quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O esquizo honesto

                                                                Sorte ou azar?
     Dia 05/09. Devia ser umas dez horas da manhã daquela quarta feira com céu limpo. Centro de Belo Horizonte. Havia acabado de sacar parte do pagamento de minha aposentadoria. 
     Estava descendo a avenida Paraná em direção ao mercado central, com a intenção de comprar os ingredientes para fazer a minha tradicional "ração matinal". Quem acompanha o blog sabe que todo dia de manhã tomo um mix composto de leite de soja, gérmen de trigo, aveia e farelo de trigo. Faço isso desde o final da adolescência, ao ler sobre os benefícios desses alimentos em um antigo livro de homeopatia. Procuro manter meu intestino funcionando da melhor maneira possível, pois dizem que o intestino seja o nosso segundo cérebro.
    Mas, voltando ao assunto inicial da postagem, estava descendo a avenida Paraná, quando, de repente olho para o chão e me deparo com uma carteira de couro bem cheia. Não hesitei e a abri ali mesmo na calçada. Para meu espanto ela estava recheada era de dinheiro, exatamente 950 reais!!!
Me espantei por que hoje em dia não é preciso andar com tanto dinheiro na carteira, temos cartões de poupança, cartões de crédito, conta corrente, etc... Mas talvez o dono da carteira seja avesso à tecnologia. 
    A minha primeira reação foi arregalar os olhos e pensar em uma maneira de entregar aquela carteira que, além de dinheiro, estava repleta de documentos. A primeira opção que pensei era ir no posto policial mais próximo. Mas, como "bom paranoico" que sou, imaginei que não teria 100% de certeza que o dinheiro seria entregue  ao proprietário daquela carteira. 
    A polícia militar tem todo o meu respeito e admiração. Eu mesmo cheguei a pensar em entrar para a polícia, mas desisti por que na época o salário inicial era muito baixo. Ainda bem né? Já pensou o maluquinho andando por aí com uma arma na mão para proteger a população? Acho que iria surtar bem antes dos 32 anos de idade... Não tenho nada do que reclamar do serviço da polícia militar. Obviamente que existem sim os maus defensores da lei. Isso acontece em todas as profissões, não tem exceção. Existem os maus médicos, os maus juízes de futebol que quem paga o preço são suas progenitoras. 
     Fui abordado diversas vezes quando estava nas minhas andanças pela região sudeste do nosso país. E fui revistado algumas vezes, sem maiores problemas. Fui liberado depois da averiguação e não encontrarem nada de ilícito em minha mochila. Era complicado ter que tirar tudo daquela enorme mochila, mas sei que faz parte do trabalho dos caras. Não estou acima do bem e do mal para não ser um suspeito. Afinal eu era um cara esquisito andando pelas cidadezinhas do interior de Minas Gerais com uma mochila nas costas e montando barraca perto das igrejas. O mineiro é muito hospitaleiro e receptivo, mas é um pouquinho desconfiado. 
    Voltando ao tema da postagem, resolvi não entregar os documentos para a polícia. A possibilidade de entregar a carteira para um mau policial existia, é óbvio. O mesmo pensei em relação aos correios. Admiro muito o trabalho desse pessoal dos correios, principalmente os carteiros, que ficam o dia inteiro caminhando sob chuva, sol para nos entregar nossas correspondências. 
    A solução foi vasculhar a carteira em busca de informações sobre o dono. Além da identidade e do dinheiro, havia outros documentos, um cartão de crédito, exames, etc... Mas não encontrei nada que pudesse me levar a ter um contato imediato com o Ferdinando (nome fictício). 
