terça-feira, 22 de outubro de 2019

Não venci o diazepan: a luta continua

   Quem acompanha o blog sabe que desde o ano de 2008 venho tentando me livrar dessa droga de droga chamada diazepan. Neste ano havia acabado de aumentar a dose de 10mg para 20mg, pois já não estava fazendo mais o efeito que inicialmente proporcionava. Mas, após um mês de uso os 20mg também não foram  suficientes para ajudar a conciliar o sono....
   Foi aí que parei e pensei que, naquele ritmo em pouco tempo iria ter que fazer igual o Michael Jackson para conseguir dormir, pedir pro médico me aplicar medicamento de anestesia de cirurgia... 
    Para quem não acompanha o blog e queira entender melhor a situação é  só digitar na caixa de pesquisa a palavra “DIAZEPAN” que irá encontrar as postagens referentes ao tema. E também tem as tags, na parte debaixo do blog, em que relaciono os assuntos. Também é outra forma fácil de se achar as postagens, pois escrevo esse blog desde o ano de 2012 e até o dia de hoje são 389 postagens. Algumas legais e outras nem tanto. 
    Na minha última postagem sobre o assunto diazepan, havia comentando que finalmente estava livre desse vício que estava atrapalhando e muito a minha memória recente. 
    Puro engano. Eu apenas achava que estava livre. E a verdade é que também me fazia bem ao meu ego sair por aí dizendo que havia vencido o vício do pan nosso de cada dia... 

Surtei por causa da abstinência?  
    Estava feliz por ter conseguido parar com a medicação. Os dias e noites foram passando. Aos poucos fui ficando cada vez mais irritado. Às vezes achava legal sentir o coração disparando, por causa de um susto ou emoção boa. Tinha saudades de sentir aquele friozinho na barriga ao passar por uma situação perigosa, por exemplo.  Os ansiolíticos me deixavam sem emoção e é uma sensação terrível se sentir um robô. Além da falta de emoção, o diazepan estava acabando com a  minha memória recente. Não estava conseguindo memorizar números  de celulares, nomes de pessoas e ruas e outras coisas simples que recordava com facilidade. A memória dos fatos ocorridos antes de começar a tomar o diazepan sinto que estão preservadas em minha mente. O esquecimento é  o natural  devido ao passar dos anos.
    E além dessa questão do esquecimento, estudos comprovam que o uso prolongado de calmantes  à base de benzodiazepínicos podem aumentar em mais de 50% a probabilidade de demência precoce e alzheimer.
Fonte: https://veja.abril.com.br/saude/uso-prolongado-de-calmantes-pode-elevar-risco-de-alzheimer/

