sábado, 9 de maio de 2015

A história do contador de histórias

 
Sou fã de filmes nacionais. Até os considerados não muito bons eu gosto. Outro dia estava garimpando alguns filmes na internet para assistir e matar o meu tédio quando me deparei com o longa "O contador de histórias". É um filme baseado em fatos reais, e é basicamente a bela história de vida de um cara que tinha tudo para dar errado e se tornar mais um traficante...Mas que acabou se tornando pedagogo e um dos quatro melhores contadores de histórias do mundo... Irei contar sua história mais abaixo.
    Me lembrei que, por volta do ano de 1998, quatro anos antes do meu primeiro surto grave, fui à uma apresentação desse cara. Era um belo domingo de sol e eu estava alegre e animado, pois gostava de ir à shows, principalmente ao ar livre. Depois haveria uma apresentação do talentoso músico mineiro Maurício Tizumba. O local estava lotado, principalmente de crianças e de seus respectivos pais. Naquela época já estava sentindo um pequeno desconforto em lugares cheios de gente, mas não era nada de grave, era apenas uma mania de perseguição bem leve. Talvez já estivesse entrando no que os psiquiatras chamam de pródromo, que é o período que antecede ao surgimento dos surtos psicóticos na vida de um portador de esquizofrenia.
    O contador de histórias resolveu neste dia narrar contos de terror infantis, aquelas histórias de mula sem cabeça, de assombração, alma penada, etc. Sempre tive um sentimento de culpa enorme, por diversas coisas que fiz e por algumas que deixei de fazer. Se me perguntassem se me arrependo de algo que fiz em minha vida, ficaria um bom tempo falando sobre os meus erros. Desconfio muito quando uma "celebridades" afirmam que fariam tudo de novo se tivessem uma oportunidade de mudarem algo que haviam feito em suas vidas. Será que eles são perfeitos e nunca erram? Pois é, eu errei, sou um ser humano, com qualidade e muitos defeitos, e, devido à esses defeitos, não fiz tudo como deveria ser feito.
    Então, voltando ao assunto, desde pequeno tinha esse complexo de culpa.  O cara começou a contar uma história sobre almas penadas, afirmando que, quem não era bonzinho e nem muito "mauzinho", não iria para o céu, mas também não iria queimar eternamente nas chamas do inferno. Ele disse que o destino dessas pessoas seria vagar eternamente pela terra como espíritos, ou seja, virariam almas penadas...
    Aquilo acabou com o meu domingo. Pensei, ou melhor dizendo, tive a plena e absoluta certeza em minha mente que o cara estava me zoando. E, não só ele, toda a plateia que riu de suas histórias. Foi uma cena triste, fiquei sem reação e muito decepcionado, ao ver tantas pessoas rirem de mim. Fui embora, muito triste, não entendendo o motivo de ser alvo daquele tipo de piada. Nem vi o show do Maurício Tizumba.
    Hoje sei que tudo aquilo foi fruto de minha imaginação. Afinal, como que o contador de histórias iria saber que eu estaria ali naquele dia? E como ele iria saber do meu medo de virar uma alma penada? Hoje sei parar e pensar em algumas situações, mas naquela época era tudo real em minha mente e foi muito o sofrimento mental pelo qual passei.
    No último post falei sobre exemplos não muito bons a serem seguidos, o caso do traficante morto na Indonésia e do serial Killer de Goiânia, pois ambos tentaram usar a esquizofrenia para se tornarem inimputáveis... (o serial killer está tentando até hoje...)
    Mas hoje vou falar de um bom exemplo, o contador de histórias. Um cara que nasceu em uma comunidade carente, e que foi parar na Febem, devido a sua conduta quando criança.

