sábado, 15 de agosto de 2015

Quase um surto...

 
    "Tenho praticamente 14 anos de esquizofrenia", ou pelo menos de surtos, pois sempre me achei um pouco diferente. Os estudos pela internet e a troca de ideias e experiências com os amigos virtuais também portadores me ajudaram muito a conhecer melhor o transtorno da mente dividida. E a própria experiência com a esquizofrenia colabora  para identificar quando o sinal está no laranja, prestes a ficar no vermelho.
    Cada surto que tive teve um fator desencadeante, o stress principalmente.
    O primeiro surto grave foi devido aos boatos que eu tinha aids, e também pelo fato de algumas pessoas realmente estarem contra a minha pessoas. Tinha  um salário melhor do que os outros empregados de uma firma no interior de Minas Gerais, o que gerava um pouco de ciumes.  Mas eu aumentei e muito a realidade, pensando que o mundo inteiro estava querendo o meu fim.
    Não acredito que a esquizofrenia seja apenas um desequilíbrio químico do cérebro, tem o fator psicológico também. As vozes talvez sejam ecos de nossos pensamentos e que nossa mente distorce e aumenta, provocando as crises e surtos.
    Ontem, sexta feira (14;08) tive que voltar novamente a tomar 10mg do "pan nosso de cada dia". Já cheguei a tomar 20mg e também tomei uma vez um remédio para dormir chamado levozine, que é muito forte. De madrugada, não tem como ir ao banheiro, o jeito é comprar um pinico e colocar debaixo da cama, para nos aliviar, pois a sensação que dá é que estamos bêbados e as paredes do local onde morava ficavam pequenas quando tomava esse medicamento. Consegui voltar para os 10mg e já havia um bom tempo tomando apenas 5mg, sonhando um dia em conseguir me livrar desse vício que não nos proporciona um sono verdadeiro, atrapalhando e muito a minha memória.
    Cheguei a procurar psiquiatras pelo SUS perguntando se não teria uma alternativa natural para parar com esse medicamento, mas nenhum me deu algum tipo de informação. Por que o serviço público não oferece alternativas naturais ao invés de aplicarem logo o diazepan, que é uma droga um tanto o quanto viciante? Quando me foi receitado pela primeira vez, o psiquiatra não me informou nada sobre essa dependência de que o diazepan poderia causar, e, que, com o tempo, acabaria perdendo o efeito e teria que aumentar a dose para conseguir o mesmo efeito.
    Por que os médicos não nos informam sobre esse fato? Pensava que iria ter um sono reparador e tranquilo, mas a verdade é que ele apenas ajuda, ou seja, é um indutor do sono. Claro que na época não tinha acesso à todas essas informações. E também não recebemos a bula nos postos de saúde, apenas nos dão as cartelas fora das caixas.
    Mas, voltando ao assunto inicial, eu estava prestes a surtar, ou já estava surtado? Como a maioria já sabe, geralmente só saio de casa para almoçar, e já volto quase que correndo para casa. E passo sempre em uma estação de metrô, onde ocorrem muitos assaltos nas proximidades e as pessoas andam muito temerárias em serem assaltadas, andando com as mãos firmes segurando suas bolsas e os celulares.
    Fico chateado quando uma mulher passa ao meu lado segurando a bolsa, penso que esse gesto é exclusivamente para a minha pessoa. É como se elas estivessem me chamando de ladrão. Pode parecer bobeira, mas não para quem procurou ser honesto e trabalhar enquanto foi possível para se manter. Já cheguei a comer lixo durante os surtos, mas não roubei. Passava em frente das padarias, meu estômago roncava, as lombrigas ficavam agitadas quando eu via os pães de queijo, as tortas e outras guloseimas. Mas entendo a atitude dessas mulheres, hoje em dia estão matando pessoas por causa de um simples celular...
    Mas, a cada dia que passava, sentia-me mais estressado ao passar pela estação do metrô. Andava rápido para chegar logo ao restaurante, almoçava rapidamente e voltava mais rapidamente ainda. O fato de andar rápido provavelmente faz com que as mulheres pensam que eu esteja a procurar alguma vítima para roubar.
    Era como se fosse acusado por todos os lados. Ao entrar na padaria, nos supermercados, a sensação de que eu estava sendo vigiado era além do normal, já que realmente somos vigiados, pois hoje em dia qualquer supermercado tem o seu sistema de vigilância. Enfim, só tinha paz quando voltava para o meu quarto.
   O surto é como se fosse uma dinamite. Tem o seu pavio. E o meu estava queimando rapidamente e quase estourou essa bomba chamada esquizofrenia. Tenho um pouco consciência de quem eu sou em condições normais e cheguei à conclusão de que, se continuasse daquele jeito, iria surtar a qualquer momento. Toda a minha musculatura estava dolorida, não conseguia relaxar e nem praticar esportes. De noite dava para sentir a pulsação na ponta dos dedos das mãos. Não estava conseguindo realizar as tarefas normalmente, estava esquecendo o local onde havia colocado as ferramentas (tive que refazer as instalações elétricas, pois mudei para um quarto maior). Foi difícil fazer a parte elétrica, deixava a chave de fenda na cama e logo depois esquecia onde havia colocado. Cheguei a pensar que estava ficando demente ou esclerosado, sei lá, quase que marquei uma consulta por causa desse fato.
    Então vi que teria que tomar um remédio mais forte para apagar. Havia marcado de tomar um comprimido de clorpromazina juntamente com o fenergan, nesta noite de sábado (15;08) para domingo, já que neste dia costumo almoçar tarde. Mas ontem resolvi tomar 10mg de diazepan juntamente com um comprimido de dorflex para relaxar a musculatura. Dormi razoavelmente bem, acordei sem as dores musculares e com a mente "no lugar".  A falta de sono também pode ser um gatilho para a esquizofrenia...
    Hoje, fui tranquilamente buscar o marmitex, comprei algumas frutas, e sem aquela costumeira pressa para chegar em casa. Continuei a fazer as minhas gambiarras no meu quarto e não estava mais esquecendo onde havia guardado as ferramentas. Que alívio, não estou ficando demente ou esclerosado! É o stress, que se não for bem cuidado, pode fazer sérios estragos na vida de uma pessoa
    Mas não podemos tomar dorflex todos os dias, pois pode prejudicar o nosso organismo, principalmente o fígado e os rins.
    Com o quarto maior, agora posso fazer os meus exercícios sem precisar sair de casa. Ir ao parque também estava sendo um fator de stress para mim. Pensava que, por estar mal fisicamente, poderia estar ingerindo alguma coisa envenenada ou falsificada, sei lá. O parque ecológico é bem agradável, com muitas árvores e aqueles aparelhos para se exercitar. Mas sempre tem gente por lá, e ainda tem aqueles que ficam sentados nos aparelhos apenas para conversar, e ai tenho que pedir com a maior educação para que saiam e que eu possa usá-los.
o dorflex pode ser bom no começo...

