Haldol faz mal? Meu depoimento no uso desse antipsicótico
Haldol |
Hoje irei falar sobre a minha experiência com um dos antipsicóticos mais polêmicos usados no controle da esquizofrenia(aliás, todo antipsicótico gera polêmicas, não existindo uma unanimidade).
Trata-se do haloperidol, mais popularmente conhecido com haldol. Afinal, ele é bom ou ruim? Faz tanto mal assim? Não sou fã do control v + control c, mas ai vai um pouquinho da história desse medicamento:
"Foi desenvolvido em 1957 pela companhia belga Janssen Farmacêutica e submetido ao primeiro teste clínico na Bélgica no mesmo ano.3 Foi aprovado para uso pelo Food and Drug Administration em 12 de abril de 1967. O haloperidol tem como mecanismo de ação o bloqueio seletivo do sistema nervoso central, atingindo por competição os receptores dopaminérgicos pós-sinápticos. É, portanto, um bloqueador do receptor D2 da dopamina.4 O aumento da troca de dopaminas no cérebro produz o efeito antipsicótico. O pró-fármaco
decanoato de haloperidol, libera lentamente o haloperidol de seu
veículo. Em consequência do bloqueio dos receptores de dopamina ocorrem
efeitos motores extrapiramidais no paciente."
-Fonte: wikipedia.
-obs: como sempre, a ação do medicamento é o tal do bloqueio da dopamina. Se pegarmos os medicamentos atuais, a história é a mesma... Será que estamos no caminho certo?
Bem, ele me foi apresentado no ano de 2003, depois de haver tentado por um tempo o melleril, que me deu uma reação adversa bem estranha: na hora do orgasmo sentia prazer normalmente, mas não saia nenhum líquido seminal, a não ser o transparente, que é produzindo naturalmente pelo homem e serve como lubrificante. Com receio de que me pudesse causar problemas mais sérios no meu "brinquedo", resolvi parar com este medicamento. Como já disse várias vezes, depois desse meu primeiro surto eu estava relativamente bem na parte mental e super disposto fisicamente. Foram quatro meses fora da realidade nas ruas e br's de Belo Horizonte. Precisava mais de orientações e informações do que propriamente de medicamentos. Mas a minha primeira consulta foi frustrante e não demorou não mais do que dez minutos. Sai praticamente diagnosticado e com a receita na mão.
Provavelmente devo ter tomado uma dose de 25mg de melleril, pois não me sentia muito dopado quando o tomava. No primeiro dia tomei um comprimido logo na parte da tarde, assim que saí do consultório. Tinha em mente a esperança que aquela pílula fosse mágica e faria desaparecer todos os meus problemas de origem mental.
Estava me sentindo muito bem, ser ajudado por tantas pessoas foi o verdadeiro e melhor remédio para sumir com os inimigos que estavam em minha mente. Fui tanto ajudado que cheguei a pensar que o meu caso tivesse sido divulgado na tv ou no rádio. Engordei vinte quilos em um mês. Até que me senti um pouco melhor tomando o melleril, mas creio que o efeito foi psicológico, era como se estivesse tomando placebo. Mas, orientação e informação não tive nenhuma naquela época.
Então, com medo de que o melleril prejudicasse o meu "brinquedinho", resolvi partir para o haldol, que me foi indicado pelo psiquiatra. Me lembro que, nos primeiros dias, sentia uma enorme necessidade de ficar andando sem parar. Como estava morando nas ruas, aquilo até certo ponto foi positivo, pois tinha que me deslocar bastante para tomar café, almoçar, tomar banho e achar um lugar tranquilo para dormir. Com o tempo fui descobrindo os "points" ou bocas de rango do pessoal de rua. Belo Horizonte tem muitos lugares para acolher as pessoas que precisam de ajuda, e, claro que neste meio entram algumas pessoas que se acomodam com a situação e nem pensam em procurar um trabalho.
a acatisia atrapalha o sono, deixando nossas pernas inquietas |
Certa noite, na hora de dormir, senti vontade de fazer flexões de braço. Pensava que a minha saúde estava melhorando e que estava ficando forte. Mas, com o tempo a sensação nos músculos foi se tornando bem desagradável, me deixando bastante agoniado. Confesso que dava vontade de chorar. Ora sentia vontade de andar,e, logo depois sentia necessidade de me deitar um pouco. E ficava assim o dia inteiro.
Quando a sensação atingiu limites insuportáveis, resolvi ir até o hospital Raul Soares:
-"Tô sentindo um negócio esquisito nos músculos"... disse, mostrando os braços.
- Você está com vontade de andar sem parar? - me perguntou o psiquiatra.
- Isso! - disse, num misto de surpresa e espanto, por ele ter "adivinhado" o que eu estava sentindo.
Ele foi bem mais atencioso do que o médico com quem eu consultava no posto de saúde do parque municipal. Me explicou que eu estava com uma reação adversa chamada acatisia.
A partir daí comecei a ler as bulas dos medicamentos, que hoje em dia estão mais acessíveis e fáceis de se ler. Lia antes algumas bulas, acho que por ser um pouco hipocondríaco. Incrível como a esquizofrenia traz alguns sintomas de outras patologias. Realmente existe uma tal de síndrome das pernas inquietas. Vivo em meu mundo, e, depois de estudar um pouco o autismo, fiquei com a sensação de que tenho essa patologia também.
