17/01/2014- São Sebastião-IlhaBela-Caraguatatuba
praia de Maresias |
Acordei muito bem animado e comecei a caminhada por volta das oito da manhã, refletindo sobre como as pessoas mais humildes são geralmente mais generosas. Enquanto o seu Adão confiou em mim, deixando-me dormir dentro da lanchonete, o pessoal do condomínio Riviera não permitiu nem que eu usufruísse da sombra de uma árvore durante o almoço.
Depois do temporal de ontem, o dia amanheceu com poucas nuvens no céu, mas a temperatura estava ótima para se caminhar. Rapidamente cheguei a praia de Boiçucanga( parece nome de cidade de novela). Encontrei uma ótima lan house, pc bom e internet rápida, só o preço que estava meio salgado: quatro reais a hora! Aproveitei também para almoçar, apesar de não estar com muita fome. Não tinha muita noção do que vinha pela frente, pois as informações sobre esse caminho na net não são tão detalhadas como os da estrada real, por exemplo, que informa até quando uma ponte está quebrada.
E foi bom ter almoçado em Boiçucanga. Tive que pegar muita serra depois dessa praia. Além de ser extenso, o aclive era muito acentuado. Suei muito para chegar ao topo, parecia que eu estava subindo para o céu, sem exageros. A cada curva pensava que era o fim do sofrimento, que viria uma descida, mas não, era serra braba mesmo. Os caminhões desciam com cheiro de borracha queimada.
Boiçucanga |
muita serra depois de Boiçucanga |
eu já perdi os freios, a engrenagem... |
Foi uma das serras mais fortes que encontrei em minhas andanças até hoje, mas até que estava me sentindo bem fisicamente. Frequentemente faço exercícios nos aparelhos em alguns parques em BH e nessa viagem não tive câimbras. Essa serra se parece com a da Bocaína, em Paraty, só que asfaltada, tornando a descida mais agradável, não forçando tanto os joelhos, pois temos que descer meio que "engrenados". Mas o asfalto também tira toda a beleza do lugar...
Cheguei a praia de Maresias por volta de uma e meia da tarde. Muitos condomínios de luxo. Encontrei um sacolão e perguntei o preço de umas belíssimas laranjas:
- Duas laranjas deve sair por uns dez reais...- me informou o vendedor.
- Nuss! - levei um susto, pensando que tudo por ali fosse tão caro como as lindas laranjas...
- É que elas são do Uruguai... - tratou de me acalmar o cara.
- E a maçã Argentina? O preço dela é normal ou é cara também?
- A Argentina o preço é normal - me respondeu o vendedor, para a minha tranquilidade.
Comprei duas bananas, duas laranjas e uma maçã. Estava bem fisicamente, não estava cansado, os músculos não estavam doendo, mas.. estava desanimado. O caminho, depois da cidade de Santos, se tornou urbano demais. Muitas estradas de asfalto, e pouco contato com a natureza, o que acho uma coisa imprescindível em uma caminhada. As praias são muito bonitas, sem dúvida, mas o caminho é meio sem graça. Resolvi então pegar um ônibus para pegar a balsa até Ilhabela.
Havia uma enorme fila de carros para pegar a balsa, que foi a maior que encontrei nesse caminho. Mas também é a mais lenta, tinha até caminhão nela. Em Ilhabela planejo caminhar de noite, até chegar à Caraguatatuba, como está indicado nas folhas que imprimi na net. Não estou cansado, o tempo nublado ajudou e muito no dia de hoje. Começo a caminhar com disposição, seguindo as ruas pelos nomes que estão nas folhas, mas, depois de umas duas horas de caminhada, desconfio que estou voltando para onde fica a balsa. Peço informações a moradores da ilha e fico sabendo que só existe uma única entrada e saída para Ilhabela. Chego a conclusão de que a ilha foi colocada no roteiro apenas com a intenção de a conhecermos mesmo. E isso é meio complicado para quem está caminhando. Ir e voltar 30km, por mais bonito que seja o local, é um pouco frustrante. Quem está na caminhada só quer saber de seguir em frente, não estou viajando de carro, fazendo unicamente turismo... Eu poderia ter seguido direto de São Sebastião para Caraguatatuba, economizando assim uma boa caminhada.
Ilhabela |
O desânimo toma conta de mim. Após um dia inteiro de caminhada, é a primeira vez que penso em desistir. Ilhabela é uma bela ilha(dãããããã) mas, como já disse, não estou de carro fazendo turismo, o orçamento está meio apertado, as coisas são muito caras no litoral norte paulista.
Pego um ônibus para Caraguatatuba, estou pensativo e cansado de andar por rodovias. Provavelmente o caminho para Ubatuba é pelo asfalto novamente. Tenho vontade de voltar para BH. Esse caminho, tirando as praias, não nos faz ter aquele contato com a natureza. Talvez se eu fosse na baixa temporada poderia ter sido mais agradável, pois uso esses caminhos para ficar sozinho e refletir. Amanhã tomarei a decisão sobre o que fazer, se aborto ou não a viagem.
Chegando em Caragua, saio da rodoviária, sem saber para onde ir. Devia ser umas oito horas da noite, e saio andando meio sem rumo, a fim de encontrar um local tranquilo para montar a minha barraca. Depois de uma hora perambulando pela cidade, encontro uma funerária com marquise, o que é o mais importante. No local onde se espera a chegada dos mortos, talvez o ser vivente aqui tenha uma noite tranquila.
Será que escolhi um bom local? Será que Caragua é uma cidade tranquila? Só saberemos no próximo post da viagem do esquizo pelo caminho dos Jesuítas.
o jeito foi armar a barraca na funerária... |