Domingo 25 de junho de 2023
Meu domingo até alguns meses atrás era o dia da comilança, onde tudo era permitido. Geralmente me empanturrava de rocamboles, pasteis de queijo, pão de queijo e doce de leite. Durante a semana não me controlava também, apenas me empanturrava menos.
Mas, em um belo domingo de sol resolvi mudar essa calórica rotina: peguei a Margarida (minha bike) e pedalei até o centro da cidade, para almoçar como a maioria dos seres humanos normais fazem.
Escolhi um self servisse, pois sempre acho que se for prato feito alguém do restaurante poderá ter colocado algo na minha comida no trajeto do fogão até a minha mesa.
O visual do restaurante era bom, com muitas variedades. E saía mais barato do que a minha comilança desenfreada de rocamboles dominicais.
Desci da bike, coloquei meu capacete e as luvas na mesa e me servi. O prato ficou pesado, mas não ficou aquela montanha igual certas pessoas fazem (meme da indireta).
Feijão tropeiro, frango, macarronada, salpicão e manga e mamão para acompanhar. De sobremesa um cafezinho com pedaços de rapadura, coisa que aprecio como todo bom mineiro. É uma delícia adoçar o cafezinho com açúcar mascavo, experimenta proce vê.
Voltei para casa empanturrado, mas não fiquei enjoado como ficava quando comia os rocamboles.
E essa passou a ser a rotina do meus domingos, caçar um self service para comer até estufar a barriga. Uma vez pedalei uns 40km para almoçar e a volta foi meio complicada.
Mas, no último domingo a rotina não se cumpriu. Saí de casa com a minha bike, pedalando numa velocidade maior do que a de costume, pois quase não há movimentação de pedestres e outros veículos.
Para falar a verdade, faço bicicros nesses dias, usando os buracos, meios fio e outras coisas como obstáculo.
E tinha uma descida que era uma delícia descer. Logo após vinha uma subida para uma passarela para atravessar a avenida dos Andradas, que dá bem no centro do centro da cidade.
Só que, na transição da descida para a subida algo inesperado aconteceu: levei um tombaço e sai capotando até o início da passarela. Não entendi nada, pois há 3 anos fazia esse mesmo percurso. Meu corpo ficou todo dolorido. Olhei ao redor e vi o meu capacete totalmente destruído. A Margarida parecia estar bem, só havia quebrado o guidão, razão pela qual levei o tombaço.
Fiquei parado tentar achar os pontos mais doloridos do meu corpo: o queixo, a cabeça, o pé direito, e principalmente o braço direito. Estava formigando e não conseguia movimentá-lo normalmente. E tinha sangue pela minha camisa. Fiquei com medo de me movimentar pois também sentia dores nas costas, principalmente na nuca.
Então liguei para o SAMU, que ao constatar que eu estava consciente ao falar a minha idade, me aconselhou a procurar uma UPA. Na verdade não tinha condições de me deslocar tão longe.
Um ciclista parou e me ofereceu ajuda, mas disse que estava tudo bem. Aos poucos fui sentindo que poderia me levantar, somente o formigamento do braço direito me preocupava um pouco.
Resolvi voltar para casa e ao ver o local do acidente de longe vi que escapei por pouco de um acidente mais grave, ou até mesmo o pior, pois estava em uma velocidade altíssima por causa da descida. E como o guidão quebrou, acabei batendo o meu corpo contra o muro de cimento e fui jogado para o início da passarela. Pelo estado do meu capacete eu não iria resistir se não estivesse usando esse item importantíssimo de segurança que todo ciclista deveria usar.
Quantas vidas tenho?
Com muita dificuldade consegui chegar em casa. Antes havia comprado um anti-inflamatório na farmácia que havia pelo caminho.
Depois de um acidente grave a gente tem um sentimento estranho de livramento, começa a dar valor a pequenas coisas, a sentir-se grato por estar vivo e com saúde. Ficamos com vergonha das coisas que desejamos, enquanto tem tanta gente passando por problemas mais sérios. Mas depois que as dores somem tudo volta também.
Então pus-me a refletir por quantas vezes havia escapado da morte nessa minha vida
1ª vez
Na primeira vez acho que tinha uns 7 anos. Me baseio nesta idade pois me lembro que não havia ainda escolhido o meu time de coração e não ficava enchendo o saco dos atleticanos da minha rua quando meu time ganhava. Obs; não torço para o cruzeiro, torço para um time de outro estado. Acho que sou da turma do só para contrariar, acho que se tivesse nascido no estado do meu time de coração iria torcer para um time de Minas Gerais ou São Paulo.
Mas, voltando ao tema da postagem, me lembro bem que também era um domingo de sol. Minha família tinha o costume de curtir cachoeiras nos finais de semana na região metropolitana de Belo Horizonte. Íamos na Brasília azul de minha madrinha cachaceira.
