quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Médico se recusa a operar paciente com esquizofrenia


   
    Boa parte das pessoas que seguem o blog sabe das dificuldades que tenho enfrentado por causa de uma lesão que tive no final do ano de 2014. Vou nesta postagem resumir tudo pois sempre têm pessoas acessando o blog pela primeira vez. E esta será a postagem fixa sobre o meu pé, para não se tornar um assunto repetitivo. E também é uma postagem de uma pessoa que já não sabe mais o que fazer para resolver essa situação, devido ao preconceito de um médico e da precariedade do SUS.
    Pois bem, no final de 2014 estava passeando tranquilamente em um parque ecológico aqui de Belo Horizonte quando, de repente, bati o dedão do pé esquerdo na raiz de uma árvore. Sempre ando rápido, e então o choque foi um pouco forte e logo senti e pressenti que esse acidente poderia me trazer problemas mais sérios. Afinal foi em um local que utilizamos constantemente, que é a articulação do hálux (dedão do pé). Se fosse nos dedos da mão...

1º atendimento pelo SUS
    Fui no posto de saúde e, o médico, sem ao menos olhar o meu pé, simplesmente sugeriu para que eu passasse água morna no local.
   Por uma semana passei compressas de água morna no meu dedão, sem resultados. Fiquei sem saber o que fazer, pois consulta particular com médico especializado estava totalmente fora do meu orçamento. O jeito foi esperar e acreditar que seria apenas mais uma lesão passageira. Sempre gostei de jogar meu futebol desde criança, e perdi a conta de quantas vezes me lesionei e tive inchaços no pé, mas que logo voltaram a se normalizar com o passar do tempo.
   Mas, como pressenti no início, as coisas só pioravam com os dias, mesmo parando minhas atividades e só andando para ir almoçar no restaurante popular. Mudei então de bairro e fui á um outro posto de saúde, já com o osso da articulação um pouco deformado. Dessa vez o médico foi muito atencioso, olhou o meu pé e me encaminhou para um profissional especializado.

2º atendimento pelo SUS
    Consulta com ortopedista pelo sus demora alguns meses e é preciso ter muita paciência. Esta primeira até que não demorou muito, uns cinco meses, mais ou menos. No dia estava esperançoso, afinal seria uma consulta com um ortopedista. Mas, para minha decepção, o médico também não olhou o meu pé, e, o pior, disse que eu tinha a mesma coisa no pé direito e que aquilo era coisa da idade mesmo... Como assim? Dedo quebrado é normal? Ele, além de médico, é adivinho? Como poderia afirmar que eu estava com o dedo do pé direito quebrado também? Ele simplesmente indicou que eu fizesse 20 sessões de fisioterapia...
    Até que fui esperançoso nessas sessões de fisioterapia, pois na época não sabia que o meu dedo do pé esquerdo estava quebrado. Com o tempo, observando o perfil da maioria das pessoas que estavam ali, vi que não tinha nada a ver o meu problema com fisioterapia. A maioria das pessoas que estavam ali eram idosos com problemas nas articulações, e o restante eram pessoas que haviam quebrado algum osso da perna ou pé e estavam imobilizados há algum tempo, ou seja, precisavam apenas reforçar a musculatura das pernas. 
    Sei que não sou nenhum garoto, mas, antes da lesão, aos 44 anos, conseguia jogar o meu futebol por duas horas seguidas, sem sentir dor nenhuma no final da brincadeira. O corpo aos poucos vai dando sinal do que somos ou não somos capazes de fazer. E sempre procurei ouvir esses sinais.
    Chego a pensar que não existe algo espiritual contra a minha pessoa também. Pois era um dos momentos mais felizes de minha vida. Estava andando por aí pela Estrada real, o ar puro das montanhas havia renovado as minhas energias. Também havia conhecido a cidade de São Paulo e boa parte do lindo litoral desse estado. Psicologicamente estava muito bem, até consegui andar pelo centro de São Paulo sem precisar de tomar nenhum pedacinho de diazepan. Pode parecer tolice, mas  não é para quem não conseguia sair de casa sem uma cartela de diazepan no bolso em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Se psicologicamente estava bem, fisicamente me sentia melhor ainda. Não sentia dores pelo corpo, mesmo após duas horas jogando futebol sem parar. Havia controlado minha compulsão por doces, meus exames estavam tudo em ordem, apenas os triglicerídeos estavam um pouco acima do normal, quando normalmente ele ficava na faixa dos 450mg para cima.
    Estava tão bem que tinha planos de conhecer o restante do Brasil que não conhecia: o centro-oeste e o norte, já que tive o privilégio de conhecer boa parte do nordeste na época em que trabalhava como operador de som.  E o sudeste que não conhecia acabei conhecendo nas minhas andanças.