    Fui então para uma lan house e enviei dois emails: um para o clube que ele é sócio, pois havia encontrado um recibo do pagamento de uma mensalidade, e o outro enviei para uma clínica que ele havia feito alguns exames. 
    Sai apressado da lan house. Não estava me sentindo nada bem transitando com aquela carteira recheada de dinheiro que não era meu. Em minha paranoica mente me via sendo abordado pelos policiais e sendo levado para a delegacia e sendo preso. Não pensava mais em nada, só queria entregar aquela carteira o mais rápido possível para o proprietário. Me sinto mal só de imaginar que estou dentro de uma pequena cela lotada de criminosos. A liberdade para mim não tem preço. Digo liberdade física e psicológica também. A liberdade de sermos quem somos de verdade, sem medo do que os outros irão pensar da gente. E a liberdade de falar o que pensa, pelo simples fato de não ter o rabo preso com ninguém. 
    Depois da lan house apressadamente voltei para meu quartinho e escondi a carteira em um local seguro. E não estava mais em paz, meus pensamentos estavam acelerados e estava imaginando que pessoas haviam tramado aquela situação, para que eu encontrasse a carteira para depois ser acusado de roubo. Tudo se passava na minha cabeça paranoica. Inimigos reais e imaginários que pudessem ter arquitetado tal plano apareciam aos montes em minha mente. 
    Confesso que, já em casa, por um breve momento cheguei a pensar em gastar todo aquele dinheiro. Pensei também em gastar apenas uma parte e entregar a carteira nos correios, seria como uma recompensa pelo ato. Sei que infelizmente muitas pessoas fariam tal ato. E ficou aquela batalha entre o bem e o mal em minha consciência. Mas o "anjinho" como sempre falou mais alto e veio logo me censurando, me dizendo que eu nunca iria mais ter a consciência tranquila. 
a eterna luta entre o bem e o mal em nossas mentes e corações 
    E a única coisa que pensava era entregar aquele dinheiro. Mas teria que ser nas mãos do dono. Queria ter a certeza absoluta e total de que a grana seria entregue para o Ferdinando, pois aparentava ser uma pessoa humilde e simples. O demoninho então se calou, apesar da situação estar precária para o meu lado. Estou me equipando para voltar as minhas andanças pelo Brasil  e tenho que acabar de consertar minha bicicleta e me equipar também com mochila, saco de dormir, etc. 
    No dia seguinte a secretária do clube que o Ferdinando frequenta me retornou o email, afirmando que o telefone dele estava desatualizado e que não conseguira entrar em contato com ele. Disse que iria deixar um aviso na ficha dele para quando ele vier ao clube entrar em contato comigo. O pessoal do laboratório que ele fez exames não me retornou a mensagem. Isso só fez pensar ainda mais que os meus inimigos estavam tramando algo para me pegarem...
    A partir desse momento não tive mais sossego. A minha consciência não parava de martelar minha mente: 
    - Ladrão, ladrão, ladrão...
    E fiquei imaginando alguma forma de entregar aquela carteira para o seu dono. Havia me dado essa missão e sou um cara teimoso. 
    Parecia que eu estava avistando mais policiais e viaturas do que de costume, ao andar pelas ruas de Belo Horizonte. E parecia que ouvia ainda mais do que de costume as sirenes daqueles carros. Em minha mente os policias estavam meio que avisando que iriam me pegar mais cedo ou mais tarde. 