   Além da irritação, a mania de perseguição também aumentava consideravelmente E acho que  surtei  e fiquei  fora do meu normal por um bom tempo. Pensava que nunca mais iria surtar por pensar que entendia alguma coisa de transtorno mental. E esse é o problema, quando achamos que dominamos algo, ficamos mais relaxados e distraídos. Pensava que iria saber quando estava começando a surtar e que poderia no momento que quisesse tomar algum medicamento forte e dar uma apagada e assim um zerar o stress.
   Mas o problema é que não percebi, pois o surto pode ser um processo lento e bem demorado.  E foi o que aconteceu. Estava feliz por que pensava que havia vencido a dependência física e psicológica do pan nosso de cada dia. Mas   não estava percebendo que a cada dia que passava as paranoias aumentavam... 
    Cheguei a ouvir uma voz bem nítida, dizendo que “iriam me atropelar”. Isto aconteceu quando estava andando de bike. Naquele  momento atribuí a voz à uma menina que estava sentada em um ponto de ônibus, pois a voz parecia ser feminina e ela era a primeira pessoa que tinha avistado. Hoje sei que foi uma alucinação, pois a voz estava num tom nem alto e nem baixo, era em um volume normal. Mas a menina estava distante de mim cerca de uns 40 metros, e a rua era bem barulhenta por causa da intensa movimentação de carros.
    Por estar meio acostumado a pirar, nesse surto não saí pelas ruas e br’s como fazia antigamente. E, de alguma maneira consigo disfarçar as coisas e deixar transparecer que está tudo bem. O disfarce é tão bom que até a gente mesmo pensa que está tudo bem. E esse é o maior perigo.
    Nos surtos não agrido as pessoas fisicamente. Antes fugia dos inimigos imaginários. Hoje também fujo, mas vez ou outra quando estou muito irritado faço coisas que  não são muito legais, como ofender e falar coisas não muito legais também. 
    Uma vez ofendi uma menina na entrada do banco e me arrependo muito disso. Para um paranoico como eu ir ao banco não é uma das melhores tarefas. Fico imaginado que os seguranças do banco estão falando no rádio de comunicação para ficarem me vigiando. Penso que eles pensam que eu sou daqueles que fazem algo no caixa do banco para conseguir acesso à conta de outros clientes. Quando consigo sacar o dinheiro da minha conta, dá até vontade de mostrar as notas para os seguranças. 
   Então foi em um dia desses que xinguei a menina na entrada do banco.  Entrei rapidamente para sair mais rapidamente. Ela ficou parada na porta e a ofendi. Estava há muito tempo sem tomar o diazepan e algumas noites sem dormir . Não estava conseguindo relaxar a musculatura nem quando ia no parque, para ficar sozinho e escutar o som dos pássaros cantando. E não foi somente essa menina que xinguei. Sei que isso não pode ser justificativa para ofender as pessoas, mas não é nada fácil ser um dependente químico de uma droga lícita que te faz esquecer muitas coisas. 
    No futebol no centro de convivência (Cersam) também fiquei sendo o chato da pelada. Quando não tocavam a bola pra mim ficava insuportável. Não sei como o pessoal me aguentou por todo esse tempo.Agora já normal, só fico um pouquinho chato com aqueles caras fominhas que não tocam a bola para ninguém. 
   Mas teve uma pessoa que não me arrependi de ter ofendido. Me arrependi da forma que a ofendi, pois apenas respondi a provocações premeditadas. Digo premeditadas pois a pessoa me provocava com certa frequência e com o celular na mão, para gravar a minha reação e distribuir o vídeo ou o áudio nas redes sociais. 
   Essa pessoa, que tem mais de 60 anos, é diabética e deve ter outros problemas de saúde. E vivia se queixando de que não havia se aposentado e não fazia nenhum esforço para esconder sua revolta em ver uma pessoa com menos idade aposentada (tenho 51 anos). E estou com saúde física relativamente boa, pois procuro me cuidar e praticar esportes. Esse senhor apesar de ter diabetes exagera na cachaça e acaba passando mal. Parece que não sabe que um dos piores inimigos do fígado é o álcool.
   Então, depois de vários meses ouvindo provocações, passei a revidar, pois nem sempre conseguia estar bem para relevar aquela situação. E quando ele me provocava logo de manhã quando havia acabado de acordar é que não conseguia me segurar. Sou um cara calado e que gosta de ficar na minha. Então em algumas vezes revidei a provocação fazendo gestos racistas e falando coisas não muito legais. Não sou racista, mas foi a forma que encontrei de ofendê-lo, pois já havia até conversado com a proprietária para que ele parasse com aquilo. Mas ela não podia fazer nada, afinal era uma criancice daquele senhor, que se divertia ao me ver irritado. No final das contas, ele acabou saindo do imóvel devendo quase dois anos de aluguel, cerca de cinco mil reais. Ficou lá esse tempo todo dizendo que iria pagar quando aposentasse... 
    E segui discutindo com outras pessoas, até fiz a loucura de passar com a camisa do Flamengo no meio da torcida do atlético mineiro na avenida Silviano Brandão. Quem acompanhou o futebol sabe como é a rivalidade entre essas duas equipes. Dois caras queriam me bater depois que gritei: -"Segue o líder!". Mas a maioria levou na brincadeira. Mas que foi uma loucura, isso foi. Muitas pessoas levam a sério demais o futebol, ou melhor, usam o futebol para descontar suas frustrações.
    Nas redes sociais também chegava a ter discussões tolas, mas isso eu parei, até mesmo surtado vi que esse tipo de discussão não leva a lugar nenhum. 
    E continuei nessa situação até o dia em que tive que tomar um anti-inflamatório por que tive uma torção no joelho. O remédio me deu um soninho gostoso e finalmente consegui relaxar a musculatura como há muito tempo não conseguia. E tomei o medicamento por três dias seguidos. Foi o suficiente para voltar ao meu normal e botar os pensamentos em ordem. 
    Mas em compensação o soninho provocado pelo anti-inflamatório me deu um prejuízo danado. Capotei de bicicleta perto da avenida Cristiano Machado, aqui em Belo Horizonte. Estava descendo a rua Jacuí em boa velocidade, não prestando atenção nem no sinal e nem no carro que estava na minha frente. O sinal fechou e como estava sonolento não consegui sair ileso daquela situação. Tive que frear bruscamente e acabei me desviando do carro para não ter que ficar arranhá-lo ou amassá-lo. Fui em direção ao meio fio e capotei, tendo alguns ferimentos. 
   É por esse e outros motivos que não tomo os antipsicóticos e nem ansiolíticos. Tenho que ter disposição para resolver meus problemas do dia a dia. O jeito é ir administrando da melhor maneira possível essa dependência, e não achar que estou livre do diazepan. Tenho que reconhecer que ainda sou um dependente químico, apesar de ser um vício que não pedi para ter, pois na consulta o médico simplesmente preencheu a receita, não me alertando sobre os possíveis riscos de uma dependência física e psicológica.

