quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Esquizofrenia e a indústria farmacêutica

 
    Em primeiro lugar, e antes de começar esta postagem um pouco polêmica, gostaria de dizer que não sou da antipsiquiatria, mas também não sou um fã ardoroso dos medicamentos usados no tratamento da esquizofrenia, os chamados antipsicóticos. 
    Para quem ainda não conhece, antipsiquiatria é um movimento que, basicamente se opõe a quase tudo ou a tudo o que os psiquiatras pregam e fazem. Mas as principais bandeiras da galera da antipsiquiatria é a de que as doenças mentais são invenção dos psiquiatras para que a indústria farmacêutica saia lucrando com a criação dos medicamentos para esses males. Afirmam também que muitos psiquiatras possuem vínculos com a indústria farmacêutica e que os medicamentos não curam, apenas controlam a doença, deixando os pacientes dopados.

    Infelizmente hoje em dia tudo está polarizado, e com as doenças mentais não poderia ser diferente. É uma discussão intensa entre os psiquiatras e o pessoal da antipsiquiatria.
    Que os bons e bem intencionados profissionais da saúde mental não se sintam ofendidos com esta minha postagem...
    Não sou de ficar em cima do muro, sempre gosto de dar   a minha opinião, mesmo que ela me traga alguns prejuízos, pois às vezes a falsidade pode levar à algum ganho ou lucro. Prefiro deixar de ganhar certas coisas e ter a minha consciência tranquila e não ter o rabo preso com ninguém. 
    Na minha opinião existe sim algumas doenças mentais, afinal o cérebro é um órgão do nosso corpo, e, como tal está sujeito a ter problemas como está o restante do nosso organismo, principalmente se não for bem cuidado. Quem toma muita cachaça provavelmente vai correr o risco de ter uma cirrose, e o mesmo acontece com o cérebro e com a mente. O cérebro precisa ser bem alimentado, principalmente com vitamina B e ômega 3. A mente precisa estar em um ambiente tranquilo e com energias positivas, devemos evitar o stress, ter boas noites de sono e por aí vai.... 
   Acredito também que os antipsicóticos e tranquilizantes devam ser usados em alguns casos, mas por um determinado tempo e não em doses tão altas como acontece por aqui em nosso país e nos Estados Unidos, por exemplo. Afinal, não resta muita coisa a fazer quando um paciente chega à uma emergência de um hospital apresentando um quadro perigoso de agressividade. 
   Mas,  por outro lado acredito que o pessoal da psiquiatria sempre pegou pesado demais, querendo classificar à tudo e a todos como doentes. Hoje em dia qualquer pessoa que não esteja nos padrões é considerado anormal. A cada edição o CID, que é o Código Internacional de Doenças, vem aumentando o número de páginas e de novas doenças classificadas. 
   Daqui a pouco quem não for classificado será classificado como anormal, já que o normal é ser classificado com algum comportamento não adequado.
   Também acredito que os psiquiatras exageram tanto na quantidade como também na dosagem dos medicamentos. Geralmente no início vão logo receitando doses dopantes, o que desestimula o paciente a continuar o tratamento. Não seria melhor ir começando com dosagens menores e ir adequando gradativamente e aumentando se for necessário? Geralmente fazem o contrário, receitam doses fortes e vão diminuindo caso o paciente se queixe muito de sonolência e lentidão. 
  Conheço pessoas que chegam a tomar cerca de dez medicamentos por dia. Não são dez comprimidos, são dez tipos de remédios, a receita mais parece uma escalação de um time de futebol. 

