Este humilde blog foi fundado no dia 19 de maio do ano de 2012, com quase ou nenhuma pretensão além de virtualizar um antigo hábito que tenho, que é escrever.
Na época estava entusiasmado por que havia acabado de comprar um computador CCE em 12 suaves prestações nas casas Bahia. Mas a verdade é que nada é suave para quem ganha um salário mínimo e ainda tem que pagar aluguel...
Havia acabado de aprender a usar um PC. Cheguei até a gravar alguns vídeos, que não ficaram muito bons, pois falar não é o meu forte. O curso de informática que fiz aos 40 anos de idade foi um teste que resolvi fazer para descobrir se a esquizofrenia havia atrapalhado em alguma coisa a minha capacidade de aprender coisas boas e novas, pois coisa ruim a gente aprende com facilidade né?
O blog no início até que foi bem recebido e em pouco tempo conseguiu um bom número de visualizações. E também com o tempo acabou mudando sua finalidade que era quase que ser exclusivamente uma terapia individual. Muitas pessoas se identificavam com os meus escritos, e muitos afirmaram que o conteúdo do blog as ajudava de alguma maneira.
A minha experiência prática com os medicamentos, juntamente com a minha curiosidade e os meus estudos meio que me tornaram um "consultor virtual de medicamentos", especialmente os antipsicóticos.
Confesso que fiquei muito lisonjeado com os elogios e palavras de incentivo. Mas, claro, alguns grupos e pessoas não ficaram muito satisfeitos com as minhas publicações, o que acho absolutamente normal, pois agradar à todos ninguém ainda conseguiu neste mundo. Nunca fui de mudar o meu jeito de ser para agradar à todos, e não será nesta altura do campeonato que irei tentar ser outra pessoa para conseguir aprovação e outras vantagens que só os falsos conseguem obter. Não existe coisa melhor no mundo de sermos verdadeiros, de sermos nós mesmos, sem máscaras e fingimentos.
Voltando ao blog, confesso que no início ficava maravilhado com o crescente número de visualizações, e que até um dia poderia ficar famoso com o que escrevia. Mas o que seria um reconhecimento de um trabalho na verdade era apenas o reflexo do cenário da saúde mental no Brasil e em vários países do mundo.
Não estou afirmando que tudo é ruim, mas ainda falta muita coisa para considerarmos o atendimento na saúde mental no Brasil como satisfatório. Apenas uma parcela mínima da população tem acesso a um bom atendimento e aos bons medicamentos, os mais modernos, chamados de segunda geração. Quem acompanha o blog e leu o meu livro sabe como é difícil um bom atendimento na saúde mental através do Sistema Único de Saúde.
Existem bons e bem intencionados profissionais no SUS, mas falta estrutura e condições de trabalho. E ainda tem que ser levado em conta as condições financeiras do paciente, pois o tratamento não consiste apenas em medicamentos. Uma boa condição de vida pode ajudar e muito na recuperação do paciente. Mas ter dinheiro não necessariamente significa boa recuperação, pois um lar sem estrutura e sem diálogo tudo fica mais difícil. Melhor ter uma condição financeira um pouco menor e ter uma família bem estruturada. Dinheiro ajuda, mas nem sempre é tudo né?
E posso dizer que no Brasil ainda falta o diálogo aberto entre o paciente e o profissional da área da saúde. A consulta geralmente consiste em um monólogo protagonizado pelo psiquiatra. Falo isso baseado em minha experiência no contato em várias consultas ao longo dos anos. Claro que encontrei profissionais que tinham um certo diálogo, mas a maioria infelizmente, não sei por qual motivo, apenas se vêem na obrigação de ouvir as queixas para logo preencher o receituário.
Na Finlândia, onde se tem obtido os melhores resultados no tratamento da esquizofrenia, a primeira consulta da primeira crise tem um atendimento especial. O paciente pode até escolher onde quer ser atendido: em casa, na clínica ou um outro local qualquer. Ele pode até escolher se quer dormir na clínica, caso seja necessário tomar um tranquilizante, visto que o uso de antipsicóticos é feito somente em último caso.
Citei o caso da Finlândia para ilustrar que, se no Brasil o tratamento fosse um sucesso como muitos dizem por aí, pouco ou nada eu teria que dizer sobre o assunto. E muito menos os leitores teriam motivos para acessar um blog feito por um paciente, já que todos estão obtendo ótimos resultados no tratamento.