Lição aprendida?

    Agora, quando sentir que estou ficando com a musculatura tensa irei tomar um comprimido de diazepan. Consigo ficar várias noites sem usar, mas sei que mais dia menos dia o meu corpo irá pedir uma dose desse ansiolítico. Sinto que a dependência no momento é mais físico do que psicológica. No início era mais psicológica do que física, era um SOS na verdade. Naquela época estava trabalhando e os antipsicóticos não me deixavam executar as tarefas de um operador de som que tem que ficar várias noites acordado durante os shows e festas. 
    Acredito que atualmente posso surtar mais pela abstinência do ansiolítico do que pela própria esquizofrenia. Com o tempo ficamos meio que acostumados com certas situações que as paranoias nos proporcionam. Tipo assim: o cara quer me matar? AH, deixa pra lá, se me matar não tenho filho para criar mesmo...   
    Analisando a situação, tenho os mesmos pensamentos e paranoias de que quando surtei. Mas agora tudo isso já não é tanta novidade para assim. O que aprendi sobre a doença tem me ajudado bastante, e vou tentando de uma maneira ou outra ir levando a vida sem maiores prejuízos a mim e aos que me cercam. E sinto que, com a idade, os SINTOMAS POSITIVOS diminuem um pouco, dando lugar aos SINTOMAS NEGATIVOS
    Agora estou mais tranquilo, consigo ir almoçar no restaurante popular de bike sem muito stress, vou pedalando com mais tranquilidade. Ir ao banco continua sendo uma situação de stress, mas dá para ir levando relativamente numa boa. Até o futebol está sendo mais tranquilo e com menos xingação, só a zoação saudável mesmo. O futebol é onde tiro o meu stress, dando aqueles chutões na bola e não descontando nos outros.
         Apesar do retrocesso em ter que tomar novamente o diazepan em alguns dias, estou feliz, pois havia uma época em que não conseguia sair de casa sem uma cartela  de diazepan no bolso. Em 2014 nas minhas andanças cheguei a passear pelas ruas de São Paulo, chegando a morar por 8 meses na capital paulista. No início  foi complicado, quase  surtei quando tentaram roubar o meu notebook,  mas depois me adaptei e acabei gostando da cidade. O  pior da abstinência também acredito que tenha passado, quando diminui a dosagem de 10mg para 5mg e tive dores de cabeça  e palpitação no coração. E em  uma época  fui um hipocondríaco, qualquer alteração no batimento  cardíaco me deixava  desesperado, era um ciclo vicioso: o coração batia de forma esquisita e eu ficava tenso. E  ficando tenso o coração não batia bem. Cheguei a cismar que tinha coração grande, pois havia visto sobre esse problema em alguma revista ou na internet.
       Hoje sou uma pessoa mais reclusa, e é mais por opção mesmo. Não sinto tanta necessidade de me relacionar com as pessoas. Não que elas não prestem, que não valha a pena se relacionar. Sinto que gosto demais de minha companhia e que me sinto um pouco prisioneiro quando tenho que conviver com outros seres humanos. Enfim, é o meu jeito mesmo. 
    Às vezes é preciso retroceder para seguir adiante. Podemos perder uma batalha, mas a guerra contra o vício ainda continua e nunca perdendo a esperança de que um dia irei me livrar dessas drogas de drogas que não pedi para ficar dependente. 