Minha primeira consulta
   Só para ilustrar a postagem,  minha primeira consulta psiquiátrica demorou menos do que dez minutos. Isso foi ano de 2002. Estava desesperado, pulando de igreja em igreja, pensando que o meu problema poderia ser de origem espiritual. Ia na frente do altar quando o pastor fazia o chamado, mas mil caiam a minha direita e dez mil a minha esquerda, mas eu não caia. Aí pensava que o demônio que estava em mim era muito teimoso e que não iria sair com muita facilidade...
   Em menos de dez minutos na minha primeira consulta sai com a receita de melleril e do diazepan.  Também saí praticamente diagnosticado com esquizofrenia paranoide, F 20.
    Mas não obtive nenhum tipo de informação sobre o que eu tinha, o psiquiatra mal olhou para mim, parecia estar cansado da profissão. É um trabalho estressante, mas acho que foi ele mesmo que escolheu né?
   Na consulta com a psicóloga nada de conversa sobre o que eu poderia ter. Ela ficava me encarando e sorrindo, me deixando um pouquinho sem graça e pouco à vontade. No final ela sugeriu frequentar alguma oficina de percussão ou outra coisa qualquer. Mas o que eu queria mesmo era saber o que eu tinha, o que era aquela loucura toda, se outras pessoas também tinham esse problema ou se eu era a única pessoa do mundo a ter aquelas alucinações malucas.

A importância do primeiro atendimento
   A primeira consulta é a mais importante de todas na vida de uma pessoa com esquizofrenia. Afinal estamos muito assustados, sem ter a mínima noção do que é um transtorno mental, pois a falta de informação ainda é muito grande e a esquizofrenia ainda é cercada de muitos mistérios e mitos. 
   Mas na maioria dos casos os profissionais da saúde mental tratam a primeira consulta de uma pessoa com esquizofrenia com a mesma atenção do que atendem uma pessoa com depressão e que se consulta há um ano, por exemplo. Falo isso por experiência própria, não recebi nenhum cuidado especial na primeira consulta, digo até mais, foi uma das piores que tive. 
    Foi muito difícil conseguir esse primeiro atendimento, estava morando nas ruas por causa dos surtos que tive. Não queriam me atender pois não tinha um endereço fixo. Tive que ser muito insistente para que me ouvissem e me dessem a devida atenção. O psiquiatra queria que eu tivesse um endereço fixo, ou seja, teria que melhorar sozinho para sair daquela situação para aí sim ser atendido....
     Depois do piti que dei o pessoal do posto de saúde me passou o endereço do Cersam, que é  referência no atendimento público da saúde mental aqui em BH. Lá mais uma decepção: a enfermeira logo na entrada me olhou e disse que ali não era o meu lugar. Ela fez aquele diagnóstico maluco talvez por eu já estar andando com roupas limpas e ter cortado o cabelo e estar com a barba feita.
É um erro muito grave diagnosticar uma pessoa apenas pela aparência física, afinal uma pessoa pode estar se cuidando mesmo estando mal mentalmente. 


Facilidade em conseguir medicamentos
    Pela facilidade com que são receitados esses antipsicóticos acredito sim que alguns psiquiatras saiam ganhando com essa situação. Existem maus profissionais em todas as áreas, e na psiquiatria não é diferente. Já vi representante de laboratórios farmacêuticos nas clínicas psiquiátricas e até nos centros de atendimento do SUS. Alguns psiquiatras ganham amostra grátis e provavelmente comissão para receitar determinado medicamento de certos laboratórios. Gostaria de ressaltar que não são todos, mas como disse, em todos os lugares existem pessoas que querem tirar proveito de tudo.
    Certa vez, quando estava na fila para pegar os meus medicamentos, vi uma conhecida vibrar de alegria por ter conseguido a receita da fluoxetina sem ter nenhum sintoma de depressão. Ela apenas queria usar esse antidepressivo pelo simples fato de ter como uma reação adversa o emagrecimento. Ela estava com uma aparência muito boa e muito feliz pela oportunidade de emagrecer usando um medicamento que também prometia trazer a felicidade...
   Nessa facilidade toda quem sai perdendo é o próprio paciente,  principalmente quando recebe no início o medicamento de graça. O psiquiatra oferece a amostra grátis, e, depois de um certo tempo, quando o paciente já está viciado no medicamento, informa que terão que comprar ou então conseguir pelo SUS. E nessa migração da amostra grátis para o medicamento genérico  muitos até chegam a surtar, pois existem algumas diferenças entre o medicamento genérico e os chamados originais. Existe uma lei que determina o mínimo de princípio ativo que um genérico deve ter. Os genéricos, por serem mais baratos, acabam usando a lei para colocar o mínimo autorizado. Já vi muitos relatos, e inclusive tenho amigos que, mesmo com a situação financeira não muito favorável preferem comprar o medicamento do que pegar no posto de saúde. Eu mesmo sinto esta diferença  no diazepan. Como estou tomando apenas 5mg, resolvi comprar na farmácia, para não ter que ficar dividindo o de 10mg, que é a única opção que tem no SUS. E senti muita diferença, o da farmácia de 5mg me dá mais sono do que os de 10mg do posto de saúde. 