    Mas e aí, o que fazer então? Sinceramente não sei, vou ver se consigo a valeriana em algum lugar. A caixa deve custar uns 35 reais, o que pode pesar um pouquinho no orçamento, mas se me fizer livrar do diazepan e o sono melhorar pelo menos um pouco, já vai valer a pena.
    Por isso volto a aconselhar a quem pensa em tomar um desses "pans" da vida: o medicamento não irá resolver os nossos problemas, pagar as nossas contas. Só use em último caso, e não era o meu caso. Não dormia bem, mas também não ficava a noite inteira acordado, dormia pouco apenas. Confesso que acordava melhor sem o remédio, piorei e muito com o uso dos medicamentos. Mais vale duas horas de sono natural do que dez horas com o diazepan... Creio que maracujá e chás não irão fazer muito efeito para quem se acostumou com esses medicamentos. Mas não quero surtar novamente, gostaria de ter uma vida normal, ir aos shows, andar pelas ruas tranquilamente como antes, mas não sei o que fazer. Se não tomo os medicamentos, as paranoias me tornam um ser antissocial, mas, se tomo os remédios indicados pelos psiquiatras, simplesmente não tenho vontade de fazer nada, é como se fosse uma lobotomia química, pelo menos no meu caso.
    Voltei a tomar o ômega 3. Vamos ver se volto à estabilidade. Também preciso abaixar os triglicerídeos, que, no último exame estavam em 480mg. Nem deixei o médico citar a palavra sinvastatina quando viu o meu exame, fui logo dizendo que iria mudar os meus hábitos e tomar os ácidos graxos. A sinvastatina também faz mal para a saúde, se for tomada por um longo período.
    Não sei o que fazer mesmo, creio que o jeito é ficar de olho no pavio da esquizofrenia enquanto não tomo os antipsicóticos continuamente. Quando perceber que o pavio está se aproximando da dinamite, volto a recorrer ao dorflex ou então à "Clô" (clorpromazina).
     Minha relação com a esquizofrenia e os medicamentos é essa, não estou aqui querendo que os outros portadores façam a mesma coisa. Cada esquizofrenia, mesmo sendo a do mesmo tipo, tem as suas diferenças de indivíduo para indivíduo. A minha é essa, creio que uma junção de fatores biológicos, genéticos e psicológicos. Cada um tem a sua esquizofrenia e alguns realmente optam pelos medicamentos pois sabem que não podem ficar sem eles, que não têm outras alternativas.
    E assim vou levando a vida, sendo o meu próprio psiquiatra e psicólogo...

