terça-feira, 14 de maio de 2013

Estrada Real 3º dia

9 de maio de 2013 quinta feira
Santo Antônio do Leite-Miguel Burnier

    Como de costume, acordo as sete horas. Quer dizer, não acordei, pois simplesmente não dormi. Pela primeira vez senti frio dentro de minha barraca. As garrafinhas de água estavam geladas ao lado do colchonete. Não relaxei a musculatura e tive distensões nos músculos da barriga e das costas também, acho que devido ao peso da mochila. A musculatura das pernas até que aguentaram bem e não senti dores nessa região. A mochila agora está pesando dez quilos, no caminho do Padre Anchieta ela estava pesando apenas seis quilos e não me incomodou tanto. Chego a pensar que não irei aguentar mais seiscentos e tantos quilômetros desse jeito. Olho para dentro da mochila e procuro em vão algo para me desfazer e assim diminuir o peso.
Tô parecendo burro de carga com essa mochila!
    Tomo um rápido café na padaria de Santo Antônio. O dono puxa assunto comigo, pergunta de onde eu vim, para onde eu vou e, como a maioria das pessoas, se assusta com a resposta:
    - Mas por que você está fazendo isso?
    Não entendo por que o espanto das pessoas, o Caminho de Santiago é 200km mais longo e várias pessoas o percorrem. Tento explicar que é apenas por prazer, além da parte espiritual, que ainda não encontrei palavras para descrever essa sensação que tenho ao caminhar. 
    Depois do café, parti para o distrito de Engenheiro Correia. São 9km de estrada de terra bem conservada. O maior problema é a poeira que é levantada quando veículos passam na estrada. Comi muita poeira nesse dia, ainda mais por que tem uma mineradora e o tráfego de caminhões é intenso.
    As paisagens são lindas nesse trecho, que tem muitas subidas ingremes. Acho que até agora o caminho está tendo mais subidas do que descidas, e olha que Ouro Preto fica cerca de 1200 acima do nivel do mar, e Paraty apenas a 400m. Acho que no final do caminho é que farei mais descidas.

    Chego a Engenheiro Correia por volta das onze horas e, para minha surpresa, encontro um restaurante. Finalmente, após dois dias comendo sanduiches, salgadinho e frutas, como arroz, feijão e carne. Aliás, a comida é ótima nesse restaurante, e o proprietário é gente boa, até fez um ovo cozido para mim sem cobrar nada!
enfim, comida!
       Logo após o almoço e um breve descanso, sigo o caminho e logo no início encontro um pequeno córrego. Devia ser por volta do meio dia também e não resisti. Pulei a cerca e tomei um relaxante banho, só que dessa vez de bermurda. A água estava tão gelada no meio do córrego que, quando ficava com os pés imóveis durante alguns segundos, tinha a sensação de que estava pisando sobre cubos de gelo. Só não lavei o cabelo por que sabia que iria comer muita poeira até chegar ao distrito de Miguel Burnier, distante cerca de 13km, também estrada de terra, com mais caminhões ainda passando pelo caminho.  
    Tenho que parar para descansar em intervalos menores do que no caminho do Padre Anchieta, mesmo estando com o pé machucado naquela ocasião. Com o tempo, a mochila vai ficando cada vez mais pesada em minhas costas, e as dores são inevitáveis. A caminhada nesse dia foi tranquila, devido ao bom estado da estrada, e não teve tantas emoções como nos dois primeiros dias.
Os marcos indicam a posição que estamos no caminho
    Chego em Miguel Burnier por volta das cinco horas da tarde, e um senhor vem em minha direção. Pergunta de onde vinha e para onde ia e me oferece estadia de graça! Fiquei meio abobado, não esperando o convite, e claro que aceitei. Mas antes de dormir tomo um lanche na única mercearia da cidade. Um senhor apareceu e dividimos uma garrafa de cidra quente, pois ele estava gripado. Falamos de futebol, estrada real e vários outros assuntos. Como não tenho costume de beber, fiquei meio tonto e alegre no segundo copo e resolvi dormir. Não sei o que a cidra tem, mas ela me deixa meio alegre, mesmo tendo teor alcóolico baixo.
Miguel Burnier

    O local onde me hospedo tem vários quartos, e o banheiro tem quatro chuveiros. Parece ser construido especificamente para os viajantes do percurso. Tomei um longo banho quente e às sete horas já estava na cama. Queria aproveitar o máximo aquela cama, pois sei que não terei essa mordomia toda no caminho, apesar da hospitalidade do povo mineiro. Aliás, só estou fazendo essa caminhada com pouca grana por que sei que o mineiro, principalmente do interior, é muito acolhedor, até mesmo para com um cara meio fechado como eu. 
   O quarto está quentinho, não se ouve nenhum som em volta e logo apago.
Em casa. Vai gostar assim de mato lá nos quinto!

    Pessoal, no último post não coloquei muitas fotos por que a net do distrito é tão lenta que, se eu deixasse baixando todas as fotos que queria, poderia ir a Paraty e voltar a pé que elas ainda estariam sendo baixadas. Até o próximo post, na próxima lan house do caminho. 



9 comentários:

  1. Força, caro Julio! Vai dar tudo certo.

    Reveja essa mochila aí e tire o que não for necessário, se der pra economizar 1 kg já é menos uma dor nas costas, rs. Não force muito, e se tiver que parar e "atrasar" um pouco, pare, mas não dê mole para as eventuais dores que poderão aparecer pelo corpo.

    Boa sorte, vou acompanhar essa caminhada inspiradora até o final!

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    1. Valeu pelas dicas, vou tentar tirar uns dois quilos, mas não vejo nada que dê para tirar. A granola, que pesa um quilo, me ajuda e muito nas trilhas. Acho que com o tempo irei me condicionar melhor fisicamente e a caminhada ficará mais fácil.

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  2. Olá julio, vc aceita um companheiro pra essas suas andanças? Não sou portador de esquizofrenia, mas fui diagnosticado com fobia social e sindrome do panico q fez eu perder grande parte da minha vida, apesar de eu ser novo. praticamente fiquei 10 anos dentro de casa. Agora me tratando tudo o q eu mais quero é sair andando por ai igual a vc sem ter um local fixo.

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    1. Aceito sim, depois dessa viagem, vou dar uma descansada e planejar uma mais light, com menos distância. Depois me envie um email, mas não vá sair de casa né?

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  3. oi Julio, bão? Desculpa não comentar muito nesses ultimos dias, mas é que tô tentando usar um mrodem para me conectar, e pra falar a verdade, é uma bostica. To me divertindo com essa sua nova aventura..dá até vontade de passar pelos lugares pra desfrutar das paisagens e das comidinhas.. me preocupa esse monte de peso que vc ta levando. Não tem como se livrar de nada não? abração e continue escrevendo. Adriana

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    1. Obrigado Adriana por seguir o blog. Realmente já olhei várias vezes e não achei nada para tirar, mas com o tempo vou me condicionando melhor fisicamente e tudo irá dar certo.

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  4. Ola, gostei muito deseu blog, convido aconhecer meus registros:
    http://trilhaseturismo.blogspot.com.br
    http://www.flickr.com/photos/gleissonpaiva
    Até!!!

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  5. Ola, gostei muito deseu blog, convido aconhecer meus registros:
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    Até!!!

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