Afinal, usar ou não usar os antipsicóticos?
   Enfim, os antipsicóticos foram necessários no meu caso em alguns momentos difíceis da minha vida. Mas acredito que a informação seja tão ou mais importante do que comprimidos. É como um jogo de futebol, onde temos que conhecer o nosso inimigo para termos uma estratégia de jogo para obter um bom resultado. Jogar contra um adversário desconhecido pode nos trazer muitas surpresas. Mas, depois que a tempestade passou consigo levar a vida, não tenho o que gostaria de ter, que é aquela velha tranquilidade e paz que tinha antes, quando conseguia sair na rua, ir ao um show e me divertir sem pensar que as pessoas estão me olhando ou tramando algo contra a minha pessoa. Não acredito que um medicamento irá conseguir fazer esta cura sem me deixar dopado. Vencer a esquizofrenia é estar curado, ou seja, a cura é a remissão de todos os sintomas ao ponto da pessoa não precisar mais de medicamentos. Se ainda precisa de remédios é por que não houve cura ou vitória, e sim apenas um “controle” nos sintomas diminuindo os níveis de dopamina, que é um neurotransmissor necessário ao nosso bem estar.
    Já vi psiquaitra comparando a esquizofrenia à diabetes. Uma comparação infeliz, pois são doenças totalmente distintas. A esquizofrenia é na mente e no cérebro, diabetes é no fígado, o que não deixa de ser também muito dramático, por causa das complicações que a diabetes causa. Mas essa comparação só reforça a minha convicção de que querem simplificar a esquizofrenia à um simples desequilíbrio químico do cérebro, que seria facilmente resolvido com os antipsicóticos. Estão retirando as causas psicológicas desse transtorno, o que é algo extremamente prejudicial ao verdadeiro tratamento, que não é somente à base de medicamentos.
    E não é só eu que acho isso, o prêmio nobel de medicina também tem essa opinião.Vejam um trecho de uma entrevista dele:
Prêmio nobel de medicina afirma que medicamentos que curam não são produzidos pois não geral lucros

"Sir Richard, em entrevista, denuncia o que parece evidente para todos, mas raramente é dito em alto e bom som por uma autoridade: é a própria indústria quem detêm o progresso científico. Sua principal questão é o quão ético e correto pode ser uma indústria com a importância da farmacêutica ser regida pelos mesmos princípios e valores que o mercado capitalista. O hábito de gastar centenas de milhões de dólares anualmente para em pagamentos à médicos para que promovam seus medicamentos torna a prática da indústria algo semelhante às práticas da máfia."

Fonte: https://www.hypeness.com.br/2016/08/medicamentos-que-curam-nao-sao-rentaveis-e-portanto-nao-sao-desenvolvidos-diz-nobel-de-medicina/

