sexta-feira, 21 de julho de 2023

Vou casar com a Margarida!!!

 O meu amor atual



    Hoje (21/07/2023) não foi um bom dia para mim. Acordei por volta das oito horas, escovei meus dentes, tomei quase um litro de água em jejum e esperei exatos 40 minutos navegando na internet para tomar o meu café da manhã. É um hábito que tenho desde a adolescência, para ajudar a manter a boa saúde dos rins e do aparelho digestivo. 
    Ontem desmontei a Margarida (minha bike) para uma pintura eletrostática de algumas peças, a fim de embelezá-la ainda mais. Acho a Margarida linda, apesar do seu esqueleto (o quadro) ter mais de 20 anos. Já tive alguns amores, mas o meu amor atual é a Magá. 
    Já estava me dando uma agonia danada vê-la desmontada na minha frente, pois ela fica no meu quartinho, ou seja, praticamente o dia inteiro comigo. Na hora do almoço a agonia aumentou ainda mais: não iria fazer a minha pedalada diária até o restaurante popular, onde o rango é bom e bem mais barato do que os restaurantes aqui perto de onde moro. 
    Fiquei tão desanimado que não fui a pé para o restaurante, que fica a 3km de distância de onde moro. Não é uma grande distância para quem já foi de Ouro Preto-MG à Paraty -RJ a pé com uma mochila de 13kg nas costas. Fiz esta andança no ano de 2012, percorrendo o caminho velho da estrada real. Abaixo o link com o diário e as fotos desta maravilhosa viagem que tive oportunidade de fazer. Se não dá para ir de avião ou de carro, vou a pé mesmo...
    Mas hoje o desânimo tomou conta de mim. Que saudades da Margarida! O ciclismo se tornou um vício em minha vida e não fico um dia sem pelo menos pedalar 6 km. Para compensar me empanturrei de doces e besteiras na hora do almoço. Uma inquietação danada tomou conta do meu ser. Estou tão agoniado que nem os filmes baixados na internet estavam me agradando. Enfim, nada está sendo legal sem a Margarida, parece que está faltando algo em mim. Até o sono parece que não está querendo vir, e justamente por isso resolvi escrever estas linhas... 
    Conheci a Margarida no no de 2018 em um site de vendas de produtos usados. Ela estava jogada no quintal do seu dono, tomando chuva e exposta ao relento. Foi paixão a primeira vista e a levei para casa, na minha antiga bike, que era um pouco mais pesada por ser de ferro. 
    Fiz o transplante das peças da bike de ferro para a Margarida e, com o passar dos anos fui colocando peças melhores e ela ficou bem agradável de se pedalar. Não é uma bike top, mas me atende muito bem e não tenho do que reclamar. 
    
Minha primeira viagem com a Margarida


    No ano de 2019 fizemos uma longa viagem pela região sudeste, onde percorremos cerca de 3050km. Conheci lugares lindos e algumas pessoas bacanas, já que  socializar não é o meu forte. Mas pedalar solitariamente nas Brs dá uma sensação que é difícil de descrever. Só quem faz cicloviagens sabe do que estou falando. Fui até São Mateus no Espírito Santo. Quase subi para a Bahia, mas o calor estava muito forte por aquelas bandas. Os 37Cº daquela região estavam mais fortes do que os 45Cº que encontrei em algumas cidades do interior de Minas Gerais. Deve ser a tal da sensação térmica... 
    Então desci o litoral do Espírito Santo até a divisa com o Rio de Janeiro. E depois saí pedalando pelo interior do Espírito Santo e Minas Gerais. Foram dois meses incríveis e que tenho muitas saudades. 
Desta vez registrei tudo em vídeo também. 
    Gostava de fazer este tipo de viagem a pé, curtindo a natureza pelas estradas de terra da estrada real. Mas em 2014 quebrei o dedão do meu pé esquerdo e as coisas ficaram complicadas com essa nova condição. Caminhar estava sendo um martírio, coisa que antes era um prazer, um vício benéfico que não sei de quem havia herdado.
    Os primeiros anos foram muito difíceis, tentando algum atendimento pelo SUS, mas em vão. Aos poucos os ossos quebrados foram se calcificando. Comecei também  a fazer fisioterapia para fortalecer alguns músculos para compensar o fato de não poder usar o pé esquerdo por completo na hora de andar. 
     Após várias tentativas consegui achar um bom tênis que amortecia um pouco o impacto no dedão e comecei a tomar também cloreto de magnésio, que é um ótimo mineral para os ossos e articulações, que, na verdade são ossos, só que mais macios e moles. 
     Comecei a voltar a praticar esportes e até a jogar futebol Mas o ciclismo se tornou a minha atividade física predileta. Agora todo dia é dia de pedalança!
      Mas, durante uma semana não irei pedalar até a pintura eletrostática estar pronta na Magá. Um dia sem ela me deixou um pouco irritado, não gosto muito de fazer caminhadas a pé, por causa do dedão quebrado. 
       Também é uma terapia muito saudável cuidar da bike, fazer a manutenção tanto preventiva como a corretiva. Ocupar o cérebro e a mente com coisas saudáveis é uma das melhores coisas que as pessoas com transtornos mentais pode fazer. Meu lema é: "Mais terapias e menos remédios!" Saúde não é tomar medicamentos e sim medidas e hábitos que evitem a necessidade de visitas aos médicos. 
Medicamento é o principal agente tóxico que causa intoxicação em seres humanos no Brasil

    Não sabia que gostava tanto assim da Margarida e que ela me fazia tanta falta! Acho que irei telefonar para os pintores e implorar que pintem o mais rápido possível a minha bike, pois não sei se irei aguentar tantos dias sem sair por aí com a Magá. Ela representa para mim a liberdade, é tão bom ficar pensando em onde ir, onde passear, só pelo simples prazer de pedalar e sentir o ventinho no rosto. 
     Já me ofereceram dinheiro mas não a vendo de jeito nenhum. Ela tem um valor sentimental tão grande que acho que ela é como se fosse um ser humano..

Será que posso me casar com a Magá?



    Hoje em dia o mundo está tão maluco e tem pessoas casando com si mesmas, casando com bonecas infláveis, casando com estação de trem e até com pedaço de pizza! (no meu caso acho que esse último casamento não iria durar nem um dia, pois o meu par iria parar no meu estômago). Veja abaixo alguns casamentos muito estranhos. 
    Por que não posso casar com a Magá? Ela não fala nada, não reclama de nada, não reclama que fico calado o tempo todo... E também não me acha um cara esquisito... 
    Não sou contra a união de humano com humanos, mas o meu peculiar jeito de ser fez com que meus relacionamentos não durassem mais do que três encontros. A maioria das vezes eu terminei ou simplesmente parei de entrar em contato com elas. Outras vezes elas terminavam, pois acabam se cansando de ficar ao lado. Quando saímos íamos ao cinema, ríamos das comédias e ficamos em silêncio. Fico feliz no meu cantinho e convivo bem com meus pensamentos. Gosto da minha companhia. 
    As perguntas que minhas namoradas mais faziam eram:
    - Por que você é tão calado?
    - Por que você é tão esquisito?
    -Você tem um segredo?
    -Por que você é tão misterioso?
    -Minha companhia não está lhe agradando?
     E o que elas mais me pediam não era um beijo ou um presente, era sempre a mesma coisa:
     -Fala alguma coisa.
     E eu respondia:
    -Alguma coisa!
    Nunca pensei em me casar, como iria de repente falar com minha companheira que iria sair por aí algum tempo com uma mochila e uma barraca nas costas? 
   Como explicar que gosto do som do silêncio? 
                                              esta mulher se casou com um pedaço de pizza

    Acho que semana que vem irei ao cartório para ver se consigo oficializar esta longa e linda relação que tenho com a Margarida. Ela faz bem ao meu coração (tanto no sentido figurado como no literal), faz bem á minha saúde mental, combatendo o stress, a depressão e a ansiedade. Hoje terei que tomar um diazepan, pois o ciclismo foi e está sendo fundamental para que eu consiga ficar longe dessa droga de droga que é uma das mais viciantes que existe. 
    Ela me faz tão bem e eu cuido dela. Não é uma boa relação?
A seguir cenas dos próximos capítulos... 

sexta-feira, 30 de junho de 2023

Sou um gato? Por que ainda estou neste plano?