Obs: as letras maiúsculas na cor verde são links que explicam os termos usados na postagem

9 comentários:

  1. Tenho uma luta parecida, mas contra o lítio (Transtorno Bipolar do Humor). Não registro num blog mas num diário. Mesmo não tendo lido todo o artigo me identifiquei algumas vezes.

    Desejo sabedoria e lucidez nessa luta meio ingrata.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Escrever pode ser uma boa terapia, parece que é algo parecido com uma ida ao psicólogo, botamos tudo pra fora.
      O lítio pelos relatos que já vi parece ser bem mais complicado do que o diazepan se não for tomado na dosagem correta.
      Forças para você também nessa luta.

      Excluir
    2. Vc trata com linhaça ou ômega 3

      Excluir
  2. Antiinflamatório que dá sono,desconheço,será que não foi algum efeito placebo?

    E sei que vc não gosta,mas se as coisas fugirem muito do controle,talvez fosse o caso de pensar em fazer uso contínuo de algum antipsicótico sob prescrição médica,visto que diazepam não é para isso

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Esse aqui me deu sono, principalmente no primeiro e segundo dia
      https://consultaremedios.com.br/flexalgin/bula
      Não tem como usar antipsicótico, se sofri um acidente com o sono do antiinflamatório, imagina com a lentidão e letargia que que os remédios para transtornos mentais nos dão?
      Diazepan é como se fosse um SOS, me quebrou um galho principalmente no início, quando tinha que trabalhar e não podia ficar muito lerdo, pois cheguei a sofrer um acidente quando estava trabalhando e tomando haldol.
      No meu caso antipsicótico só se eu contratar uma babá e uma cozinheira para cuidar de mim.

      Excluir
  3. Fascinante o teu parecer sobre o Diazepan! Eu tomei o Rivotril durante a internação e o médico nem me avisou. Eu já havia estudado um pouco sobre os ansiolíticos e, quando percebi que os estava tomando, pedi para parar na hora. Hoje vejo histórias tristes causadas por esse remédio, como a internação do psicólogo canadense Jordan Peterson. E faz total sentido você se sentir desconfortável com seguranças, pois eu já treinei Kung Fu e conheci muitos da profissão. Eles realmente fazem cara feia e você tem grandes chances de se sentir desconfortável, ainda mais se você for mais sensível (o que está totalmente okay, porque penso nisso como um dom, e não um problema). Aliás, fominha no futebol é um saco mesmo. Ri pra caramba da história da camisa do Flamengo ahahahah. Só toma cuidado nas próximas vezes.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá
      É uma luta que venho travando desde 2008. E acho que estou vencendo. Só agora na pandemia é que estou tomando um pouco a mais do que vinha tomando anteriormente.Aliás, quase o Brasil todo está ansioso por causa da quarentena.
      Verdade, acho que nunca mais passo no meio da torcida do atlético com a camisa do Flamengo. E aquele dia foi pior por que eles estava saindo do estádio após perder em casa por 3x0 pro Internacional....
      Foi uma loucura e tanto. Se a galoucura estivesse por perto acho que não estaria aqui para contar mais esta história.

      Excluir
  4. Eu estou viciado em ansiolíticos e na sinto o coracao nem emoções . Acho que é isso os sintomas positivos vão sumindo e ficam os negativos .

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, eu também sinto isso e não tomo os antipsicóticos.
      Os efeitos colaterais de alguns psicóticos são bem parecidos, nos deixando como se fosse um robô.
      Mas no meu caso ainda consigo me emocionar com algumas coisas, mas não é como antes.
      A vantagem é que não fico muito chateado mais quando meu time perde.

      Excluir