    Outra referência interessante sobre esse tema tão polêmico é o documentário "DIÁLOGO ABERTO: FINLÂNDIA, que aborda o tratamento da esquizofrenia neste país, onde são obtidos os melhores resultados do mundo. E lá apenas 15% usam antipsicóticos, sendo que metade com o tempo acaba parando devido à melhora. No Brasil os psiquiatras afirmam categoricamente que esses medicamentos terão que ser usado pelo restante de nossas vidas, como podem ver na imagem abaixo:





terça-feira, 22 de outubro de 2019

Não venci o diazepan: a luta continua

   Quem acompanha o blog sabe que desde o ano de 2008 venho tentando me livrar dessa droga de droga chamada diazepan. Neste ano havia acabado de aumentar a dose de 10mg para 20mg, pois já não estava fazendo mais o efeito que inicialmente proporcionava. Mas, após um mês de uso os 20mg também não foram  suficientes para ajudar a conciliar o sono....
   Foi aí que parei e pensei que, naquele ritmo em pouco tempo iria ter que fazer igual o Michael Jackson para conseguir dormir, pedir pro médico me aplicar medicamento de anestesia de cirurgia... 
    Para quem não acompanha o blog e queira entender melhor a situação é  só digitar na caixa de pesquisa a palavra “DIAZEPAN” que irá encontrar as postagens referentes ao tema. E também tem as tags, na parte debaixo do blog, em que relaciono os assuntos. Também é outra forma fácil de se achar as postagens, pois escrevo esse blog desde o ano de 2012 e até o dia de hoje são 389 postagens. Algumas legais e outras nem tanto. 
    Na minha última postagem sobre o assunto diazepan, havia comentando que finalmente estava livre desse vício que estava atrapalhando e muito a minha memória recente. 
    Puro engano. Eu apenas achava que estava livre. E a verdade é que também me fazia bem ao meu ego sair por aí dizendo que havia vencido o vício do pan nosso de cada dia... 

Surtei por causa da abstinência?  
    Estava feliz por ter conseguido parar com a medicação. Os dias e noites foram passando. Aos poucos fui ficando cada vez mais irritado. Às vezes achava legal sentir o coração disparando, por causa de um susto ou emoção boa. Tinha saudades de sentir aquele friozinho na barriga ao passar por uma situação perigosa, por exemplo.  Os ansiolíticos me deixavam sem emoção e é uma sensação terrível se sentir um robô. Além da falta de emoção, o diazepan estava acabando com a  minha memória recente. Não estava conseguindo memorizar números  de celulares, nomes de pessoas e ruas e outras coisas simples que recordava com facilidade. A memória dos fatos ocorridos antes de começar a tomar o diazepan sinto que estão preservadas em minha mente. O esquecimento é  o natural  devido ao passar dos anos.
    E além dessa questão do esquecimento, estudos comprovam que o uso prolongado de calmantes  à base de benzodiazepínicos podem aumentar em mais de 50% a probabilidade de demência precoce e alzheimer.
Fonte: https://veja.abril.com.br/saude/uso-prolongado-de-calmantes-pode-elevar-risco-de-alzheimer/