3º atendimento pelo SUS
    Como a fisioterapia não havia dado resultado, insisti novamente neste posto de saúde, pois as dores em outra articulações estavam piorando, pois estava andando usando mais a parte externa do pé, para não forçar e inchar ainda mais o dedão, resultado: o tornozelo acabou não aguentando e tive que ir de muletas para o hospital...
    Consegui um atendimento no hospital da Baleia, aqui mesmo em Belo Horizonte. O atendimento é bom, tudo organizado e sempre respeitam os horários.  Mas na questão da ortopedia também tive mais uma frustração. Quem me atendeu nas duas vezes em que lá estive foram dois médicos residentes, que foram muito atenciosos. Mas essa atenção toda não serviu para nada, pois quem deu a palavra final foi o médico chefe, que deveria ter por volta de 80 anos Ele ficava sentado, já estava um pouco debilitado por causa da idade. Ele apenas olhou o meu pé por uns cinco segundos e logo foi dizendo que não havia cirurgia para esse tipo de problema, que era para esquecer. Pesquiso sobre o assunto na internet há muito tempo, mas não discuti, ele provavelmente deve pensar que não sei usar um computador, como ele não deve saber usar, por causa da época em que nasceu. Ele me receitou anti-inflamatório, uma pomada e a palmilha milagrosa, que custava em torno de 300 reais...
   O anti-inflamatório dá uma sensação muito boa, até ajuda a relaxar na hora de dormir, mas é um medicamento que só aconselho a usar depois de tentar as compressas de água quente, pois podem trazer vários problemas à saúde, principalmente nos rins.
não há tornozelo que aguente... 
não dá para viver á base de antiinflamatórios 
    No dia em que meu tornozelo inchou, tive que pedir uma muleta emprestada através das redes sociais. O local estava doendo muito, ainda mais por estarmos no inverno. Cheguei na UPA por volta das dez horas da manhã. Tomei soro mas não adiantou muito. Fui levado para o hospital, depois de muito insistir. Só fui atendido por volta das oito horas da noite, para receber mais soro, e sem resultados também. Tive ainda que esperar duas horas pelo resultado do exame de sangue, que não teve nada de anormal. E ainda expliquei a situação para o teimoso médico, de que o tornozelo havia inchado por causa da lesão no dedão e do meu andar incorreto. Mas ele insistiu para que fizesse o tal exame... Saí por volta da meia noite, com as mesmas dores de que estava sentindo antes. Naquele dia pensei em fazer o pior, pois tentei sair do hospital com a agulha do soro ainda no braço, pois estava com blusa de frio. Depois de um bom tempo perambulando pelo hospital consegui sair, o porteiro telefonou para o médico e fui liberado mesmo com a agulha no braço. Chegando em casa, abri a válvula que regula o soro e coloquei a ponta no balde, pensando que iria jorrar sangue até que acabasse... Mas, para minha sorte ou azar, o sangue já havia secado e entupido a via do soro.

4º atendimento pelo SUS
    Após uma nova mudança de endereço, insisti novamente em um outro posto de saúde. Depois de muitas conversas com a gerente, consegui uma vaga em uma unidade de reabilitação. Como sempre a mesma demora para a consulta, o atendimento, etc.. Consegui a palminha ortopédica que logo no primeiro dia detonou o meu joelho, como vocês podem ver na foto. A palmilha é feita baseando-se apenas no formato do pé, os profissionais esquecem de que os calçados tem formatos diferentes. E foi o que aconteceu. O tênis que uso e que me dá mais conforto para o dedão quebrado já tem o arco elevado, como podem observar na foto. A palmilha também tem. Resultado, em poucos metros o meu joelho ficou inchado. E esta palmilha custa em torno de 300 reais...  