A história do contador de histórias
    Roberto Carlos Ramos nasceu em um bairro da periferia de Belo Horizonte, no ano de 1965. Era o filho caçula de uma família de dez irmãos. Não se alfabetizou e aos seis anos de idade foi levado para a Febem. Sua mãe foi convencida por uma assistente social que a instituição era um lugar onde seria bem tratado e que poderia estudar e aprender uma profissão. 
    Devido aos maus tratos sofridos naquele lugar, fugiu inúmeras vezes, entrou para o mundo das drogas e começou a cometer pequenos delitos. Aos treze anos foi considerado irrecuperável pela Febem, ao bater o recorde de fugas da instituição (132 vezes). 
     Mas, em 1979 um fato veio mudar totalmente o rumo da vida de Roberto Carlos: O encontro com a pedagoga francesa Marguerit Duvas, que visitou a Febem para fazer a sua tese de doutorado.
Ela estava conversando com os funcionários da instituição, que, obviamente, tentavam ocultar o lado triste e negativo da Febem, como as celas e as torturas que eram feitas naquele lugar. Marguerit viu Roberto Carlos sentando em um banco do lado de fora da instituição. Ao saber da realidade do menino de rua que vivia no mundo das drogas e de suas fugas, ela começou a conhecer melhor como era a vida dele de verdade.
    Depois de alfabetizá-lo, Marguerit resolveu levá-lo para a França. Viveram em Marselha por cerca de oito anos, onde ele aprendeu a falar francês e terminou os estudos. Aos 21 anos de idade, Roberto Carlos decidiu voltar ao Brasil e se formou em pedagogia pela UFMG. Começou o seu trabalho na própria Febem, contando histórias para os internos.
   Adotou 13 crianças e hoje é um escritor reconhecido mundialmente e que recebeu inúmeros prêmios e condecorações. Além de escrever, Roberto Carlos também faz palestras motivacionais pelo Brasil. E também faz shows, para crianças normais e não para caras paranoicos como eu....
    Essa é uma história que prova que nem sempre o que começa errado vai dar errado. Infelizmente nem todo mundo vai encontrar uma "Marguerit" em sua vida, mas, com um pouco de ajuda e vontade própria, é possível mudar o rumo de nossas histórias...

O filme
    O diretor de cinema Luiz Villaça, ficou impressionado com a trajetória de vida de Roberto Carlos, ao ler um de seus livros para seu filho. Então, juntamente com a atriz Denise Fraga, resolveram transformar a história de Roberto em um filme, "O contador de histórias", lançado no Brasil em 2009. 

Palestra motivacional do contador de histórias


CDE- Central de Downloads do Esquizo
    Esta semana o livro "As memórias de um esquizofrênico" está disponível para download. Não é o meu livro, que se chama Mente Dividida-Memórias de um Esquizofrênico. 
    O meu livro comecei a escrever entre os anos de 2010 e 2011, e fiz uma última revisão em 2014. O título é parecido, mas as histórias são bem diferentes. Ainda não li o livro todo, apesar de ter somente 45 páginas. Mas o autor do livro, Rogério Batista, coloca o livro para download gratuito no site Recanto das Letras. Então, os leitores podem baixar o livro na CDE ou então no Recanto das Letras. Rogério Batista também é autor de vários textos e poesias, que podem ser acessados no link. 
    Sinopse do livro
    "O livro aborda a dolorosa vida de um jovem que foi criado apenas pela mãe, essa por sua vez apresentou sempre um certo desequilíbrio. O enredo conduz o leitor num trama psicológico sobre o que é real e fantasia na vida de Lúcio, sua perca de peso repentina, seu envolvimento com o ocultismo e a religião e suas insanidades marcam os episódios, conduzindo a um sofrimento latente, desencadeando em situações de tirar o fôlego".
-OBs: tentei entrar em contato com o autor do livro, para saber mais informações sobre o mesmo, para saber se é ficção, se é uma autobiografia ou se é baseado em fatos reais da vida de uma outra pessoa. Mas ele não retornou o meu email, e então deixo aqui esta observação, já que o personagem principal do livro se chama Lúcio e o autor Rogério. 

    Para quem é fã de filmes nacionais, abaixo o link de uma seleção com 22 filmes nacionais que fizeram sucesso. Nos comentários dos leitores também há inúmeras sugestões.
No início são citados filmes muito antigos, mas no final tem ótimos filmes...
https://portaldocurta.wordpress.com/2015/04/27/22-filmes-para-ver-e-nunca-mais-falar-que-cinema-nacional-nao-presta/ 

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