Sinopse
Geraldo Viramundo (Diogo Vilela) é um cara simpático e com ideias absurdas. Genial e/ ou insano, ele decide abandonar a sua pequena cidade em Minas Gerais e ganhar o mundo. Seu objetivo é desestabilizar o sistema e seus cúmplices são as prostitutas e os desvalidos.
Há uns dez dias atrás assisti esse maravilhoso filme, baseado no romance do grande escritor Fernando Sabino. Sou suspeito para comentar filmes nacionais, pois até os considerados ruins pela maioria eu curto. E, para melhorar ainda, aborda o tema loucura. Não tinha como deixar de comentar, pois desde o início do filme me identifiquei e muito com o personagem principal do filme.
Desde pequeno já tinha as minhas maluquices, sendo que por volta dos sete anos a minha avó chegou a me levar para um hospital, a fim de fazer um eletroencefalograma na minha caixola. Esse exame provavelmente não resultou em nada, pois não fui levado à nenhum profissional que cuida de nossas loucuras e demências. A verdade é que o tipo de loucura que eu tinha não era detectada e nunca vai ser por simples ondas elétricas...
Era um garoto alegre, triste, bagunceiro, sem noção, despreocupado e que desconhecia a palavra medo. Quando criança me enturmava com os adolescentes da época e me lembro de um cara sacana que, ao atravessar a movimentada avenida Amazonas, em Belo Horizonte, deu uma corrida e me deixou no meio dos carros. Tive o sangue frio de ficar parado, para me desviar dos carros e deixar que os motoristas se desviassem de mim. Sabia que, caso corresse, poderia ser atropelado com mais facilidade. O cara, ao me ver chegar no outro lado da avenida, disse que ficou impressionado com a minha coragem. E eu fiquei impressionado com tamanha sacanagem.
Mas quando comecei a virar adolescente comecei a me enturmar com as crianças de oito e dez anos de idade. Não saia do prédio vizinho, para ficar o dia inteiro brincando de futebol, de "esconde esconde", queimada, war e banco imobiliário. E de noite roubar mangas do vizinho, apesar que de eles nos dava um saco enorme na época dessa fruta, mas sabe como é né? O prazer e a delícia está em provar algo de uma aventura....
E não tinha medo de nada mesmo. Me lembro até hoje que meus colegas, por acidente, colocaram fogo em um fusquinha que estava estacionado na pracinha que ficava em frente de nossa casa, no bairro prado, em Belo Horizonte. Eles estavam soltando bombinhas (cabeça de nego, pra falar a verdade) e um deles deixou cair um palito de fósforo bem em cima da gasolina que estava vazando do veículo. Imediatamente parte do carro começou a pegar fogo e todo mundo saiu correndo, cada um para sua casa, menos eu. Talvez eles tivessem pensado que o carro iria se explodir, como acontece nos filmes. Eu, não sei se por sangue frio ou por retardadice mesmo, fiquei ali parado, por alguns segundo, pensando no que poderia fazer. Não sei como mantive a calma e a serenidade naquela situação, mas, depois de algum tempo corri para a casa de um amigo que e disse o ocorrido. Rapidamente apareceram pessoas de todos os lados, com baldes na mão e o fogo foi debelado e o carro não explodiu como nos filmes da época. A culpa acabou sendo minha, como sempre. Afinal eu era o capetinha da rua, e tudo de ruim que acontecia por lá era culpa minha.
Mas, vamos voltar ao filme, pois se for para contar as minhas estripulias de criança teria que escrever um livro inteiro...
Assim como Giramundo, sai de casa cedo para viajar por ai, em busca de algo que não sabia exatamente o que era. Estava dentro de mim, não ficar em um local fixo, não ter compromissos sérios. Comecei então a trabalhar como operador de som, aos 17 anos, apesar de ter estudado eletrônica por quase quatro anos...
Me lembro que recusei dois estágios na área de eletrônica por não querer cortar o cabelo. Havia trabalhado alguns meses como ajudante de serviços gerais em uma oficina de compressores, mas não me enquadrei naquele estilo de vida. E também dizia o que pensava, inclusive para o patrão:
- Júlio, qual é o código do parafuso do compressor da marca tal? - perguntou o patrão.
- Sei lá, se o senhor, que trabalha com isso há mais de trinta anos não sabe, eu que vou saber? - respondi, prontamente, e mais prontamente ainda fui despedido...
E depois trabalhei 17 anos de minha vida como operador de som e, assim como Giramundo, andando pelos quatro cantos de Minas Gerais. E não conseguia permanecer por mais de um ano em uma mesma empresa. Tinha a necessidade de conhecer novos lugares e pessoas. Também como o personagem principal do filme, pensei em ser padre. Era uma forma de escapismo social, mas não conseguia me enxergar realizando uma missa, falando para um monte de gente, e não sendo um santo. Na minha cabeça, para ser padre tinha que ser santo, ou pelo menos tentar ser...