    Com o passar dos dias já estava imaginando que todos os policiais militares e civis de Belo Horizonte sabiam do fato, e que a qualquer momento iriam me abordar ou então fazer uma busca em meu quarto para me prenderem. 
    O diabinho às vezes dava as caras, sussurrando no meu ouvido, dizendo que era para eu deixar de ser bobo e torrar aquela grana, afirmando que todo mundo iria fazer o mesmo. Mas não fraquejei, sabia que não iria ter mais paz pelo resto de minha vida. No meu primeiro surto psicótico cheguei a dizer para um policial me prender, pois antigamente acreditava no que os outros falavam, e na época rolava um boato na cidade onde eu morava de que eu estava com aids. Fiquei com um sentimento de culpa exagerado, pensando ter contaminado as poucas pessoas que tive relacionamento sem o preservativo em toda a minha vida. Considero um crime contaminar uma outra pessoa conscientemente. 
    Mas, certo dia, ou melhor, certa noite, paguei uma pizza com o dinheiro que estava na carteira. Tinha pedido a redondinha pelo whatsapp mas estava sem dinheiro naquele momento e não gosto muito de usar o cartão da minha conta poupança. Sempre penso que alguém pode digitar uma quantia maior do que estou gastando e que a minha grana irá embora com um simples apertar de uma tecla...
    E também não uso o cartão do meu pagamento seja na internet ou outro lugar, apenas o uso para nos caixas do banco para sacar a grana. Nem na lotérica estou mais confiando. 
     Enviei mais um email para o clube do Ferdinando, mas não me responderam, apesar de ter explicado toda a situação. Como que as pessoas podem ser assim tão frias, sem se preocupar com os problemas dos outros? Não havia pedido os dados do cara, apenas pedi para que entrassem em contato com ele, e que passassem o meu telefone e email. 
     Por um breve momento pensei em ir à um desses programas de TV para achar o Ferdinando, que mora em uma cidade próxima aqui de Belo Horizonte. Mas não gosto muito de câmeras e não queria aparecer na televisão, ainda mais pelo fato de estar apenas cumprindo uma obrigação de um bom cidadão que sou. Hoje em dia quando acontece algo semelhante esse tipo de ato vira manchete nos jornais, infelizmente a honestidade está sendo motivo para a mídia ocupar seus minutos com isso. 
    Os dias foram se passado e o clube nada de retornar meus insistentes emails. Cheguei a pensar em ir de bike até a cidade do cara, mas ainda tenho que comprar uma barraca, já que a cidade fica distante 102km da capital mineira. 
    A situação estava ficando insuportável: não estava dormindo direito e já não estava mais tendo certeza do que ouvia. Algumas vezes escutei pessoas me chamarem de ladrão. E o medo da policia aumentava a cada dia. 
    E foi só uma questão de tempo para surtar de vez. Comecei a gastar o dinheiro com bobagens. A intenção não era me apropriar do dinheiro, pois iria fazer um empréstimo para devolver a grana quando encontrasse Ferdinando. A verdade é que não estava mais aguentando conviver com aquela carteira. Não roubei o dinheiro, foi o dinheiro que havia roubado a minha paz e a minha tranquila consciência. Poderia me desfazer do dinheiro, entregá-la ao correio, mas também creio que tenho um senso de justiça muito grande pelo fato de ser do signo de libra e queria de qualquer maneira entregar o dinheiro nas mãos do dono. Eita situaçãozinha complicada! Estava me sentindo o próprio Carlão, personagem principal da novela Pecado capital

