Surto ou indignação?
Quinta feira 2 de julho de 2018 23 horas
"Amanhã recebo o pagamento, feliz por ter chegado ao fim do mês sem ter que ficar pedindo dinheiro emprestado ou indo aqui no blog para fazer a mendicância virtual.
Ganho um salário e não tenho do que reclamar, poderia ser pior, nem poderia estar vivo para contar as minhas historinhas. Foram algumas tentativas de autoextermínio e inúmeras situações perigosas que vivi durante os surtos que tive. Em um deles cheguei a perder 25kg por ficar fugindo dos meus inimigos imaginários e esquecendo de me alimentar. Poderia ter sido atropelado andando sem rumo pelas Brs e pelas ruas de Belo Horizonte.
Também passei por situações complicadas devidos aos meus
delírios, pois acreditava piamente que tinha superpoderes e que também tinha um anjo da guarda muito forte me protegendo.(as palavras na cor azul são links que explicam melhor o contexto da postagem). Vamos clicar para chegarmos logo à um milhão de visualizações pessoal!).
Mas, por motivos de força maior sobrevivi e vou levando a vida, com sustos e surtos. E na última sexta feira a situação ficou por demais complicada.
Tive uma noite de sono razoável e acordei bem disposto. Tomei um banho gelado para tirar a ressaca da pouca dose de diazepan que ainda tenho que tomar para não ter uma crise de abstinência e quem sabe surtar novamente. Comi um delicioso pão de queijo recheado com queijo na padaria e fui para a lotérica sacar meu pagamento para pagar o aluguel e comprar a minha ração matinal(aveia, leite de soja, gérmen de trigo e fibra de trigo). Além é claro, o
ômega 3 e o cloreto de magnésio no mercado central.
Haviam duas pessoas na fila e a lotérica ainda estava fechada. Estava bem humorado, dinheiro não é tudo mas também mal não faz né?
Com paciência que geralmente costumo ter esperei a agência lotérica abrir para sacar meu dinheirinho, que considero uma recompensa por ter sido uma pessoa do bem, mesmo nos momentos mais difíceis de minha vida. Quando chegou minha vez de sacar o dinheiro, uma surpresa nada agradável quase me fez enfartar: zero reais de saldo na minha conta!!!
Logo pensei um palavrão e olhei para o funcionário da agência. Na minha paranoica mente ele era a primeira pessoa suspeita de ter sacado o meu precioso dinheirinho. Pensava (e ainda penso) que ele tem acesso à todas as minhas informações, pois, enquanto eu fico digitando a senha ele fica olhando para a tela do computador da agência. Penso que de alguma maneira ele consegue saber a senha. Dei uma encarada nele e ele também ficou me encarando. Mas eu não disse nada, apenas fiquei calado. Se eu falasse tudo o que penso provavelmente estaria trancado em um hospício de segurança máxima.
Corri então para a agência da caixa econômica mais próxima para obter uma resposta para o suposto sumiço do meu pagamento. No meio do caminho senti falta da carteira de identidade e tive que voltar na lotérica para pegar o documento. Coração disparado, corri para o banco. Novamente tentei sacar o dinheiro, agora no terminal da agência. Para o meu desespero, o problema não era na lotérica e sim na minha conta mesmo. Por um breve momento cheguei a pensar se algum hacker teria invadido minha conta. Mas esse pensamento logo sumiu, pois não uso a minha conta da aposentadoria na internet. E também os hackers não iriam ter um trabalho danado para descobrir meus dados para pegar uma micharia né? Mas pensei nos meus inimigos imaginários e logo voltei a pensar que poderiam ter contratado um hacker só para me prejudicar.
Acredito que, dentre os milhares de inimigos imaginários que tenho alguns sejam reais mesmo. Hoje em dia está tudo complicado, e, basta estar em paz consigo mesmo e feliz para atrair uma negatividade imensa. Se estamos tristes e com cara fechada também as pessoas reparam. Enfim, se olharmos a opinião alheia podemos ir para um caminho não muito bom.
Mas voltando ao tema da postagem, do lado do caixa em que eu estava tentando sacar o pagamento um cara também reclamava de que estava tendo problemas com sua conta. Me espantei com a calma que estava estampada em seu rosto. Ele falou isso com uma naturalidade incrível. Talvez eu também consiga transparecer toda essa calma, mesmo se minha mente estiver vivendo um turbilhão de pensamentos paranoicos e conflitantes. Talvez eu fique apenas com os olhos esbugalhados nessa situações de intensa agitação mental.
À essa altura do campeonato estava pensando que o INSS havia cancelado o meu benefício. Já estava planejando vender "minhas coisinhas", acabar de arrumar minha bike para terminar os dois caminhos da
estrada real. Pensaria como seria minha vida daqui pra frente sem minha aposentadoria. Teria que voltar a morar nas ruas e ficar na mendicância. Quem leu o meu livro sabe que morei por alguns meses nas ruas de Belo Horizonte no ano de 2002. Mas naquela época as coisas estavam menos violentas do que atualmente. Fui muito ajudado e consegui me recuperar. Mas hoje em dia talvez por conta do crack e do crescente número de assaltos as ruas estão cada vez mais perigosas. Pensei então que poderia virar um andarilho e viver perambulando pelas estadas do Brasil afora.
Cheguei a ter esses pensamentos antes de fazer a perícia da revisão do meu benefício. Mas estava menos agitado, pois tinha tempo para pensar e planejar tudo. Agora, receber a notícia do dia para noite que teria que morar nas ruas é bem mais difícil de se assimilar.
