Quem nunca passou por momentos difíceis em suas vidas?
Depois que a esquizofrenia apareceu em minha vida, tive vários momentos de desânimo total, a ponto de tentar o autoextemínio ou então ficar inerte à tudo e à todos.
Um dos piores momentos foi em 2004. Estava tão debilitado fisicamente e mentalmente que pedi demissão da firma onde trabalhava, em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais.
Com a grana do acerto, fui em uma churrascaria para fazer a minha última refeição, e depois fui na casa da luz vermelha para ter a minha última transa. Estava mais aliviado do que desesperado. Acho que estava me sentindo mais leve por não ter que ver mais tantas pessoas. Estava tão tranquilo que fiquei ouvindo a garota de programa falar sobre seus problemas conjugais, que havia ido para aquele lugar pois seu marido era muito violento.
No dia seguinte comprei um colchonete, um radinho e um monte de pilhas. Não tinha mais coragem de tentar tirar a minha vida, então queria deitar em uma calçada, ligar o radinho de pilha e ficar lá até morrer.
E fiquei assim sexta feira e todo o final de semana. Na segunda feira começou a agitação no centro, várias pessoas passavam pela calçada para me ver. Tive que tomar diazepan acho que de hora em hora para não surtar. Apareceu um policial e me deu um tapa nas costas, pois eu estava deitado de bruços. Depois apareceu uma ambulância e mais policiais. Provavelmente alguém havia me denunciado por estar tomando medicamento por seguidas vezes. Eles não foram muito amigáveis comigo. Mas, antes que me abordassem novamente apareceu uma assistente social e foi possível ouvir ela dizendo que me conhecia e que eu era um cara trabalhador e que não usava drogas e que gostava de praticar esportes. O policial até veio a se desculpar comigo.
Então fui levado para um albergue e permaneci por lá por mais de um ano, convivendo com ex detentos, pessoas em situação de rua e trecheiros que viajam pelo Brasil meio sem destino certo. Comecei a fazer o tratamento e hoje estou indo bem, não estou curado, mas só tenho que agradecer por estar vivo para poder contar estas histórias. Acho que meu anjo de guarda trabalha muito bem e que sou um cara de sorte, apesar de não ser rico e só ter uma bike usada e uma tv LCD de 32 polegadas. Ah, e tenho um notebook da Dell, que consegui comprar quando estava viajando por aí com a minha mochila economizando a grana do aluguel.
Mas me considero um cara de sorte, não era nem para estar vivo, mas estou. Estou vivo e ainda consegui me entender um pouco como pessoa após os surtos. Loucura para mim hoje em dia é querer agradar à todos deixando de ser você mesmo.
Podemos tirar lições até das piores situações em que vivemos em nossas vidas.