quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Divagações esquizofrênicas 19: O dia a dia de um esquizofrênico e o seu mundo (o quartinho)

           Divagações de um esquizofrênico em um mundo de "normais"...



O acidente

    Olá pessoal, meu nome é Julio Cesar tenho 52 anos e não sou "o esquizofrênico" e sim uma pessoa que tem os sintomas que as pessoas chamam de esquizofrenia. Tenho minhas qualidades e defeitos como qualquer outro ser humano. Não sou inteligente e nem tenho baixa inteligência, me considero na média e apenas um cara esforçado que consegue aprender certas coisas na base do esforço e repetição. 
    Para quem me acompanha no youtube, no último vídeo relatei sobre o acidente que tive de bicicleta. Foi um acidente sério, voltei ao local onde capotei e vi que "voei" por uns sete metros após bater em uma moto. O dedão do pé direito saiu do lugar e tive dores em várias partes do corpo, se não fosse o capacete acho que não estaria aqui para contar-lhes mais esta história. 
    Mas já estou recuperado 90%, o punho e o cotovelo que ainda doem um pouco. 
    E sempre procuro tirar lições de tudo o que acontece em minha vida, principalmente das negativas. Eu estava descendo na contramão na maior velocidade, ouvindo heavy metal no fone de ouvido na maior altura. Por sorte sempre uso o capacete para proteger meu cabeção. 
    Mas fazia aquele caminho há dois anos sem maiores problemas. Na verdade a principal causa do acidente foram as paranoias. Me lembro que estava totalmente distraído na hora do acidente, a moto apareceu assim do nada e não teve como me desviar totalmente dela. A gente começa a ter pensamentos paranoicos do nada e de repente estamos totalmente distraídos e envolvidos com esses pensamentos.            Não me lembro exatamente no que estava pensando, mas basta sair pelas ruas para as paranoias começarem a tomar conta da minha mente. É algo que não desejo à ninguém. 
    Me lembro também que estava muito agitado, pois  há muito tempo não tomava o diazepan. Sentia que precisava de algo mais forte para dar uma boa apagada, mas havia esquecido o nome do antialérgico que geralmente tomamos com o antipsicótico clorpromazina. Fui no grupo esquizofrenia e me informaram que era o fenergan. Mas acabei me esquecendo de comprar e aí sofri o acidente dois dias depois. 
    A minha bike, que batizei de Margarida, apenas sofreu "escoriações" e teve o pedivela entortado, pois a batida foi meio forte. O conserto fica em 80 reais, quem puder ajudar entre em contato pelo email:
memoriasdeumesquizofrenico555@gmail.com
Julio Cesar dos Santos de Oliveira
   Agência 2332 Ipatinga MG
   Caixa Econômica Federal
   Operação 023
   Conta 00016678-2
Sentia que estava precisando dar uma "apagada"...


    Muitos devem estar pensando: "Ah, por que ele não toma os medicamentos para ter uma vida melhor?". Olha, fiz isso durante seis anos e não tive qualidade de vida nenhuma, apenas engordava e ficava o dia inteiro dormindo. Sem contar o fato de que meus sentimentos sumiam, me sentia um robô, tanto física como emocionalmente. 
    Mas tudo isso é passado, aprendi a lição e agora não vou andar mais na contramão, e, quando for ouvir música no fone, vou fazer uma playlist de músicas românticas internacionais...
    E o melhor de tudo é que o cara da moto não sofreu nada, apenas o retrovisor da sua moto que quebrou. É o que sempre acontecia nos meus surtos, a única pessoa prejudicada era eu mesmo. Então por isso sinto que posso ir testando o meu limite de ficar sem os antipsicóticos, ficando na dúvida se minhas surtadas atuais são produtos da esquizofrenia ou da abstinência das medicações que usei ao longo desses anos. 


O dia a dia

    Muitas pessoas pedem para que eu poste  no canal vídeos falando sobre o meu cotidiano. Mas, se eu postar todos os dias vídeos sobre a minha rotina, a maioria das pessoas irá pensar que estou postando o mesmo vídeo sempre. A minha vida é um pouco monótona e entediosa, ainda mais agora na pandemia. 
Basicamente fico boa parte do dia na net e na tv, pois ligo o notebook na telona via cabo HDMI, pois não gosto muito da programação da tv aberta. 
    Antes da pandemia todas as quartas feiras ia ao centro de convivência jogar um futebolzinho, que era o meu melhor antiestresse.  Os bicudos que eu dava na bola, os meus xingamentos e a  extravasada na hora dos gols me deixavam bastante relaxado. O meu centro de convivência é tricampeão do torneio da primavera que tem aqui em BH dos centros de convivência. E, modéstia à parte, fui artilheiro nas três edições. Não sou de contar vantagem sobre isso  pois futebol é um jogo coletivo. Meu nome futebolístico é Juliovik, a lenda viva do futebol. Tenho 52 anos mas ainda jogo razoavelmente bem, e, quando as canelas começarem a doer, vou jogar no gol, também sou bom debaixo das traves (também com as mãos grandes...)