Creio que a falta de informação sobre o assunto também contribui para as visualizações do blog. E E quando a informação é dada por boa parte da mídia, ela chega distorcida no público em geral, contribuindo e muito para o preconceito e o estigma que cerca a esquizofrenia. Se uma pessoa com esquizofrenia comete um crime, vira assunto para todos as capas de jornais e também ocupam boa parte dos jornais nacionais da vida. Mas, se o contrário acontece, quando uma pessoa com esquizofrenia é agredida ou é assassinada, pouco se fala no assunto. Há muitos anos atrás fiquei impressionado com um crime que aconteceu no sul do país. Uma pessoa com esquizofrenia teria que ser internada compulsoriamente (contra sua própria vontade). A polícia foi chamada, o paciente acabou fugindo, levou alguns disparos de arma de choque que não surtiram efeito pois o rapaz estava com camisa de manga cumprida. No final o cara pegou uma barra de ferro e acabou levando um tiro de arma letal e veio a falecer. E foram chamados seis policiais para resolverem o assunto. Não estou pedindo para passarem a mão na cabeça das pessoas com esquizofrenia. Caso representem perigo que seja tomadas providências, para que o pior não ocorra. Mas acredito que seis policiais e o Samu já seriam mais do que suficientes para conter uma pessoa em crise sem precisar matá-la...
Digitei sobre o ocorrido no google e o único resultado que encontrei foi no site abaixo:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/07/25/durante-internacao-compulsoria-pm-mata-paciente-com-esquizofrenia-em-sc.htm
Digitei sobre o ocorrido no google e o único resultado que encontrei foi no site abaixo:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/07/25/durante-internacao-compulsoria-pm-mata-paciente-com-esquizofrenia-em-sc.htm
E a realidade também parece que não pode ser dada na mídia em geral, que são os casos de tentativa de suicídio. Não achei estatísticas, mas um número considerável de pessoas com esquizofrenia comentem ou tentam o suicídio. Fazem mais mal a si mesmos do que aos outros, mas isso a mídia não mostra. Por esses e outros motivos, a internet tem suas vantagens. A realidade nua e crua podemos mostrar aqui para todos vocês. A internet é democrática, cada um é livre para acessar o que achar o que lhe faz bem.
Outro fator que ajuda nas visualizações é que as pessoas querem ver o ponto de vista de quem sofre o transtorno, e não de quem trata. Só quem sente na pele o dia a dia de todas essas paranoias e crises é que pode dizer com precisão o que é tudo isso.
Mas ultimamente muita coisa se tem mudado, existem bons programas de tv que começaram a falar sobre o assunto, e algumas novelas infelizmente só atrapalham quando tentam abordar o assunto. Mas já é um passo importante que deram ao pelo menos abordar o assunto.
Então, por esses motivos hoje em dia não fico tão feliz assim com o número de visualizações do blog. Preferiria viver em um país onde o tratamento fosse mais eficaz e os resultados bem melhores do que os que estão por aí sendo divulgados.
Mas, mesmo assim gostaria de agradecer com carinho à todos os leitores do blog. Se não fossem vocês já teria parado de escrever logo no início. Também não poderia de deixar de agradecer aos grupos do facebook que sempre publicam as minhas postagens, ajudando na divulgação do meu trabalho.
Gostaria também de dizer que não sou de nenhum movimento, já que tudo hoje em dia está polarizado. Não sou da psiquiatria, mas também não sou do movimento da antipsiquiatria.
Para quem não conhece, a antipsiquiatria, de uma forma resumida, acredita que não existem as doenças mentais e que tudo é invenção da indústria farmacêutica, que só visa o lucro.
Acredito que o cérebro, assim como qualquer órgão, pode sim ter os seus problemas e vir a adoecer. O fígado não tem problemas e a pessoa não fica com diabetes? E a insulina não é aplicada para amenizar a situação?
Mas também acredito que boa parte da psiquiatria está pegando pesado, querendo classificar à tudo e a todos. Estão medicalizando os sentimentos. Mas isso é um assunto para uma outra postagem, e que até já falei sobre isso aqui.
Então vida que segue e rumo à um milhão de visualizações!!!