Coronavírus e a hipocondria
Falar que praticamente o mundo inteiro sabe que todos estão alarmados com a propagação do covid-19 é chover no molhado. É só ligar a TV ou acessar a internet que não tem como não ficar não informado sobre esse assunto.
Mas e os hipocondríacos e paranoicos, como ficam nesta história que mais parece aqueles filmes de hollywood de final do mundo? Nós já vivemos paranoicos com essa questão de vírus sem os vírus estarem presentes, imaginando esses seres em todos os lugares nos fazendo lavar a mão mais do que o de costume.
1° dia: parecendo um feriado facultativo
Imagine agora como estamos nessa real pandemia? Estou me sentindo mal pra caramba. Já sou de falar pouco, agora é que não falo mais mesmo. Penso que alguém infectado irá falar comigo e que uma gotícula de saliva irá cair bem na minha boca ou olho e ficarei infectado. Hoje fui no centro e estava falando como aquelas pessoas que tiveram AVC, com a boca meio fechada. E quando deu para fazer mímica eu fiz. Fiquei pé da vida quando a moça do caixa não entendeu que eu queria uma palha italiana quando eu apontei para o doce e fiz o número um com o indicador. Aí tive que abrir a boca, falando meio de lado...
Não saio de casa para praticamente nada, apenas para ir no restaurante popular e no sacolão comprar algumas frutas, principalmente o limão, por causa da vitamina C. Quase todo dia tomo dois sucos de limão, coisa de hipocondríaco mesmo, já imaginando que algum vírus esteja no meu corpo. Me sinto melhor sabendo que meu corpo tem a quantidade adequada dessa vitamina que é a mais indicada para melhorar o nosso sistema imunológico.
"Por sorte" sou aposentado, não tenho que pegar ônibus para ir ao trabalho. Imagino como deve estar sendo para os trabalhadores em um ônibus totalmente fechado por causa do ar condicionado. Como devem se sentir quando alguém tosse ou espirra em um ônibus lotado no horário de pico?
Sem contar aquele negócio de ferro que as pessoas usam para se apoiar. Já imaginava milhões de vírus antes do corona, agora então é que não pego ônibus. Vou de bike mesmo.
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o blog também é de humor mais ou menos negro... |
Em relação ao fato de se isolar por causa da propagação do vírus, para a minha pessoa não muda muito, pois sou uma pessoa bem antisocial mesmo, não sendo necessário nenhuma recomendação extra. Confesso que senti um certo alívio ao ver as ruas mais vazias, mas isso não quer dizer que eu esteja satisfeito com a situação. Ser antisocial é uma coisa, agora ser uma pessoa do mal é outra completamente diferente. Era quinta feira e o centro de Belo Horizonte mais parecia um dia de feriado qualquer.
Entrei no sacolão para comprar limão e não tinha álcool em gel para os clientes limparem as mãos antes de pegarem nas frutas. O terror tomou conta de mim ao olhar aquelas frutas brilhantes de cera. Elas estavam bonitas, mas minha mente me fazia enxergar um monte de vírus circulando por aqueles limões. A primeira coisa que pensei era desistir, ficar todo esse tempo sem comer frutas. Mas e como ficaria o meu sistema imunológica sem a dose diária de vitamina C? É, o jeito foi pensar em uma alternativa, e então decidi comprar os limões e depois passar no supermercado para comprar água sanitária para fazer uma boa limpeza nas frutas.
2° dia: Quase tudo fechado, paranoia aumentando....
No segundo dia de ida ao centro para pegar o rango no restaurante popular, o cenário muda completamente em Belo Horizonte. Se ontem parecia um feriado, hoje já tinha algum aspecto daqueles filmes de fim de mundo. Poucos carros nas ruas, o comércio praticamente todo fechado, com exceção de farmácias, padarias e outros mais. Não vi nenhuma pessoa sorrindo, rostos desolados em sua maioria, ou então demonstrando aquele ar de preocupação, sem saber muito ao certo como será o futuro não só do país como do mundo.
Muitas pessoas com máscaras pelas ruas. Como não encontrei na farmácia para comprar, acabei usando uma que tinha comprado para pintar a bike, mesmo não estando com os sintomas da doença. Mas é melhor usar assim mesmo do que ficar na paranoia de pegar o tal do corona. Porém não adianta muita coisa, quem é paranoico está sempre ferrado. Você se livra de uma paranoia, mas aí aparece outra. Agora estou pensando que está todo mundo pensando que eu estou com o tal do corona, por estar usando máscara.... E em minha imaginação estão todos olhando para a minha pessoa pelas ruas. E quando uma me encarava, pensava que estavam me recriminando por ter postado memes sobre a pandemia no meu perfil as redes sociais.
Ontem fiquei um pouco agitado e comprei doce para me acalmar. Hoje não foi diferente, consegui deixar de me empanturrar na hora do almoço, para tentar diminuir os meus triglicerídeos, que estão um pouquinho acima do limite. Semana passada fiz um hemograma para ver como estou antes de iniciar as minhas pedalanças.
Mas consegui segurar a vontade de comer doces até por volta das 3 horas da tarde. O jeito foi ir ao supermercado, pois teria que sair de qualquer jeito mesmo, para pegar a receita do diazepan no posto de saúde. Ainda tenho alguns, mas, como ando meio agitado por causa dessa pandemia, melhor me precaver.
O posto de saúde quase vazio, e entreguei a receita para a moça que estava na porta, pois estavam atendendo uma pessoa suspeita de estar infectada. Sexta feira é dia de trocar receitas, mas, como estou agitado resolvo não insistir para pegar o diazepan e vou embora.
O supermercado estava com bastante gente, não sei se é por causa do medo do desabastecimento ou por ser sexta feira mesmo. Estou bem agitado e tento pegar um abacate para comer com um pouco de açúcar, mas estão todos verdes. À medida que vou ficando ansioso vai aumentando a vontade de comer doces. Não vejo nada em minha mente de saudável que seja capaz de me acalmar sem me dopar. O jeito é comprar porcaria mesmo. Compro aqueles doces de banana e um biscoito de chocolate da piraquê. A briga com os triglicerídeos fica para depois.
Na fila um cara tosse, e eu, apesar de estar com a máscara, chamei a atenção. Muita ansiedade para ir embora, fico imaginando que os seguranças estão imaginando que estou nervoso por que estou roubando algo. E fico encarando eles. Se eles me encararem acabo mostrando o dinheiro para eles. Infelizmente é o que passa na minha cabeça e é a minha reação. Nessas situações não sei o que é real e o que é coisa de minha cabeça. Às vezes até brinco com o segurança para ir atrás de mim para me vigiar, mas hoje, por causa da tensão do coronavírus, não estou bem para brincadeiras.
Meu vizinho disse que estava faltando itens básicos como arroz, ovos, feijão. No supermercado que eu fui estava tudo tranquilo, não vi ninguém comprando além do considerado normal, ou seja, um carrinho cheio. Já estava imaginando que todos os supermercados já estavam com falta de comida e que em breve todas as pessoas iriam estar passando fome e com isso começariam a saquear a cidade.
Não sei como será daqui para frente, Tenho que me vigiar para não surtar. E surtar é surtar mesmo, não é qualquer piti que uma pessoa dá, já que o termo surtar está sendo muito usado e banalizado ultimamente.