 


Domingo 25 de junho de 2023

    Meu domingo até alguns meses atrás era o dia da comilança, onde tudo era permitido. Geralmente me empanturrava de rocamboles, pasteis de queijo, pão de queijo e doce de leite. Durante a semana não me controlava também, apenas me empanturrava menos. 
Mas, em um belo domingo de sol resolvi mudar essa calórica rotina: peguei a Margarida (minha bike) e pedalei até o centro da cidade, para  almoçar como a maioria dos seres humanos normais fazem. 
Escolhi um self servisse, pois sempre acho que se for prato feito alguém do restaurante poderá ter colocado algo na minha comida no trajeto do fogão até a minha mesa. 
O visual do restaurante era bom, com muitas variedades. E saía mais barato do que a minha comilança desenfreada de rocamboles dominicais. 
Desci da bike, coloquei meu capacete e as luvas na mesa e me servi. O prato ficou pesado, mas não ficou aquela montanha igual certas pessoas fazem (meme da indireta). 
Feijão tropeiro, frango, macarronada, salpicão e manga e mamão para acompanhar. De sobremesa um cafezinho com pedaços de rapadura, coisa que aprecio como todo bom mineiro. É uma delícia adoçar o cafezinho com açúcar mascavo, experimenta proce vê. 
Voltei para casa empanturrado, mas não fiquei enjoado como ficava quando comia os rocamboles. 
E essa passou a ser a rotina do meus domingos, caçar um self service para comer até estufar  a barriga. Uma vez pedalei uns 40km para almoçar e a  volta foi meio complicada.
Mas, no último domingo a rotina não se cumpriu. Saí de casa com a minha bike, pedalando numa velocidade maior do que a de costume, pois quase não há movimentação de pedestres e outros veículos. 
Para falar a verdade, faço bicicros nesses dias, usando os buracos, meios fio e outras coisas como obstáculo. 
E tinha uma descida que era uma delícia descer. Logo após vinha uma subida para uma passarela para atravessar a avenida dos Andradas, que dá bem no centro do centro da cidade. 
Só que, na transição da descida para a subida algo inesperado aconteceu: levei um tombaço e sai capotando até o início da passarela. Não entendi nada, pois há 3 anos fazia esse mesmo percurso. Meu corpo ficou todo dolorido. Olhei ao redor e vi o meu capacete totalmente destruído. A Margarida parecia estar bem, só havia quebrado o guidão, razão pela qual levei o tombaço.
Fiquei parado tentar achar os pontos mais doloridos do meu corpo: o queixo, a cabeça, o pé direito, e principalmente o braço direito. Estava formigando e não conseguia movimentá-lo normalmente. E tinha sangue pela minha camisa. Fiquei com medo de me movimentar pois também sentia dores nas costas, principalmente na nuca. 
Então liguei para o SAMU, que ao constatar que eu estava consciente ao falar a minha idade, me aconselhou a procurar uma UPA. Na verdade não tinha condições de me deslocar tão longe. 
Um ciclista parou e me ofereceu ajuda, mas disse que estava tudo bem. Aos poucos fui sentindo que poderia me levantar, somente o formigamento do braço direito me preocupava um pouco. 
Resolvi voltar para casa e ao ver o local do acidente de longe vi que escapei por pouco de um acidente mais grave, ou até mesmo o pior, pois estava em uma velocidade altíssima por causa da descida. E como o guidão quebrou, acabei batendo o meu corpo contra o muro de cimento e fui jogado para o início da passarela. Pelo estado do meu capacete eu não iria resistir se não estivesse usando esse item importantíssimo de segurança que todo ciclista deveria usar. 


Quantas vidas tenho? 


    Com muita dificuldade consegui chegar em casa. Antes havia comprado um anti-inflamatório na farmácia que havia pelo caminho. 
Depois de um acidente grave a gente tem um sentimento estranho de livramento, começa a dar valor a pequenas coisas, a sentir-se grato por estar vivo e com saúde. Ficamos com vergonha das coisas que desejamos, enquanto tem tanta gente passando por problemas mais sérios. Mas depois que as dores somem tudo volta também. 
Então pus-me a refletir por quantas vezes havia escapado da morte nessa minha vida 

1ª vez

    Na primeira vez acho que tinha uns 7 anos. Me baseio nesta idade pois me lembro que não havia ainda escolhido o  meu time de coração e não ficava enchendo o saco dos atleticanos da minha rua quando meu time ganhava. Obs; não torço para o cruzeiro, torço para um time de outro estado. Acho que sou da turma do só para contrariar, acho que se tivesse nascido no estado do meu time de coração iria torcer para um time de Minas Gerais ou São Paulo. 
Mas, voltando ao tema da postagem, me lembro bem que também era um domingo de sol. Minha família tinha o costume de curtir cachoeiras nos finais de semana na região metropolitana de Belo Horizonte. Íamos na Brasília azul de minha madrinha cachaceira. 
A cachoeira estava lotada, mas, não sei por qual razão, circunstância ou motivo resolvi me afastar e ir em direção onde não havia ninguém Meu olhar estava fixo para a frente e seguia como se estivesse hipnotizado. De repente. tchun!. Afundei-me na parte mais funda. Veio aquele desespero e fiquei tentando subir, mas as pedras eram muito escorregadias. A água era transparente e então alguém que havia me seguido me puxou para a parte rasa. Se não fosse esta pessoa não estaria aqui para contar mais esta história. 
Também em um outro domingo, por volta dos nove anos, estava pedalando com a minha caloizinha e descendo um morro na maior velocidade, quando, de repente, o cabo do único freio se rompeu. O jeito foi seguir e, não sei como, tive a calma para atravessar a movimentadíssima avenida Francisco Sales, no bairro Prado, aqui em Belo Horizonte. Por sorte, como já relatei, era um domingo e o movimento de carros era pouco e consegui atravessar a avenida sem ser atropelado por um carro, mas bati de frente de um meio fio e levei um capote. Mas sai ileso dessa também. 
Passei por outros perigos quando pequeno pois saia de casa sozinho e andava por aí sem parar, e às vezes ficava perdido  uma vez ou outra quase era atropelado por um carro. 


