quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Gostar demais faz mal

Chimbinha: triste fim
Chimbinha e Chimbinha/2
  Este não é o mesmo título de um post anterior. É quase o mesmo, mas não é. A diferença é que no outro era uma interrogação, e este, uma afirmação.
    O Chimbinha, aos poucos, foi se adaptando ao parque ecológico. Fez amizade com um monte de outros dogs e com os funcionários do parque, para pegar um rango na hora do almoço. Comecei a dar ração todos os dias para ele. Começou a ganhar corpo, seu pelo ficou mais brilhante e sem as falhas de quando chegou ao parque. Seus olhos também ficaram mais vívidos, e esbanjava vitalidade ao "brincar de briga" com os outros cães do parque.
    Mas, na mesma proporção que sua vitalidade aumentava, sua mania de querer defender o parque também. Não podia avistar um estranho que começava a latir sem parar e a perseguir a pessoa. O latido estava mais forte também, e ele agora corria atrás também de pessoas que estavam longe de sua vista. Para piorar, os outros cachorros entravam na onda do Chimbinha e passaram também a vigiar o parque. Tinha um, que era bem grande, que chegava a morder as pessoas, que sempre reclamavam comigo e nunca com a direção do parque. Havia manhãs em que havia uma concentração de cerca de oito cachorros no meio do parque, que estava mais parecendo um canil. Para mim estava tudo ótimo aquilo, mais animais do que gente, mas sei que o parque foi feito para as pessoas se divertirem.

                                              Chimbinha e Bob detonando o jardim

    O Chimbinha e o Bob detonavam os jardins do parque, brincando de brigar, e também faziam alguns buracos bem profundos. Eu, todo sem graça, fingia que não estava vendo nada.
    Já tive que discutir seriamente com um cara que queria apedrejar o Chimbinha. Um outro chegou a dizer que iria matá-lo e que a culpa seria minha. Já havia avisado aos guardas do parque sobre a situação, mas eles indiferentes a situação, apenas  recomendavam a dizer que o cachorro não me pertencia.
    Mas e se o Chimbinha mordesse uma criança? E se ele fosse apedrejado ou mesmo envenenado?
    Nessas horas chego a me perguntar se realmente o doido sou eu...
    Ele estava se sentindo feliz no parque, dava para ver em seus olhos brilhantes. Às vezes ele olhava para mim e balançava o rabo, como que a agradecer pela acolhida. Quando chegou ao parque, ele estava magro, medroso, e com algumas falhas de pelo no corpo.
   Eu também estava contente com a inseparável companhia do Chimbinha(até no banheiro ele me seguia). Todo dia de manhã, ele me avistava de longe e vinha correndo em minha direção, para receber a sua cota diária de carícias, e, claro, um pouco de ração. Enfim, estava feliz em vê-lo feliz, por ser útil em alguma coisa, para pelo menos um cachorro(pelo menos não, dou mais valor a cachorros do que certas pessoas). Mas, infelizmente tive que ser sensato e usar a razão no lugar da emoção neste caso. Mais cedo ou mais tarde ele iria levar uma pedrada, um chute ou até mesmo ser envenenado. Sem contar a bronca que eu levava constantemente.
Chimbinha e Branca de Neve
     Uma funcionária do parque me disse que ele era útil, pois latia quando alguém se aproximava da administração do parque, à noite. Dizem que é perigoso andar por lá neste horário. Oras, se o Chimbinha estava prestando um serviço ao parque, então seria obrigação do mesmo cuidar dele, dando alimentação e o prendendo na hora de mais movimento, para não machucar ninguém ou mesmo ser apedrejado. Muito conveniente deixar o cachorro solto e todo mundo pensar que ele me pertencia...
    Não estou a fim mais de ser o salvador da pátria e por isso creio que tomei a melhor decisão possível: tirar o Chimbinha do parque, antes que o matassem.
    Certa manhã, improvisei uma coleira nele e andei cerca de três quilômetros, até a sociedade protetora dos animais. Na entrada havia uma faixa dizendo que a instituição não recebia animais, apenas cuida de alguns cães a preços módicos. Na minha opinião é muita pretensão desse pessoal se intitular Sociedade protetora dos animais, sendo que, na verdade, não passa de um pet popular que atende alguns cães doentes...
                                                 Chimbinha xameguento