13 comentários:

  1. Caro Júlio
    Pra quem convive com quem tem essa doença, como eu, é fácil entender o seu relato, as suas dificuldades...
    Também dá pra perceber, na sua vida, como "o menos é mais".
    Por você não ter com quem contar, você não se entrega...Sempre dá um jeito de levantar e ir em frente, como você pode, e sempre raciocinando, se organizando...
    E isso eu acho bom, porque impede de você se acomodar...
    Tenho visto anúncios, que não via antes, quando acesso seu blog.
    Isso se reverte em algu. benefício pra você, ou não?
    Se não, não acho justo...
    Paz e discernimento pra você, sempre, meu amigo.

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  2. Olá
    É uma luta diária, muitas pessoas ao lerem o meu blog ou assistirem os vídeos que gravei, pensam que tenho essa questão da esquizofrenia resolvida em minha vida. Não é bem assim, é que apenas meio que acostumei com certas situações.
    Em relação aos anúncios, realmente eu autorizei para ver se poderia ganhar alguma coisa, mas só com um grande número de visualizações é que daria para ganhar uma certa quantia em dinheiro. Mas vou cortar os anúncios, pois nem sempre sei o que estão colocando no blog e não sei se concordo com o que estão divulgando.
    Obrigado por participar do blog e muita paz para vc tbm.

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  3. Os anúncios que tenho visto são de assuntos sérios...De clínicas, médicos, da Nestlé...
    Se há a possibilidade de benefício, penso valer a pena, pois não compromete a seriedade do blog...
    Abraços.

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    1. A sim, é que eu uso uma extensão no navegador que impede as propagandas. Mas, como disse, para se ganhar alguma coisa, só tendo umas três mil visualizações por dia. Melhor não deixar mesmo, pois procuro ser coerente e, como não tenho controle sobre as propagandas, não queria correr o risco de ter no blog algo que não concordasse. Mas obrigado pelo aviso.