1992 Carnaval em Salvador

    No ano de 1992, sem mais nem menos, deu vontade de ir para Salvador. Estava trabalhando no interior de Minas Gerais. Ganhava bem, três salários, livre de despesas. Mas eu tinha dessas coisas, me entediava fácil e não conseguia ficar muito tempo em um emprego.
    Era véspera de carnaval e imaginava que poderia arrumar algum trabalho assim que chegasse à capital baiana. 
    A viagem foi tranquila, a não ser quando o ônibus teve uma leve colisão com um outro veículo e aí tivemos que esperar outro ônibus para fazer a baldeação e seguirmos viagem, que demorou quase que exatamente 24 horas. 
    Na rodoviária peguei um táxi que deu um monte de voltas até chegar à um hotel barato, pois não estava com muita grana (nunca fui de juntar dinheiro)
    Então, no dia seguinte comprei um monte de fichas e comecei a ligar do orelhão para as firmas de sonorização que havia encontrado nas páginas amarelas da lista telefônica. E, para o meu desespero todos respondiam que, por ser véspera de carnaval, as equipes já estavam prontas e que já haviam contratado as pessoas que teriam que contratar. 
    E segui então no hotel, e aproveitei para conhecer a capital baiana. No primeiro dia fui na praia e um senhor começou a conversar comigo e almoçamos juntos em um shopping. Quando fui no banheiro ele também foi e ficou me olhando. Depois do almoço continuamos conversando e ele me cantou. Não o recriminei mas resolvi parar a conversa por ali. . Continuei na praia e logo depois apareceu um cara me oferecendo um negócio que segundo ele, era muito rentável: eu entraria com a grana e ele compraria e revenderia as drogas. Na época usava um tênis rebook, que era o que estava na moda Tinha camisas e bermudas boas. Acho que estava parecendo um turista. 
    Mas, claro que recusei o negócio das drogas, apesar da grana estar acabando. Mesmo assim, ia aos cinemas, comia acarajé e outros quitutes da culinária baiana. 
Mas, quando o dinheiro acabou tive que sair do hotel com a mochila. Fui em uma farmácia e pedi cartelas de um ansiolítico para dormir. Minha intenção era tomar várias cartelas e assim ir ter o sono eterno. Mas esses medicamentos são somente vendidos com receita. 
    Então decidi dormir em uma praça. Uma evangélica pregava eloquentemente para ninguém. Todos que ali passavam nem sequer paravam para escutar o que ela dizia. No início eu achei que ela era meio louca No final da pregação ela veio até a mim e começamos a conversar. 
Contei-lhe a minha situação, e, para a minha surpresa ela me convidou para ir para a sua casa. Obviamente que não recusei, pois provavelmente iria ser assaltado ali no centro de Salvador durante a madrugada. 
    E fiquei na casa da Laura (esse era o seu nome verdadeiro) por um mês. Ela tinha um filho de uns 12 anos e também tinha um cachorro. Era uma casa simples, perto de uma comunidade. 
    Certa noite resolvi dar umas voltas para tomar um sorvete. Ela me disse para não passar pela comunidade, pois poderia ser perigoso. Eu não queria dar a volta e passei por aquele becos estreitos e escuros. No final da descida, já quase na avenida, um cara me chamou, ao longe:
-Ei você!
-Eu?- Respondi
-Sim, chegai aí- disse o cara.
    Assim que me aproximei, ele já foi sacando a arma e me pedindo o dinheiro. Comecei a falar para ele que não era rico, que se assaltasse um cara rico faria menos mal. Mas não adiantou, o cara foi logo empurrando a arma contra a minha barriga. A verdade é que na época eu tinha cara de riquinho e usava algumas roupas bacanas. Logo chegaram uns 4 garotos. Um que tinha uma faca me pediu a camisa. Fui logo passando pois senti que os caras não estavam para brincadeira. Outro garoto me pediu o meu rebook, o tênis da época. Tentei fazer uma resistência, mas o menino da faca encostou na minha barriga e não tive outra alternativa a não ser dar o meu tênis que havia comprado com muito suor. O garoto, ao cheirá-lo,  não fez uma cara muito boa. Bem feito! (pensei)
Olhei para o lado para ver se aparecia alguém para ajudar, mas a única pessoa que vi foi uma estática mulher que observava tudo encostada no muro da varanda de sua casa. Aquilo para ela deveria ser rotina
Acho que não iria aparecer nenhum policial para me salvar e também o meu rebook e logo outro garoto me pediu a camisa, que entreguei sem a menor resistência. 
    Cheguei a pensar que também iriam pegar a minha calça jeans, mas resolveram me liberar. 
    Então subi as ladeiras da comunidade quando um rapaz franzino me perguntou o que havia acontecido. Voltamos para o local do assalto e, para minha surpresa, fez todo mundo me entregar os meus pertences, inclusive o cara do revólver, que era bem mais forte que ele. 
    Também em Salvador passei outro perrengue, desta vez foi por pouco que não fui dessa para outra. 
    Também era domingo, eu e a Laura estávamos voltando da missa. A igreja não era muito grande, mas tinha um monte de caixas de som. Evangélico ou não, baiano gosta de som.
    Na volta tivemos que passar no meio de uma festa, onde um trio elétrico estava tocando. De repente levei um chute no traseiro e começou o corre corre. Um cara sacou uma arma e a apontou para a minha direção. Fiquei parado sem reação, sem entender nada, pois na época era um cara super caladão que não mexia com ninguém. E também não conhecia ninguém naquele lugar para ser tratado daquela forma. 
    De repente a Laura gritou e um amigo do cara pegou no braço dele para que não atirasse em mim. Não sei como mantive a calma e então voltamos para casa. Alguns caras me pediram desculpas. 


Durante os surtos



    Durante os surtos tentei o auto extermínio duas vezes. Era mais fácil tirar a minha própria vida do que tirar a vida dos que eu estava imaginando que estavam querendo tirar a minha vida. 
    E as vozes foram muita intensas. Cheguei a tomar uma caixa de veneno de rato depois de atravessar um brejo no meio da br. Nada me aconteceu. Não entendi nada e comecei a pensar que já havia morrido e por isso não tinha morrido  ao tomar o veneno. 
    A outra tentativa foi de cortar os pulsos. Acho que não consegui cortar uma artéria. 
    Por pouco também vim á óbito por falta de alimentação durante os surtos. A minha única preocupação era fugir dos inimigos imaginários que estavam em minha mente. Mas que, para mim, naquela época estavam em todos os lugares, menos em minha cabeça. Tanto que me refugiei no meio do mato e fiquei lá alguns dias. Não sei quantos dias fiquei sem me alimentar, sentia muita sede e então bebia muita água. Só sei que perdi cerca de 25 quilos durante esse surto em que entrei no mato. Certo dia, quando estava perambulando pela Br, senti tontura e uma forte dor no coração. Senti também um princípio de desmaio, mas não sei se por sorte ou ajuda divina, logo em frente havia uma árvore que dava uma generosa sombra e também saía uma água minada de uma pedra, que me ajudou a me reestabelecer. 

O primeiro acidente de bike

Tive um outro acidente sério de bike além do que o que narrei no início desta postagem. Estava indo almoçar e descendo uma rua na maior velocidade e ouvindo heavy metal na maior altura nos meus fones de ouvido especiais que eu mesmo construí para abafar o som externo e aumentar ainda mais a potência do som que vinha do celular. O fone de ouvido é uma forma que tenho de burlar as vozes, que já não me incomodam tanto. Acho que a música também não me faz pensar tanto quando estou nas ruas. Enfim, viajo nas músicas  e vou para um mundo mais tranquilo. 
Mas essa imprudência misturada com distração me custou caro. Bati de frente com uma moto e acho que voei uns cinco metros até cair no chão. Não me lembro dessa parte do acidente, só me lembro do momento da batida e de quando me levantei, meio zonzo. Detonei o dedão do pé direito e fiquei todo ralado. O capacete também ficou bastante danificado. Se não fosse novamente essa proteção poderia ter sérios problemas. 
A princesa Diana também morreu em um acidente, numa tentativa de fugir de algo. Mas era algo real, os paparazzi, que não a deixavam em paz. No meu caso, às vezes ando com pressa ou pedalo com mais força, em uma vã tentativa de fugir de minhas paranoias, principalmente a mania de perseguição, que irá me perseguir aonde quer que eu vá. 

