O natal do Covidão
Ontem, anti-véspera de mais um natal, fui, como sempre, almoçar no restaurante popular. A movimentação, claro, foi maior que a de costume. Quando falo de costume, uso como parâmetro a circulação de pessoas deste atípico ano. Não houve aquela imensa aglomeração de pessoas e carros como nos anos anteriores, mas foi maior do que deveria ser, em virtude da pandemia.
Mas, o que notei de diferente mesmo não foi a maior quantidade de pessoas e de carros circulando no centro da cidade. O olhar das pessoas estava um pouco diferente. A pandemia não mudou apenas a nossa rotina diária, nos mudou um pouco por dentro. Claro que existem pessoas que não ligam para nada e continuam a viver como se nada estivesse acontecendo, mas nota-se que a maioria das pessoas está um pouco cansada de viver no meio de tantas dúvidas. Dúvidas sobre até quando iremos ter que viver dessa maneira, com medo de tudo e de todos. Medo de contrair uma doença um pouco desconhecida, medo do tratamento que ainda não existe, medo de uma vacina que não foi testada o tempo que deveria ser.
O que mudou em minha vida?
Para mim, particularmente, no convívio social pouco ou quase nada mudou. Sou um cara antissocial e minha rotina nesse aspecto continua praticamente a mesma; acordar, tomar café, internet, filmes, séries, andar de bike, internet, comer, dormir, e ver mais filmes e séries. Às vezes gravo algum vídeo ou faço alguma postagem para este blog que escrevo desde o ano de 2012.
Mas, para mim, mesmo não mudando muita coisa, não estou gostando da situação. Não sou egoísta, não gosto de ver as pessoas em situação complicada. Claro que não sou um santo, se tem pessoas que desejam o meu mal, desejo que Deus lhe dê em dobro o que desejam para mim.
A verdade é que as pessoas felizes de verdade não se preocupam tanto com a vida alheia. Aqui onde moro o desemprego atingiu alguns moradores, que, infelizmente tiveram que morar nas ruas. Outros estão passando dificuldades, e alguns, infelizmente, parecem não aceitar muito a ideia de verem uma pessoa aposentada e meio que é um pouco alheia à tudo o que acontece em sua volta. Digo alheio pois meio que naturalmente fico distante de tudo, mas não no sentido de me alegrar com o infortúnio de outras pessoas.
O que mudou um pouco na minha vida foi a questão da hipocondria. No início foi complicado lidar com a situação de poder pegar um vírus desconhecido através do ar, dos objetos, e no contato com as pessoas. Acho que foi algo semelhante o que aconteceu com o surgimento da AIDS. As pessoas tinham medo de cumprimentar ou de se aproximar de uma pessoa com HIV. Mas o pior de tudo nesta pandemia é a dúvida, a cada dia aparecem notícias novas. Notícias e opiniões diferentes que nos deixam mais confusos ainda. Uns dizendo que precisamos nos preocupar e outros afirmando que não, que a doença mata um número baixo de infectados. Mas, e as sequelas da doença? Tem ou não tem? As dúvidas estão sendo tão prejudiciais quanto o próprio vírus.
A saúde mental na pandemia
O estrago que o vírus está causando não é somente nas pessoas que se contaminaram. A saúde mental da população em geral piorou. O consumo de ansiolíticos e antidepressivos aumentou consideravelmente.
Acredito que não tenha uma pessoa que não esteja sofrendo o impacto dessa pandemia. Algumas mais, outras menos. Até mesmo aquelas pessoas que vivem naquelas cidadezinhas do interior estão sendo atingidas, mesmo que o vírus não tenha circulado por esses lugares. É que boa parte dessas cidades foram fechadas para o turismo, afetando consideravelmente a arrecadação. As que não foram fechadas os moradores provavelmente ficam com receio de ter um contato com algum viajante ou turista que esteja por esses lugares.
A saúde mental está prejudicada pelas incertezas que esse vírus está deixando no ar, tanto no sentido literal como no figurado. Não temos certeza se a economia no mundo não sofrerá um colapso. Não sabemos se quando sairmos de casa voltaremos contaminados. Não sabemos se iremos resistir ao vírus, não sabemos até quando teremos que viver desta maneira, com medo de tocar nos objetos e nas pessoas, com medo de andar, com medo de respirar, enfim, com medo de viver.