Então, como estava me sentindo bem, resolvi voltar a trabalhar, mesmo ainda não tendo descoberto um medicamento que me fizesse bem sem me causar reações adversas. Voltei para a cidade onde tive o meu primeiro surto psicótico. Experimentei outros medicamentos por lá, mas todos sem sucesso, pois eu tinha que trabalhar, acordar cedo e, nos finais de semana tinha que trabalhar até o sol raiar.
Certa vez, em uma terapia, a psicóloga conseguiu me convencer que o haldol injetável era melhor do que em drágeas. Como já disse, sou hipocondríaco e gosto de tomar vacinas e injeções, ficando até chateado quando não ganho a vacina contra a gripe. Não fiz objeções e enfermeira então me aplicou o haldol e fui para casa. Não demorou muito e a inquietude começou a me atacar. Era cinco minutos andando sem parar intercalados com cinco minutos de descanso na cama. Chegava a ser desesperador, e não tinha ninguém para conversar sobre aquela coisa estranha que estava sentindo. Não tinha a mínima noção do que fazer, e o atendimento na unidade de saúde era péssimo e a consulta não demorava mais do que cinco minutos. A única coisa que sabia era que o efeito durava um mês.
Esses dias, além de terríveis, pareciam intermináveis. Não conseguia trabalhar de noite como operador de som. Tinha muito sono e dormia na tampa da mesa de som, durante o show. Antes, até sem tomar os medicamentos eu chegava a tirar uma soneca, para estar mais disposto na hora de desmontar o som, depois do evento.
O que eu penso é que os medicamentos modernos tem os mesmos efeitos do que os antigos. É o lance da captação da dopamina, como sempre. Leia a bula de um medicamento dos anos 50 e um moderno. A diferença é que os modernos são bem mais tolerados e tem menos reações adversas. Me pergunto se um dia será criado um medicamento que só atue na parte mental sem influenciar no rendimento físico. No dia que isso acontecer, ai sim será uma grande evolução. Os medicamentos atuais são apenas uma lobotomia química. A diferença da lobotomia antiga é que, se pararmos de tomar os medicamentos, dá para voltar ao que éramos antes.
Mas, voltando ao assunto, foi um alívio e tanto depois que esses trinta dias se passaram. A psicóloga me disse que havia se esquecido de passar o biperideno para mim. Esse medicamento serve para diminuir os efeitos colaterais do haldol. Ela também me disse que a esposa do dono da firma havia telefonado para o centro de saúde mental, para saber o que estava acontecendo comigo. Só sei que, a partir desse dia, haldol nunca mais!
Agora, me pergunto, como um psicóloga pode esquecer o biperideno? Se o haldol já é ruim com ele, imaginem sem? Uma psicóloga pode receitar ou indicar injeções? Eu não estava em crise e nunca fui agressivo, então por que aquele tipo de experiência? Ainda mais uma que dura trinta dias...
Outra coisa que não consigo entender é o motivo dos profissionais da área de saúde mental aplicarem medicamentos injetáveis pela primeira vez em um paciente. Se o efeito dura um mês, não seria mais prudente começar com comprimidos para se certificar se não haverá reações adversas?
Creio que o medicamento injetável possa ser uma boa se a pessoa já estiver adaptada aos componentes do mesmo. Acho que o estômago e o fígado irão agradecer... Agora, experiências em que o efeito dure trinta dias não sei se é uma boa não... Mas, acho que eles não ligam muito para isso, quem sofre é o paciente mesmo. E haja paciência para ficar um mês impregnado com o haldol, por exemplo.
Já disse que as minhas experiências com as psicólogas não foram muito frutíferas, para falar a verdade não me ajudaram em nada. Não sou contra a terapia, tem gente que se beneficia com ela. Sou contra os maus profissionais que existem em todas as áreas, e na saúde mental não é diferente.
Creio que a informação e o esclarecimento são de fundamental importância no combate à esquizofrenia. Os técnicos de futebol estudam os adversários para vencê-los. Nós, os portadores e esquizofrenia temos que fazer a mesma coisa em relação à patologia da mente dividida. Se os profissionais, não sei por qual motivo, não querem nos orientar e informar, então façamos isso por conta própria. A internet pode ser usada tanto para o bem como para o mal, tudo depende de nós mesmos.
os antipsicóticos atrasam a ejaculação ou... |
Já ouvi um psiquiatra dizer que os antipsicóticos atrasam a ejaculação. Não é bem isso, tira a líbido mesmo. Alguns mais, outros menos, tudo dependendo da dose também. Se só atrasassem a ejaculação, então por que não usam esses medicamentos para a ejaculação precoce? Já que são "ótimos" e quase sem efeitos colaterais?
Não estou aconselhando ninguém a parar com os medicamentos. Recebo algumas críticas por falar mal desses remédios. Mas, no meu caso, nem com viagra e com todas as garrafadas do nordeste o "briquedo" funciona. Se eu tomar, as paranoias e outros pensamentos somem, mas, juntamente com eles somem um monte de coisas, inclusive a vontade de viver.
Usar ou não os medicamentos ou diminuir a dose ou até então tentar outra alternativa, vai de acordo com cada um, de suas condições financeiras, etc. Mas todos devem se conhecer bem o bastante e avaliar os prós e os contras de suas decisões.
Para finalizar, não condeno totalmente o haldol, conheço algumas pessoas que se deram bem com ele. Acho que 90% das pessoas que eu perguntei disseram que não gostam do medicamento, mas cada organismo reage de uma maneira diferente aos componentes da fórmula. O negócio é tentar, tentar e tentar. Mas que é haldol é quase uma unanimidade negativa, isso é...