Azar ou sorte?
Mas, apesar de tudo, estou vivo e com saúde. Há alguns dias uma menina morreu engasgada com sementes de mexerica. 
Será que tenho sorte ou é Deus protegendo este cabeçudo da cabeça dura? Não sei, não sei como essas coisas funcionam. Se fosse Deus, não seria melhor nem ter passado por essas situações?

domingo, 30 de abril de 2023

Nise - O coração da loucura download

 Como baixar o filme Nise - O coração da loucura


Filme: Nise -  O coração da loucura 
Diretor: Roberto Berliner
Ano de produção 2015
Ano de estreia      2016
Gênero: biografia drama história
Link para download na CDE (Central de Downloads do Esquizo)

Breve resumo da pioneira do tratamento humanizado na psiquiatria brasileira

    Nise da Silveira nasceu no ano de 1905 em Maceió, estado de Alagoas. Formou-se em medicina no estado da Bahia no ano de 1926. 
    No ano seguinte muda-se para a cidade do Rio de Janeiro, juntamente com o seu marido. Foi presa na década de 1930 por questões de ideologias políticas, o qual não irei detalhar pois não é a finalidade do blog e nem da postagem. Sou uma pessoa "apolítica", votei apenas uma vez em minha vida, aos 18 anos
Ela permaneceu presa por um ano quando conseguiu escapar da prisão, mas sua carreira na medicina só foi retomada no ano de 1944 quando a anistia passou a ser concedida as pessoas que haviam sofrido algum tipo de perseguição política. 
    Em 1946 fundou Seção de Terapêutica Ocupacional no antigo Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, que hoje leva seu nome. Desde o início de seu trabalho foi totalmente contra os agressivos e desumanos meios de tratamento utilizados na época no tratamento dos transtornos mentais, principalmente a esquizofrenia. Eletrochoque, encarceramento, lobotomia, etc..
    Encontrou inúmeras dificuldades em sua tentativa de humanizar o tratamento dos considerados loucos no Brasil naquele época. A psiquiatria ainda era um ambiente dominado por homens e que não aceitaram ideias inovadoras de uma mulher. Para eles era mais fácil controlar, sedar e encarcerar os pacientes. Mas, com muito respeito e amor aos seus pacientes aos poucos Nise foi ganhando a confiança e o respeito dos funcionários do Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro.
       Além da pintura e modelagem, Nise também usava cães e gatos como coadjuvantes no tratamento, afirmando que eles eram coterapeutas importantíssimos. Costumava chamar os internos não de pacientes e sim de clientes. E além de tudo, ouvia-os com muita atenção e paciência. Enfim, gostava do que fazia. 

Quase recebeu uma justa homenagem 

     Em 2017, a deputada federal Jandira Feghali propôs a inclusão do nome de Nise da Silveira no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. A proposta da deputada era uma forma de reconhecimento do papel pioneiro da psiquiatra na difusão de tratamentos mais humanizados em nosso país contra transtornos mentais.
    O projeto de lei proposto por Feghali foi aprovado no plenário do Senado em abril de 2022, mas foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro em maio do mesmo ano. A presidência argumentou alegando que a proposta está em “contrariedade com o interesse público”."

                                                        Minha opinião sobre o filme
     Nise O coração da loucura tem como ponto principal, obviamente, a história da pioneira da humanização do tratamento dos transtornos mentais no Brasil. Uma história comovente, de luta e muita coragem em uma época em que a psiquiatra era dominada por homens naquela época. É um filme dramático, tenso e emocionante. 
    Mas o que mais me impressionou foi a excelente atuação dos atores. Como portador de esquizofrenia e amante de filmes sei quando um ator está representando bem um papel de uma pessoa com transtorno mental. Todos foram bem, seria injustiça citar algum nome em especifico. Em relação a personagem principal, não precisa de comentários, Glória Pires, como sempre espetacular em suas interpretações. 
Então vale a pena baixar e assistir esse belíssimo filme. 


quinta-feira, 6 de abril de 2023

Paranoias diárias do dia a dia 10- E a folha, virou?



    Há alguns meses atrás estava navegando nas redes sociais (como sempre) e me deparei com uma sugestão para entrar em um grupo relacionado ao INSS.
    Não sei por qual motivo, razão ou circunstância resolvi aceitar a sugestão.  Sou aposentado e não tenho muito o que perguntar. As publicações geralmente são de pessoas com alguma dúvida sobre os mais variados benefícios que o nosso país oferece à população. 
    Depois de alguns dias me deparei com várias postagens de pessoa aflitas afirmando que “a folha não havia virado”. Inicialmente não fiquei preocupado, pois não tinha a mínima ideia do que isso  significava. 
    Passou-se um mês e por volta do dia 15 novamente as postagens aflitas sobre o viramento ou não da tal folha. Fiquei curioso e resolvi pesquisar. Em pouco tempo descobri que a folha virar significa que o aplicativo ou o site do Meu INSS está mostrando a data do próximo pagamento. Ou seja, é o extrato do pagamento do benefício. 
    Resolvi então abrir o site e, para o meu desespero, a data do meu próximo pagamento ainda não estava constando. Ou seja, a folha ainda não havia virado para mim!
   Fiquei sem respiração, pensamento a mil, imaginando quatrocentos milhões de coisas: alguém hackeou a minha conta no site do INSS? Ou o INSS cortou o meu benefício sem ao menos me avisar? 
Comecei a imaginar o que iria fazer: Virar um “pedarilho” e sair viajando de bike pelo Brasil? Trabalhar? Mas quem iria arrumar trabalho para um esquizofrênico com 54 anos de idade? E fiquei sem pensar em outra coisa durante o final de semana todo, abrindo o site e recarregando a página por várias vezes seguidas. 
   A canseira das dúvidas quando estava no auxílio doença voltaram. Será que vou ter que ir na agência para saber o que está acontecendo? Será que irão cortar o meu benefício? Ou será que é o sistema que está com problemas? Afinal tudo é culpa do sistema depois que inventaram a internet. 

A paranoia em relação ao pagamento do benefício é coletiva

   Na segunda feira logo de manhã voltei a abrir o site e nada. Fazia alguma coisinha (ou cochilava mesmo) e depois voltava novamente para o notebook para ver se a tal folha havia virado. Hora do almoço e nada!
    Fui para o restaurante popular com a cabeça no site. Fiquei imaginando a aflição dos aposentados que têm família para cuidar, pois no grupo a “pergunta mais perguntada é se a folha virou ou não”. 
    Depois do almoço fiquei recarregando a página seguidamente até que finalmente a data do próximo pagamento estava visível. Deitei em minha cama e pude finalmente relaxar e descansar. Quanto stress e quanta loucura por uma informação que sabemos que irá aparecer. Mas paranoia é paranoia. Infelizmente em nosso país acontece cada coisa com os pobres que qualquer um fica paranoico quando o assunto é pagamento de aposentadoria. Quem não é acaba ficando, e quem já é fica mais paranoico ainda. 
   E assim todo mês, por volta do dia 15, a mesma agonia. Na timeline várias postagens de pessoas desesperadas perguntando se a folha havia virado ou não. Estava seguindo o grupo e não tinha como evitar. Aliás, não queria evitar, estava paranoico e pensava que, se a folha não virasse, o mundo iria acabar. 
    Fiquei um bom tempo nessa loucura que me detonava mental e fisicamente. A ansiedade é diferente do medo, pois o medo é algo que sentimos quando estávamos em uma situação real de perigo. Já a ansiedade é o medo de algo que achamos que poderá acontecer, mesmo não tendo uma razão plausível para isso. 
   Depois de quase um ano, resolvi parar de seguir o grupo, pois ficava sempre o final de semana todo depois do dia 15 entrando no site e recarregando a página até o pagamento do próximo mês constar na lista. Vi que aquilo estava me fazendo muito mal e resolvi parar de seguir e deixar a vida me levar. 
Uma paranoia a mais outra a menos... 
    Mas, não sei como, uma publicação com a maledita indagação apareceu na minha linha do tempo. E esses meses iniciais do novo governo tem sido de muitas dúvidas e mudanças, o que me fez novamente ficar um pouco receoso. 
    O jeito foi acessar o grupo e, para meu espanto, o número de perguntas sobre a folha estava bem maior do que de costume. Afinal era o dia 23 e nada da folha virar para muita gente. Normalmente a data do pagamento aparece entre os dias 15 e 18 de cada mês. 
    E lá eu estava novamente de novo entrando no site sem parar e recarregando a página, mas sem sucesso. Também fiquei acessando o grupo para ver se a folha havia virado para alguém e assim me desse um fio de esperança. Foram cinco dias de aflição até a folha virar para mim!
    E que alívio! Alegria de pobre geralmente é o alívio de algum perrengue. Mais uma paranoia para a minha cabeça aturar. Mas atualmente estou mais tranquilo e sabendo levar essas situações, acho que um pouco por causa da maturidade. 