A cachoeira estava lotada, mas, não sei por qual razão, circunstância ou motivo resolvi me afastar e ir em direção onde não havia ninguém Meu olhar estava fixo para a frente e seguia como se estivesse hipnotizado. De repente. tchun!. Afundei-me na parte mais funda. Veio aquele desespero e fiquei tentando subir, mas as pedras eram muito escorregadias. A água era transparente e então alguém que havia me seguido me puxou para a parte rasa. Se não fosse esta pessoa não estaria aqui para contar mais esta história.
Também em um outro domingo, por volta dos nove anos, estava pedalando com a minha caloizinha e descendo um morro na maior velocidade, quando, de repente, o cabo do único freio se rompeu. O jeito foi seguir e, não sei como, tive a calma para atravessar a movimentadíssima avenida Francisco Sales, no bairro Prado, aqui em Belo Horizonte. Por sorte, como já relatei, era um domingo e o movimento de carros era pouco e consegui atravessar a avenida sem ser atropelado por um carro, mas bati de frente de um meio fio e levei um capote. Mas sai ileso dessa também.
Passei por outros perigos quando pequeno pois saia de casa sozinho e andava por aí sem parar, e às vezes ficava perdido uma vez ou outra quase era atropelado por um carro.
1992 Carnaval em Salvador
No ano de 1992, sem mais nem menos, deu vontade de ir para Salvador. Estava trabalhando no interior de Minas Gerais. Ganhava bem, três salários, livre de despesas. Mas eu tinha dessas coisas, me entediava fácil e não conseguia ficar muito tempo em um emprego.
Era véspera de carnaval e imaginava que poderia arrumar algum trabalho assim que chegasse à capital baiana.
A viagem foi tranquila, a não ser quando o ônibus teve uma leve colisão com um outro veículo e aí tivemos que esperar outro ônibus para fazer a baldeação e seguirmos viagem, que demorou quase que exatamente 24 horas.
Na rodoviária peguei um táxi que deu um monte de voltas até chegar à um hotel barato, pois não estava com muita grana (nunca fui de juntar dinheiro)
Então, no dia seguinte comprei um monte de fichas e comecei a ligar do orelhão para as firmas de sonorização que havia encontrado nas páginas amarelas da lista telefônica. E, para o meu desespero todos respondiam que, por ser véspera de carnaval, as equipes já estavam prontas e que já haviam contratado as pessoas que teriam que contratar.
E segui então no hotel, e aproveitei para conhecer a capital baiana. No primeiro dia fui na praia e um senhor começou a conversar comigo e almoçamos juntos em um shopping. Quando fui no banheiro ele também foi e ficou me olhando. Depois do almoço continuamos conversando e ele me cantou. Não o recriminei mas resolvi parar a conversa por ali. . Continuei na praia e logo depois apareceu um cara me oferecendo um negócio que segundo ele, era muito rentável: eu entraria com a grana e ele compraria e revenderia as drogas. Na época usava um tênis rebook, que era o que estava na moda Tinha camisas e bermudas boas. Acho que estava parecendo um turista.
Mas, claro que recusei o negócio das drogas, apesar da grana estar acabando. Mesmo assim, ia aos cinemas, comia acarajé e outros quitutes da culinária baiana.
Mas, quando o dinheiro acabou tive que sair do hotel com a mochila. Fui em uma farmácia e pedi cartelas de um ansiolítico para dormir. Minha intenção era tomar várias cartelas e assim ir ter o sono eterno. Mas esses medicamentos são somente vendidos com receita.
Então decidi dormir em uma praça. Uma evangélica pregava eloquentemente para ninguém. Todos que ali passavam nem sequer paravam para escutar o que ela dizia. No início eu achei que ela era meio louca No final da pregação ela veio até a mim e começamos a conversar.
Contei-lhe a minha situação, e, para a minha surpresa ela me convidou para ir para a sua casa. Obviamente que não recusei, pois provavelmente iria ser assaltado ali no centro de Salvador durante a madrugada.
E fiquei na casa da Laura (esse era o seu nome verdadeiro) por um mês. Ela tinha um filho de uns 12 anos e também tinha um cachorro. Era uma casa simples, perto de uma comunidade.
Certa noite resolvi dar umas voltas para tomar um sorvete. Ela me disse para não passar pela comunidade, pois poderia ser perigoso. Eu não queria dar a volta e passei por aquele becos estreitos e escuros. No final da descida, já quase na avenida, um cara me chamou, ao longe:
-Ei você!
-Eu?- Respondi
-Sim, chegai aí- disse o cara.