a palmilha milagrosa do sus tem um arco muito elevado e não combina com todos os calçados... 
e quase que fico sem joelho também 
    No dia 27/04 foi marcado o retorno com o ortopedista, para avaliar o uso dessa palmilha. Ele simplesmente não acreditou que ela havia causado uma lesão em meu joelho. Disse que era outra coisa que havia causado aquilo. Mas respondi que o joelho desinchou um dia depois de ter tirado a palmilha. Ele não respondeu. A maioria dos ortopedistas que consultei pelo sus não conversam, não dialogam, são monossilábicos e parecem não gostar de serem questionados. Temos que fazer tudo o que mandam, não aceitando opiniões e nem sugestões, mesmo que se forem dadas com a intenção de ajudar. Acredito que o paciente tem que participar do tratamento e da consulta, afinal o feedback do paciente pode ajudar sim na questão do melhor tratamento para cada caso.
    Esse tênis que consegui achar consegue dar uma boa amenizada na situação, é bem macio e confortável, mas rapidamente se desgasta, pois o solado é feito de EVA. A solução que encontrei foi colocar mais EVA e um solado antiderrapante, para fazer com que dure mais. Gostaria de agradecer publicamente mais uma vez a ajuda que as pessoas me deram, pois tive que comprar material para fazer mais uma vez os solados dos tênis que uso e também do chinelo. Também me ajudaram quando tive que comprar o suplemento glucosamina, que não adiantou muito não. 
    Isso ajuda, mas as dores nas outras articulações pioram a cada dia. Tenho que andar de uma maneira totalmente incorreta, o dedão do pé direito já está com problemas devido à sobrecarga. O tornozelo e a musculatura da perna direita é que sofrem mais.
a solução é ir improvisando um tênis com maior amortecimento

    Isso deixou minha qualidade de vida bem abaixo  do que era antes. Minha vida era andar, correr, jogar futebol. Era isso o que não me deixava pirar. Era o meu melhor antipsicótico, era a minha alegria, a minha diversão, que para mim não precisa necessariamente cair na balada e encher a cara de drogas e álcool. Não preciso de drogas, acho que já nasci meio maluquinho mesmo.
     Desde criança estou acostumado a jogar bola quase todos os dias. E o stress saia todo juntamente com o suor. Então, atualmente minha saúde mental também está muito prejudicada, pois procuro sair de casa para fazer o estritamente necessário. E ainda tenho que andar 6km para ir e voltar do almoço no restaurante popular. A sensação é de que estou sempre com o corpo cansado, de que havia andado cerca de 50km...


Uma nova esperança....
    Procurando na internet por atendimento gratuito na ortopedia em Belo Horizonte encontrei a Rede Sarah, o que renovou minhas esperanças de voltar a andar normalmente. Em agosto do ano passado meu email foi respondido e foi feita a minha primeira consulta. O atendimento é muito bom, as instalações são ótimas. O ortopedista logo na primeira consulta solicitou uma ressonância magnética e a tomografia computadorizada. 
      Meses depois a consulta do retorno foi realizada e o médico disse que seria necessário fazer a cirurgia, chamada artrodese, pois havia uma fratura completa no dedão do pé esquerdo. Nessa consulta ele condicionou a cirurgia à um parecer favorável do psiquiatra em que costumo consultar e também de uma pessoa para me acompanhar durante o procedimento. Também foi marcada uma consulta com o psicólogo da Rede Sarah.
    Como pego o meu diazepan no posto de saúde, tive que ir no Cersam, conversar meia hora com o psicólogo, para depois ser encaminhado ao psiquiatra, que conversou comigo por cerca de 40 minutos. Engraçado é que estive naquele mesmo Cersam durante meu primeiro surto psicótico grave. Estava morando nas ruas ainda, mas já estava quase que recuperado. Mas não consegui atendimento, pois a enfermeira não me deixou entrar, afirmando que eu não precisava estar naquele lugar. Acredito que ela me viu falando normalmente e eu estava de barba feita e cabelo cortado, e já estava me vestindo normalmente, pois havia ganho algumas roupas. 
    Meses depois voltei a Rede Sarah confiante,  com o parecer favorável do psiquiatra e também afirmei que iria ter acompanhante na operação. O ortopedista ficou meio sem reação, o psicólogo também estava lá, mas pouco falava. Acredito que a área dele não seja transtornos mentais, pois ele não conhecia a quetiapina e nem a risperidona, medicamentos muito usados no controle da esquizofrenia. Ainda me comprometi a usar um antipsicótico chamado melleril por dez dias antes da operação, à pedido do psiquiatra do Cersam.
    Mas o ortopedista ficou meio sem saber o que fazer. Notei um misto de indecisão e medo em sua expressão. Medo pode ser uma palavra forte, mas todos nós temos medos, o que não temos é a coragem de admitir nossas fraquezas. A indecisão nesse caso vinha justamente por causa do medo.
Ele insistiu para que eu continuasse usando o tênis que estou usando atualmente.  Afirmei que o tênis era apenas um alívio.
    Voltei ao Cersam, na intenção de pedir uma ajuda nesta questão. Pedi para que entrassem em contato com a rede Sarah, mas também não obtive uma resposta positiva. Apenas uma mulher preencheu uma folha afirmando que não havia entendido o que eu estava pretendendo. A verdade é que eu é que não estava entendendo o ortopedista da Rede Sarah e apenas pedi que o Cersam entrasse em contato com eles para esclarecer qualquer dúvida que o ortopedista tivesse. Mas parece que os profissionais da saúde em geral querem separar o homem, ou seja, o que é problema mental é questão para os psiquiatras, e o restante é para os médicos das outras especialidades, como se fossemos separados mesmo. O pessoal da saúde mental deveria também ajudar na questão física, encaminhando os pacientes para exames e assim descartar qualquer problema físico que fosse confundido com uma depressão, por exemplo.
o psiquiatra deu o parecer favorável para a realização da cirugia. 