terça-feira, 21 de março de 2023

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    Tudo começou no ano de 2012. Há dois anos atrás havia me aposentado por conta da  minha condição de portador de esquizofrenia paranoide. 
    No início tudo foi uma maravilha, ou melhor dizendo, um tremendo alívio, para tentar melhor definir o que senti quando recebi a carta do INSS.  Os tratamentos que tentei não deram certo, me fazendo passar por situações complicadas no meu emprego. Então fui parar nas ruas por não estar conseguindo mais trabalhar, mas, felizmente apareceram boas pessoas em meu caminho e que me auxiliaram muito. Se hoje estou aqui para contar estas histórias que escrevo aqui neste humilde blog é por conta dessas pessoas enviadas por Deus que apareceram na hora e nos lugares exatos. 
    Foi um alívio pois me sinto bem no meu cantinho, algo que não estava acontecendo por conta do trabalho. Saí de casa aos 17 anos e sempre morei sozinho, pois sempre precisei de um tempo comigo mesmo. Sozinho é onde vivo o meu mundo, onde respiro melhor e consigo relaxar e ficar diboa. Não digo isto em tom de amargura, numa tentativa de afirmar que o mundo e as pessoas não prestam. É apenas o meu jeito de ser, apesar de que o mundo está atualmente infestado de pessoas ruins, principalmente vestidas de cordeiro.
    Mas, dois anos após a aposentadoria o tédio se instalou na minha mente.. Minha vida basicamente se resumia em ir ao restaurante popular de Ipatinga-MG e umas duas vezes por semana ir ao centro de convivência de portadores de sofrimento mental. E também jogava um futebolzinho no parque Ipanema, um dos cartões postais da cidade. Me lembro que na primeira vez que disse alguma coisa na pelada e o pessoal riu muito, pois a maioria pensava que eu era mudo. Mas eles me respeitavam do jeito que eu era e o futebol sempre foi um bom remédio natural contra o stress, talvez provocado por uma esquizofrenia ainda latente em minha vida. 
                                                    Música: Tédio Artista: Biquini Cavadão

     Então resolvi comprar um computador em suaves prestações nas Casas Bahia. Era um CCE que saiu bem caro, daria para montar um bom PC em uma dessas lojas de informática. Mas na época não entendia nada de computadores, apenas achei o PC da CCE bunitinho e então resolvi adquirí-lo.  Até os 42 anos de idade não havia encostado um dedo em um teclado de computador. Na verdade tinha medo de teclar, pensava que uma única tecla poderia desconfigurar o equipamento todo. Me lembro que ficava admirado vendo as pessoas digitando sem olhar para o teclado em uma velocidade incrível. Pensava que elas haviam feito algum pacto com o tinhoso para fazer tal proeza. 
    Então, para também fazer um teste comigo mesmo, resolvi fazer um cursinho de informática. Era um teste muito importante,  pois na época tinha muitas dúvidas sobre a esquizofrenia. E a de que o transtorno poderia atrapalhar a capacidade de aprender coisas novas era uma delas. 
    Me lembro que, por volta dos 25 anos havia pensado em aprender a usar o computador. Mas logo desisti, por que naquela época as salas geralmente disponibilizavam um computador para duas pessoas. E depois dos vinte anos  já era um pouco, ou melhor, bastante antissocial. Atualmente sou ultra antissocial. 
    Algumas coisas negativas que acontecem em nossas vidas servem para se tirar boas lições. Depois dos surtos passei a acreditar mais em mim e não dar tanta atenção a opinião alheia. 
   Então, apesar do receio resolvi me inscrever no cursinho de informática de uma deputada na cidade. O diploma era bem reconhecido e então havia muitas pessoas na sala, a maioria jovens de no máximo 23 anos. Pensava que iria passar vergonha, não aprendendo nada e tirando notas ruins. Mas, como disse, depois dos surtos vi que posso tentar algumas coisas, as palavras não me afetam como antigamente. 
    Para a minha própria surpresa me sai bem tanto no curso de digitação como no de informática. Também no curso de digitação entrava às oito horas da manhã e só saía por volta das quatro horas da tarde, com um intervalo de duas horas para o almoço. . Me lembro que de noite ficava até enxergando estrelinhas de tão estressado que ficava. 
    No curso de informática também me saí muito bem, com ótimas notas. Respondia com convicção as perguntas feitas pela  professora e isso impressionou à todos os alunos. A verdade é que nem eu tinha certeza se as respostas estavam corretas, mas respondia com tanta convicção que até a professora ficava impressionada, olhando para o alto e perguntando se o que eu havia respondido tinha algum sentido. 
    Parei de frequentar o cursinho já no finalzinho, não tinha intenção de ganhar um diploma e sim sanar a dúvida que estava me atormentando. A esquizofrenia não havia afetado muito a minha capacidade de aprender coisas novas! Resolvi não terminar o cursinho pois não estava com a mínima vontade de ir à festa de formatura, que seria em um dos salões mais bonitos da cidade e teria muito som alto e muita gente falando sem parar. 
     Fiquei vários meses só com o PC, pois tinha que pagar as prestações e não sobrava grana para contratar um plano de internet. Ficava o dia inteirinho lendo o livro de informática do cursinho e mexendo no word escrevendo algumas coisas e no paint tentando ser um artista moderno. 
    Depois dos dozes meses de carnê consegui contratar uma internet com a incrível velocidade de 120KBPS!
Em um PC sem internet não há muito o que se fazer...

    Umas das primeiras coisas que fiz foi abrir a minha conta no Orkut e entrar para as comunidades sobre esquizofrenia e outros transtornos mentais. E também comecei a pesquisar mais sobre o transtorno, pois nas consultas nem os psicólogos e nem os psiquiatras pareciam dispostos a falar sobre o assunto. 
    Nessas comunidades pude perceber que não era a única pessoa do mundo a ter os sintomas da esquizofrenia. Isso foi de uma ajuda gigantesca para o começo de minha melhora,  pois acreditava o que eu tinha era puramente espiritual. 
    Então, com o conhecimento que fui adquirindo resolvi começar a gravar vídeos no youtube. Mas logo percebi que falar não é o meu forte, e então  resolvi fazer um blog, que foi muito bem aceito por várias pessoas. Desde criança sempre fui muito curioso, e a leitura era uma das principais atividades que tinha. Lia tudo o que aparecia na minha frente, e acredito que isso tenha ajudado um pouco a escrever textos. 


