Como fazer o desmame e parar de tomar o diazepan e rivotril
desmame do diazepan |
Hoje em dia finalmente posso dizer que estou livre do diazepan...
Usava esta "droga" desde o ano de 2002, quando tive o meu primeiro surto psicótico grave. A receita eu consegui na minha primeira consulta, que durou menos de dez minutos. Como não conseguia tomar os antipsicóticos e trabalhar como operador de som, esse ansiolítico funcionou por um bom tempo como um S.O.S sempre quando eu sentia que poderia surtar.
Não é o ideal essa solução que encontrei, mas era o que tinha na época. Não tive escolha e quase sofri um acidente de trabalho sob o efeito do haldol. Tinha que ter disposição para trabalhar e resolver meus problemas, antipsicótico nem pensar
Com o diazepan eu tinha um pouco do controle do nível de sedação e poderia assim tentar trabalhar. Um comprimido de 10mg era o suficiente para andar no centro da cidade onde morava no início do ano de 2003. Quando sentia que estava querendo correr e fugir para casa tomava mais um. Na maioria das vezes resolvia o problema parcialmente.
Depois de viciado nesse ansiolítico não conseguia sair de casa sem ter uma cartela no bolso. Era a tal da dependência psicológica que havia aparecido.
Com o passar do tempo, a maturidade, a aposentadoria e o que aprendi com a prática sobre a esquizofrenia, pude aos poucos ir fazendo o desmame do "pan nosso de cada dia".
Não foi nada fácil: coração disparado, dores de cabeça, pulsação forte, me lembro que algumas vezes sentia o coração batendo na ponta dos dedos das mãos. Esses foram os sintomas físicos da abstinência dessa viciante droga.
Já os sintomas psíquicos não foram menos complicados: mania de perseguição aumentada, paranoias, nervosismo, stress e o medo de surtar a qualquer momento
Mas, com muita persistência e insistência finalmente consegui. De 20mg diminuí para 10mg. Depois para 5mg que foi a fase mais difícil, quando perdi muitas noites de sono. De 5mg fui bem lentamente diminuindo para cerca de 2.5mg, pois dividia o comprimido de 10mg em quatro pedaços e depois dividia cada pedaço ao meio. E então, depois de muitos meses, passei a tomar cerca de 1mg. Fiquei nessa dosagem por um bom período de tempo, até ir ficando algumas noites sem tomar nenhum tipo de ansiolítico na hora de dormir.
Com o passar do tempo fui arriscando a ficar dois, três dias sem usar o "pan nosso de cada dia". Aí tomava um pedaço sempre quando meu corpo pedia. O nosso organismo sempre dá alguns sinais. E também procurava rever de noite como foi o meu comportamento durante o dia, para analisar se não estava ficando agitado ou nervoso.
E foi questão de tempo para largar de vez os diazepínicos, minha memória recente parece estar melhorando gradativamente, antes não conseguia nem decorar metade de um número de telefone .A memória antiga estava preservada. Também senti uma pequena melhora na condição física, estou andando de bike todos os dias, e às vezes até de noite.
Minhas noites de sono não são das melhores, mais estou acordando mais disposto, sem aquela tradicional ressaca desses medicamentos. Mais vale quatro horas de sono natural do que oito com o diazepan....
Tenho que tomar muito cuidado e me policiar constantemente para não surtar novamente. Em 2003 tive um surto gravíssimo justamente por ter ficado sem o diazepan por quase um mês
É um vício que não pedi ter. Os médicos deveriam orientar seus pacientes sobre os riscos da dependência física e psicológica desse ansiolítico. Na época eu não tinha acesso à internet e a bula dos medicamentos tinham letras minúsculas, e nos postos de saúde nos dão apenas a cartela.
Os medicamentos são sim necessários, mas na dosagem, quantidade e períodos adequados para cada caso.
O diazepan não irá resolver os problemas que estão lhe tirando o sono e nem irá pagar suas dívidas...
Espero com esse relato conscientizar as pessoas sobre os riscos que esses medicamentos podem trazer à nossa saúde. O Brasil é campeão mundial no uso do Rivotril, que, segundo pesquisas podem causar inúmeros danos ao nosso organismo se for consumindo de uma forma exagerada e por um longo período de tempo.