   Além da irritação, a mania de perseguição também aumentava consideravelmente E acho que  surtei  e fiquei  fora do meu normal por um bom tempo. Pensava que nunca mais iria surtar por pensar que entendia alguma coisa de transtorno mental. E esse é o problema, quando achamos que dominamos algo, ficamos mais relaxados e distraídos. Pensava que iria saber quando estava começando a surtar e que poderia no momento que quisesse tomar algum medicamento forte e dar uma apagada e assim um zerar o stress.
   Mas o problema é que não percebi, pois o surto pode ser um processo lento e bem demorado.  E foi o que aconteceu. Estava feliz por que pensava que havia vencido a dependência física e psicológica do pan nosso de cada dia. Mas   não estava percebendo que a cada dia que passava as paranoias aumentavam... 
    Cheguei a ouvir uma voz bem nítida, dizendo que “iriam me atropelar”. Isto aconteceu quando estava andando de bike. Naquele  momento atribuí a voz à uma menina que estava sentada em um ponto de ônibus, pois a voz parecia ser feminina e ela era a primeira pessoa que tinha avistado. Hoje sei que foi uma alucinação, pois a voz estava num tom nem alto e nem baixo, era em um volume normal. Mas a menina estava distante de mim cerca de uns 40 metros, e a rua era bem barulhenta por causa da intensa movimentação de carros.
    Por estar meio acostumado a pirar, nesse surto não saí pelas ruas e br’s como fazia antigamente. E, de alguma maneira consigo disfarçar as coisas e deixar transparecer que está tudo bem. O disfarce é tão bom que até a gente mesmo pensa que está tudo bem. E esse é o maior perigo.
    Nos surtos não agrido as pessoas fisicamente. Antes fugia dos inimigos imaginários. Hoje também fujo, mas vez ou outra quando estou muito irritado faço coisas que  não são muito legais, como ofender e falar coisas não muito legais também. 
    Uma vez ofendi uma menina na entrada do banco e me arrependo muito disso. Para um paranoico como eu ir ao banco não é uma das melhores tarefas. Fico imaginado que os seguranças do banco estão falando no rádio de comunicação para ficarem me vigiando. Penso que eles pensam que eu sou daqueles que fazem algo no caixa do banco para conseguir acesso à conta de outros clientes. Quando consigo sacar o dinheiro da minha conta, dá até vontade de mostrar as notas para os seguranças. 
   Então foi em um dia desses que xinguei a menina na entrada do banco.  Entrei rapidamente para sair mais rapidamente. Ela ficou parada na porta e a ofendi. Estava há muito tempo sem tomar o diazepan e algumas noites sem dormir . Não estava conseguindo relaxar a musculatura nem quando ia no parque, para ficar sozinho e escutar o som dos pássaros cantando. E não foi somente essa menina que xinguei. Sei que isso não pode ser justificativa para ofender as pessoas, mas não é nada fácil ser um dependente químico de uma droga lícita que te faz esquecer muitas coisas. 
    No futebol no centro de convivência (Cersam) também fiquei sendo o chato da pelada. Quando não tocavam a bola pra mim ficava insuportável. Não sei como o pessoal me aguentou por todo esse tempo.Agora já normal, só fico um pouquinho chato com aqueles caras fominhas que não tocam a bola para ninguém. 
   Mas teve uma pessoa que não me arrependi de ter ofendido. Me arrependi da forma que a ofendi, pois apenas respondi a provocações premeditadas. Digo premeditadas pois a pessoa me provocava com certa frequência e com o celular na mão, para gravar a minha reação e distribuir o vídeo ou o áudio nas redes sociais. 
   Essa pessoa, que tem mais de 60 anos, é diabética e deve ter outros problemas de saúde. E vivia se queixando de que não havia se aposentado e não fazia nenhum esforço para esconder sua revolta em ver uma pessoa com menos idade aposentada (tenho 51 anos). E estou com saúde física relativamente boa, pois procuro me cuidar e praticar esportes. Esse senhor apesar de ter diabetes exagera na cachaça e acaba passando mal. Parece que não sabe que um dos piores inimigos do fígado é o álcool.
   Então, depois de vários meses ouvindo provocações, passei a revidar, pois nem sempre conseguia estar bem para relevar aquela situação. E quando ele me provocava logo de manhã quando havia acabado de acordar é que não conseguia me segurar. Sou um cara calado e que gosta de ficar na minha. Então em algumas vezes revidei a provocação fazendo gestos racistas e falando coisas não muito legais. Não sou racista, mas foi a forma que encontrei de ofendê-lo, pois já havia até conversado com a proprietária para que ele parasse com aquilo. Mas ela não podia fazer nada, afinal era uma criancice daquele senhor, que se divertia ao me ver irritado. No final das contas, ele acabou saindo do imóvel devendo quase dois anos de aluguel, cerca de cinco mil reais. Ficou lá esse tempo todo dizendo que iria pagar quando aposentasse... 
    E segui discutindo com outras pessoas, até fiz a loucura de passar com a camisa do Flamengo no meio da torcida do atlético mineiro na avenida Silviano Brandão. Quem acompanhou o futebol sabe como é a rivalidade entre essas duas equipes. Dois caras queriam me bater depois que gritei: -"Segue o líder!". Mas a maioria levou na brincadeira. Mas que foi uma loucura, isso foi. Muitas pessoas levam a sério demais o futebol, ou melhor, usam o futebol para descontar suas frustrações.
    Nas redes sociais também chegava a ter discussões tolas, mas isso eu parei, até mesmo surtado vi que esse tipo de discussão não leva a lugar nenhum. 
    E continuei nessa situação até o dia em que tive que tomar um anti-inflamatório por que tive uma torção no joelho. O remédio me deu um soninho gostoso e finalmente consegui relaxar a musculatura como há muito tempo não conseguia. E tomei o medicamento por três dias seguidos. Foi o suficiente para voltar ao meu normal e botar os pensamentos em ordem. 
    Mas em compensação o soninho provocado pelo anti-inflamatório me deu um prejuízo danado. Capotei de bicicleta perto da avenida Cristiano Machado, aqui em Belo Horizonte. Estava descendo a rua Jacuí em boa velocidade, não prestando atenção nem no sinal e nem no carro que estava na minha frente. O sinal fechou e como estava sonolento não consegui sair ileso daquela situação. Tive que frear bruscamente e acabei me desviando do carro para não ter que ficar arranhá-lo ou amassá-lo. Fui em direção ao meio fio e capotei, tendo alguns ferimentos. 
   É por esse e outros motivos que não tomo os antipsicóticos e nem ansiolíticos. Tenho que ter disposição para resolver meus problemas do dia a dia. O jeito é ir administrando da melhor maneira possível essa dependência, e não achar que estou livre do diazepan. Tenho que reconhecer que ainda sou um dependente químico, apesar de ser um vício que não pedi para ter, pois na consulta o médico simplesmente preencheu a receita, não me alertando sobre os possíveis riscos de uma dependência física e psicológica.