o blog também é lido em outros países, inclusive na Europa. 
    Escrever é uma excelente terapia para o meu caso. Me lembro que sempre tinha um caderno e uma caneta, para escrever coisas do meu dia a dia. Não era um diário, era apenas lembranças boas e interessantes que eu anotava para um dia me lembrar. E também usava o caderno meio como um psicólogo, botando para fora alguns sentimentos e pensamentos. No meu caso era uma terapia que funcionava bem, pois na época acreditava que psicólogo era coisa de “maluco”. 
    Acessar o blog e ler os comentários positivos me faziam um bem danado.(e ainda fazem!) E me faz sentir útil também.  Os leitores afirmavam que os meus escritos estavam ajudando e muito a entender um pouco o que é esquizofrenia. Os sites dos psiquiatras na época usavam uma linguagem um tanto o quanto científica e acadêmica, fazendo com que os familiares e portadores logo desistissem de se informar sobre o assunto. De complicado já basta o transtorno... 
    E a informação é muito importante, principalmente sobre a esquizofrenia, algo que na época ainda era cercada por muitos mitos e preconceitos. Não que não seja hoje em dia, mas antigamente a pessoa com esquizofrenia sofria muito mais com a falta de informação do público em geral.
    Por conta disso que também resolvi escrever o blog. Falar de uma maneira simples e direta sobre o que é ter um transtorno mental ainda não totalmente desvendado pela ciência. A esquizofrenia no ponto de vista do portador, com suas queixas e reclamações. Digo reclamações pois geralmente os sites dos profissionais da saúde mental meio que idolatram os antipsicóticos, afirmando que são uma maravilha e que resolvem tudo em poucos dias. 
    A verdade não é bem essa, digo isso não só baseando no meu caso, e sim nas queixas dos portadores nas comunidade do Orkut e atualmente nos grupos do facebook. Não acho que o tratamento da esquizofrenia em nosso país seja um sucesso. Acredito que ainda tem muito o que melhorar, pois no Brasil esquizofrenia é quase sinônimo de aposentadoria ou algum outro benefício social.  Uma pequena exceção consegue voltar ao mercado de trabalho, isso quando consegue começar a trabalhar. Outros conseguem alguma ocupação nas empresas ou firmas dos país ou parentes próximos. 
    Os efeitos colaterais dos medicamentos são o maior empecilho para o paciente continuar o tratamento. As pessoas em geral pensam que é teimosia ou frescura não querer tomas os remédios, mas, simplificando, tomar um antipsicótico é como ter uma dengue permanente, entre outras coisas. 
     O estigma e o preconceito que cercam a esquizofrenia também dificulta e muito o início do tratamento. Afinal, ninguém quer ser rotulado como "louco", que é o como são vistos os portadores do transtorno por muitas pessoas. 
    Onze anos se passaram, e me sinto feliz com essa nova marca. Ter mais de um milhão de visualizações em um blog em um país onde a leitura não é muito incentivada é uma proeza sim. E ainda conta o fato de sempre estar criticando os antipsicóticos e, consequentemente, não ter o apoio de pessoas influentes. Mas sempre serei assim, afinal a liberdade não tem preço. 
     Não vou desistir e continuarei por aqui falando sobre o assunto e reivindicando melhores tratamentos para a esquizofrenia e outros transtornos mentais. 
    Os profissionais da saúde mental dizem que os antipsicóticos atuais são melhores do que o tratamento da década de 40 e 50. Sim, é verdade, qualquer coisa é melhor do que uma lobotomia, um eletrochoque ou um manicômio lotado sem a mínima condição de higiene e com um mínimo de dignidade. 

  Sei que essas minhas queixas podem desagradar muitas pessoas, principalmente os profissionais da saúde mental. Não sou totalmente contra a psiquiatria, só acho que em nosso país pegam pesado no uso das medicações, não é á toa que somos campeões mundiais no uso do rivotril e outros medicamentos. "Os  medicamentos lideraram a lista de principais agentes tóxicos que causaram intoxicações em seres humanos com 30,5% das ocorrências. Em seguida, vem a intoxicação por animais peçonhentos, sobretudo escorpiões (19,9%) e produtos sanitários de uso doméstico (11 %)" 
    Sou contra os maus profissionais, que pensam somente no lucro acima de tudo, sou contra aqueles que tem vínculos com a indústria farmacêutica e que prescrevem seus medicamentos mesmo que não sejam tão necessários. Tratamento da esquizofrenia não é somente medicação, terapia ajuda e muito. E muitas coisas podem ser terapia. 
     Terapia é tudo o que pode nos ajudar a melhorar, é fazermos o que gostamos, de estarmos em lugares em que nos sentimos bem. Terapia é estar em um bom ambiente e estar longe de pessoas negativas e que querem o nosso mal. Enfim, respirar bons ares e ter bons pensamentos. 

Agradecimentos

    Agradeço nesta postagem aos bons profissionais que encontrei nas consultas e espero que continuem assim, mesmo que não estejam obtendo tantos lucros se estivessem de mãos dadas com a indústria farmacêutica. 
     Aqui vai o meu principal agradecimento: à todos os leitores do blog! Me tornei e me senti uma pessoa melhor ao ler seus comentários e agradecimentos. Tudo nesta vida tem um lado positivo se soubermos entender certas coisas. No meu caso em particular surtar ajudou a me entender melhor como pessoa. Durante a minha vida inúmeros sinais apareceram querendo dizer que havia algo de diferente em mim, mais em nunca percebi ou parei para pensar nisso. Até que chegava a pensar um pouco, mas não conseguia chegar em nenhuma conclusão. 
    Mas não reclamo, durante os surtos conheci muita gente boa, que, como já disse inúmeras vezes, me salvaram literalmente. Atualmente, no blog e no meu canal no youtube tento de alguma maneira retribuir, ajudando as pessoas que estão passando hoje  o que passei nos primeiros surtos. 
     Não falo muito sobre certos assuntos pois o mundo está cheio de pessoas que se aproveitam de certas situações para obterem lucro pessoal. São efusivas e sabem influenciar o próximo.. Mas o criador não precisa de câmeras e nem de microfones. E é à Ele que também vai o meu agradecimento final. 
  



terça-feira, 14 de março de 2023

O jejum forçado de diazepan

 Abstinência....

    Como vocês puderam perceber na postagem anterrior, está faltando o ansiolítico diazepan nos postos de saúde de Belo Horizonte. O motivo não tenho certeza qual é, pois os funcionários não costumam responder nossas indagações e depois reclamam que a gente fica pesquisando esses assuntos na web... 
    Mas, fazendo uma busca na internet descobri que a China tem dificultado o trabalho da indústria farmacêutica, visto que esse setor da economia tem poluído e muito o meio ambiente daquele país. E o Brasil importa matéria prima para a produção de alguns medicamentos justamente dos inventores da pólvora. 
    Sou um pacato cidadão, não gosto de confusão, mas confesso que em algumas situações sou um pouco teimoso. E essa questão de ter que comprar uma droga que não pedi para ficar viciado não entra em minha cabeça em hipótese alguma. 
    Vou explicar melhor: na minha primeira consulta com o psiquiatra, relatei os meus surtos e também que estava tendo dificuldades para dormir. O cara nem olhou na minha cara e já foi logo preenchendo o formulário da receita com o ansiolítico lorazepan, da família dos benzodiazepínicos. Na minha cabeça, esses medicamentos eram meio que milagrosos e nos fariam dormir o sono dos anjos, mesmo que o mundo estivesse caindo sobre nossas cabeças. 
     Naquela época estava dormindo nas ruas, ou melhor, tentando dormir, pois é um pouco perigoso um morador de rua ficar a madrugada toda exposto em uma calçada. Estava nas ruas por causa das vozes ameaçadoras, que diziam que iriam me pegar, me matar, etc.. A solução que encontrei foi fugir, pedindo demissão do emprego e mudando de cidade. Mas era uma tentativa de fuga de algo que estava em mim mesmo e não no mundo externo. Então, na minha modesta opinião o psiquiatra deveria pelo menos ter perguntando o motivo de não estar caindo nos braços de Morfeu. Era um motivo real, não era ansiedade sem um motivo aparente, os ansiolíticos não resolvem esses problemas reais do dia a dia. 
    Na época não tinha acesso à internet e na farmácia não me passaram a bula do medicamento, pois tenho a mania de ler tudo o que passa na minha frente. Não tinha a mínima ideia do que esses benzodiazepínicos podiam fazer em meu organismo. Não sabia que eles viciavam e que em pouco tempo iriam parar de fazer efeito, obrigando-me a voltar ao médico para aumentar a dosagem ou buscar um medicamento mais forte. Também não sabia também que eles detonavam nossa memória e que também poderiam aumentar as chances de ter alzheimer. 
    A indústria farmacêutica é muito poderosa e as propagandas dos ansiolíticos me fascinavam. Geralmente era uma pessoa dormindo tranquilamente em uma cama. A verdade é que para um insone crônico não é necessário ter muita criatividade para se fazer um comercial de algo que promete acabar com o que está acabando com a gente: a falta de um bom sono reparador e que nos faça acordar bem dispostos e de bom humor. 
    No meu caso geralmente tenho que descansar das noites mal dormidas, então o período matinal não é o melhor para se programar algo para fazer. Geralmente fico deitado, ouvindo música ou fazendo algo que não exija tanto esforço físico. Fico bem de tarde e de noite, talvez seja também o meu relógio biológico que me faça estar bem nesses horários. 
as propagandas dos ansiolíticos podem atrair os menos avisados

