, em que percorrerei 370km no litoral de São Paulo.
Até a próxima aventura pessoal.
-obs: no relato, talvez algumas pessoas achem que dou muita enfase a parte sofrida do caminho, as subidas, as formigas, etc. Mas a beleza e a sensação de estar caminhando em meio à natureza não tem como definir. Já tentei achar as palavras para poder explicar para as pessoas que me interrogam sobre o porque de caminhar tantos quilômetros com um peso nas costas. Mas não consegui, por isso posto as fotos no post, só quem faz e gosta dessas caminhadas é que sabe o que sinto.
Lições do caminho
Devemos reconhecer nossos limites. Não devemos desistir na primeira tentativa, por mais medonho que possa parecer o caminho. Devemos aproveitar os momentos difíceis para tirarmos lições para uma futura e nova tentativa. Devemos nos preparar mais e melhor, se falhamos na primeira vez.Na viagem, tive que reconhecer o meu limite físico, que eu conseguiria carregar na mochila apenas 10kg, devido as fortes subidas. Parei, dei um tempo, me preparei melhor para o restante da viagem, me exercitando no parque. Não desisti e cheguei ao final em boas condições, ao contrário da primeira parte, em que tive que tomar um leve sossega leão para dormir, por causa das dores que estava sentindo por todo o corpo.
"Eu sou o sujeito de minhas ações
O autor do meu personagem,
o artesão do meu mundo."
Henri Ey