Lição aprendida?

    Agora, quando sentir que estou ficando com a musculatura tensa irei tomar um comprimido de diazepan. Consigo ficar várias noites sem usar, mas sei que mais dia menos dia o meu corpo irá pedir uma dose desse ansiolítico. Sinto que a dependência no momento é mais físico do que psicológica. No início era mais psicológica do que física, era um SOS na verdade. Naquela época estava trabalhando e os antipsicóticos não me deixavam executar as tarefas de um operador de som que tem que ficar várias noites acordado durante os shows e festas. 
    Acredito que atualmente posso surtar mais pela abstinência do ansiolítico do que pela própria esquizofrenia. Com o tempo ficamos meio que acostumados com certas situações que as paranoias nos proporcionam. Tipo assim: o cara quer me matar? AH, deixa pra lá, se me matar não tenho filho para criar mesmo...   
    Analisando a situação, tenho os mesmos pensamentos e paranoias de que quando surtei. Mas agora tudo isso já não é tanta novidade para assim. O que aprendi sobre a doença tem me ajudado bastante, e vou tentando de uma maneira ou outra ir levando a vida sem maiores prejuízos a mim e aos que me cercam. E sinto que, com a idade, os SINTOMAS POSITIVOS diminuem um pouco, dando lugar aos SINTOMAS NEGATIVOS
    Agora estou mais tranquilo, consigo ir almoçar no restaurante popular de bike sem muito stress, vou pedalando com mais tranquilidade. Ir ao banco continua sendo uma situação de stress, mas dá para ir levando relativamente numa boa. Até o futebol está sendo mais tranquilo e com menos xingação, só a zoação saudável mesmo. O futebol é onde tiro o meu stress, dando aqueles chutões na bola e não descontando nos outros.
         Apesar do retrocesso em ter que tomar novamente o diazepan em alguns dias, estou feliz, pois havia uma época em que não conseguia sair de casa sem uma cartela  de diazepan no bolso. Em 2014 nas minhas andanças cheguei a passear pelas ruas de São Paulo, chegando a morar por 8 meses na capital paulista. No início  foi complicado, quase  surtei quando tentaram roubar o meu notebook,  mas depois me adaptei e acabei gostando da cidade. O  pior da abstinência também acredito que tenha passado, quando diminui a dosagem de 10mg para 5mg e tive dores de cabeça  e palpitação no coração. E em  uma época  fui um hipocondríaco, qualquer alteração no batimento  cardíaco me deixava  desesperado, era um ciclo vicioso: o coração batia de forma esquisita e eu ficava tenso. E  ficando tenso o coração não batia bem. Cheguei a cismar que tinha coração grande, pois havia visto sobre esse problema em alguma revista ou na internet.
       Hoje sou uma pessoa mais reclusa, e é mais por opção mesmo. Não sinto tanta necessidade de me relacionar com as pessoas. Não que elas não prestem, que não valha a pena se relacionar. Sinto que gosto demais de minha companhia e que me sinto um pouco prisioneiro quando tenho que conviver com outros seres humanos. Enfim, é o meu jeito mesmo. 
    Às vezes é preciso retroceder para seguir adiante. Podemos perder uma batalha, mas a guerra contra o vício ainda continua e nunca perdendo a esperança de que um dia irei me livrar dessas drogas de drogas que não pedi para ficar dependente. 