    Minha outra diversão é a bike. Às vezes saio para pedalar nas redondezas, tipo uns 60 70km. E todo dia pedalo 6km para ir almoçar no restaurante popular. É um bom vício pedalar. 
    Antes da esquizofrenia aparecer em minha vida já tinha esse estilo não muito agitado de vida, o que me fazia falar era o trabalho. E sempre gostei mais do dia do que da noite. Cachoeiras, praias, enfim, sol e ar puro era o que me fazia sentir bem. 
    Mas acredito que também seja uma pessoa introvertida, não devemos botar tudo na conta da esquizofrenia. Não gosto de ficar conversando com todo mundo, não é o meio estilo ser popular. 
   O resto sou um pacato cidadão, que gosta de ouvir música, ler, aprender coisas novas e ficar em paz, por isso levo uma vida mais reclusa, o mundo atual está uma loucura total. Gosto de assistir filmes e seriados, mais de humor mesmo. Quem tiver alguma dica que poste nos comentários, acho que já assisti quase todos desse gênero. 
   E outra coisa que gosto de fazer é comer: como todo bom mineiro gosto de pão de queijo, pastel de queijo, biscoito de queijo, doce de leite, rocambole e outros quitutes da culinária mineira. 
    Sou tão antisocial que nem celular tenho. Aliás, até que tenho o aparelho, mas não uso o chip por que cancelaram pois não coloquei crédito. Uso o celular apenas para ouvir música, não fiz a recarga do chip pois somente a operadora que me ligava para me oferecer planos de internet.. Ou seja, estava pagando para eles me ligarem... No final do mês tinha que ficar pensando em alguém para ligar e jogar conversa fora para usar os créditos e não jogar dinheiro fora. 
     Às vezes nem música estou ouvindo, mas ando com os fones no ouvido, para ter uma desculpa de falar que não ouvi determinada conversa. 
    Sou tão antisocial que só uma vez na minha vida comprei sapatos, gosto de tênis mesmo, e de usar tênis velhos que se se acomodam ao formato de nossos pés. 
   Terno e gravata meu corpo nem sabe o que é isso. Acho que me sentiria meio que enforcado usando um acessório vestimental na minha garganta. 
    Sou tão antisocial que em boa parte dos dias quando coloco minha cabeça no travesseiro de noite consigo contar as palavras que foram ditas por minha pessoa. 
    Não gosto muito de conversar sobre o que é certo ou errado, sobre o tempo, sobre política, sobre religião. Gosto de conversar com pessoas que tenham algo para me ensinar, gosto de aprender. Não sou inteligente, mas apenas esforçado e curioso. Me lembro que às vezes só ficava perto das pessoas que considerava inteligente apenas para ouvi-la falar. 
    Enfim, gosto da minha companhia, tenho paz quando estou sozinho com os meus pensamentos. Não tive sucesso financeiro, mas, por tudo que passei me considero um vencedor, e ter a consciência tranquila não tem preço. Acredito que não valha a pena ficar babando ovo de ninguém para obter algum tipo de vantagem. E a liberdade, não só de ir e de vir, e sim de ser quem eu sou mesmo de verdade, Se isto não agrada muitas pessoas, o problema é delas, pois não obrigo ninguém a conversar comigo e a gostar de mim.  Mas hoje em dia a coisa está tão complicada que se você estiver em paz já corre o risco de ter inimigos... 
    Este mundo infelizmente parece que não deu certo, se tem gente que acha que deu, deve estar ruim da cabeça... 
    Espero que ainda dê tempo de consertá-lo e que o criador tenha misericórdia de todos os que são de boa vontade.

Meu quartinho



     Resolvi pintar o meu quartinho. Não é meu, mas, como passo a maior parte do dia nele, decidi dar uma melhorada no visual dele para melhorar o astral. Incrível como uma boa pintura e uma cor mais alegre mudam o ambiente. Usei verde com azul e o resultado ficou legal, às vezes dá uma impressão que o quarto é verde, outras que o quarto é azul e outras azul piscina ou outra cor. 
     Também aprendi a mexer com cimento, para tampar alguns buracos nas paredes. Aprender coisas novas pode ser uma ótima terapia. 
    É um quarto simples, deve ter quatro meses por três. Mas não tenho vergonha de mostrá-lo, teria vergonha sim de dizer que roubei, enganei ou matei para conseguir algo. Sempre quando deito à noite e coloco a cabeça no travesseiro tenho  a consciência tranquila. Claro que errei muito nesta minha vida, principalmente pelo fato de não me conhecer completamente. Sempre quando via a famosa frase do filósofo Sócrates "Conhece-te a ti  mesmo", ficava meio intrigado, com os pensamentos vagos, como se à procura de respostas que não sabia onde encontrá-las. Foi preciso surtar  e passar por situações complicadas para começar a me entender um pouco. 
     Gosto de dinheiro, mas não faço loucuras e nem faria para tê-lo. Como disse, ter paz, consciência tranquila e liberdade são os meus maiores bens.