Assim que me aproximei, ele já foi sacando a arma e me pedindo o dinheiro. Comecei a falar para ele que não era rico, que se assaltasse um cara rico faria menos mal. Mas não adiantou, o cara foi logo empurrando a arma contra a minha barriga. A verdade é que na época eu tinha cara de riquinho e usava algumas roupas bacanas. Logo chegaram uns 4 garotos. Um que tinha uma faca me pediu a camisa. Fui logo passando pois senti que os caras não estavam para brincadeira. Outro garoto me pediu o meu rebook, o tênis da época. Tentei fazer uma resistência, mas o menino da faca encostou na minha barriga e não tive outra alternativa a não ser dar o meu tênis que havia comprado com muito suor. O garoto, ao cheirá-lo, não fez uma cara muito boa. Bem feito! (pensei)
Olhei para o lado para ver se aparecia alguém para ajudar, mas a única pessoa que vi foi uma estática mulher que observava tudo encostada no muro da varanda de sua casa. Aquilo para ela deveria ser rotina
Acho que não iria aparecer nenhum policial para me salvar e também o meu rebook e logo outro garoto me pediu a camisa, que entreguei sem a menor resistência.
Cheguei a pensar que também iriam pegar a minha calça jeans, mas resolveram me liberar.
Então subi as ladeiras da comunidade quando um rapaz franzino me perguntou o que havia acontecido. Voltamos para o local do assalto e, para minha surpresa, fez todo mundo me entregar os meus pertences, inclusive o cara do revólver, que era bem mais forte que ele.
Também em Salvador passei outro perrengue, desta vez foi por pouco que não fui dessa para outra.
Também era domingo, eu e a Laura estávamos voltando da missa. A igreja não era muito grande, mas tinha um monte de caixas de som. Evangélico ou não, baiano gosta de som.
Na volta tivemos que passar no meio de uma festa, onde um trio elétrico estava tocando. De repente levei um chute no traseiro e começou o corre corre. Um cara sacou uma arma e a apontou para a minha direção. Fiquei parado sem reação, sem entender nada, pois na época era um cara super caladão que não mexia com ninguém. E também não conhecia ninguém naquele lugar para ser tratado daquela forma.
De repente a Laura gritou e um amigo do cara pegou no braço dele para que não atirasse em mim. Não sei como mantive a calma e então voltamos para casa. Alguns caras me pediram desculpas.
Durante os surtos
Durante os surtos tentei o auto extermínio duas vezes. Era mais fácil tirar a minha própria vida do que tirar a vida dos que eu estava imaginando que estavam querendo tirar a minha vida.
E as vozes foram muita intensas. Cheguei a tomar uma caixa de veneno de rato depois de atravessar um brejo no meio da br. Nada me aconteceu. Não entendi nada e comecei a pensar que já havia morrido e por isso não tinha morrido ao tomar o veneno.
A outra tentativa foi de cortar os pulsos. Acho que não consegui cortar uma artéria.
Por pouco também vim á óbito por falta de alimentação durante os surtos. A minha única preocupação era fugir dos inimigos imaginários que estavam em minha mente. Mas que, para mim, naquela época estavam em todos os lugares, menos em minha cabeça. Tanto que me refugiei no meio do mato e fiquei lá alguns dias. Não sei quantos dias fiquei sem me alimentar, sentia muita sede e então bebia muita água. Só sei que perdi cerca de 25 quilos durante esse surto em que entrei no mato. Certo dia, quando estava perambulando pela Br, senti tontura e uma forte dor no coração. Senti também um princípio de desmaio, mas não sei se por sorte ou ajuda divina, logo em frente havia uma árvore que dava uma generosa sombra e também saía uma água minada de uma pedra, que me ajudou a me reestabelecer.
O primeiro acidente de bike
Tive um outro acidente sério de bike além do que o que narrei no início desta postagem. Estava indo almoçar e descendo uma rua na maior velocidade e ouvindo heavy metal na maior altura nos meus fones de ouvido especiais que eu mesmo construí para abafar o som externo e aumentar ainda mais a potência do som que vinha do celular. O fone de ouvido é uma forma que tenho de burlar as vozes, que já não me incomodam tanto. Acho que a música também não me faz pensar tanto quando estou nas ruas. Enfim, viajo nas músicas e vou para um mundo mais tranquilo.
Mas essa imprudência misturada com distração me custou caro. Bati de frente com uma moto e acho que voei uns cinco metros até cair no chão. Não me lembro dessa parte do acidente, só me lembro do momento da batida e de quando me levantei, meio zonzo. Detonei o dedão do pé direito e fiquei todo ralado. O capacete também ficou bastante danificado. Se não fosse novamente essa proteção poderia ter sérios problemas.
A princesa Diana também morreu em um acidente, numa tentativa de fugir de algo. Mas era algo real, os paparazzi, que não a deixavam em paz. No meu caso, às vezes ando com pressa ou pedalo com mais força, em uma vã tentativa de fugir de minhas paranoias, principalmente a mania de perseguição, que irá me perseguir aonde quer que eu vá.
Azar ou sorte?
Mas, apesar de tudo, estou vivo e com saúde. Há alguns dias uma menina morreu engasgada com sementes de mexerica.
Será que tenho sorte ou é Deus protegendo este cabeçudo da cabeça dura? Não sei, não sei como essas coisas funcionam. Se fosse Deus, não seria melhor nem ter passado por essas situações?