     Pensei várias vezes em queimar a carteira e jogá-la no rio Arrudas, aqui em Belo Horizonte. Pensava em entregá-la para a polícia também, mas à essa altura as minhas paranoias haviam tomado conta de minha mente e eu já estava com medo dos homens da lei. Pensei também em vender "tudo" que tenho (tv LCD, o note e o frigobar) e sair por aí com a minha bike. Mas sabia que o sentimento de culpa iria me seguir por onde eu fosse. Como sempre o anjinho falou mais alto nessas horas conflituosas. 
    Após um mês de tormento, resolvi enviar um novo email para o clube. Anteriormente estava respondendo as respostas da secretária do clube. Imaginei que talvez ela iria dar maior atenção à um novo email do que uma resposta de um email já enviado. E, dito e feito! Um dia após a secretária retornou a minha mensagem informando o número do celular do Ferdinando! Imediatamente coloquei créditos no meu celular e entrei em contato com o cara, que ficou muito feliz e surpreso ao ouvir minha voz quando disse que estava com sua carteira. 
    Fiquei um pouco receoso para dizer que havia gasto parte da grana e que iria repor tudo em três dias úteis, que é o tempo de demora para sair o empréstimo na caixa econômica federal. Para minha surpresa ele não achou ruim não, parecia ser uma pessoa bastante tranquila. E, afinal, ele estava recuperando um dinheiro com que provavelmente não estava mais contando em reaver. 
    Combinamos então de nos encontrar no dia seguinte, perto do restaurante popular de Belo Horizonte. Mas a alegria de ter encontrado o dono da carteira logo passou, dando lugar á uma enorme desconfiança de que o Ferdinando estava no meio de toda aquela armação criada pela minha paranoica mente. Estava imaginando que o cara havia combinado com os policiais de me pegarem, pois tem um posto policial bem perto do local onde iríamos nos encontrar. Ele iria dizer que havia sido assaltado quando me encontrasse. Os policiais então iriam me revistar e encontrar a carteira em meu poder... Tudo muito bem combinado, cheguei até a pensar em gravar as conversas de telefone que tinha feito para o Ferdinando. 
     Dormi mal pra caramba durante a noite. Não saía da minha cabeça esses pensamentos de que tudo aquilo não passava de armação para me pegarem. Mas, apesar de todas as paranoias, por volta do meio dia saí para ir ao encontro e finalmente tentar devolver a grana para me livrar daquele peso que estava sob minhas costas. Nessas horas me apego à minha fé, não tem outro recurso. Pedi proteção ao meu anjo da guarda e saí de casa. Antes das paranoias o que eu mais pedia era dinheiro, mas, depois que os surtos vieram, só quero proteção e saúde mesmo. O resto a gente corre atrás né? No meio do caminho tomei 5mg de diazepan, que me deu um sono danado, pois estou no processo de desmame desse ansiolítico e há bastante tempo que estou tomando apenas um pedacinho do comprimido de 10mg. Parto ele em quatro pedaços e pouco a pouco vou raspando uma das partes, e creio que hoje em dia devo estar tomando algo em torno de 1.5mg. 
    Apesar da sonolência, ter tomado o diazepan me fez bem naquele momento de quase surto. É o famoso S.O.S, pois não consigo tomar os antipsicóticos. Meus pensamentos se desaceleraram e, apensar da tontura e moleza que sentia, consegui chegar ao local do encontro e o Ferdinando já estava á minha espera. Notei que o trailler da polícia não estava no local como sempre, o motivo não sei. 
    Ao contrário de que imaginava, não era uma armação para me pegarem. Ferdinando apertou minha mão e não pegou no telefone para chamar nenhum policial... O cara não ficou chateado pelo fato de ter gastado uma parte da grana dele, encarou tudo com muita naturalidade. O cara até chegou a me oferecer uma recompensa, mas que recusei. Naquele momento me lembrei de que no ano de 2002 estava perambulando naquele local, 25kg mais magro e morando nas ruas por causa do meu primeiro surto psicótico. Me lembro que fui muito ajudado por várias pessoas e consegui sair daquela situação difícil, engordando 20kg em um mês. Fui muito ajudado nessas situações difíceis, e entregar a carteira foi apenas uma pequena retribuição de tudo o que me aconteceu de bom nesta vida. 
    Depois de conversarmos um pouco nos despedimos e combinamos de entregar o restante do dinheiro assim que o valor do empréstimo caísse em minha conta. 
      Fui embora com a sensação de que havia tirado um enorme peso de minhas costas. Uma sensação indescritível de liberdade e prazer! Sim, um prazer enorme pelo simples fato de poder andar por aí com a consciência tranquila, sem medos e paranoias. Claro que um pouco dessas paranoias tem um pouco a ver com a realidade, pois o mundo em que vivemos atualmente não faltam pessoas más e com piores intenções ainda. 
    Para comemorar mais uma missão cumprida, entrei em uma lanchonete e pedi uma coca cola geladinha e um pedaço de uma deliciosa torta de chocolate! É uma combinação perfeita na minha opinião, quer dizer, quase perfeita, por que tudo que é gostoso infelizmente nos faz mal. Mas é só não exagerar né? 
    Claro que pensei nas coisas que poderia ter comprado com a grana que havia encontrado, mas, claro que não pensei em fazer tal ato. Como disse, a liberdade e a consciência tranquila não tem preço. Não existe coisa melhor do que andar por aí sem peso na consciência. 
    Em uma época em que a corrupção está tomando conta de nosso país nada melhor do que dar um bom exemplo de cidadania e honestidade. 
    Infelizmente os candidatos dessas eleições pensam que ser "ficha limpa" é uma qualidade e ficam se gabando disso nas propagandas eleitorais. Honestidade não é somente qualidade, é, antes de tudo uma obrigação de qualquer cidadão. Enfim, a honestidade é uma qualidade mais do que obrigatória. 
 
