sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Diazepan, o desmame: último capítulo final

Como fazer o desmame e parar de tomar o diazepan e rivotril

desmame do diazepan
      Hoje em dia finalmente posso dizer que estou livre do diazepan...
    Usava esta "droga" desde o ano de 2002, quando tive o meu primeiro surto psicótico grave. A receita eu consegui na minha primeira consulta, que durou menos de dez minutos. Como não conseguia tomar os antipsicóticos e trabalhar como operador de som, esse ansiolítico funcionou por um bom tempo como um S.O.S sempre quando eu sentia que poderia surtar. 
    Não é o ideal essa solução que encontrei, mas era o que tinha na época. Não tive escolha e quase sofri um acidente de trabalho sob o efeito do haldol. Tinha que ter disposição para trabalhar e resolver meus problemas, antipsicótico nem pensar 
   Com o diazepan eu tinha um pouco do controle do nível de sedação e poderia assim tentar trabalhar. Um comprimido de 10mg era o suficiente para andar no centro da cidade onde morava no início do ano de 2003. Quando sentia que estava querendo correr e fugir para casa tomava mais um. Na maioria das vezes resolvia o problema parcialmente. 
    Depois de viciado nesse ansiolítico não conseguia sair de casa sem ter uma cartela no bolso. Era a tal da dependência psicológica que havia aparecido. 
    Com o passar do tempo, a maturidade, a aposentadoria e o que aprendi com a prática sobre a esquizofrenia, pude aos poucos ir fazendo o desmame do "pan nosso de cada dia".
     Não foi nada fácil: coração disparado, dores de cabeça, pulsação forte, me lembro que algumas vezes sentia o coração batendo na ponta dos dedos das mãos. Esses foram os sintomas físicos da abstinência dessa viciante droga.
    Já os sintomas psíquicos não foram menos complicados: mania de perseguição aumentada, paranoias, nervosismo, stress e o medo de surtar a qualquer momento 
    Mas, com muita persistência e insistência finalmente consegui. De 20mg diminuí para 10mg. Depois para 5mg que foi a fase mais difícil, quando perdi muitas noites de sono. De 5mg fui bem lentamente diminuindo para cerca de 2.5mg, pois dividia o comprimido de 10mg em quatro pedaços e depois dividia cada pedaço ao meio. E então, depois de muitos meses, passei a tomar cerca de 1mg. Fiquei nessa dosagem por um bom período de tempo, até ir ficando algumas noites sem tomar nenhum tipo de ansiolítico na hora de dormir. 
    Com o passar do tempo fui arriscando a ficar dois, três dias sem usar o "pan nosso de cada dia". Aí tomava um pedaço sempre quando meu corpo pedia. O nosso organismo sempre dá alguns sinais. E também procurava rever de noite como foi o meu comportamento durante o dia, para analisar se não estava ficando agitado ou nervoso. 
    E foi questão de tempo para largar de vez os diazepínicos, minha memória recente parece estar melhorando gradativamente, antes não conseguia nem decorar metade de um número de telefone .A memória antiga estava preservada. Também senti uma pequena melhora na condição física, estou andando de bike todos os dias, e às vezes até de noite. 
     Minhas noites de sono não são das melhores, mais estou acordando mais disposto, sem aquela tradicional ressaca desses medicamentos. Mais vale quatro horas de sono natural do que oito com o diazepan.... 
    Tenho que tomar muito cuidado e me policiar constantemente para não surtar novamente. Em 2003 tive um surto gravíssimo justamente por ter ficado sem o diazepan por quase um mês
    É um vício que não pedi ter. Os médicos deveriam orientar seus pacientes sobre os riscos da dependência física e psicológica desse ansiolítico. Na época eu não tinha acesso à internet e a bula dos medicamentos tinham letras minúsculas, e nos postos de saúde nos dão apenas a cartela. 
    Os medicamentos são sim necessários, mas na dosagem, quantidade e períodos adequados para cada caso.
     O diazepan não irá resolver os problemas que estão lhe tirando o sono e nem irá pagar suas dívidas... 
    Espero com esse relato conscientizar as pessoas sobre os riscos que esses medicamentos podem trazer à nossa saúde. O Brasil é campeão mundial no uso do Rivotril, que, segundo pesquisas podem causar inúmeros danos ao nosso organismo se for consumindo de uma forma exagerada e por um longo período de tempo. 


9 comentários:

  1. Tive meu primeiro surto em novembro, percebi o mesmo e procurei ajuda sozinho. A médica que está avaliando meu caso me disse que não perdi quase nada de cognição e que a chance de outros ter surtos seria zero caso eu tomasse a medição regularmente, mesmo assim estou apavorado.
    Sinto medo de ter outros surtos, assim como meu irmão sente (ele e minha mãe também possuem a doença) minha mãe já não raciocína bem devido as várias crises, tomo risperidona pela sua experiência se já aconteceu com você ou seus leitores novas crises mesmo sem a interrupção do medicamento. Tenho vários planos e minha promprim crise foi justamente um dia após o ENEM, não quero que essa doença estrague tudo.
    Parabéns pelo blog e muito obrigado.

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    1. Olá
      Realmente no início o medo é uma das piores coisas que se têm quando o assunto é esquizofrenia.
      O que posso dizer é que o próprio medo em relação ao transtorno pode fazer tanto mal quanto.
      Tente evitar situações e pessoas que te estressem, pois o stress é uma das maiores causas de crises e surtos.
      Em relação aos medicamentos, o que posso dizer é que tente conversar com o seu psiquiatra para tomar a menor dose possível, pois infelizmente alguns profissionais já receitam doses pesadas logo no início.
      Espero ter ajudado e obrigado pela visita ao blog

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  2. Olá julio, um bom ano pra Ti, eu estou nesta luta, tentando diminuir o diazepam. Atualmente estou com 10mg. Mas me segurando para não tomar dois comprimidos. Um forte abraço.

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  3. Olá
    Dois comprimidos seriam 20mg. Procure fazer a retirada de maneira mais gradual e lenta possível, assim você não sentirá tanta falta assim do medicamento.
    De 20mg diminua para 15mg. É só uma sugestão, pois quem irá ditar o ritmo é o seu próprio organismo, e é preciso saber entender os sinais que ele dá.

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  4. Obrigado Júlio, muito importante sua colocação, eu to na luta, forte abraço.

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  5. Julio voce toma café? Eu gosto de cafe e estou interrompendo o uso do Rivotril,levanto cansado de manhã e bebo um café para espertar. Você usa algum estimulante natural? Estou usando so metade de um comprimido.

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  6. Julio você bebe café para ficar mais ligado de dia? Estou diminuindo o diazepan também, mas como levanto cansado de manhã tomo umas duas xícaras de café, vejo que até o café me faz mal, mas é isso ou ficar com sono o dia todo.
    Não estou trabalhando por conta disso, estou numa luta contra o diazepan também já tomo metade do comprimido e tenho leves ataques de insônia e perda do contado com a realidade.
    Você usa algum estimulante natural que não seja café?

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    1. Sim, mas tomo só de manhã mesmo, para não atrapalhar o sono. Não uso nenhum estimulante natural. Tente tomar o cloreto de magnésio à noite, no meu caso ajudou muito no desmame

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