Obs: as letras maiúsculas na cor verde são links que explicam os termos usados na postagem

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Pedalanças: últimos preparativos

 
    Com a ajuda que recebi consegui reformar a bike que ficou toda detonada após a minha primeira pedalança, viajando durante 55 dias pela região sudeste. 
    Agora, com um pouco de experiência irei não somente sair da região sudeste como do país: irei para o Uruguai.
    Ainda faltam alguns itens, como um bom colchão inflável e também um fogareiro.
O colchão que usei na primeira viagem era de espuma, e, com o tempo acabou ficando compactado e muito fino. Quando não conseguia arrumar papelão era uma sofrência danada na hora de dormir e geralmente acordava bem cansado, tendo quase sempre que tirar um cochilo durante o dia para conseguir pedalar cerca de 70km por dia. Esse colchão que pretendo adquirir não é daqueles azuis de supermercado, que custam em média 50 reais. Esses são bem pesados e grossos, difíceis de serem manuseados dentro de uma barraca pequena. O que estou pretendendo comprar é um mais fino e leve, e que custa cerca de 200 reais (foto).
    Outro item que irei levar para esta viagem é um fogareiro que irei montar, pois as coisas nos postos de gasolina geralmente são caras. Teve lugar que nem precisei pagar o cafezinho, mas em alguns lugares chegou a custar 2.50 reais, ou seja, metade de um pacote com meio quilo de café, que para mim dura quase um mês, pois gosto de um café bem forte. Já o pãozinho de queijo tinha lugar que chegava a custar 5 reais. . Emagreci muito nessa primeira viagem, por isso estou querendo fazer o fogareiro, para fazer ovo cozido, que é uma boa fonte de proteínas. 
    Para fazer este fogareiro tenho que comprar um tal de bico de Bunsen, que, no mercado livre custa cerca de 60 reais. Irei fazer um cafezinho e o ovo cozido para o café da manhã, pois são as únicas coisas que sei fazer na cozinha. Ovo frito não sei fazer direito, geralmente ele fica todo estourado e ainda tem a vantagem do ovo cozido ser mais saudável por não usar óleo.
bico de Bunsen, para fazer um fogareiro 