                                                Sou um dependente químico

    Hoje me considero um dependente químico, e não tenho vergonha disso. Crise de abstinência são alterações em nosso organismo que resultam em mudanças de comportamento e alucinações e outros sintomas decorrentes da falta de uma substância. 
    Comecei a usar essa droga de droga chamada diazepan no ano de 2002. Usava 10mg e, por volta do ano de 2006 tive que dobrar a dosagem pois não estava mais sentindo nenhum efeito ao me deitar. 
    Mas em dois meses os 20mg pararam de fazer o efeito inicial. Na época já tinha acesso à internet, pois estava no auxílio doença e havia comprado um computador CCE em suaves prestações nas Casas Bahia. 
    Então já sabia que a causa da minha memória não estar muito boa era o pan nosso de cada dia e não os meus 40 e poucos anos. E sentia que se continuasse naquele ritmo em breve iria estar tomando uns 50mg. Era o momento de fazer o desmame por conta própria. 
    Foi uma longa e difícil jornada, com dores de cabeça, palpitações no coração, e, claro, um pouco de nervosismo e irritação sem causa aparente. Mas, como muito esforço e uma redução lenta e gradual, hoje estou tomando apenas 4 comprimidos por mês! Infelizmente não consegui parar por completo, parece que o meu organismo fica pedindo a droga. Mas considero essa boa redução uma grande vitória, pois teve época que chegava a tomar 4 comprimidos durante o dia, não conseguia usar  os antipsicóticos por causa do trabalho e então usava o diazepan como um SOS. 

     Como não pedi para ser dependente de ansiolíticos, não acho justo ter que ficar comprando esses remédios. Infelizmente alguns profissionais da saúde mental agem meio como traficantes, pois ganham amostras grátis dos laboratórios e oferecem aos seus pacientes. E, quando já estão viciados, cessam o fornecimento e pedem para que eles comprem os medicamentos. E, acreditem, alguns psiquiatras ganham comissão para receitar medicamentos de certos laboratórios. Sei disso por que já vi os engravatados representantes desses laboratórios nas unidades de saúde que fazem atendimento de psiquiatria. 
    Se tiverem dúvidas, assistam ao filme Amor e outras drogas, uma comédia romântica que é meio baseada em fatos reais, pois foi ela foi inspirada num livro de um ex propagandista de um laboratório farmacêutico. 

A teimosia

Se você assistiu Spectroman você tem mais de 50...

     Por volta do ano de 2003 faltou diazepan na cidade onde morava. A atendente da farmácia falava que na "semana que vem" o medicamento iria chegar. E foi assim por quatro semanas seguidas.     Como resultado dessa falta do ansiolítico no meu organismo tive um surto violentíssimo. Bem, o surto foi violento, mas eu não ficava agressivo, minha reação era apenas fugir das vozes e dos meus pensamentos persecutórios. 
    Me lembro que certa madrugada ouvi uma voz de um homem falando em uma língua estranha, parecendo alemão. Logo imaginei que a voz vinha da igreja evangélica que se situava uns 100 metros da firma onde eu morava. Me causou espanto que a voz não parava um minuto sequer, e comecei a rir imaginado que o dono daquela voz iria ter um ataque do coração, pois ninguém conseguiria falar por tanto tempo seguidamente sem parar para respirar. 
    Depois de muitos anos, analisando a situação, cheguei á conclusão de que se tratava de uma alucinação. Afinal a igreja nunca havia ligado o som de madrugada, os cultos terminavam por volta das nove horas, no máximo. E, se tivessem usado o equipamento de som os moradores da rua teriam comentado e reclamado da noite mal dormida. 
     Tive uma outra alucinação auditiva bem estranha. Me lembro bem, era madrugada de sábado para domingo, umas duas horas, mais ou menos. Ainda estava acordado e era possível escutar a música que vinha de um salão de forró, que ficava ao lado da igreja. A música rolava solta até que resolveram dar uma parada, e, não sei por que, nesse instante comecei a ouvir uma voz tenebrosa, parecida com a do Darth Vader. E geralmente durante os surtos não questionamos se aquilo é verdadeiro ou não, as vozes soam muito reais em nossas mentes. Então imaginei que um enorme monstro gosmento estava subindo no palco do forró, e por esse motivo a música havia parado. Hoje sei que foi uma alucinação, pois no dia seguinte não ouvi nenhum comentário sobre monstros gosmentos invadindo show de forró. 
    E também sei que monstros gosmentos só existem em filmes de terror, existia no espectroman e também no desenho das Garotas Superpoderosas. Sim, eu cheguei a ver esse desenho e adorava aquela que era a mal humorada, a que usava roupa verde. Acho que era a Docinho. 
    Cheguei a ter umas duas alucinações visuais naquele surto. A maioria das alucinações que tive e ainda tenho são auditivas. Às vezes parece que tenho alucinação olfativa, pois sinto um cheiro estranho, parecendo de algum produto químico, mas não imagino qual seja. Enfim, não sei se é verdade ou alucinação. Mas uma das alucinações visuais que tive era a de um machado vindo em minha direção. Me lembro que naquele momento até me abaixei para desviar da rota daquela ferramenta de corte de madeira. 
    Outra alucinação visual que tive naquele surto foi a da cadela da proprietária da firma. Ela apareceu morta no jardim, com as patas para cima, sem respirar e um pouco inchada. Cheguei bem perto dela para ver se respirava. E, como não se mexia corri para o meu quarto. Mas, logo depois a vi andando normalmente pelo galpão. Gostava muito dela e foi aquele ser que me fez companhia naqueles momentos tão difíceis da minha vida. 
     Tive também vários delírios, um dos mais estranhos que tive naquela época era a de que o mundo estava acabando, principalmente quando via poucas pessoas nas ruas. Imaginava que elas haviam fugido para um outro lugar, em uma tentativa de escapar de uma catástrofe ou coisa parecida. Cismava de que um planeta ou meteoro gigante iria colidir com a terra. 

