A partir daí, não o larguei mais. Não tinha coragem de deixá-lo sozinho no bagageiro do abrigo, e, então passei a levá-lo aonde que eu fosse. Dormia com ele, amarrando-o na ferragem do beliche. Como tenho o sono leve, não corri o risco de o levarem de madrugada. Acordava com ele, ia ao banheiro com ele, tomava café com ele, fazia os meus exercícios físicos com ele. Quando dava uma corridinha, o colocava no centro do gramado do parque, para não fugir do meu campo de visão, dando umas voltinhas em torno dele. Afinal, estou em Sampa...
Almoçava com ele, ficava à toa com ele, e tomava banho com ele. Enfim, 24 horas por dia com ele ao meu lado.Cheguei a defendê-lo com unhas e dentes. Queriam tirá-lo de mim, apanhei, mas não o larguei por nada neste mundo. .
É o meu amigo Note. Ele não briga comigo, não me manda fazer nada, me apresenta à um número sem fim de amigos virtuais e, se por acaso um deles não for muito legal comigo, posso, com apenas dois cliques, eliminá-lo para sempre de minha vida. Ele toca as músicas que quero(nem sabe o que é funk...), roda os meus filmes preferidos e me faz rir.
Além de tudo, me mantém informado sobre tudo o que está acontecendo no mundo e me dá dicas de soluções de problemas que acontecem no dia a dia. Ele conhece um tal de "Dr. Google" que sabe de tudo. Certa vez, estava tendo problemas com maribondos que insistiam em fixar residência bem próxima da minha janela. E a construção não parava de crescer a cada dia que se passava. Pegava um pedaço de jornal e ateava fogo na casa, destruindo-a depois por completo. Mas, não sei como, os maribondos insistentes voltavam a construir a residência exatamente no mesmo lugar.
Não não sabia o que fazer, e então resolvi consultar o tal doutor que entendia de tudo. Ele me informou que os maribondos têm um tal de ferormônio, por isso sempre voltam para o mesmo local, mesmo depois de destruído. O Doutor me aconselhou então a passar um desinfetante no local para tirar o cheiro do ferormônio. Foi tiro e queda, os insetos rodeavam a área, mas, não sentido o odor, acabaram indo embora.
No mundo em que vivo, cercado de inimigos por todos os lados, não poderia ter melhor companhia. (obs: no momento em que escrevo este post aparece alguns caras do albergue no parque, e um deles chega a olhar para o meu amigo, que está recarregando suas energias. Só este fato me traz à realidade e faz baixar o meu astral. Quando escrevo viajo pelo meu mundo e consigo esquecer de tudo e de todos. Estar perto de pessoas, principalmente as que não conheço não me faz muito bem, tirando a minha inspiração e concentração. Por isso o post se encerra por aqui, pois tenho que defender o meu amigo Note de possíveis larápios...)
Foram 35 dias, 840 horas ao lado dele, sem largá-lo um minuto sequer. Acho que é um recorde mundial, deveria estar no Guinnes book como o homem que conseguiu ficar mais tempo ao lado de um note.
Mas, quando voltar para minha querida Belo Horizonte vou ter que deixá-lo de lado por alguns meses, guardando-o na casa de um outro amigo. Ganho salário mínimo, e, para comprar mais amigos para o meu note, terei que ficar nas ruas para economizar o aluguel.
Mas vai valer a pena, já passei por situações mais complicadas, tudo é uma questão de tempo e um pequeno sacrifício para não gastar dinheiro com bobagens. Mas vai valer a pena, seremos uma boa família, eu e meu amigo Note.
Nenhum comentário:
Postar um comentário