Infelizmente alguns políticos são assim... 
    

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

O jogo da vida

    Na última semana de setembro foi disputada mais uma edição dos jogos da primavera aqui em Belo Horizonte. São realizados jogos de futebol, peteca, queimada e outros esportes entre todos os usuários dos serviços de saúde mental, principalmente quem frequenta os centros de convivência e os "Cersam's", que são mais conhecidos como Caps no restante do pais. 
    Ano passado, apesar das enormes dificuldades, fomos campeões e eu o artilheiro da competição. Na época pensava que seria meu último campeonato, por causa das fortes dores que estava sentindo no dedão do pé esquerdo, que está quebrado. E em consequência desse dedão fraturado, as outras articulações também não estavam nada bem, pelo fato de estar andando de maneira incorreta. Confesso que cheguei a pensar no pior no ano de 2016, quando tive uma forte torção no tornozelo, pois estava andando meio de lado para não forçar o dedão. 
    Mas, depois de muitas pesquisar no Dr. Google consegui encontrar ótimas referências sobre o sucesso do cloreto de magnésio no tratamento das dores nas articulações e ossos em geral. 
     Depois de alguns meses usando as cápsulas, experimentei uma excelente melhora e usando tênis com solado bem macio consegui andar bem próximo do normal e ir melhorando no futebol, até que decidi participar do campeonato deste ano, pois não estava terminando as "peladas" com muita sofrência. Acredito que não devo muito a quase ninguém da minha idade quando o assunto é futebol. Já com a galera mais nova ainda dá para jogar, mas me sacrificando um pouco, principalmente na questão muscular, ainda mais se for debaixo do forte sol que anda fazendo por aqui. 
     O campeonato este ano foi bem mais difícil do que o ano passado e a principal dificuldade era o local da competição, que não tinha quadra coberta. E o sol estava de rachar a cuca. Para completar, os times este ano estavam com jogadores na faixa dos 25 anos, ou seja, a metade de minha idade. 
     Ano passado tinha muitos jogadores que estavam um pouco lentos, por causa da medicação. Este ano reparei que poucos estavam assim. Os antipsicóticos fazem muito mais efeito nas pessoas com mais idade, tanto é que hoje em dia só tomo um pedacinho de diazepan antes de dormir.
    Confesso que fiquei um pouco receoso de jogar com aqueles caras que não paravam de correr debaixo do forte calor. Mas, apesar de tudo, consegui me sair bem novamente, sendo campeão e artilheiro da competição. 
    Mas, como já disse, não foi nada fácil. a primavera na capital mineira começou com sol forte e temperaturas um pouco altas. O inverno foi fraco, só fazendo aquele friozinho gostoso na hora de dormir. 
    O nosso time foi sorteado para fazer a primeira partida, exatamente à uma hora e meia da tarde. Não almocei, apenas comi uns biscoitos de chocolate com café antes da partida. Café para aumentar a dopamina e chocolate para aumentar a serotonina. A gente vai ficando velho e a digestão mais lenta, almoçar seria complicado demais para se jogar naquele horário. 
    A faixa de idade do nosso time é bem alta, em torno dos 40 anos de idade. O time adversário acredito que deve ter uns 25 anos de média de idade. Eles olharam para a gente e pensaram que o jogo iria ser fácil, riram da gente e isso só me motivou. No início do jogo os caras ficaram fazendo firula, querendo botar o nosso time na roda. Resultado; levaram 10 gols em 20 minutos e só fizeram um... Só nessa partida eu fiz seis gols. 
     Meu pensamento era esse mesmo: fazer um bom resultado no primeiro jogo para depois jogar com mais tranquilidade o segundo. E ainda tinha o fator psicológico: os outros times iriam ter mais respeito ou medo da nossa equipe. 
    Mas cometi um erro, que foi o de me esforçar ao máximo nesse primeiro jogo. Sempre atacando e defendendo, sem uma posição fixa. E então tive que pagar um preço: dores musculares por todo o corpo e cansaço geral no final da partida. 
     Havia ultrapassado o meu limite naquela partida debaixo daquele escaldante sol, tentando acompanhar o ritmo daqueles caras que tinham metade da minha idade. Mas, por sorte a nossa segunda partida do dia foi a última a ser realizada, e deu para descansar um pouco. O sol já estava um pouquinho menos intenso, e também já havíamos preparado a nossa estratégia de jogo, depois de avaliar o nosso adversário nas outras partidas que ele havia feito. 
     Tivemos que usar a experiência e o toque de bola para não corrermos tanto na quadra, anulando as principais jogadas do time adversário, que tinha um cara muito bom que iniciava as jogadas. O esquema de jogo deu certo e vencemos com certa tranquilidade o segundo jogo; 5x2, sendo dois gols do esquizo cinquentão. 
    Voltei detonado para casa, depois dos jogos e exercícios físicos é que começamos a sentir as dores. Dizem que é por que o sangue esfriou e tals, mas já li que o nosso organismo envia, através do sangue substâncias que se parecem com anestésicos.... Passei o dia seguinte deitado na cama, para na quarta feira estar pronto para jogar a semifinal e a grande final. 
     Peguei um pouco de cloreto de magnésio em pó e coloquei na água. Passei no corpo inteiro fazendo massagem, mas parece que não adiantou muita coisa não. Não gosto de comer muita banana para evitar as dores musculares, pois deixa o meu intestino preso. 
     Acordei na quarta de manhã razoavelmente bem, mas com algumas dores. O jeito foi comprar uma pomada em gel que deixa o nosso corpo todo geladinho, parece o gelol, só que é mais barato por não ter propaganda na TV. Passei aonde estava doendo, ou seja, no corpo inteiro... Começou a arder a região do pescoço e dos ombros. Já nas pernas deu aquela sensação de frescor, aquele geladinho gostoso. Deu uma diminuída de leve na dor.