E, mesmo depois de me aposentar, continuei com as minhas andanças, depois de morar por quase oito anos em um mesmo local, que foi dominado pelos "crackudos". Não por que eu tinha medo deles, mas certo dia quase fui dessa para outra ao discutir com um viciado em crack. Não gosto de confusão e brigas, mas os caras quando são dominados por essa droga chegam a ficar insuportáveis, e eu estava morando no meio de um monte deles. O aluguel era barato, o meu quarto era muito bom, mas a paz e a liberdade, que são as coisas mais importantes para mim, já não tinha mais. Era a hora de sair por ai para conhecer novos lugares...
eu, minha barraca, minha mochila e Deus... |
As minhas andanças duraram cerca de dois anos, queria continuar por mais um tempo, para conhecer o Brasil inteiro, esse país maravilhoso com um povo mais maravilhoso ainda. Mas posso ser louco, mas não sou irresponsável e procuro respeitar as pessoas. O que me fez desistir por enquanto das andanças foi a violência que está tomando conta das grandes cidades e também a questão da higiene. Durante esse período, roubaram o meu celular e quase levaram o meu notebook. Nas viagens e mesmo quando ficava dando um tempo em Belo Horizonte, confesso que já tive que urinar algumas vezes nas ruas. Não acho isso legal, se eu tivesse um filho não gostaria que ele visse uma cena dessas. Bebo muita água e, consequentemente vou ao banheiro também com mais frequência do que a maioria das pessoas. Então, por uma questão de coerência, resolvi voltar a ficar no meu cantinho novamente. Mas confesso que o tédio à todo momento me dá uma inquietação e vira e mexe me pego sonhando percorrendo os caminhos da estrada real, em Minas Gerais.
Meu cabelo é esquisito, as pessoas provavelmente me acham esquisito, mas hoje em dia não dou bola para o que pensam de mim. Quando passei a dar importância para esse fato, foi o momento em que enlouqueci de verdade, e não foi a loucura positiva, foi a piração total, as paranoias e o sentimento de que o mundo estava contra mim. Em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais as pessoas diziam que eu tinha aids, que eu tinha pacto com o tinhoso, entre outras coisas mais. Hoje sei que a culpa desses boatos não foi minha, pois, como já disse, morei em diversas cidades e não tive nenhum tipo de problema parecido em nenhuma delas, somente nesta cidade...
Então não aguentei aquela realidade tão suja, tão covarde, e surtei. Passei por maus bocados e quase fui dessa para outra, mas, hoje, agradeço ao povo daquela "província" por terem me enlouquecido, pois, foi a partir daquele momento que começou o meu processo de autoconhecimento. Foi um duro processo, que valeu a pena em certos aspectos, pois hoje eu sei quem eu sou de verdade.
Esse texto que recebi em um ônibus parece que foi coisa de lá de cima:
http://memoriasdeumesquizofrenico.blogspot.com.br/2012/07/o-louco.html
Hoje não tenho vergonha nenhuma de dizer que sou um louco: louco pela vida, pela natureza, por um amor platônico que sei que nunca irá se concretizar, pois sei que não existe nenhuma louca como eu. É a louca que idealizo e que prefiro mantê-la intacta em meus sonhos. E, para mim o verdadeiro sinônimo de loucura é coragem, a coragem de falar o que se sente e o que se pensa, de ser o que é e pronto...
Cada um tem dentro de si suas loucuras e seus desejos quase secretos. A diferença é que a maioria não dão vazão à toda essa loucura, pois preferem ser certinhos e se enquadrarem dentro dos padrões da nossa sociedade.
Sou louco por dizer o que sinto, e por agir de acordo com os meus princípios, mesmo sabendo que não terei grandes oportunidades na vida sendo desse jeito. Não era um cara lindo, mas deixei muitas oportunidades de ter alguns relacionamentos, pelo simples fato de saber que o que mais prezo no mundo e a liberdade, não só de ir e vir, mas principalmente de ser eu mesmo.
Prefiro as pessoas loucas, imprevisíveis. Não quero um ser moldado pela sociedade e que sei exatamente quais serão as suas reações e atitudes. A solidão é muito melhor....
Ser louco não quer dizer irresponsabilidade, só pelo fato de não me apegar a certas situações e comodidades. Cuido da minha saúde, dentro das minhas possibilidades, mas não deixo de apreciar um bom x-tudo com bacon e um bom brigadeiro ou então um delicioso pudim de leite e os quitutes da culinária mineira.
frustrada tentativa de fazer uma palha italiana, mas, apesar do visual, o negócio ficou gostoso... |
Cumpro com os meus deveres e pago as minhas contas, com o dinheiro que recebo de minha aposentadoria. Muitos acham que tenho uma vida boa, mas garanto que eles não iriam topar receber um salário mínimo de aposentadoria caso precisassem de passar por tudo o que passei. Nem eu toparia, se isso fosse colocado como "prêmio" por passar no teste da loucura paranoica. Nem se fosse por dois salários mínimos. A verdade é que não estando surtado, não conseguiria andar por tanto tempo sem me alimentar e me hidratar. Não tem como... de verdade mesmo. Parece que, quando estamos surtados, a adrenalina ou a dopamina aumentam tanto que nos permitem fazer estas coisas que normalmente não conseguiríamos fazer.
Às vezes quem não vai com a minha cara, joga uma indireta ou até uma direta mesmo, me chamando de louco, doido, etc, pois essa é a única coisa que conseguem enxergar em mim. Não sei qual é o pecado ficar quieto em seu canto e não conversar com ninguém. Se isso gera antipatia, não posso fazer nada, as pessoas deveriam se preocupar mais com quem fala muito e mentiras.
Mas, se por acaso alguém queira me ofender, que me chamem de normal....