domingo, 16 de fevereiro de 2020

Contos esquizofrênicos


    Antes de começar a postagem, gostaria de mencionar que às vezes uso o humor para retratar a minha esquizofrenia. Não tenho o costume de brincar ou zombar com a dor alheia.


       Como a maioria deve saber, tenho esquizofrenia, a tal de F20 que não tem nada a ver com caminhonete. 
    E um dos sintomas clássicos da esquizofrenia é a alucinação auditiva, as vozes.
    Mas é difícil de se lidar com elas? São muito irritantes? O que elas me dizem?
    No meu caso logo no primeiro surto grave já dei um fora nela. Estava perambulando pela BR 040, quando parei para descansar. Não estava conseguindo ficar muito perto das pessoas no centro da cidade, pois imaginava que o mundo inteiro queria me pegar. Era um belo dia de sol naquele verão do ano de 2001.
     De repente a voz me disse:
    - Você é uma alma penada!
     Sem brincadeiras e exagero, naquele momento chorei de alegria por ter recebido aquela noticia.          Afinal estava surtado e imaginando que o mundo inteiro queria me trucidar.  Mas não seria uma morte simples, com um tiro na cabeça. Em minha imaginação queriam que eu tivesse uma passagem bem sofrida. Acho que o meu sentimento de culpa exagerado tenha influenciado nessa alucinação, pois desde criança era muito encucado com esse lance do bem x mal, o que era certa ou errado, etc... Não me achava  mau o suficiente para queimar nas chamas eternas do  inferno, mas também não me achava um santinho para ir para o céu. 
    Antes de surtar por volta dos 32 anos havia feito uma análise de toda a minha vida, e comecei a me culpar por tudo de errado que havia acontecido comigo e com outras pessoas. Se o atentado de 11 de setembro nas torres gêmeas tivesse acontecido antes do surto, provavelmente iria assumir a autoria... 
    Mas por que achei a mensagem da voz do além boa naquele momento? Como disse, imaginava que estava sendo perseguido. E alma penada é invisível né? 
    Então meus problemas estaria resolvidos com essa minha nova condição de alma penada. Os meus inimigos iriam me alcançar mas passariam direto por mim e eu ainda iria dar risada e pregar uma peça neles. 
    E, além disso alma penada pode ir para onde quiser, não se cansa, pode dar sustos nos outros, pode entrar aonde quiser sem ser notado. Estava até planejando ir para o Espírito Santo curtir uma praia, mas tinha dúvida se alma  penada poderia sentir a água  gelada e a brisa do mar. Enfim, seria uma alma penada do bem, assim como o Gasparzinho, o fantasminha camarada. 
    E também alma penada não precisa se preocupar com alimentação e muito menos com roupas (detesto lavar roupas). Enfim, até que a vida de alma penada não seria má coisa para aquele momento específico de minha vida... 
    Então sai pela BR mais feliz do que nunca e o engraçado é que eu estava me sentindo mais leve mesmo. 
    De noite, quando passei na entrada de um condomínio, um monte de cachorro começou a latir. Dizem os contos mineiros que eles conseguem enxergar alma penada. Continuei perambulando pela BR e entrei em um posto de gasolina. Havia perdido a noção do tempo, a noite estava demorando a passar  e cheguei a imaginar que viver na escuridão fazia parte do meu castigo. Então subi em uma cabine de um caminhão e perguntei as horas para  o motorista que estava dormindo. Era madrugada e eu fui logo perguntando, não tendo o cuidado de acordá-lo devagar. Obviamente ele se assustou e muito, pois estava dormindo com a janela aberta. Mas, na minha cabeça ele havia se assustado por que tinha avistado uma alma penada.
   No dia seguinte, ainda estava com dúvidas se realmente era uma alma penada ou não. Resolvi sentar na entrada de um restaurante para esclarecer de uma vez por todas sobre a minha condição de alma penada ou de ser humano. . Se não me enxergassem e passassem por mim, realmente eu era uma criatura do além. Se me pedissem licença, aquela voz teria sido algo de minha cabeça. 
    Não deu dois minutos e uma pessoa me disse educadamente que não poderia ficar ali sentado. Foi o suficiente para acreditar que não era uma alma penada. Mas a voz continuou e continua até hoje a me perturbar.  E sempre será um novo desafio tentar decifrar o que ela quer dizer, ou então ignorá-la.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