De volta ao natal
Mas natal para mim nunca significou muita coisa. Não condiciono a minha alegria ou comportamento à datas. Por exemplo, nunca fui em um cemitério no dia de finados. As pessoas que já faleceram não estão lá, não me interessa um monte de ossos. Espero que as pessoas que gosto e que já se foram estejam em um plano superior e melhor do que este em que estamos vivendo. Elas estão guardadas em minhas lembranças e penso nelas vários dias do ano, não somente no dia de finados.
Não tenho nada contra as festas e confraternizações de fim de ano, afinal temos que nos divertir, celebrar, festejar, E cada um faz isso de sua maneira. Festejar para mim não significa me embebedar e me empanturrar de comida. Festejo e celebro a vida dia a dia, da minha maneira. Todos os dias festejo a chance de estar vivo e com relativa saúde, pois, devido aos surtos, passei por situações complicados e posso dizer que tive uma experiência de quase morte. E uma experiência dessas nos muda completamente por dentro. A natureza é onde procuro celebrar e festejar a minha vida. E nessa festa não precisa de tantos convidados: apenas a natureza, os animais, o ar puro e o criador. O som não é o batidão, é o som do vento, do canto dos pássaros e o ambiente não é agitado, é de uma paz infinita.
Natal tinha algum significado quando eu era criança, pois ficava naquela expectativa de receber algum presente bem bacana para me divertir. Não gostava muito daquelas reuniões de família, e ficava calado no meio da festa, assistindo televisão enquanto as pessoas comiam e bebiam. Nunca acreditei em papai noel, apesar de que, naquela época as crianças eram bem mais inocentes do que as da geração de hoje. Mas ficava com aquele negócio de ter que ser bonzinho o ano inteiro para merecer presente.
Porém, se ele existisse, eu iria pedir um mundo com mais respeito e compreensão.
Gostaria de desejar muita paz, proteção e luz para todas as pessoas que se cuidaram e que irão se cuidar nestas festas de fim de ano, fazendo a confraternização apenas com pessoas do seu convívio diário. Aos que irão cair nas baladas, festas e comemorações em massa, desejo boa sorte e que tenham responsabilidade sem que precise que algo aconteça com si próprio ou com alguma pessoa mais próxima.
Que tenhamos um feliz ano novo, livre não somente do Covid, como também de um vírus que é o pior e mais mortal de todos: a maldade humana.
Muito bom seu texto! Parabéns!
ResponderExcluirObrigado pela visita ao blog e pelas palavras.
ExcluirDepois visite o meu canal no youtube, apesar de me achar melhor escrevendo do que falando.
https://www.youtube.com/user/esquizosimporquenao
Júlio, quanta reflexão verdadeira !
ResponderExcluirE como você escreve bem, expõe suas ideias com muita clareza !
Parabéns e um grande abraço, amigo !
Vou te mandar um "presentinho" pelo Banco, tá ?
Obrigado mais uma vez, nunca irei esquecer da ajuda que vc me deu na viagem quando a bike deu problemas. Era a minha primeira viagem e tive alguns problemas com as rodas pois ainda não sabia regular os freios e outras coisas na bicicleta. Hoje ela está funcionando sem problemas, até após o acidente as marchas estão melhores.
ExcluirO texto fiz em uns 40 minutos, e depois revisei por uns dez minutos. Às vezes parece que é meio psicografado, pois quando leio sinto que ficou bom.
Ficou ótimo mesmo!
ResponderExcluirGrande abraço, amigo!
Realmente vc escreve muito bem, diferente de mim. Sem alogia alguma. Parabens, tb tenho esquizo.
ResponderExcluirObrigado, acredito que escrevo mais ou menos bem pois tenho o costume de ler muito desde pequeno. Às vezes gravo alguns vídeos, mas não sou muito bom em falar. Depois visite o meu canal no youtube.
Excluirhttps://www.youtube.com/user/esquizosimporquenao
Que sorte Júlio, VC deve ser só gata atrás de VC... Tem de me apresentar algumas cara né?
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