O jeito então foi esperar o atendimento na agência da caixa funcionar para conversar com o funcionário sobre o problema com o saldo zero da minha conta. Na fila por um breve momento pensei em autoextermínio, mas logo sumiu. Acredito que já passei por essa fase e quero viver por muito tempo, para a minha felicidade, é claro. Tentando manter a maior calma possível, ou pelo menos aparentar, esperei o atendimento e o funcionário da caixa não soube explicar o ocorrido, mesmo após ter consultado o bendito "sistema". Sistema é como se fosse virose, é o culpado de tudo de errado que acontece nas empresas, instituições, bancos, etc... Agora uma pergunta: "E quem opera o sistema? Um outro sistema?
O funcionário me aconselhou a ir na agência que fui cadastrado, aqui no centro de Beuzonte. Voltei para casa e a dona do imóvel já me veio cobrando o aluguel. Ela sempre vem cedo me cobrar, pois sou um bom pagador e não atraso o aluguel. Aparentando tranquilidade, informei, mesmo não tendo certeza, de que o sistema da caixa econômica estava com problemas e não havia recebido o pagamento.
À essa altura estava mais calmo realmente, principalmente depois de saber que outras pessoas também estavam tendo o mesmo problema do que eu. Saber que não somos a única pessoa do mundo a passar por determinada situação ajuda muito, mas não resolve o problema quando se trata de uma mente paranoica como a minha.
Peguei então um ônibus e fui para a agência no centro da cidade. O atendente afirmou que houve uma pane no sistema (ainda bem que não estava em um avião) e que a Caixa Econômica estava trabalhando para resolver a situação e que eu poderia voltar para casa. Na porta da agência, resolvi esperar um pouco, para quem sabe o problema seja solucionado até o meio dia e aí já aproveito e compro minha ração no mercado central. E também tinha que desacelerar um pouco meus pensamentos e já estava um pouco esgotado, devido ao stress todo dessa complicação da conta. Havia acordado bem disposto, mas esse problema me deixou um pouco cansado e fiquei na agência, aproveitando a água geladinha e o ar condicionado.
Já recuperado fisicamente depois de uma hora sentado, voltei a olhar o meu saldo: zero reais...
Voltei para casa, e a solução era esperar mesmo. Quando desci do ônibus, fiquei com cara de paisagem ao passar em frente ao restaurante em que estava devendo dois almoços...
Já no meu quartinho, telefonei algumas vezes para o SAC da caixa, que nunca resolve nada. A gente demora quase dez minutos para ser atendido, temos que ficar esperando para clicar nos números para ouvir que o problema só pode ser resolvido na agência...
Pesquisei no google e vi nos resultados de busca que realmente muitas pessoas com conta na caixa estavam com problemas para receber o pagamento. Quem tinha conta em outros bancos estava recebendo normalmente. Isso me deixou bem mais aliviado, por saber que o problema não era no INSS. A perícia de revisão já havia me detonado bem...
As horas se passaram e já de noite o problema não havia sido solucionado. Passei na agência lotérica por volta das três horas da tarde e no banco às seis horas e nada do pagamento cair na conta. Era sexta feira e teria que passar o final de semana comendo pão e ovo?
Por volta da meia noite resolvi telefonar novamente para o SAC da caixa e eles informaram que não sabiam de nada, afirmando que o sistema estava normal. Perdi a paciência e falei coisas que não podem ser publicadas aqui no blog. Também falei algumas coisas para o segurança da agência quando fui lá por volta das seis horas. O problema maior era a desinformação: ninguém sabia de nada. Achei isso uma falta de consideração total. A Caixa Econômica deveria ter enviado uma nota sobre o assunto. Afinal temos nossos compromissos e contas a pagar.
Como não uso internet banking na conta que recebo o pagamento, tive que então tomar o meu pedacinho de diazepan, ou melhor, tomei 10mg para não surtar e consegui ter uma razoável noite de sono. Já de manhã a dona do imóvel veio batendo na minha porta à procura de notícias sobre o pagamento. O jeito foi cadastrar minha conta no internet banking e acessar pelo celular, já que pouco uso o telefone para navegar na internet, só uso mesmo para me desconectar do mundo, ouvindo minhas músicas prediletas. Não acesso o internet banking pelo notebook, pois acesso alguns sites suspeitos e complicados que podem ter vírus. Quem pensou em site pornográfico errou shasuahsuashauss Os sites que visito e que são complicados são sites que transmitem jogos online, e também baixo muitos filmes e às vezes jogos pirata. Ou seja, notebook é só para diversão mesmo, pois até o windows que uso é piratão. Já o android é original pois é um sistema gratuito...
Acessando minha conta, alívio geral: o meu salário estava constando no sistema Que alívio ver os zeros apenas no final. Que peso senti saindo do meu corpo naquele momento. Logo pensei na frustração dos meus inimigos imaginários e nos reais também. Não seria desta vez que iria para as ruas novamente.
Corri para a lotérica, saquei o meu dinheirinho e paguei o aluguel. Parecia que eu havia emagrecido vinte quilos, a energia havia voltado e estava mais leve realmente. Fui para o centro, comprei minha ração, as peças para arrumar minha bike e, para celebrar fiz uma bela refeição, fazendo aquela montanha no self service.
E assim vou levando a vida, sem os medicamentos temos que nos policiar e nos conhecer bastante para não surtar novamente. É uma vida que pode ser um pouco perigosa, mas tenho a minha fé também que ajuda bastante nessas horas. Com os medicamentos provavelmente não iria me estressar tanto, mas também não teria forças e energia para resolver a situação. Não posso perder metade do dia dormindo no meu quarto, moro sozinho e tenho que resolver meus problemas. E é assim que me sinto bem, no meu cantinho, sendo eu mesmo e sem dever nada para ninguém, a não ser que o "sistema" falhe novamente....
Abraços à todos e até a próxima postagem...