Como é a minha abstinência atual

     Como decidi por um tempo não comprar algo para alimentar o vício de algo que não pedi para viciar, fiquei certa de quatro semanas sem usar o diazepan. Fiquei muito irritado e meus colegas fominhas do futebol do centro de convivência sofreram um pouco comigo. Uma das coisas que não gosto na pelada são aqueles caras fominhas que não tocam a bola e só pensam em fazer gol para se gabarem no final. 
    Não tive paciência com um monte de gente. Mas teve um lado legal, fiquei rindo mais, um pouquinho mais agitado também. Minhas emoções ficaram mais afloradas, tanto as positivas como as negativas. E minha libido aumentou bastante também, algo que não tem tanta utilidade hoje em dia, pois nem confusão estou conseguindo arrumar. 
    Com essa forçada abstinência a minha mania de perseguição, que já é alta, pulou para níveis alarmantes. À todo instante ficava imaginando que estavam tramando algo contra a minha pessoa.
A minha mania de perseguição atual também é virtual, ou seja, está pior do que no início, pois penso que estão hackeando o meu notebook e que sabem tudo o que acesso e digito.  Pensei em sair por aí viajando de bike, mas imaginava que nas estradas iriam me perseguir também. 
   Enfim, a mania de perseguição é uma das coisas mais incapacitantes que já conheci. Claro que tem os níveis desse delírio. Pode ser apenas uma cisma, uma neurose e, se não for tratada pode sim virar uma psicose. É como qualquer outra doença, quanto mais cedo diagnosticada e tratada, maiores são as chances de cura. 
   Além de tudo isso, sem o diazepan por muito tempo fico sem conseguir me relaxar. A musculatura fica tensa e acordo muito cansado. Meu cérebro fica "tagarela", como se estivesse várias pessoas conversando na minha cabeça. 
    O jeito então foi comprar uma caixa com 30 comprimidos. Na primeira noite já senti um enorme alívio. Dormi relativamente bem e relaxei meus músculos. Fiquei menos ansioso e calmo, com os pensamentos mais ou menos em ordem. Como seria bom se os medicamentos para combater os transtornos mentais não tivessem efeitos colaterais!
    Muitas pessoas não me entendem, não sou contra os medicamentos e nem contra quem os receita. Sei que tem muito profissional da saúde mental bem intencionado. A minha luta e reinvindicação é para que descubram medicamentos que tenham eficácia mas com nenhum ou pelo menos poucos efeitos colaterais e reações adversas. 
    Queria também que os médicos tivessem critérios para liberar uma receita desses medicamentos que alteram o nosso cérebro. Deveriam fazer perguntas e dar conselhos. Medicamentos só em último caso, o Brasil é campeão mundial no uso do rivotril e outros ansiolíticos e antidepressivos
Muitas pessoas imaginam que antidepressivos possam fazer milagres, que podem nos deixar felizes e contentes mesmo com uma situação não muito boa. Já vi uma mulher na farmácia de um posto de saúde comemorando uma receita da fluoxetina mesmo sem estar com depressão. Esse medicamentos geralmente tem como efeito colateral a perda de peso... 
     Uma amiga minha gostava de usar ritalina, ela dizia que a deixava animada e que tinha um efeito parecido com o da cocaína. Enfim, existem diversas ocasiões em que uma pessoa solicita ao médico determinado medicamento sem realmente estar precisando dele. . 

Além do diazepan


                                                  Além do diazepan, o que me acalma?

    Costumo dizer que cada pessoa tem a sua válvula de escape para a ansiedade: alguns usam o álcool, outros a maconha e outros drogas mais pesadas. E não somente isso, existem várias outras coisas que são usadas para o alívio desse mal que assola a humanidade dos tempos atuais. E algumas dessas coisas são saudáveis, como os esportes, que liberam a endorfina e nos relaxam. 
    No meu caso em particular não uso drogas, mas vou para um caminho que também não é muito saudável: me empanturrar de comida, preferencialmente doces, bolos, tortas, chocolate, etc... 
   Além de fazer mal à minha saúde tem também o prejuízo financeiro, boa parte do meu salário vai para a padaria, pois já gosto de doces naturalmente. Quando fico ansioso a situação fica crítica e chego a comer uma caixa de bombons em uns dez minutos. Esse é um dos vários motivos pelos quais não uso os antipsicóticos, pois eles aumentam e muito o nosso apetite e então meu estômago parece não ter fundo. Então não seria boa parte do meu salário e sim ele todo que iria para a padaria....
    O futebol ajuda e muito a tirar um pouco a minha ansiedade e o meu stress. Correr, gritar, extravasar é sempre bom. Mas hoje em dia não posso e nem consigo jogar bola todos os dias. Comecei então a pedalar e está sendo muito bom. É um esporte que recomendo à todos. 
    Esse bem estar produzido pelos alimentos, pelas atividades físicas, às vezes causado por alguns medicamentos me fazem pensar se a felicidade é química.
       Quando como chocolates me sinto tão bem e disposto que nada me importa, esqueço de todos os problemas e fico sorridente. Mas quando não como fico parecendo o personagem principal da série After life. Depois do futebol geralmente como chocolates ou tomo um sorvete de chocolate. Tudo fica azul, até canto (para a tristeza dos meus vizinhos). Baixo músicas novas de músicos que não conhecia e as acho muito legais e interessantes. No dia seguinte, sem a endorfina e outras inas mais causadas pelo futebol deleto um monte de canções que me pergunto como fui perder o meu tempo de baixá-las. 
Enfim tudo fica meio cinza, não que eu saia descontando o meu mau humor em todas as pessoas, apenas evito o contato com a maioria dos seres humanos. Seria mais estado de ânimo do que mau humor. Nada tem graça e fico me perguntando o motivo das pessoas estarem rindo. 
       Quando estava morando nas ruas por causa dos surtos por um certo período morei em um albergue para pessoas em situação de rua. Precisava de um endereço fixo para tirar novamente todos os meus documentos. Uma vez na entrada vi um senhor que morava no abrigo e que em um chuvoso dia na fila para entrar no abrigo estava todo sorridente. Ele vendia picolés e provavelmente não teve um bom lucro naquele dia. Mas seu sorriso me deixou intrigado: como uma pessoa que mora em um abrigo conseguia sorrir em um dia de chuva enquanto outras pessoas com bom poder aquisitivo são mau humoradas?
    Afinal, o que é a felicidade? Está em algum lugar, em algo, ou em dentro de nós? Ou é um conjunto de coisas?
    


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domingo, 12 de fevereiro de 2023

Qual o melhor plano de saúde?

 Faltam medicamentos no Brasil 


    Semana passada fui no posto de saúde buscar o meu diazepan, que atualmente tomo 4 comprimidos por mês. 
    Antes o diazepan era o meu "o pan nosso de cada dia", ou melhor de cada noite. Ou melhor, era o meu "pan" de todas as horas, pois quando sentia que podia surtar tomava um comprimido onde quer que eu estivesse, até no meio da rua mesmo, pois sempre andava com a cartela no bolso. Comecei com cinco miligramas, depois passei para 10mg e depois para 20mg. 
    Com o passar do tempo os 20mg não fizeram mais efeito mas não pedi para aumentar a dosagem e comecei a refletir. Logo logo iria estar tomando uns 100mg por noite se continuasse naquele ritmo.
E todos sabe o mal que esses ansiolíticos podem fazer, principalmente na questão da memória e também contribuir para o aparecimento do alzheimer
    Fiquei intrigado sobre o motivo de estar faltando um medicamento tão barato nas farmácias do Brasil. Comecei a pesquisar no google descobri que  um dos responsáveis por isso é a China, que barrou muitas indústrias por questões ambientais (as fábricas poluem muitos os rios).
    Então, por conta disso a indústria farmacêutica nacional viu aumentar e muito a importação de insumos para a fabricação de medicamentos, resultando na falta destes nas prateleiras das drogarias e postos de saúde do nosso país. 
    Por sorte consegui fazer o desmame e hoje sou quase que livre dessa droga de droga, que estava atrapalhando e muito a minha memória. Como relatei, tomo apenas 4 comprimidos por mês, por conta da abstinência adquirida ao longo de quase 15 anos de uso contínuo. 
   Foi um processo difícil e lento, com muita ansiedade, dores de cabeça, palpitação no coração e outros sintomas da abstinência de drogas. 
   Por volta dos 32 anos não conseguia sair de casa sem uma cartela do ansiolítico no bolso. Não estou livre da esquizofrenia, é uma luta diária, mas, pelo que passei e como fiquei no início da doença, hoje posso dizer que sou um vencedor. 
a atividade física melhora também a saúde mental
    Invisto muito em chás, atividade física (bike, futebol, etc), redução de café e alimentos estimulantes para não ficar dependente de algo que pode fazer mais mal do que bem. 
    Todos deveriam saber que na bula do diazepan está escrito que é para ser tomado por um período, de, no máximo 4 semanas. 
    Mas nosso país é o campeão mundial no uso desse medicamento,, talvez por falta de condições da rede pública (ou má vontade mesmo), pois, em raríssimas exceções os médicos nos informam sobre os perigos no uso prolongado desses medicamentos.
    Enfim, o melhor plano de saúde é não adoecer. Pode parecer um gasto a mais essa procura por uma melhor qualidade de vida,  mas, no final teremos menos despesas com remédios e idas aos médicos.