     Meus pés estavam doendo, não estou mais aguentando andar com a mochila mais. No caminho sai oferecendo o Chimbinha a quem aparecesse pela frente, mas, infelizmente ele é um cão sem raça definida. As pessoas olhavam para ele com dó e depois inventavam alguma desculpa qualquer. Duvido se isso aconteceria se ele fosse um golden retriever.
    Por um momento cheguei a pensar em desistir do plano e voltar com ele para o parque, mas sabia que tudo iria começar de novo e ele poderia correr risco de ser morto por um desalmado.
    Não tive coragem de olhar em seus olhos na despedida. Soltei a coleira, fui até o ponto de ônibus. Ele me seguiu e sentou-se ao meu lado. Fingi que nem estava percebendo. Tive um aperto no coração, mas tive que ser forte. O ônibus chegou e entrei sem olhar para trás, imaginando o que ele deveria estar pensando. Foi difícil, pode parecer cruel, mas sei que foi a melhor decisão a ser tomada. Talvez ele encontre um outro maluco que lhe dê, além de comida, um pouco de carinho e atenção. Me desculpe, Chimbinha, mas sou apenas um cara que ganha um salário mínimo e, que, com algum custo conseguirá encontrar um minúsculo quarto para morar.
adeus Chimbinha
    Queria falar sobre outros assuntos neste post, mas, em homenagem a quem ficou em minha companhia durante esse período difícil momento de minha vida, vou dedicá-lo a esse cachorro que é muito bonito por dentro e um ótimo amigo. Pode parecer maldade minha tê-lo mandado embora do parque, mas, se continuasse, provavelmente não estaria vivo, pela maldade humana. O único erro do Chimbinha foi gostar demais de um ser humano e querer protegê-lo a todo custo.

                Os cães são animais especiais. Quem pode negar que eles não tem sentimentos?
               
   

6 comentários:

  1. Não posso dizer "não fique triste". Afinal, a sua história com o Chimbinha foi linda. No entanto, posso dizer que fizestes muito pelo animalzinho. Tu fizestes por ele o que muitos poderiam fazer e não o fizeram. Mas a questão nem é essa, pois apesar de algumas evidências, quem somos nós para julgar atitudes e possibilidades dos outros. Então, reflita a Oração da Serenidade: "Concedei-nos Senhor a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras".Tomando como base sua história com o Chimbinha e pelo teor de sua narrativa, não exitaria em dizer que fizestes muito além de suas possibilidades. Torçamos para que ele encontre um novo amigo ou, quem sabe, um dono que lhe proporcione um lar de verdade. Muita Luz e Paz pra você. Ass.: fã esquizofrênico.

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    1. Verdade, a minha situação ainda não é das melhores, falta pouco para estabilizar e morar em um quarto novamente, e, não tinha como fazer mais por ele. Eu poderia ter saído do parque, pois ele ficava menos agressivo, mas, ainda continuava latindo, pelo que me disseram, e creio que não iria demorar para fazerem algum mal a ele, apesar de ser pequeno. Obrigado pela visita ao blog.

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  2. Julio, tenho uma pessoa na minha família que é esquizofrenica, é muito meiga ao falar com a gente, mas de repente tem atitudes bem agressivas, já matou uma mulher, furou minha vó de tesoura e é assim sempre, mesmo fora dos surtos.. tem esquizofrênico que é tão calmo... queria entender... Será que ela vê Ameaça nas pessoas e por isso faz essas Coisas?

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    1. Olá, como os "ditos normais", os esquizofrênicos também não são iguais completamente. Existem portadores que são mais calmos, tem alguns que são agressivos, outros ficam agressivos somente nos momentos de crise. Não tenho como lhe dizer o que causa essa agressividade nesta pessoa, mas talvez seja uma mania de perseguição bem acentuada. Mas, como lhe disse, é um mito dizer que todo esquizofrênico é agressivo, ou inteligente demais, ou tenha déficit mental. Cada portador tem a sua personalidade e o seu modo de ser. Espero ter ajudado em alguma coisa.

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  3. É triste quando o final deles não é o que gostaríamos, mas cada um tem seus limites. Eu falo, se eu fosse o Neymar, o quanto eu faria! Mas parece que as condições vão para as pessoas erradas... (talvez ele até faça algo, mas, se todos que tem dinheiro fizessem, o mundo seria melhor, não?). Quanto a Sociedade Protetora, não pense mal deles. A maioria dos que trabalham lá são pessoas simples, sem grandes condições. Estão, acredite, LOTADOS de animais como o Chimbinha ou em condições piores, e ninguém quer adotar. Eles REALMENTE não tem mais espaço, não conseguem quem queira, e não adianta "acumular" bichos. São uma meia dúzia de bem intencionados fazendo o trabalho que devia ser de todos... então, por isso deixam de recolher. Conheci muitos protetores, e, infelizmente, lidar com isso é superdifícil. Com certeza se fosse de raça adotariam, mas não hesitariam em abandonar no primeiro problema. Abraços

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    1. Verdade, eu admiro sim o trabalho desse pessoal, é que o nome dá uma impressão de ser algo grandioso, mas, como você mesmo disse, são apenas uma meia dúzia de pessoas bem intencionadas. Acho que, por causa do nome, as pessoas levam os animais para serem recolhidos, acreditando ser uma instituição grandiosa no sentido de espaço físico mesmo. Obrigado pela visita ao blog.

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