     O jogo da semifinal foi  contra o mesmo time da segunda partida. Só que desta vez os caras vieram para nos marcar e não deixar espaço, com forte marcação em cima de mim. E também errei muitos gols que não erro normalmente, por causa do cansaço muscular. Simplesmente o corpo não obedecia mais o meu cérebro. Na hora de chutar a bola saía um peteleco. O sol também estava de rachar nesse segundo dia de competição. E, para complicar ainda mais, tinha um cara do time adversário que fez forte marcação em mim, se eu fosse no banheiro ele iria também. 
    O jeito foi jogar mais recuado mesmo, sem preocupação de fazer muitos gols e aproveitar as poucas chances que apareciam. Consegui mesmo assim fazer dois gols e dar assistência para mais um e ganhamos o jogo por 4x3, nos classificando para a grande final. 
    Depois do jogo sentei-me em um banco na sombra para descansar as canelas velhas e também observar os times adversários. Queria saber os pontos fracos e nos precaver dos pontos fortes do time que iríamos encarar na grande finalíssima. 
    Os jogos foram de intensa correria e com muitos gols. Os caras que se classificaram tinham em média 25 anos e corriam bastante. O jeito foi combinarmos um esquema de jogo com mais toque de bola, cadenciado, sem correria e aproveitando as falhas deles. 
    Foi dito e feito. Jogamos com segurança na defesa, sem corremos riscos e sem dar espaço para a correria do time adversário. Com calma e tranquilidade conseguimos fazer o primeiro gol. E isso deixou os caras um pouco nervosos. Consegui manter a calma do nosso time e explorar o nervosismo do adversário, às vezes dando uma parada no jogo, demorando para repor a bola. Nesse esquema conseguimos fazer mais dois gols. À essa altura eles já estavam entregues e admitindo a derrota. Isso nos fez relaxar um pouco e levamos um gol. Voltamos a seriedade novamente e conseguimos aumentar a vantagem. Resultado final: 4x1. 
    O fator psicológico e e experiência foram decisivos neste último jogo, pois não iríamos ter muitas chances se tentássemos jogar de igual para igual na questão física. Claro que, modéstia à parte, também tenho um pouco de categoria no toque de bola e fiz um belo gol, apesar do cansaço. Minha opinião é que todo time deveria ter um bom psicólogo, basta ver as duas últimas copas realizadas pela nossa seleção canarinho... 
    Novamente este ano todos os participantes estão de parabéns, pois o torneio foi disputado em um clima de paz e tranquilidade, não havendo maiores perrengues e bate bocas. Todos jogaram o jogo limpo, havendo poucos cartões amarelos e nenhuma expulsão, apesar da forte marcação. 