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  4. Parabéns pelo blog!
    Sou psicóloga e estudo esquizofrenia. Vejo o quanto é necessário esclarecimento sobre o assunto. Que bom que há pessoas como tu que podem ilustrar o que é vivenciá-la e podem ajudar a desmistificar tantas coisas...
    Abraços!

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    1. Olá
      Obrigado pela participação no blog e parabéns pelo dia do psicólogo. A informação ajuda a acabar com o preconceito, e infelizmente a mídia em geral não contribui muito para isso, e então temos que tentar fazer algo. O que faço não é grandes coisas, mas é como o pássaro que tenta apagar o incêndio na floresta carregando água em seu bico. Se todos os envolvidos fizessem a sua parte, creio que a situação poderia estar melhor. Abraços

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  5. Também não sou muito fã de remédios, além de viciarem, fazem mal ao estômago. Por isso aprecio muito os remédios naturais que Deus em sua infinita inteligência nos deu. Então, mesmo que não tenham um efeito forte como o remédio que age imediatamente, as ervas vão agir a longo prazo...Sou realmente fascinada com o poder das ervas, tanto que moro no centro de SP, mas tenho meu canteiro de chás. Todo dia tomo um chá diferente, para não acostumar o corpo a um só também. Quem me conhece sabe o quanto que consegui emagrecer, porque ajuda a não reter líquido no organismo...e consequentemente limpa o organismo de toxinas, acho que mesmo que vc tenha que tomar seus remédios; um cházinho vai ajudar a desintoxicar; além de trazer um bem estar de calmaria, paz e a aura que envolve as plantas te envolver. Gostaria que vc desse uma olhada neste site de plantas medicinais: http://www.plantasquecuram.com.br/ervas/lavanda.html#.VfCf99JViko

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    1. Olá, vou dar uma olhada no site sim. Qual vc indicaria para ajudar a dormir? Relaxar a musculatura principalmente, pois costumo apelar para o dorflex, e sei que isso vicia. Estava tentando mudar para a valeriana, mas ela custa trinta reais a caixa e o sus não investe nessa área de produtos naturais. Acho que não sairia caro o sus investir nessa área, de fitoterápicos, por exemplo.
      Obrigado pelas dicas e pela participação, os comentários são tão importantes quanto as postagens.

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    2. Valeriana é uma planta, vc sabia? http://www.plantasquecuram.com.br/ervas/valeriana.html#.VfcHitJViko
      Neste mesmo site você vai encontrar outras ervas ansiolíticas; como por exemplo a alfazema, a melissa, a cidreira, o capim-santo (acho que não tem quem não fique mais calmo com um chá forte destes.)
      (estes que mencionei, o arbusto fica pequeno, então dá para ter em vasos)
      Ah se a gente morasse perto; o povo aqui do colégio onde trabalho tudo tá tomando chá, tem uma colega que tinha insônia, e depois que começou a levar umas para casa, está dormindo a noite inteira; acreditem quem quiser...
      Ter um conhecimento e não passar adiante; não vale tê-lo.

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  6. Os remédios da esquizofrenia são muitos fortes e o problema se não toma tem delirios se toma ficam dopado e muito difícil de escolher se toma ou não belo muito bom esse blog

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    1. É um dilema muito grande. Se não tomamos, quase não saímos de casa por causa das paranoias. Mas, por outro lado, se tomamos ficamos tão sonolentos que não temos vontade de fazer nada.
      É muito complicada essa situação mesmo.
      Obrigado pela participação e pela visita ao blog.

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  7. Clorpromazina é um neuroléptico ou antipsicótico com a função de modular a dopamina esse tipo de medicamento deve ser tomado continuamente conforme orientação médica e nunca de maneira esporádica como você tem feito

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    1. Isso mesmo. Nem precisava explicar, pois sei que todos os antipsicóticos tem essa função de diminuir a dopamina. Mas no meu caso infelizmente não é possível tomar continuamente, por vários motivos.
      Obrigado pela participação e pela visita ao blog.

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