A bike deu ruim


   Olá pessoal, há muito tempo não peço ajuda por aqui  no blog. Confesso que fico constrangido com essa situação. Mas já alguns dias uma peça da bicicleta chamada catraca está com defeito. Está dando para andar, mas pelo barulho que ela está fazendo acho que em pouco tempo vai ficar inutilizável e poderá estragar quando eu estiver longe de casa.
    A bike hoje em dia é quase tudo para mim: um meio de transporte, uma excelente atividade física e um hobby, gosto de deixar ele brilhando e limpinha.
    Essa peça da foto é a que usei na minha viagem pela região sudeste, pensei que daria para usar um pouco caso a que estou usando desse defeito até conseguir comprar uma outra.
    Mas ela está bem ruim também.
    Depois que quebrei o dedão do pé só uso a bike como meio de transporte. Não tenho vergonha de pedir, sei que tem gente em pior situação do que a minha, mas já fiz alguns empréstimos pois sou aposentado.
    Uma peça nova custa em torno de 60 reais, mas qualquer ajuda é bem vinda. Aprendi a fazer a manutenção na maioria dos defeitos e dá para economizar na mão de obra.
    Também podem contribuir adquirindo o livro "Mente Dividida", de minha autoria. 
    Obrigado novamente à todos que me ajudaram até hoje, principalmente nas minhas pedalanças.
Conta
Julio Cesar dos Santos de Oliveira
Caixa Econômica Federal
Agência 2332
Operação 023
Conta 00016678-2
o dedão do pé esquerdo detonado. 

sábado, 8 de fevereiro de 2020

"Pré conceito": ignorância ou preguiça?

A falta de compreensão sobre alguns temas como transtornos mentais vem da ignorância, falta de interesse ou preguiça do ser humano?




    Resolvi criar um perfil fake com a finalidade de testar como está a situação atual que envolve notícias, fofocas, opiniões e pitacos tanto nas redes sociais como no mundo real. 
   O anúncio era de um sofá usado que estaria sendo doado por falta de espaço e por estar velho. Mas o texto só seria compreendido se fosse lido até o final...
    Publiquei o anúncio em vários grupos de vendas, doações e trocas em uma rede social. 
    Resultado: a maioria leu até o final e riu muito, mas boa parte das pessoas criticou e até queria chamar o Greenpeace para mim shasuahsuashass. Fora os xingamentos contra a minha pessoa e a minha  progenitora.
   Mas assim que acontece com as pessoas que sofrem com algum tipo de transtorno mental. Quem não tem e não se informa sobre o assunto se acha no direito de opinar, criticar, zombar e tudo mais.  Infelizmente muitas pessoas só conseguem entender as dores que podem ser vistas ao olho humano, e às vezes nem isso, como aconteceu com o texto do sofá que seria doado.
    Não culpo todas as pessoas por esse tipo de "pré conceito". Afinal alguns transtornos mentais ainda são um mistério para  a ciência. Eu mesmo tinha muitos antes de surtar. Infelizmente a mídia pouco ajuda nessa situação, só noticiando com muita ênfase quando uma pessoa com transtorno mental comete algum ato de violência em um surto psicótico. Afinal ela não mostra casos de suicídio, talvez pensando que a verdade seja um incentivo ao autoextermínio. É preciso sim falar sobre o suicídio, a informação é a melhor maneira de combatermos todo tipo de preconceito. Segundo dados do senado federal, uma pessoa tira a própria vida a cada 45 minutos.... Ou seja, esse estratégia de omitir os fatos não está funcionando, pelo menos na questão do  autoextermínio...
Fonte: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/05/25/a-cada-45-minutos-uma-pessoa-se-suicida-no-brasil-dizem-especialistas-na-cas
   A maioria das pessoas que tem algum tipo de transtorno mental faz mais mal a si mesma do que ao próximo. Quando não tentam o suicídio se isolam em seus quartos, quase não saindo de casa para se divertir, e alguns mal conseguem estudar ou trabalhar. 
Obs: sempre borro o rosto das pessoas quando tiro algum print, mas esse não vou me dar ao trabalho de borrar, pois muitas pessoas não tiveram o trabalho de ler o texto por completo.