Esporte é vida
      Me sinto privilegiado e um sortudo por ter nascido em uma época em que as crianças podiam ficar o dia inteiro jogando futebol na rua. Quando brincávamos de esconde esconde a área permitida para se esconder era o quarteirão inteiro: valia entrar nos prédios, subir no muro das casas, tudo era possível pois na época não havia muitas proteções, pelo simples fato de não haver tantos ladrões como hoje em dia. 
     Quando não estávamos correndo ficávamos jogando banco imobiliário e war. Mas a maioria do tempo era gastando energia mesmo. E até os dias de hoje pratico minhas atividades físicas e jogo o meu futebolzinho. É um vício mais que bom, é danado de bom. É um cansaço gostoso que vem no final da partida que não dá para descrever. 
    O esporte salvou minha vida. Os surtos psicóticos que tive foram de um sofrimento psicológico terrível, mas também foram como uma prova de resistência física, pois ficava vários dias sem me alimentar, perambulando pelas Br's, numa exaustiva tentativa de fuga dos meus inimigos imaginários.
Quem irá pensar em comida imaginando que o mundo inteiro está à sua procura para te matar???
     Me lembro o pouco que comia acabava vomitando, pois sempre vinha uma voz dizendo que o alimento estava envenenado. 
     Acredito que se não tivesse uma razoável condição física meu organismo não iria aguentar, pois havia emagrecido 25kg em poucos dias no meu segundo surto. Fugi dos meus inimigos interiores até o limite, quando caí no chão depois de sentir uma forte pontada no coração. Consegui voltar para o centro de Belo Horizonte andando cerca de 200 metros e descansando, com as pernas levantadas nos barrancos, pensando que isso facilitaria o retorno do sangue que estava nas pernas. Estava surtado, mas conseguia raciocinar dentro de minha loucura. 
    O futebol ou qualquer outra atividade física não é bom só para o corpo. É bom para a mente também. No meu caso sinto que todo o stress e a negatividade do dia a dia vão embora juntamente com o suor. Recomendo à todos que pratiquem esportes, nunca é tarde para começar. Sei que é um pouco difícil para algumas pessoas praticarem esportes devido ao uso de antipsicóticos, mas tente começar bem devagar, se não der para ser na parte da manhã que faça na parte da tarde. 
É isso aí pessoal. Espero ano que vem postar mais uma vez sobre os jogos da primavera, mesmo se não for campeão e artilheiro, pois o mais importante é não perdermos para nós mesmos no jogo da vida.

Não sou evangélico, mas ouço bandas gospel sem problemas. Música de qualidade tem que ser ouvida, ainda mais quando se tem uma mensagem bacana e especial como essa. As pessoas com esquizofrenia tem que se preocupar com as vozes irreais, que são as alucinações auditivas. Mas, piores do que as vozes irreais são as vozes reais das pessoas que não querem o teu bem, são as vozes do mal, as vozes que só pensam em te derrubar. Procuremos ouvir somente as boas vozes, e principalmente a voz do nosso interior, a voz da bondade.

Música: Voice of truth
Banda;  Casting Crows


 Oh, que eu farei para ter

O tipo de Fé necessária

Para sair desse barco que estou

De encontro às ondas

Dar um passo para fora da minha zona segura

Para dentro do mundo desconhecido onde Jesus está

E Ele esta estendendo sua mão

Mas as ondas estão gritando meu nome

e rindo de mim

Lembrando-me de todas as vezes

Que eu tentei antes e falhei

As ondas continuam contando-me

Repetidamente, "Menino, você nunca vencerá"

"Você nunca vencerá"

Refrão

Mas a voz da verdade me conta uma diferente história

A Voz da Verdade diz, "Não tenha medo"

E a Voz da Verdade diz, "Isto é para minha Glória"

De todas as vozes que me falam

Eu escolherei escutar e acreditar na Voz da Verdade

Oh, que eu farei para ter

O tipo de força necessária para sustentar-me

Diante de um gigante

Com apenas um estilingue e uma pedra

Cercado pelo som de mil Soldados

Sacudindo suas Armaduras

Desejando que eles tivessem a força para aguentar firme

Mas o gigante grita meu nome

e ri de mim

Lembrando-me de todas as vezes

Que eu tentei antes e falhei

O gigante continua contando-me

Repetidamente, "Menino, você nunca vencerá"

"Você nunca vencerá"

Refrão

Mas a voz da verdade me conta uma diferente história

A Voz da Verdade diz, "Não tenha medo"

E a Voz da Verdade diz, "Isto é para minha Glória"

De todas as vozes que me falam

Eu escolherei escutar e acreditar na Voz da Verdade

Mas a pedra era exatamente do tamanho certo

Para colocar o gigante do chão

E as ondas elas não parecem tão altas

Olhando de cima delas para baixo

Vou voar com asas de Águia

Quando eu parar e escutar o som da voz de Jesus

Chamando-me

Refrão

Mas a voz da verdade me conta uma diferente história

A Voz da Verdade diz, "Não tenha medo"

E a Voz da Verdade diz, "Isto é para minha Glória"

De todas as vozes que me falam

Eu escolherei escutar e acreditar

Eu escolherei escutar e acreditar na Voz da Verdade

Vou ouvir e crer

Vou escutar e acreditar na Voz da Verdade

Vou ouvir e crer

Porque Jesus, Tu és a voz da verdade

E eu vou ouvir a Ti