    Também dei um trato no visual da magrela, acho que vou colocar o nome dela de Sandy. Removi a pintura e agora ela está na cor prata. Troquei o pneu traseiro e também fiz um alforje para ser colocado no bagageiro dianteiro. Neste alforje levarei tudo o que preciso usar com mais frequência: câmera fotográfica, caderno e caneta para o diário da viagem, sabonete creme dental e itens de limpeza, além de biscoito, granola e outras coisas para enganar o estômago durante a viagem.
Também irei deixar as ferramentas e o kit para consertar algum eventual pneu furado. Foi um perrengue muito grande usar uma mochila no bagageiro dianteiro nesta primeira viagem. Qualquer coisa que precisava tinha que desamarrar tudo para pegar o que estava precisando. E a mochila era amarrada e com frequência ficava balançando e às vezes soltava. 
    Creio que foram esses os piores perrengues dessa minha primeira viagem, além do que não posso mudar, como as condições climáticas, como chuvas, forte calor, etc... Mas isso faz parte da caminhada. 
   Outro perrengue que não citei era que a água das garrafinhas esquentava rapidamente quando estava fazendo muito calor. Cheguei a pegar 45° C na divisa de Minas Gerais com o Espírito Santo. Vou tentar bolar uma proteção de alumínio para serem fixadas no suporte das garrafinhas na bike. Fiz um teste com latinha de refrigerante e até que demorou um pouquinho para que a água esquentasse. Quando estava fazendo 45°C a água esquentava em menos de dez minutos, e aí tinha que rezar para encontrar algum estabelecimento ou casa o caminho para trocar a água. 

   No mais não tive tantos perrengues, a primeira viagem serviu para pegar experiência. E os percalços fazem parte do caminho, é como na vida mesmo. Estou muito ansioso para fazer esta viagem, acredito que no sul não deva fazer tanto calor como fez aqui na região sudeste no início deste ano. Até que tenho vontade de viajar de bike pelo nordeste, mas não sei se irei aguentar as altas temperaturas. 
    Não tenho certeza se irei até a capital do Uruguai, acho que vou me sentir um estranho no ninho em um outro país com uma língua um pouco diferente, se bem que sei falar um pouco o portunhol. (a verdade é que me sinto o estranho no ninho até no meu bairro shasuahsuas) Entender o que os caras dizem é um pouco difícil, pois os que já vi conversando falam muito rápido. Acho que irei só até a primeira cidade depois da fronteira, só para poder ficar falando por aí que viajei de bike para um outro país. Ainda não fiz a rota, mas pretendo ir o máximo possível pelo litoral. 
    A minha vontade era de sair já no mês passado, estou com saudades de sentir o vento batendo no meu rosto, de pedalar vendo o pôr do sol, conhecer novos lugares. Tenho saudades de poder sair um pouco da rotina e também da aventura. Sempre gostei de andar por aí, quando criança sai por Belo Horizonte sem destino, ficando perdido algumas vezes. Teve uma vez que uma senhora teve que me levar até o ponto de ônibus na praça da liberdade e explicar para o trocador o ponto onde iria descer. Acho que na época tinha uns dez anos, e ainda dava para uma criança ficar andando sem  rumo pela  capital. 
   E tenho saudades também de conhecer novas pessoas, apesar de que sou bastante antissocial. Nesses dois meses da minha primeira viagem conversei mais do que o ano passado inteirinho. As pessoas me paravam e perguntavam de onde eu vinha e para onde ia. Aí começava o bate papo e, como bom mineiro sempre gostei de um dedo de prosa, mesmo tendo uma enorme mania de perseguição que me persegue aonde quer que eu vá. 
    Estou fugindo da loucura da cidade grande, mas nessa fuga é onde acabo me encontrando. 
   Mas não quero passar os perrengues que passei na primeira viagem, vou me equipar melhor e esperar o décimo terceiro salário e comprar o que está faltando. Mas quem puder ajudar pode entrar em contato comigo pelo email abaixo, ou então fazer a doação para a seguinte conta. 
memoriasdeumesquizofrenico555@gmail.com
Julio Cesar dos Santos de Oliveira
   Agência 2332 Ipatinga MG
   Caixa Econômica Federal
   Operação 023
   Conta 00016678-2
    Quem já ajudou não precisa ajudar novamente, não quero sacrifício de ninguém, ainda mais nessa crise que estamos passando. 
    Também podem contribuir adquirindo o meu livro Mente Dividida, em que narro a minha relação com a esquizofrenia. Quem leu gostou muito. Acredito que é um bom livro, apesar de que não me considero um escritor. 
    No mais obrigado à todos por estar sempre me apoiando al longo dos anos