   Parecia que ele queria me dizer alguma coisa, e estava com receio de me dizer, com medo de que me deixasse revoltado ou até mesmo triste. Ou seria apenas preconceito dele em operar uma pessoa com esquizofrenia? 
     Ele afirmou que o hospital é apenas especializado em ortopedia e que não havia equipe especializada em psiquiatria, caso ocorra algo de grave comigo. Resumindo, ele tem receio de que eu tenha um "piripaque" e que saía por aí agredindo todo mundo e quebrando o hospital inteiro. O que me deixa intrigado é que ele sabia da minha condição de esquizofrênico desde o início, pois preenchi o formulário não ocultando nenhuma informação.
   Ou seja, fiquei praticamente um ano indo e voltando à esse hospital para simplesmente receber um não como resposta, pelo simples fato de ter esquizofrenia. Não me lembro de ter me exaltado ou ter sido violento em nenhuma das consultas que tive nesse hospital. Aliás sempre estive muito calmo, pois o atendimento lá é ótimo, tem água gelada, os banheiros são muito limpos e as cadeiras confortáveis e além de tudo são pontuais.
    Apesar de tudo,não recrimino o ortopedista desse hospital pela falta de conhecimento sobre o transtorno, eu mesmo não sabia nada antes de surtar, e tinha um monte de preconceitos sobre o tema. Já cheguei a brincar com um vizinho em uma cidade em que morava no interior aqui de Minas, não tendo a mínima noção do quanto o estava ferindo emocionalmente. Hoje sei na pele o que é isso. 
    Não me considero melhor nem pior do que ninguém. Mas será que esse médico não percebe que a situação só piora com o passar do tempo? Por que ele marcou uma nova consulta, já que cumpri as exigências? A cada dia que passa sinto mais dores nas outras articulações e na musculatura das duas pernas.  E a minha saúde mental piora a cada dia também. Esporte é saúde, e como disse, o meu antipiscótico principal  e natural é a atividade esportiva.
   Não sei o que fazer, gostaria de completar os outros dois caminhos da estrada real, gostaria de sair andando por aí sem ter que ficar prestando atenção ao caminhar, sem ter que colocar a carga no dedão do pé esquerdo. Gostaria de frequentar parques ecológicos, de tentar ir a shows, de fazer uma caminhada para manter a minha saúde física e a mental principalmente. Gostaria apenas de ter o direito de ir e vir. Por favor, compartilhem, quem sabe esta postagem não chegue nas mãos de quem possa me ajudar na realização desta cirurgia? O link que explica o procedimento cirúrgico  está abaixo. A matéria é do ano de  2015.

    Queria agradecer à todos os leitores do blog que me ajudaram até hoje nesta questão do meu dedo do pé esquerdo, seja através de ajuda financeira como através dos incentivos. Na postagem abaixo falo sobre como me ajudar na questão do colágeno, que o último médico que consultei pelo sus me receitou. Irá ser a última vez que posto pedindo ajuda, pois já tentei tudo o que poderia ser feito.
   Não sei bem no que o colágeno poderá me ajudar, afinal o dedo está quebrado. Foi uma fratura por stress. A lesão inicial não foi tão grave assim, o que complicou foi o atraso no atendimento e o não atendimento, para falar a verdade. 
    Essa será a postagem definitiva sobre o meu problema no pé.  Afinal o objetivo principal do blog é falar sobre esquizofrenia e outros transtornos mentais Pretendo ir a um hospital particular para saber o valor de uma cirurgia. Caso não seja muito alta, irei fazer um empréstimo e sair pela internet tentando encontrar alguma ajuda.
    Não quero fazer sensacionalismo e nem querer chamar a atenção. Mas tudo tem o seu limite. São praticamente quatro anos com o mesmo problema sem uma esperança real de solução. Aliás, nem é o mesmo problema, pois a situação só piora com o passar do tempo. É muito triste você saber o que irá acontecer com o seu corpo, que sua saúde física e mental está piorando cada vez mais pelo fato de não haver um atendimento digno na área da ortopedia em sua cidade.
    Não acredito que esteja pedindo muito. Só queria ser tratado como um ser humano normal e voltar a fazer o que mais gostava de fazer, que é simplesmente andar normalmente e sem dores.

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